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Histórias para Contar
Um Bom Motivo
Carmen Correia

Resumo:
Sempre se tem mais do que se imagina e merece ter.

Éramos apesar de tudo uma família feliz e unida. E quando afirmo isto, tenho na memória os dias de extrema dificuldades que passamos, sendo eu e meus dois irmãos ainda crianças, e meus pais simples caseiros na fazenda dos Borges de Medeiros no interior do Espírito Santo.

Comida é verdade não nos faltava, tínhamos uma pequena horta e um canteirinho de flores lindas e perfumadas nos fundos da casa que ocupávamos nas terras do patrão dos meus pais. Havia vários pés de frutas e também muitas cabeças de gado.

Mas a ordem era para que não tocássemos em nada e até o leite nos era vendido o litro pelo preço de mercado. Seu Anselmo (como era chamado meu pai), era um homem honrado e digno e cumpria fielmente as ordens recebidas. Minha mãe uma exímia costureira (aprendera com sua mãe), fazia os vestidos das mulheres dos peões e também as roupas e os uniformes deles.

Assim juntava dinheiro para comprar alguns tecidos e nos vestir também. Eu era a única menina que eles tinham e por isso sempre sobrava para mim, a tarefa de cuidar da casa e olhar meus irmãos caçulas Bento e Joaquim.
Naquela época não tínhamos televisão e minha distração era nadar no rio que cortava a fazenda e subir nas árvores, principalmente nas goiabeiras e furtar goiabas enquanto me escondia
num pique-esconde divertido com os meninos (irmãos).

Tempo bom aquele, nos divertíamos com o pouco que possuíamos. Dormíamos cedo, assim que entardecia e começava a cair a noite, já estávamos na cama a orar o Pai Nosso e pedir por um novo dia mais abençoado ainda.
Pela manhã, logo cedinho com o sol a despontar ainda longe no horizonte, já acordávamos com o cantar no galo e o cheirinho de café vindo do fogão a lenha e feito pelas mãos de minha querida mãe.

Tenho saudades sim, talvez não da minha infância que com tanta liberdade a desfrutar em meio a natureza, mesmo assim me proporcionava dores e tristezas em não poder frequentar uma escola normal como as outras crianças (assistíamos aulas com uma professora que nas suas folgas nos alfabetizava), como não ter uma boneca que chorava que era meu sonho.

Sinto falta do sentimento que habitava meu coração puro e ingênuo de menina. Que não imaginava a vida por trás daquela porteira. Que não se dava conta de que havia um mundo além daquele rio, daquelas matas,daquele céu azul com nuvens branquinhas durante o dia, e negro e estrelado ao anoitecer. Do vento forte a uivar nas tardes frias de inverno e dos temporais, que ao passar deixavam um imenso cheiro de terra e mato molhado que tanto gostava.

Sinto saudades de mim nesses dias. De como eu dormia o sono dos justos, e de como eu me sentia protegida e amada pela minha família nas noites de lua cheia em volta da fogueira a ouvir as histórias de lobisomem contada pelos trabalhadores da fazenda Monte Carlo. O tempo passou. Aquela menina cresceu, conheceu outras terras, viajou pelo mundo inteiro. Conheceu pessoas de todos os tipos e classes sociais. Tornou-se escritora, seus livros percorreram caminhos que ela nunca sonhara existir.

Casou-se com um bem sucedido homem de negócios, teve dois filhos lindos. Ajudou seus pais a construírem seu próprio sítio, e com isso eles puderam enviar os filhos para estudarem fora. Hoje come e compra o que quer, tem tevê e até bonecas que falam em inglês. Se é feliz? Sim, ela é. Por quê então sente saudades de si mesma quando criança? Não sabe, coisas de escritora talvez. Sempre a procurar histórias novas pra contar.








Biografia:
Nada contra a verdade, senão pela verdade!
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