ALMA INQUIETA
Utopias dum poeta,
Que nunca atingiu a meta,
Dão-lhe os sonhos alimento!
Ri-se dele qualquer um;
Chama-lhe o senso comum:
-Pobre cabeça de vento…
Contudo, não desanima:
Vive para a sua rima,
Grande amiga e confidente!
Mesmo que não lhe dê pão,
Tem sempre uma absolvição:
Fá-lo acreditar que é gente!
E, na sua ingenuidade,
Dando o braço à honestidade,
Mesmo que esta pouco exista,
Tropeça nas amarguras;
Mas, voando, nas alturas,
Julga ter alma de artista…
Rasteja na vida, assim,
Sem flores, no seu jardim,
Já nem vê quem o rodeia!
Pouco lhe importa ser louco!
Não liga a quem faça pouco:
Sonho é fogo que incendeia…
Na tristeza ou na alegria,
Em tudo vê poesia,
Chora e ri, a cada passo!
Envolto na solidão
Caminha entre a multidão,
Que o considera um palhaço.
Ninguém vive de quimeras;
E, se em vez de homens, há feras
Quem o vai compreender?!
Na luta da subsistência,
Se o amor se chama violência,
Poetas… não pode haver!...
E, nascendo na pobreza,
É bem maior a certeza
Que nunca irão triunfar!
Lutam por causas perdidas;
Vencem, sendo almas vencidas,
Sucumbirão, a sonhar…
Troçam; chamam-te pateta!
Mas nunca morras, Poeta!
Traz-nos um mundo melhor!
Sê sempre a cigarra amiga:
Nos trabalhos da formiga,
Teus cantos: hinos de amor!...
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