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Conhecimento Cristão
Jonathan Edwards

Título Original: Christian knowledge: or, the Importance and advantage of a thorough knowledge of divine truth

Por Jonathan Edwards (1703-1758)

Traduzido, adaptado e editado por Silvio Dutra

“Porque, devendo já ser mestres pelo tempo, ainda necessitais de que se vos torne a ensinar quais sejam os primeiros rudimentos dos oráculos de Deus; e vos haveis feito tais que necessitais de leite, e não de sólido mantimento.” (Hebreus 5.12)

Estas palavras são uma queixa que o apóstolo faz contra os cristãos hebreus, por sua falta de progresso no conhecimento da doutrina e mistérios da religião.
O apóstolo se queixa de que eles não tinham feito progresso na sua familiaridade com as coisas ensinadas nos oráculos de Deus. Ele os reprova, não apenas por sua deficiência em espiritualidade e conhecimento experimental das coisas divinas, mas pela sua deficiência em um conhecimento doutrinal com os princípios da religião e as verdades da divindade cristã; como é evidente pela maneira na qual o apóstolo introduz esta repreensão. A ocasião da sua introdução no verso seguinte é esta, mas numa anterior, ele menciona Cristo como sendo "Chamado por Deus sumo sacerdote, segundo a ordem de Melquisedeque." (Heb 5. 10).
Quanto aos oráculos de Deus, Melquisedeque havia sido no Antigo Testamento, um tipo eminente de Cristo, e seu sacerdócio continha muitos mistérios do evangelho. Esses mistérios, o apóstolo estava disposto a apontar aos cristãos hebreus, mas ele concluiu que em razão da fraqueza deles em conhecimento, não o compreenderiam; portanto decidiu interromper o discurso sobre ele, como se vê no verso 11, "Sobre isso temos muito que dizer, mas de difícil interpretação, porquanto vos tornastes tardios em ouvir." Ou seja, há muitas coisas a respeito de Melquisedeque que contêm maravilhosos mistérios sobre o evangelho, e que gostaria de dar conhecimento a vocês, se não fosse o temor que tenho de que em razão de sua fraqueza e atraso na compreensão dessas coisas, vocês somente ficariam intrigados e confundidos por meu discurso, e assim não receberiam qualquer benefício, sendo muito difícil para vocês, assim como é para um bebê se alimentar com o alimento sólido.
Em seguida, vêm as palavras do texto: “Porque, devendo já ser mestres pelo tempo, ainda necessitais de que se vos torne a ensinar quais sejam os primeiros rudimentos dos oráculos de Deus; e vos haveis feito tais que necessitais de leite, e não de sólido mantimento.” (Hebreus 5.12)
O fato de que muito se poderia esperar de vocês, significa que deveriam saber o suficiente da Sagrada Escritura para serem capazes de entender e digerir tais mistérios, mas não é assim com vocês. O apóstolo fala de seu progresso em conhecimento, como é transmitido pelo ensino humano, como se depreende da expressão "Quanto ao tempo decorrido deveriam ser mestres"; que inclui não só a prática experimental, mas também uma doutrinária, o conhecimento das verdades e mistérios da religião.
Mais uma vez, o apóstolo fala de tal conhecimento, em que os cristãos são capazes de compreender essas coisas da divindade, que são mais difíceis de serem compreendidas, e exigem grande habilidade nas coisas dessa natureza. Isto é mais amplamente expressado nos dois próximos versos: "Ora, qualquer que se alimenta de leite é inexperiente na palavra da justiça, pois é criança; mas o alimento sólido é para os adultos, os quais têm, pela prática, as faculdades exercitadas para discernir tanto o bem como o mal." (Heb 5. 13-14). É nesse conhecimento, que consiste o progresso que devem fazer os cristãos além dos primeiros rudimentos da religião, como aqui; "Tendes necessidade de que alguém vos ensine novamente os princípios elementares dos oráculos de Deus." Portanto, no início do próximo capítulo, o apóstolo aconselha-os: "Pelo que deixando os rudimentos da doutrina de Cristo, prossigamos até a perfeição." (Heb. 6: 1)
Podemos observar que a culpa desse defeito aparece, na medida em que não tinham feito progresso de acordo com o tempo decorrido. Pelo tempo de cristãos, eles deveriam ser mestres. Como eram cristãos, seu negócio era aprender e adquirir conhecimento sobre a vida cristã. Eram estudiosos na escola de Cristo, e se tivessem melhorado no uso do seu tempo na aprendizagem, eles poderiam, pelo tempo em que o apóstolo escreveu, terem sido aptos a serem professores nesta escola. Os cristãos não devem permanecer bebês para sempre, mas crescer no conhecimento cristão, e deixando a comida dos bebês, eles devem aprender a digerir o alimento sólido.
