Por Jonathan Edwards
Deus estava perfeitamente satisfeito em si mesmo, mas sentiu alegria em criar.
Se Deus visou a algum fim último na criação do mundo, também visou, de algum modo, a um propósito futuro e destinado a ser cumprido pela criação do mundo, algo agradável à sua inclinação ou vontade, quer a sua própria glória, quer a felicidade de suas criaturas ou outra coisa. Se existe algo que Deus busque porque isso lhe é grato [isto é, agradável], ele se satisfaz na realização de tal coisa. Se o fim último visado por ele na criação do mundo é, de fato, algo que lhe é grato [isto é, agradável] (como sem dúvida é o caso, se consiste no seu fim e no objeto de sua vontade), também é aquilo em que ele verdadeiramente se deleita e em que tem prazer. Porém, de acordo com o argumento da objeção, como é possível Deus ter algo futuro a desejar ou buscar, se ele se encontra perfeita, eterna e imutavelmente satisfeito em si mesmo? O que ainda resta para ele se deleitar ou encontrar satisfação ainda maior, tendo em vista que o seu deleite eterno e imutável se encontra nele e ele é o objeto completo do seu prazer? O opositor se verá, desse modo, pressionado por sua objeção; que aceite, então, qualquer conceito que lhe aprouver acerca do fim de Deus na criação. Creio, porém, que não lhe resta outro modo de responder senão aquele apresentado neste livro.
Assim, talvez caiba aqui uma observação. Qualquer que seja o fim último de Deus, esse fim deve ser algo em que ele tem prazer real e perfeito. Qualquer que seja o objeto verdadeiro da vontade divina, Deus se satisfaz [nele]. E esse objeto é grato [isto é, agradável] a Deus em si mesmo ou para algo que Deus deseja usá-lo, um fim ulterior igualmente agradável. Porém, qualquer que seja o fim último de Deus, é algo que ele deseja em si mesmo, algo que lhe é grato [isto é, agradável] de per si ou em que ele tem certo grau de prazer verdadeiro e perfeito. De outro modo, devemos negar que Deus possua qualquer coisa semelhante à vontade em relação àquilo que ele realiza no tempo e, portanto, também devemos negar que a obra da criação ou qualquer obra da sua providência são atos verdadeiramente voluntários.
No entanto, temos motivos para supor que as obras de Deus na criação e no governo do mundo são, inequivocamente, frutos da sua vontade e do seu entendimento. E, se há algo em Deus correspondente àquilo a que nos referimos como atos de vontade, ele não permanece indiferente ao cumprimento ou descumprimento da sua vontade. E, se Deus tem prazer real em ver a realização de um fim objetivado por ele, essa realização diz respeito, então, à sua felicidade, àquilo de que consiste, em maior ou menor grau, o deleite ou prazer de Deus. Supor que Deus tem prazer nas coisas que realiza no tempo apenas no nível metafórico e figurativo é o mesmo que supor que ele exerce a sua vontade sobre essas coisas e faz delas o seu fim apenas metaforicamente.
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