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Esther, um novo recomeço
Marcelo Pereira de Almeida

Era madrugada, do lado de fora das janelas o silêncio da cidade invadia as residências que a cercavam. Num quarto de hotel, mergulhada em sentimentos controversos de saudade, melancolia e solidão, Esther depois de chorar pela enésima vez, analisa todas as linhas da carta recebida de seu ex-amante Antônio.

Em cada palavra escrita, um momento vivaz se fazia em sua mente, a alegria das risadas sem esforço, os beijos ardentes e a lembrança dos corpos nus embaraçando-se aos lençóis de sua cama. Ao momento mais quente de seus delírios quando sua face chega a ruborar, a realidade fria do quarto vazio lhe faz derramar outra lágrima. Seguir em frente torna-se difícil para um coração acostumado aos carinhos de um só rapaz.

Não muito distante dali, em um bar caindo aos pedaços, um moreno com aspecto maltrapilho pede mais uma dose de vodca gelada ao garçom. A embriaguez deforma a silhueta de Antônio, moço bonito, de traços perfeitos, o verdadeiro menino do Rio. Cabelos desgranhentos, barba por fazer, e um odor de álcool a exalar não combinam com os traços perfeitos que fizeram Esther se render aos encantos. Enquanto afoga-se gole a gole, lamenta-se por ter escrito linhas tão tortuosas que fizeram com que a mulher que lhe mudara os pensamentos se afastasse para o longínquo onde não pudera alcança-la.

Os primeiros raios de sol anunciam que mais um dia caloroso começara. Ainda sem dormir, com os olhos inchados e cabelos por pentear, Esther colocou seu esguio corpo com muito esforço embaixo do chuveiro. Lágrimas misturam-se a água quente que cobre pouco a pouco as curvas da bela morena. Por um minuto, seus pensamentos soltos como o vento, vagueiam por labirintos de memórias perdidas, como se fosse um adeus, um tributo, naquele momento eliminaria Antônio de sua vida.

Naquele mesmo dia, horas mais tarde o calor abrasava as alamedas de uma grande avenida quando de mal súbito um pobre à beira da calçada pereceu. Um moço bonito, de postura atlética e cabelos por vezes bem tratados dera espaço a um esfarrapado destino. Antônio com suas idas e vindas pelos botecos da vida, partiu para o outro mundo carregando consigo a culpa de um amor não resolvido. Como não se acharam parentes nem amigos, e nem sequer sua esquecida amada, seu adeus foi melancólico com uma fina garoa numa sexta feira como sua testemunha ocular.

Esther, sem saber o que ocorrera a Antônio seguiu adiante. Afastou seus fantasmas e medos e reabriu-se a vida. Sua cor morena, cada vez mais evidente, irradiava luz por todos os cantos por onde passava. Todas as noites, antes de ir de encontro ao sono, ainda pensava no moreno que por muitas vezes lhe fizera chorar. Ao retornar dos pensamentos, dava um lindo sorriso, dos largos lábios que tinha e entregava-se sem medo ao inebriante mundo dos sonhos.

Certo dia, em uma manhã de outono, caminhando por entre as frondosas árvores de amoreira, avistou uma figura singular. Olhos verdes como o mar, cabelos lisos e uma postura austera digna de um príncipe de contos de fadas. Dentro de si, borboletas ziguezagueavam, as mãos suavam e um tremor repentino lhe fez parar. Um filme passou por seus grandes olhos castanhos. Ela tinha certeza de que aquele velho sentimento voltaria à tona, seus olhos brilharam e seus passos decididos caminharam de encontro ao homem que fizera seu coração acelerar. Esther estava apaixonada e pronta para se entregar mais uma vez.


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