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🔵 Serra ou morro
Rafael da Silva Claro


Aquelas ruas de terra eram estranhas, mas logo vi que estávamos indo pro morro. A subida constante desvendou a charada. Meu pai, meu irmão e eu faríamos um passeio que hoje eu entendo como uma relativa diferença social e um movimento habitacional.

Lá embaixo, onde morávamos, apesar das casas simples, típicas da periferia guarulhense, tinha certo “status” de bairro “bom”. Engano. A fama se dava pelas ruas que os ônibus passavam, como se fossem ônibus turísticos. Lá no morro, aonde estávamos indo, mesmo com algumas casas de alvenaria, era povoado por barracos, alguns em encostas, desafiando a engenharia civil e a gravidade, pondo à prova suas fundações a cada chuva mais forte.

Chegando no alto da Serra da Cantareira, parte da Mata Atlântica foi devastada para abrigar gente com muita coragem e pouco dinheiro. Os barracos e a ausência de saneamento básico contrastavam com a vista do meu bairro, que, lá de baixo e longe, parecia melhor em todos os quesitos.

Conferindo o abismo revelado pelo morro, eu não posso abrir mão do trocadilho óbvio e, por isso mesmo, fácil do “abismo social” descoberto. Mesmo existindo, lá da Vila Galvão a diferença não parecia muito grande.

O objetivo inicial foi identificar alguns imóveis sempre reconhecidos lá do meu bairro. Entretanto, olhando para as casinhas modestas, a realidade transbordava num leve movimento circular de pescoço. A conclusão imediata: as condições eram inversamente proporcionais à altitude dos bairros e à beleza da vista.

O imponente nome “Serra da Cantareira”, bem como o “status” de “Mata Atlântica” foram reduzidos ao acidente geográfico pouco nobre “morro”. Mesmo à distância, minha primeira impressão é que ali era lugar de favelas, desmatamento e queimadas. A lembrança afetiva guarda mistérios de que naves espaciais pousavam atrás do morro.

Esse passeio foi uma das raras vezes que eu não vi meu pai trabalhando, bem como ele encontrando tempo e paciência para reunir eu e meu irmão. O significado daquela experiência só veio depois, assim como a falta do meu pai...


Biografia:
Ensino secundário completo. Trabalhei em várias empresas, fora da literatura. Tenho um blog, onde publico meus textos: “Gazeta Explosiva” Blogger
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