Inevitável o coleio cadeiril de uma donzela.
Quanta certeza e graça, elas têm!
O que não se sabe, no entanto, é o que me ocorreu.
Não das maiores belezas, uma dessas
Sem galicismos de forma, surpreendeu ao meu
Querer combalido.
Moça normal, de sorriso lácteo e amor monódico,
Cruzou o meu caminho rumo ao parque e foi aí que
Tomou-me um calor equatoriano.
De orário em punho suguei o suor de meu rosto e
Em vão
Procurei traços refinados,
Pinturas afrodisíacas,
Vestes sensuais ou aromas franceses.
Nada disso, por mil demônios!
Aquela mulher de formosura preterida era
De artifício raro, o feromônio.
Os meus olhos não viam mais do que uma borralheira
E meus ouvidos só captavam um roçar rústico dos saltos
Que carregavam duas pernas finas e excessivamente caiadas.
Mas a sua essência de pêssego e riscas de alcaçuz
Vagava pelo infinito, tragava meu fôlego
E outorgava a permissão do encanto inimaginável.
Que mais poderia eu querer senão o seu cheiro?
Não contive meu desespero, querida anônima. Voltei à minha casa
E embebedei meu coração de cachaça orgânica
[medicinal, como quereria o cachacieiro]
A bebida me adormeceu. Mas as escrituras precisavam naquele dia o meu último.
Nos alvos lençóis de uma cama vazia glosei o pranto de meu desejo inconfessado
Por você.
O mal súbito não sucumbiu aos meus clamores.
À mansão suspensa dos justos fui chamado, mas creia:
Se em vida ficasse, teria morrido em seus sabores.
Havia naquela mulher, em ebulição pelos poros daquele reduto casto
[um aroma]
Um fluido animal que se esvai pela atmosfera e me ensandece.
É feromônio, a libido vaporizada, é o buquê da intimidade convidativa.
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