Assim, todo cristão deve fazer um esforço para crescer no conhecimento das coisas divinas.
De fato, isto é estimado como sendo o negócio de teólogos e ministros, e comumente pensado ser o seu trabalho pelo estudo das Escrituras, e outros livros instrutivos para ganhar conhecimento, mas não se pode pensar que isto deve ser deixado para eles, como que não pertencendo ao interesse de outros. Mas, se o apóstolo tivesse entretido esta noção, ele nunca teria culpado os hebreus cristãos por não terem adquirido conhecimento suficiente para serem professores.
Ao lidar com este assunto, vou mostrar porque o conhecimento na divindade é necessário.
E por que todos os cristãos devem se esforçar para crescer nesse conhecimento.
Parte I
O que se entende por divindade, como o objeto do conhecimento cristão.
Várias definições foram dadas sobre este assunto por aqueles que têm tratado do mesmo. Podemos dizer resumidamente, que é a ciência ou doutrina que compreende todas as verdades, e as regras que dizem respeito ao grande assunto da religião cristã.
Existem vários tipos de artes e ciências ensinadas e aprendidas nas escolas, que são versados ​​sobre vários objetos; sobre as obras da natureza em geral, como a filosofia; ou o céu visível, como a astronomia; ou no mar, como a navegação; ou a terra, como a geografia; ou o corpo do homem, como a física e anatomia; ou a alma do homem, no que respeita às suas competências e qualidades naturais, como a lógica e pneumatologia; ou acerca do governo humano, como política e jurisprudência. Mas, uma ciência ou tipo de conhecimento e doutrina é acima de tudo o mais, como concerne a Deus e ao grande assunto da religião.
Teologia não se aprende como outras ciências, pela simples melhoria da razão natural do homem, mas é ensinado pelo próprio Deus em um livro cheio de instrução, que nos tem dado para esse fim. Esta é a regra que Deus deu ao mundo, para ser seu guia na busca desse tipo de conhecimento, e é um resumo de todas as coisas desta natureza, necessário para nós conhecermos. Esta teologia é chamada de doutrina, de arte ou ciência.
Na verdade, existe o que se chama de religião natural. Há muitas verdades a respeito de Deus, e nosso dever para com Ele, que são evidentes à luz da natureza. Mas a teologia cristã propriamente dita, não é evidente pela luz da natureza; isso depende de revelação. Tais são as nossas circunstâncias agora, em nosso estado caído, que nada que é necessário para sabermos a respeito de Deus, manifesta-se pela luz da natureza, na forma em que é necessário para que possamos conhecê-lo. Porque o conhecimento de qualquer verdade na divindade é de grande importância para nós, e pertence ao evangelho.
Mas a luz da natureza não nos ensina qualquer verdade nesta matéria, portanto não pode ser dito, que se chega ao conhecimento de qualquer parte da verdade cristã à luz da natureza. É somente a palavra de Deus, contida no Antigo e Novo Testamento, que nos ensina a teologia cristã.
Esta compreende tudo o que é ensinado nas Escrituras, e assim, tudo o que precisamos saber, ou que deve ser conhecido a respeito de Deus e de Jesus Cristo acerca de nosso dever para com Deus, e nossa felicidade em Deus. Teologia é comumente definida, como a doutrina de viver para Deus, ou a doutrina da vida de Deus por Cristo. Abrange todas as doutrinas cristãs como elas são em Jesus, e todas as regras cristãs nos orientando a viver para Deus, por Cristo. Não há uma doutrina, nenhuma promessa, nenhuma regra, mas o que de alguma forma ou de outra, se relaciona com a vida cristã e divina, ou a nossa vida para Deus, por Cristo. Todos eles se relacionam com isso em dois aspectos, como tendem a promover a nossa vida para Deus, aqui neste mundo, em uma vida de fé e santidade, e também como eles tendem a levar-nos a uma vida de perfeita santidade e felicidade, em pleno gozo de Deus.
