GERAÇÕES
PARTE II
CAPÍTULO II
Na sala de reuniões do Conselho de Administração da Fundação os membros da família Antunes se reuniram algumas vezes. Estavam discutindo quem deveria assumir o cargo mais importante e que estava em vacância devido à morte de Silas. Vanusa, Juan, Ana Maria, Marcelo e Virginia confabulavam e, finalmente, depois de 3 encontros reservados, o nome de Ana Maria fora escolhido em consenso. Seria a primeira mulher a investir-se de tão grande responsabilidade. Ana Maria Antunes, filha mais nova de Vanusa e Juan seria empossada no dia seguinte e
todos os conselheiros foram intimados a comparecerem a fim de que assinassem o livro de atas e se consolidasse a escolha.
Ana Maria Antunes era professora universitária, formada em Direito. Seu irmão, Marcelo Antunes, médico cirurgião geral, seria empossado na Vice-Presidência. Tudo ocorreu num clima de muita concórdia e paz. Ana já se achava sentada na cadeira da Presidência e seu primeiro ato
como a mais alta mandatária da entidade foi fazer publicar nos jornais da cidade uma convocação para um concurso. A Fundação iria contratar três especialistas em Administração de Empresas, recém-formados, para serem assessores do cargo de Presidente. Ana atuaria, todavia como
não possuía experiência administrativa, todas as suas deliberações seriam tomadas mediante constantes reuniões que faria com os futuros contratados, os assistentes do Conselho.
Foi realizado o concurso, por sinal, bastante concorrido. Nada menos do que cinco mil candidatos se inscreveram e, após a realização de provas escritas e entrevistas diretas com a própria Ana, os novos funcionários foram devidamente recebidos e registrados no Setor de Pessoal da
autarquia. Todos trabalhavam a todo vapor, aí incluindo os recém-chegados: Bruno Visconti, 27 anos; Márcia Loureiro, 22 anos e Samuel Valentim, 25 anos. Passavam o dia em derredor de Ana, aconselhando-a, ajudando-a a tomar decisões e fazendo-a inteirar-se de todos os pon-
tos.
Era sexta-feira. Quase todos já haviam se retirado, apenas Ana Maria e Bruno Visconti ficaram analisando e discutindo alguns projetos.
- Sabe, Bruno, tenho um sonho embutido dentro de mim. Quero seguir a linha de meu avô, Beto Antunes e de seu filho Otávio, grandes administradores que foram. Desejo ver a Fundação crescer ainda mais à custa de pesados investimentos. Por isso, estes dois projetos que atualmente estamos debatendo são importantíssimos, primordiais.
- Sem dúvida, Ana, são duas novas linhas de frente. Investir na Educação e na Saúde vai trazer grandes benefícios para todos nós e vai solidificar, ainda mais, as raízes de uma organização que prima pelo progresso sem afetar o meio ambiente.
Foram feitas todas as pesquisas necessárias e, em pouco tempo, os jornais da cidade estampavam em manchete: FUNDAÇÃO DAGOBERTO ANTUNES ADQUIRE CONTROLE ACIONÁRIO DA REDE DE HOSPITAIS MANCUZO E DA REDE DE ENSINO SUPERIOR FEITOSA PASSOS. Como não poderia deixar de ocorrer, houve comentários em todos os recantos da cidade e do país, todos parabenizando tais ações.
Em conversa particular com seu irmão Marcelo Antunes, Ana o destinou a assumir a direção geral do complexo hospitalar, como médico que era. Márcia Loureiro foi designada para ocupar o cargo de Reitora da rede de ensino superior, que congregava nada menos do que cento e
cinquenta universidades espalhadas pela nação. Samuel Valentim permaneceu ao seu lado como assistente direto do Conselho Administrativo e Bruno Visconti foi empossado como Vice-Presidente da Fundação. Trabalhando em silêncio e produzindo o máximo, logo Ana se viu observada e comentada pela mídia como possuidora dos genes administrativos dos seus antepassados. Estava feliz.
Sexta-feira. Presidente e Vice-Presidente se encontram nos elevadores. Estavam se retirando, após mais um extenuante dia de trabalho.
