Campanha eleitoral
Votar é um dever de toda a gente;
Que ninguém sonhe ou pense em abstenção.
Desejaremos vida mais decente?
Dizem eles que está na nossa mão…
Mas eles… quem? Pergunto eu, afinal.
São tantos os que falam, nesta terra…
Na televisão, rádio, ou no jornal,
Prometem pão e paz, fazendo a guerra!
Em vez de esclarecer os eleitores,
Cansados de insucessos, frustração,
Vemo-los mais brigões, sempre agressores;
Cada comício, um caos; só discussão!
Pretensos deputados, com franqueza!
Não trilhareis caminhos mais coerentes?
Nestes, não há saída, com certeza,
Se em vez do coração, mostrais os dentes…
Dos defeitos alheios fazeis alarde.
Porém vossas virtudes… onde estão?
Gastar saliva, agora, é muito tarde!
Nem sei qual é, de vós, mais charlatão!
O povo já não crê em defensores
Que só o lembram pelas eleições!
Passam os anos; não os dissabores,
Que ficam, com as nossas decepções!
A todos ninguém pode contentar;
Já o sabemos; sempre foi assim!
Mas em quem, afinal, vamos votar?...
É tanta a escuridão, neste capim…
Em pélago revolto naufragamos,
Neste barco, pequeno e destruído.
Sem respeito, vendemos o que herdamos,
Num comodismo ignóbil, descabido!
E que ganhámos com a liberdade?
Só desrespeito pelos cidadãos.
Nesta atmosfera de intranquilidade,
Fujamos de cair nas vossas mãos!
Politica, o que és tu, no fim de contas?
Um veneno, que traz destruição!
Só caminhos confusos nos apontas…
Ocultas tudo, excepto essa ambição…
Se alguém te serve, com honestidade,
É logo posto à margem, brutalmente.
É teu prazer lançar inimizade;
Só propagando o mal vives contente!
Pensar num amanhã, sem confiança,
Quando a certeza é fome, em cada dia,
Que bela e progressista esta mudança,
O fruto da mais sã democracia!
E agora, mãos à obra, meus senhores;
Quem tiver unhas, vai tocar viola.
Candidatai-vos, pois, a benfeitores…
De tantos, quem dará maior esmola?
Quando irão nossos filhos comer bem?
Ter assistência médica decente?
Sem mendigar a todos e a ninguém
O que foi pago antecipadamente?
É governo o que foi oposição;
Tudo mudou, ficando igual a vida.
Comprai um voto a cada cidadão;
E a promessa, depois? Fica esquecida!...
Não hesites: comprai, a peso de ouro,
A boa fé dos pobres inocentes.
Alcançado, afinal, vosso tesouro,
Já podeis, sem temor, virar os dentes…
A nós não enganais, tende cuidado.
Calejaram-nos tantas decepções.
Ficai com Deus; que o povo, saturado,
Fartou-se de lidar com aldrabões!
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