Parte II
Que tipo de conhecimento da divindade, destina-se na doutrina.
Existem dois tipos de conhecimento da verdade divina: especulativo e prático, ou em outros termos, natural e espiritual.
No primeiro, nenhuma outra faculdade, senão o entendimento está em causa no mesmo. Ele consiste em ter um conhecimento natural ou racional das coisas da religião, ou de um conhecimento, como é para ser obtido pelo exercício natural de nossas próprias faculdades, sem qualquer iluminação especial do Espírito de Deus. Mas, o segundo (espiritual) não repousa inteiramente na cabeça ou nas ideias especulativas de coisas, mas o coração está nele ocupado. Ele consiste principalmente, no sentido do coração.
O mero intelecto, sem a vontade ou a inclinação, não é a sede do mesmo. E isso não pode ser chamado apenas de ver, mas sentir ou provar. Assim, há uma diferença entre ter uma noção especulativa correta das doutrinas contidas na palavra de Deus, e ter o devido senso delas no coração. O primeiro consiste no conhecimento especulativo ou natural, mas o segundo consiste no conhecimento espiritual ou prático das doutrinas.
Nenhum deles se exclui na doutrina, mas devemos procurar o primeiro (natural) com o fim de atingir o segundo (espiritual). O espiritual e prático é da maior importância, porque um especulativo sem um conhecimento espiritual é vaidade, e servirá ainda para fazer a nossa condenação maior. No entanto, um conhecimento especulativo também é de importância capital, porque sem ele não podemos ter conhecimento espiritual ou prático.
Eu já mostrei, que o apóstolo fala não somente de um conhecimento espiritual, mas de como pode ser adquirido e comunicado de um para outro. Ele desejava que os cristãos hebreus buscassem a um, em ordem para o outro. Portanto, o primeiro vem em primeiro lugar , e com ele se pretende que os cristãos devem através da leitura e de outros meios apropriados, procurar um bom conhecimento racional das coisas da divindade; enquanto o segundo, se destina de forma mais indireta, uma vez que deve ser procurado por intermédio do outro.
Parte III
A utilidade e a necessidade do conhecimento das verdades divinas.
Não há outro caminho, seja qual for, em que quaisquer meios de graça possam ser de qualquer benefício, senão pelo conhecimento. Todo o ensino é em vão, sem aprender, portanto, a pregação do evangelho seria totalmente sem propósito, se ele não trouxesse nenhum conhecimento para a mente. Há uma ordem de homens que Cristo nomeou com o propósito de serem mestres em sua igreja, mas eles ensinam em vão, se nenhum conhecimento nestas coisas é adquirido por seu ensino. É impossível que seu ensino e pregação sejam um meio de graça, ou de qualquer bem no coração dos seus ouvintes, de qualquer outra forma que não pelo conhecimento transmitido para o entendimento. Caso contrário, seria um grande benefício aos ouvintes, se o ministro pregasse em uma língua desconhecida para eles.
Toda a diferença está em que a pregação em uma língua conhecida transmite algo para o entendimento, que a pregação em uma língua desconhecida não o faz. Por conta disso, tal pregação deve ser rentável. Em tais coisas que os homens não recebem nada, quando nada entendem, e não são de todo edificados, a menos que algum conhecimento seja transmitido à mente racional, conforme o apóstolo se expressa em I Coríntios 14.2-6.
Nenhum discurso pode ser um meio de graça, mas para transmitir conhecimento; caso contrário, o discurso é tanto perdido como se não tivesse havido ninguém lá, e se aquele que falava, tinha falado apenas para o ar; uma vez que segue na passagem que acabamos de citar, onde lemos:
“6 E agora, irmãos, se eu for ter convosco falando em línguas, de que vos aproveitarei, se vos não falar ou por meio de revelação, ou de ciência, ou de profecia, ou de doutrina?