- Está indo para casa, Bruno? – Ana perguntou.
- Estou. Bem que gostaria de ter algo diferente, mas a rotina da sexta-feira é mesmo ficar em casa.
- Eu também gostaria de mudar esta rotina. Vamos tomar uns “drinks” ?- Ana propôs.
- Agora. É uma honra ser sua companhia.
E, cada qual em seu carro, combinaram de encontrar-se numa churrascaria um pouco afastada do Centro. Dialogaram e comeram mais que beberam e surgiu um clima romântico entre eles. Bruno a tomou nos braços e a beijou, sendo plenamente correspondido. Findaram aquele que prometia ser um simples “drink” no apartamento de Bruno, onde se entregaram aos prazeres do amor. Várias outras vezes fizeram o mesmo programa, até que, numa quarta-feira, no fim do expediente, Ana interfonou e pediu a Bruno que comparecesse em sua sala antes de sair.
- Tenho uma notícia para dar a você, não sei se vai gostar de saber.- Disse Ana.
- Pois não, fale. Certamente é minha demissão por haver tido a ousadia de namorar a Presidenta da Fundação... – Retrucou Bruno.
- Não é nada disso, seu bobo... Estou grávida! – Confessou Ana.
- O quê? Tem certeza?
- Sim, eis os resultados dos exames. Você vai ser pai. Meus parabéns! – Parabenizou Ana.
- Nossa! Que felicidade! E você vai ser mamãe... Meus parabéns!
Tomou-a nos braços ali mesmo e a beijou.
- E agora? Interrogou Bruno – Ambos somos solteiros!
- Quer casar comigo, Bruno?
- Quero! E você, quer casar comigo, Ana?
- Quero!
Foi grande a festa que mandaram fazer. O casamento realizou-se com toda pompa que mereciam os mais importantes dirigentes da Fundação Mercantil Dagoberto Antunes. Até o povo participou de forma efetiva, pois, a cidade inteira foi convidada. Depois os noivos seguiram de
avião para a Europa, onde passaram a lua de mel.
Nove meses a seguir vinha ao mundo um lindo menino que recebeu o nome de Arthur Antunes Visconti, herdeiro direto à cadeira de Presidente da Fundação. No entanto, Bruno e Ana não ficaram apenas com Arthur, logo em sequência Ana trazia ao mundo Ígor Antunes Visconti e
por aí enceraram a produção visto que Ana não poderia mais engravidar.
Marcelo Antunes igualmente contraíra núpcias e a escolhida foi uma enfermeira de nome Thaís.
Os bons tempos voltavam a plainar sobre a família Antunes e intensa paz se fazia sentir nos corações de seus integrantes.
E o tempo, que a ninguém perdoa, avançava sem que fosse percebido. A Fundação houvera investido mais, iniciara-se no setor industrial, adquirindo controles acionários de três indústrias distintas, nos ramos de confecções, aparelhos eletrodomésticos e metalurgia. O império crescia e, junto a ele, imensas somas pecuniárias.
A Fundação Mercantil Dagoberto Antunes já figurava entre os maiores conglomerados do mundo. Ana, assistida diretamente pelo marido, Bruno Visconti, cumpria à risca sua atuação administrativa, figurando ao lado dos inesquecíveis Beto Antunes e Otávio Antunes. Seus filhos cresciam: Arthur acabara de completar 15 anos e, Ígor, estava às vésperas dos 14. Família feliz, unida e bastante amada na cidade de W.
Marcelo e Tháis apenas lograram trazer ao mundo uma filha: Valéria. Era bonita e esbelta e fina personagem que despertava nos rapazes da cidade os mais arraigados suspiros de prazer.
Foi com pesar que a família Antunes comunicava à sociedade o desaparecimento de Virginia, vítima de infarto do miocárdio.
Arthur acabara de chegar da escola. Discutia com o irmão, Ígor, sobre o time de futebol da cidade, a seleção do município de W que iria disputar um campeonato em nível nacional. Arthur havia sido convocado e não escondia sua alegria.
- Grande responsabilidade tenho em defender o nome de minha cidade. Haveremos de trazer o caneco, se Deus quiser.
