Ouço,
bem longe, mas ouço
tua voz no calabouço
do teu coração,
pensei ser de pássaro
o alvo pio da paixão,
mas não,
vem de tua voz
misturada à de teu algoz
esse canto vermelho e dolorido
que te prende entre as paredes de vidro...
Lanço,
mas não te alcanço,
essa poesia estendida entre a morte a vida,
ponte para quem quem passar
o resto de seus dias a desenhar
o céu da própria alma,
com a fúria dos loucos,
a ímpia calma
dos sábios,
se isto não for muito,
quiçá será pouco
a quem usar de seu astrolábio...
Vejo tantos à minha volta,
já maduros, graúdos,
miúdos, feios,
imperfeitos,
mas deve ser o jeito
de a vida ajeitar
cada partícula
para que seja preenchida
a obra sonhada pelo criador,
cada cisco na imensidão
seja um nano do amor...
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