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Paixão Interiorana
Marcelo Pereira de Almeida

Era um domingo ensolarado quando Fernando tocava a campainha de uma casinha no interior do mundo. Sua chegada era aguardada por seus parentes, afinal de contas era sua primeira viagem sem os pais. Perguntas de todo tipo eram feitas enquanto os parentes distantes o interrogavam sobre os costumes da cidade e as manias chamadas modernas por um povo tão modesto.

Nas curvas de um rio sinuoso, Giovanna brincava sem pudor nas águas corredeiras. Enquanto mergulhava, seus pensamentos ziguezagueavam pelas nuvens, nas mais diferentes formas. Ficou ali por horas e horas contemplando a beleza do dia enquanto banhava-se despreocupadamente. Ao fim de seu interminável deleite, partiu cantarolando uma canção de saudade pelas trilhas e matas da pequena cidade.

A noite interiorana não oferecia muitos atrativos, mesmo assim Fernando ainda em êxtase por viajar sozinho pela primeira vez saiu para tomar um sorvete na principal praça da cidade. Enquanto caminhava, avistava de forma abobada, jovens se aglomerando por um lugar no coreto da praça para ficarem “observando” apenas o tempo passar. Todos o olhavam com olhar enigmático e curioso, afinal era a "novidade" da cidade grande que fora passar uma temporada ali.

Divertindo-se com os amigos no outro lado da Praça Giovanna contava histórias de seus livros vindos da grande metrópole. Como conhecedora da literatura, já havia contado sobre os diversos livros que lera e suas narrativas extraordinárias. Como fazia calor, decidiu cruzar a praça e tomar um sorvete enquanto os amigos ainda comentavam sobre uma resenha que acabara de fazer.

Enquanto caminhava, Giovanna buscava em sua memória qual seria a próxima aventura a contar. Buscou mais de mil alternativas todas malsucedidas até chegar à sorveteria e pedir o sabor de sua preferência chocolate com cobertura de morango. Perturbou-se com a presença de Fernando a seu lado, uma beleza que lhe atordoou os sentidos a ponto de deixar cair seu sorvete no chão. Saiu correndo com o coração aos pulos, com uma estranha certeza, estava encantada com aquele forasteiro.

Como bom turista, Fernando aproveitou diariamente sua estadia pela pequena cidade. Caminhou pelas belas trilhas formadas como mágica pela natureza, participou dos bailinhos do clube Serra da Nogueira, e todas as noites ia à sorveteria procurar a menina dos olhos azuis. Em uma das incursões já acostumado a locomover-se sozinho, encontrou-se com sua fugitiva às margens do rio.

Giovanna ainda atordoada pela confusão de pensamentos a respeito do rapaz tentava de todas as formas não cruzar seu caminho, mas era inevitável. Na praça, nos bailes, nos banhos de rio e até em seus sonhos lá estava ele, cabelos sempre desgrenhados e um olhar ardente desejando seus beijos guardados a sete chaves.

Em uma noite enluarada e calorosa, se encontraram e enfim se conheceram por nomes, trocaram experiências de convivência, aproximaram-se, tornando-se cúmplices de uma paixonite explosiva.

Em uma sexta feira nublada, encontraram-se embaixo de uma goiabeira. O tempo ameno fazia com que as folhas das arvores pudessem dançar com o vento que as agitava. Neste clima, Fernando anunciou que partiria ainda naquele final de semana, despedaçando o coração da garota que sonhava um amor para chamar de seu. Marcaram um último encontro para o dia seguinte, acima das margens do rio. Este seria um momento mágico onde somente a natureza e os dois seriam testemunhas.

Ao dia esperado passavam das duas da tarde quando Fernando saiu para seu encontro de amor. As malas prontas no quarto antecipavam que ao dia seguinte estaria dentro de um ônibus rumo à cidade natal. Em seus pensamentos a enorme vontade de largar sua vida de altos e baixos para viver este grande romance. Não tão distante dali, Giovanna procurava entre rendas um vestido que estivesse a altura do importante momento. Um simples vestido de chita rendado, na cor branca e com flores amarelas fora o escolhido, cantarolava uma triste canção quando avistou o amado indo ao seu encontro.

Nuvens brancas formavam animais no céu ensolarado quando se encontraram. Para aquele momento, Giovanna usou o perfume de rosas, enquanto Fernando escolhera uma fragrância que realçava seu odor natural. Fitaram-se por alguns segundos e entregaram-se aos braços um do outro, em um abraço que mais parecia um nó, um laço.

Naquele momento as batidas do coração de Giovanna podiam se ouvir a quilômetros de distância. Enquanto deslizava suavemente seus dedos longos pela silhueta da garota, Fernando tentava de maneira não verbal controlar seus instintos. Ao cair da tarde, enquanto pássaros buscavam refúgio em seus ninhos e o alaranjar da alvorada se anunciava deitaram-se na relva entregues ao voraz desejo primitivo, mas que seria vivido com todo ardor e desejo que se merece.

O silêncio e melancolia da madrugada invadem o quarto de Fernando enquanto este examina fotos antigas e relembra saudosista o último verão. Entre recordações escritas e fotografias borradas, uma nostalgia lhe invade o pensamento ruborando as maçãs de seu rosto. Em 23 anos divididos entre viagens familiares e estudos, era a primeira vez que esta gostosa sensação lhe apossava.

Quilômetros adiante em um céu completamente estrelado, Giovanna procura constelações na imensidão. Aos 17 anos e dona de uma beleza diferenciada, seus olhos azuis ofuscam o brilho das estrelas, parecendo o encontro de dois faróis incrivelmente brilhantes. Com o coração radiante de alegria, recorda-se da passagem daquele que ela considera o amor de juventude. Com os lábios entre os dentes, recria em uma nuvem passageira a cena em que seu amado a toma pelos braços e de forma delicada a possui em um fim de tarde ensolarado. Adormece na varanda da casa, com um sorriso malicioso imaginando se viverá tal aventura outra vez.

Ao passo em que decorriam as horas seus pensamentos como um buscavam uma única cena, um momento de prazer que jamais esqueceram.


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