Christopher permanecia com as asas abertas, gloriosamente expostas para meus olhos incrédulos de humana observar. Mas o que eu realmente prestava atenção era em seu corpo, branco feito o gelo e forte, resistente á qualquer coisa que fosse destrutível, mas pensar nele ferido deixou-me estranhamente apavorada.
Devagar, hesitante eu me aproximei dele para tocar seu peito nu, ao sentir meu toque, Christopher recuou alguns passos como se eu o tivesse cortado.
Mas não foi só ele que estranhou o toque, eu também senti um impulso de me afastar. Na verdade existiam dois grandes impulsos dentro de mim, remexendo-se de uma maneira desconfortável.
O primeiro impulso era eu me afastar, correr o mais rápido que eu pudesse; gritar por socorro e ser atendida rapidamente. Mas o segundo impulso era totalmente contrário ao primeiro. Eu queria tocá-lo, queria senti-lo próximo ao meu corpo, próximo á seus lábios. Querer que ele me tocasse. Provocá-lo a isso com todas minhas armas. Ele é tão belo!
– Quero te mostrar uma coisa... – Christopher disse hesitante, olhando-me como um oceano profundo, mergulhado nas profundezas de suas intenções obscuras.
– O quê? – Perguntei.
Seus olhos verdes olharam-me com atenção por um momento, como se estivessem ponderando algo, mas no fim ele disse:
– Meu lugar preferido de toda a cidade. – Christopher apoiou-se firmemente no chão e com um impulso esta voando feito um pássaro, só que mil vezes melhor.
Quando voltou, em suas mãos estava uma flor. Seus olhos demoraram nos meus por um momento interminável e paralisante. Christopher ainda com as asas abertas, se aproximou lentamente de mim, hesitante igual a um animal que se aproxima de sua presa. Um movimento errado e estará perdido.
Lançou no pequeno espaço entre nós, a flor, a bela flor, eu me aproximei mais um pouco e a peguei de sua mão. Ignorando quaisquer impedimentos, ele jogou-se sobre mim, caímos no chão, ele por cima de mim, nossos corpos juntos triunfantes.
– Eu não sou o que você pensa. – Christopher disse repreendendo a si mesmo por ter que mostrar a verdade encoberta.
– Não importa – eu disse completamente decidida.
– Importa sim, posso estar colocando sua vida em perigo. – Christopher disse, pegando minha mão e passando-a em seu rosto.
Estremeci com o toque.
– Antes de sua chegada, minha vida não tinha sentido. Agora ela tem, se eu morrer por você será apenas um preço a pagar. – Eu disse a verdade a ele, e ele retribuiu igualmente.
- Não imagino você me deixando, quer dizer, sou egoísta demais para deixa-la partir. Parece que quando estou longe de você falta um pedaço de mim, mas quando estou perto esse pedaço encaixa-se perfeitamente como se fosse á peça perdida de um quebra-cabeça.
Ele continuou:
– Não é digno de saborear o mel, aquele que se afasta da colmeia com medo das picadas das abelhas.
– William Shakespeare – eu disse, referindo-me a citação que Christopher fez.
– Mas um dia o Adeus vai ser inevitável... Eu estou envelhecendo a cada minuto, eu morrerei um dia... Isso é irreversível – Retruquei, abominando a ideia de um dia ter que deixa-lo.
– Eu estou apaixonado por você, vê-la todos os dias é um privilegio sem precedentes, mas adiantar a dor apenas causara sofrimento a nós dois.
Seus dedos estavam ali, parados em meu cabelo, seu hálito doce e perfeito em meu rosto.
– Não chore. Eu estou aqui – Christopher pediu, expulsando com rapidez as lágrimas traidoras, que me entregaram, revelando minha tristeza.
Adormeci em seu peito. Acordei com o beijo do vento soprando em meu rosto, o cabelo perdendo-se na mesma brisa.
Estávamos voando bem alto, o céu escuro parecia um infinito diante de nós, o tempo aqui, as horas; os minutos e os segundos não poderiam coexistir juntos mais, eram desiguais.
Eu e o anjo que me carregava, tínhamos um laço. Forte e resistente. Eu sabia que o adeus era só questão de tempo, mas mesmo assim me aninhei ainda mais em seus braços e esqueci o tempo.
Nada mais entrava em foco. Eu era dele e ele era meu, nós pertencíamos um ao outro.
Acordei novamente, mas desta vez estava em meu quarto. Não sabia como tinha chegado lá. Meu cérebro cobrou-me o meu vicio, a abstinência toldando meu humor.
Christopher havia desaparecido.Mas meu coração soube que ele voltaria. Ele havia deixado um bilhete.
Você adormeceu em meus braços, coloquei você para dormir e fiquei te olhando durante um tempo. Você me chamou enquanto dormia, chamou meu nome.
Volto mais tarde.
Do seu anjo, Christopher.
Meu coração soube que ele voltaria.Isso era o suficiente.
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