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Quem disse que precisa morrer para morrer?
Carolline Milici

Enquanto ela se debulhava em lágrimas conseguiu balbuciar meia palavra ou outra. Dizia que precisava de cinco minutos para respirar e pensar nas palavras certas a se usar, mal sabia ela que seu problema era entender que sentimento não se dita. Há coisas na vida que não acontecem duas vezes, então só nos basta correr atrás das chances perdidas, antes, que o tarde se torne passado demais para juntar os cacos. Ela se aninhou em meu peito e me abraçou como se quisesse sufocar o mundo que espremia todo seu eu. Era triste vê-la assim, era horrível ver a pessoa mais indestrutível não tendo chão, e se ela não tinha chão então eu não sei mais o que estava fazendo, ali, de pé. Uma palavra de amor bastava, uma faísca de empenho faria toda diferença, mas eu sabia que ela já tinha se esforçado demais. Não que ela não soubesse o que sentia naquele momento, ou não pudesse mostrar pra mim, era só que eu já sabia o que era. Confesso que relutei mais de uma vez, eu não sentia o mesmo ou não queria aceitar? Você sabia que a garganta dela se fecha toda vez que decide colocar suas dores no papel? Ninguém é capaz de entendê-la e isso a machuca. Eu sei que sempre que pode, ela faz um pedido, desejando que um milagre a mude de vez, aí quem sabe alguém a receba de braços abertos. Ah, eu deveria ter a carregado no colo se fosse preciso, não levantado seus pezinhos, mas amarrado seus medos e inseguranças com os meus em um tipo de nó invisível. Ela carregaria minha vulnerabilidade e eu a dela. Eu a deixei ali, porque sabia que morreria por dentro se continuasse ouvindo a pureza dentro dela. Quem disse que precisa morrer para morrer? Acho um absurdo ter travado quando poderia ter voado. Eu não sabia o que eu tinha até perder, e mesmo tendo perdido eu pude recuperar, e não o fiz. Talvez eu não saiba explicar ao certo porque, mas eu já tinha tudo, entende? Bom, eu achei que tinha. Porque na hora a gente não pensa direito, seguimos por caminhos conhecidos e prováveis. Temos a péssima mania de escolher a segurança e com isso mascaramos o medo que há por detrás de cada decisão comprometedora. Era comprometedor mudar o curso da história, e mesmo não dizendo uma palavra eu mudei, a mudei drasticamente. Já que estou aqui, poderia dizer à ela que as estrelas não desaparecem para sempre e que o relógio também anda para trás? Poderia fazê-la com que fosse feliz e corajosa? Você poderia acolher tudo que ela detesta e dar-lá uma vida que através de um simples sorriso como resposta a fizesse entender que àquela decisão faria com que o improvável se tornasse indispensável?


Biografia:
Carolline Milici, 21.
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