Seu sou igual a uma flor,
por que não exalo aroma que embriaga,
apenas expulso de mim esse cálido suor
que de mim, aos borbotões, salta,
sob esta carga que ignora o endereço da sabedoria,
que me faz pertencer à plebe, rude, à malta?
Se sou como átomos ensandecidos,
por que essa sensação de que vivo
dentro de um vidro,
observado todo o tempo por estudantes
que procuram, ao me observarem,
o que há de constante
em minha espécie,
se nasci de um explosão atômica,
se sou o ser que cresce
como erva daninha no quintal do tempo,
o que luta mas sempre fenece
sob a voracidade do insano vento?
Se sou do todo parte e parte de toda arte
que a vida cria incessantemente, destarte,
por que me recrio através do ato poético
como se fosse, inquisidor de mim, médico,
à procura de onde vem o que não sei,
pedra e diamante e sombra e rei
que me coroo, sublime, patético?
Seu sou a pergunta que reage ao silêncio,
que nunca será respondida,
diga-me, oráculo, a que tempo pertenço,
ponto de interrogação por toda a vida?
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