Cada época da vida da gente tem seus medos. Quando criança, morando no mato e absorvendo a cultura dos antigos, os personagens do nosso folclore se encarregavam de tornar-me um menino caseiro; nada como o aconchego da família para exorcizar os medos imaginários. Já no Brasil urbano da atualidade, as próprias gentes impetram o terror umas às outras. Os medos infantis são concretos, porque as ameaças são concretas, e as famílias já não tem tanto poder de proteção.
Descobri-me adulto e tive medo de não conseguir ser o que o mundo à minha volta desejava que eu fosse. Tentei. Torturado pelo stress, em tempo rebelei-me contra os fatores que o geravam. Paguei micos, é certo, mas deparei-me como por milagre com aquilo que eu tanto buscava: a paz interior, latente em mim mesmo, aguardando apenas as chances para que desabrochasse.
Quando moço tive medo de ser rejeitado pelas garotas. Achava que ser tímido e não ser parecido com alguém do cinema era complicado. Santa ignorância; uma “gata borralheira” escolheu-me dentre seus pretendentes (sim, porque os tímidos são sempre os escolhidos). Hoje,se andamos de "salto alto" sofremos um bocado, mas com os "pés no chão" encontro-me ao lado de sábia rainha.
Enfim, agora me pergunto sobre os medos do futuro. O da morte está descartado, porque dizem que a morte não existe, que apenas somos plantados em terra qual semente pronta para ressurgir em nova potência. Porém, quando penso nas filas do SUS e da Previdência, desafios inevitáveis pelos quais passam as gentes simples do Brasil, sinto calafrios, medo aterrador, e pesa-me saber que não existe neste país gente capaz de exorcizá-lo.
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