Obrigado pelo voo do pássaro
a levar meus olhos por sobre cordilheiras
por teu corcoveio
oh mulher de longos seios
grato pela fumaça da chaminé
me avisando do café
da mão que assenta a calçada
onde os pés do nada
porão sua marca
gratíssimo pelo odre de uvas amassadas
a embriaguez que me leva às estradas
por onde só anjos passam
grato
pelo prato
de anchovas
o macio pão da fantasia
a alimentar minha poesia
grato
pelo fato de a vida sobreviver aos vivos
que querem a morte dos que tem juízo
mui grato
pelo asfalto feito de nuvens
que levam aos cumes
os sonhos que sonham homens comuns
até mais que isso alguns
grato
pelo fato
que acontece diante do nariz
e faz o homem despertar de sua hipnose
ideias de chafariz
muito grato
por fim
por ser o que sou
o que não sei
nem o nome
nem de onde vim
nem para onde vou...

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