Somos todos tão estranhos...
Ao ouro somos a carne que anda,
que o toma de assalto,
que arrebanha,
o torna fausto,
presente,
data,
comemoração...
Ao vento somos aqueles em que o tempo,
com sua espátula,
varia de forma e sentido,
nos tira pedaços,
nos quebra como vidro,
fantasia cruel,
estátua,
nos deita sob a sombra das horas,
nos cobre com seu véu...
Aos outros sempre seremos os outros
que nos fazem esperar,
nunca chegam na hora,
somos aqueles que bebem e comem
falam coisas que só palavras ermas
querem falar,
nunca seremos os tão amados,
seremos sempre os outros,
aqueles que do lado de fora
vivem a espiar...
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