Bárbara julgou ser melhor não se meter nas escolhas de Lúcia de agora em diante. Desde quando ela insinuou que Bárbara só apoia o seu namoro com Butão por "se realizar" no relacionamento deles, ela preferiu não comentar e engolir qualquer comentário que tinha a fazer, inclusive quando Lúcia pedia a sua opinião.
Assim sendo, sentindo-se muito mais livre, Lúcia não escondia mais o interesse crescente que sentia por Inácio, enquanto ele, também cada vez mais envolvido, fingia que não sabia que ela tinha um namorado. Bárbara sabia que as coisas não estavam indo bem no namoro de Lúcia e Butão, mas ela sabia que isso não era justo com o seu ex-amigo, mas de qualquer forma ela preferiu ocultar o que pensava a respeito, pelo próprio bem da sua amizade com Lúcia.
Em um dia, quando eles tinham de se reunir para fazer um trabalho de Física em grupo, Inácio e Bárbara caminhavam ao lado de Lúcia para irem a sua casa. Esse objetivo, no entanto, não foi alcançado, porque Butão, que estava a espreita, foi tirar satisfação sobre o que assistia.
— Lúcia, o que é isso?
O rosto de Lúcia se empalideceu e ela olhou para Inácio imediatamente, tentando garantir, ingenuamente, que ele não tenha deduzido quem era aquela figura irritada.
— Isso o que? Estamos indo lá pra casa, pra fazermos um trabalho da escola. Só isso.
— Por que você não me atende mais? - seu tom era agressivo, como de um pai quando é desobedecido pelo filho.
— Eu ando ocupada...
— To vendo com o que. - e lançou um olhar ameaçador para Inácio - Com esse cabelinho de baitola, me surpreende que você tenha me trocado por essa porcaria.
— Ih otário, qual é a tua? - Inácio comprou a briga.
— Me chamou de que? - puxando as mangas de seu moletom na altura dos cotovelos, Butão se preparava para o combate.
— Alexandre, para com isso! - Lúcia nunca se perdoaria se Butão batesse em Inácio, ainda mais na frente de todo mundo.
— Você não se mete. - Butão a afastou e deu um empurrão em Inácio, fazendo-o esbarrar no muro da escola.
Lúcia correu e ficou entre os dois.
— Claro que vou me meter. Para com isso! Num tem nada a ver você ficar com raiva. - Lúcia olhou para Bárbara e suplicou - Ajuda aqui!
Bárbara, que assistia a tudo bastante receosa, devolveu o olhar para Lúcia e ergueu os ombros, como quem diz "O que eu posso fazer?".
— Num tem nada a ver mesmo, Lúcia? Você some da minha vista e fica todo dia de coisa com esse viadinho aí.
— Você ta me vigiando?
Mas sua pergunta fora abafada com a resposta malcriada de Inácio, que estava sendo protegido atrás de Lúcia.
— Cala a boca, idiota!
— Vem me fazer calar, babaca! - provocou-o novamente, querendo avançar.
— Para! Para! Para! - Lúcia colocou as mãos na barriga de Butão, mantendo-o afastado - Não sei do que você ta falando, mas eu preciso muito que você não enlouqueça por nada.
— "Nada"? Eu venho aqui todos os dias e todos os dias vejo você se engraçando com esse cara na saída, Lúcia. Eu não sou bobo não, garota. Ninguém me faz de otário!
— Ninguém ta te fazendo de nada!
— Para de mentir, Lúcia! - seu grito ecoou por toda a rua e atraiu dezenas de olhares.
Lúcia,olhando para os lados, preocupada com a impressão que estava causando, agarrou o braço de Butão e disse:
— Vamos. Vamos conversar só nós dois num lugar mais calmo.
Era isso que Butão queria e, portanto, não protestou.
Olhando para trás enquanto andava de braço dado com Butão, Lúcia disse à Bárbara:
— Obrigada pela ajuda. - e lhe lançou um olhar feio.
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