- É uma pena que eu não possa fazer parte da delegação, gostaria de estar onde você estivesse, dando o meu apoio. – Ígor se queixava.
- Não fique triste, eu telefonarei para você todos os dias, prometo. – Disse Arthur.
Arthur e Ígor, além de irmãos, eram muito amigos, inseparáveis. Onde um estava, o outro se fazia presente. Amavam-se e eram unidíssimos.
Arthur partia. Iria passar alguns dias distantes e Ígor o abraçara no aeroporto, chorara em seu ombro e enchera sua face de muitos beijos.
- Volte logo, irmão, amo muito você!
- Voltarei e telefonarei como prometi. Amo você, igualmente! – Colocou Arthur.
Tanto Arthur como Ígor puxaram a genética da família... eram loiros, tinham olhos verdes e pele alvíssima. Apesar de haver uma certa diferença de idade entre eles, praticamente tinham a mesma altura, em torno de 1, 75cm.
Arthur fazia sucesso na viagem... era paparicado demais pelos companheiros. Alguns o admiravam devido à sua beleza, outros buscavam agradá-lo porque pertencia a uma família importante
e era muito rico... quer dizer, ele ainda não, mas os pais...
Chegaram ao Rio de Janeiro, cidade onde ocorreriam as competições. Rumaram para um hotel nos arredores da serra que leva a Petrópolis,. Lá ficariam hospedados e treinando, já que o local dispunha de campos de treinos. Foram designados dois atletas em cada quarto e Arthur ficou com Vicente, um garoto de sua idade e que era filho de políticos. Vicente era igualmente loiro, por sinal, loiríssimo e tinha olhos cor de mel. Era, igualmente, muito paquerado por causa de sua beleza...
- Está programado algum treino para hoje? – Interrogou Arthur.
- Não creio. Acredito que temos horas livres o restante do dia e iniciaremos os treinos amanhã pela manhã... respondeu Vicente.
- Melhor – disse Arthur – assim posso dormir um pouco, acordei-me muito cedo hoje e estou sonolento. Quer ir logo tomar seu banho? Depois tomo o meu. Enquanto isso, fico aqui a arrumar minhas coisas...
- Legal.
E Vicente pegou sua toalha e entrou no banheiro, apenas deixando a porta no trinco, sem passar a chave. Tomou um banho demorado e frio, estava quente, apesar de estarem no alto de uma serra. Terminou o banho, enrolou-se na toalha e saiu. Arthur caíra no sono, talvez de tanto esperar que o banheiro desocupasse. Estava só de cueca.
- Ei, Arthur, o banheiro está livre, pode ir tomar banho, cara.
- Meu irmão, você demora um bocado...Estava se masturbando? – Inquiriu Arthur.
- Que nada, não gosto de fazer isso eu mesmo em mim... gosto quando há alguém que me dê esta carícia... – Retrucou Vicente.
- Realmente, concordo com você, é mais gostoso...
Arthur entrou no banheiro e deixou, também, a porta apenas no trinco. Vicente apenas penteara o cabelo, deitou-se na cama a si destinada enrolado ainda na toalha...
- Não se trocou ainda? Está com preguiça de vestir-se? – Arthur indagou.
- Você falou em sono... num é que meu deu sono também...
- Deve ao menos botar uma cueca, dormir com a toalha molhada pode provocar um resfriado e estamos proibidos de adoecer... – Colocou Arthur.
- Você está cheio de razão.
Deitado que estava, isso fez com que a toalha ao redor do corpo ficasse frouxa e, quando se levantou... a toalha foi ao chão, ficando inteiramente nu em frente de Arthur.
- Eita... cinema de graça... – Brincou Arthur.
- Foi sem querer, desculpe... - Lamentou-se.
- E eu não sei? Besteira, aqui só há nós mesmos. Você tem vergonha, é? – Arthur interpelou.
E para mostrar que não sentia vergonha do companheiro de quarto, Arthur retirou sua toalha, ficando igualmente nuzinho naquele instante.
- Tenho mesmo de aprender com você, Arthur... Positivamente fiquei envergonhado quando a toalha caiu, porém vejo que você encara isto com naturalidade... – Vicente confessou.
