Olha...te acenam lá de longe,
riem e chamam por teu nome,
te convidam para um dia de felicidade,
ao menos uma vez antes dos rochedos
se partirem com as águas dos oceanos,
antes que o corvo desça e pouse em tua janela
e lhe diga, solene...nunca mais...
O que te resta senão deixar
o fardo cair ao chão,
respirares como fazem as abelhas,
comer o pão e beber o chá,
rir e conversar palavras livres,
pousar tua poesia sobre o chão
da casa e espalhá-la,
ferir o silêncio com plumas,
amar o instante antes que ele parta
em busca do tempo perdido?
Quem dera ter te conhecido e ter te escutado,
ter ouvido teu manso córrego de sons,
ter apagado as manchas de fuligem
que se apossaram dos pulmões,
quem dera não ter tido medo
de escapar de mim mesmo,
me deitado ao sol,
ouvido a terra cantar
debaixo de minha pele...
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