- Isto é besteira... É claro que não vou ficando nu em frente de qualquer um, mas diante de um amigo a quem considero e da mesma idade que a minha... tolice, isso...
- Obrigado pela consideração... – Frisou Vicente.
Arthur vestiu uma cueca e se deitou em sua cama. Parecia mesmo estar meio cansado. Vicente também se vestiu e ficou em seu catre. Antes de adormecerem, ainda dialogaram um pouco.
- Você tem namorada, Arthur?
- Não... você tem?
- Também não... Para ser sincero, nunca namorei... Sou virgem ainda...
- Empatamos! – conferiu Arthur – também nunca namorei e sou virgem...
Os dois riram e caíram no sono... Na verdade, estavam exaustos da viagem e só deveriam despertar perto da hora do almoço.
Ana Maria Antunes acabava de receber em sua sala o delegado Clóvis, que a esperava para uma audiência.
- Esteja à vontade, Senhor delegado. Em que posso servi-lo?
- Talvez todos pensem que a polícia haja esquecido o caso do assassinato do senhor Silas...
- Eu sei que não – colocou Ana – tenho certeza de que a polícia vem agindo na surdina...
- Exatamente, senhora Ana. Já sabemos quem foi mentor deste crime. – Confessou o delegado.
- Quem? – Ana levantou-se – Quem mandou matá-lo?
- Calma, senhora Ana. Explicar-lhe-ei...
E o delegado Clóvis relatou como se houve o procedimento até chegar ao assassino. Ana bebia as palavras e, ao final da narrativa, mostrava-se perplexa com as artimanhas usadas pela polícia.
- Nunca me passaria pela cabeça que meu assistente Samuel fosse um policial... jamais!
- Eu precisava ter alguém aqui dentro, vigiando o passo a passo de todos os funcionários, até conseguir desvendar o mistério. Silas Antunes não tinha inimigos e só poderia ser alguém aqui de dentro mesmo. Sem dúvidas... – Confirmou Clóvis.
- E como Samuel chegou à conclusão de que foi o chefe do meu jurídico o mentor intelectual da barbárie?
- Através de ouvidos apurados, conversas, pesquisas em documentos... viu como fui esperto, fazendo-o chegar a ser seu assistente?
- Realmente, uma estratégia muito inteligente. Como meu assessor, ele pôde mexer-se livremente em qualquer setor da Fundação...
- E chegou ao criminoso. Motivo do crime: seu chefe jurídico sempre foi fiel à empresa e ao Sr. Otávio... Foi Otávio Antunes quem mandou abrir processo contra a organização X... com sua morte, assumiu Silas Antunes, na época muito amigo de Leandro Thiné e, em nome desta ami- zade, ordenou ao citado chefe do jurídico que retirasse a queixa e encerrasse o processo... Em respeito à memória de Otávio, o chefe do jurídico prometeu vingar-se e contratou profissionais para executar a vítima. Tudo muito bem tramado, porém de forma excelente desvendado. Motivo fútil. - Explicou o delegado. – Por favor, mande chamá-lo, ele está preso...
O chefe do Departamento Jurídico da Fundação Mercantil Dagoberto Antunes saiu de lá algemado. Levado à delegacia, prestou depoimento e confessou o crime. Estava tudo às claras.
- Não se preocupe, senhora Ana, Samuel continuará aqui em seu posto até que consiga um substituto para ele. Muito obrigado pela atenção.
- Eu que agradeço sua gentileza, senhor delegado. Passar bem!
Arthur dormiu até perto da hora do almoço. Abriu os olhos. Olhou ao redor e se lembrou onde estava. Divisou a cama ao lado... estava vazia... Onde estaria Vicente? Neste instante, viu-o saindo do banheiro.
- Acordou, hein? Está melhor do sono? – Indagou Vicente.
- Sim – disse Arthur – Agora é tomar um banho para despertar e descer para o almoço... Estou faminto...
- Estou com fome também e tomarei banho para ir almoçar... Por que não tomamos este banho juntos?
AMANHÃ - CAPÍTULO III DESTA PARTE II
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