7 Ora, até as coisas inanimadas, que emitem som, seja flauta, seja cítara, se não formarem sons distintos, como se conhecerá o que se toca na flauta ou na cítara?
8 Porque, se a trombeta der sonido incerto, quem se preparará para a batalha?
9 Assim também vós, se com a língua não pronunciardes palavras bem inteligíveis, como se entenderá o que se diz? porque estareis como que falando ao ar.” (I Cor 14.6-10).
Deus lida com o homem como uma criatura racional (Daí o apóstolo apontar a necessidade da renovação da mente para o culto racional a Deus – Rom 12.1,2 - nota do tradutor); e quando a fé está em exercício, não se trata de algo que ele não possa saber. Portanto a audição racional é absolutamente necessária para a fé, pois a audição é necessária para a compreensão. Rom 10. 14 "Como crerão naquele de quem não ouviram falar?"
Da mesma forma, não pode haver amor sem conhecimento. Não é de acordo com a natureza da alma humana, amar um objeto que é totalmente desconhecido.
O coração não pode ser ajustado em cima de um objeto do qual não há qualquer ideia na compreensão. As razões que induzem a alma ao amor, primeiro devem ser entendidas, antes que possa ter uma influência razoável sobre o coração.
Deus nos deu a Bíblia, que é um livro de instruções. Mas este livro não pode ser fonte de qualquer tipo de lucro para nós, de qualquer outra forma que não seja por transmitir algum conhecimento à mente. Ele não poderia nos beneficiar, não mais do que se tivesse sido escrito na língua chinesa, da qual não sabemos uma palavra. Assim, os sacramentos do evangelho não podem ter um bom efeito de nenhuma outra maneira, do que por transmitir algum conhecimento. Eles representam certas coisas por sinais visíveis. E, o que é o fim de sinais, senão transmitir algum conhecimento das coisas significadas? Essa é a natureza do homem, que nenhum objeto pode vir ao seu coração, senão pela porta do entendimento, portanto não pode haver conhecimento espiritual daquilo em que não há primeiro um conhecimento racional. É impossível que qualquer um deva ver a verdade ou a excelência de qualquer doutrina do evangelho, que não saiba o que é a doutrina, a qual é aprendida pela mente racional.
Um homem não pode ver a excelência maravilhosa e o amor de Cristo em fazer tais coisas para os pecadores, a menos que seu entendimento seja informado pela primeira vez, de como essas coisas foram feitas. Ele não pode ter o gosto da doçura e excelência da verdade divina, a menos que primeiro tenha uma noção de que existe tal coisa, por receber informação delas de forma escrita ou falada.
Sem conhecimento da teologia cristã, ninguém seria diferente dos pagãos mais ignorantes e bárbaros. Os pagãos permanecem nas trevas porque não são instruídos, e não têm obtido o conhecimento das verdades divinas.
Se os homens não têm conhecimento destas coisas, a faculdade da razão seria totalmente em vão. A faculdade da razão e compreensão foi dada para o entendimento e conhecimento real. Se um homem não tiver conhecimento real, a faculdade ou a capacidade da razão é de nenhum uso. E se ele tem conhecimento real, mas for destituído do conhecimento das coisas que são o fim último do seu ser, e da causa do conhecimento de que tinha mais entendimento dado a ele, do que aos animais; então, sua faculdade da razão ainda é em vão; ele poderia muito bem ter sido uma besta como um homem. Mas, assuntos divinos são as coisas a serem conhecidas, pelas quais recebemos a faculdade da razão. São coisas que tocam até o fim do nosso ser, e são o grande negócio para o qual somos feitos, portanto um homem não pode ter sua faculdade de entendimento para algum bom propósito, mais do que ele tenha conhecimento da verdade divina.
Assim, este tipo de conhecimento é absolutamente necessário. Outros tipos de conhecimento podem ser muito úteis. Algumas outras ciências, como a astronomia, filosofia natural, e geografia, podem ser muito importantes em sua espécie, mas o conhecimento desta ciência divina é infinitamente mais útil e importante do que a de todas as demais ciências.
Parte IV
Porque todos os cristãos devem fazer seu negócio se esforçar para crescer no conhecimento da divindade.
Os cristãos não devem contentar-se com tais graus de conhecimento da divindade como já obtiveram. Não devem se satisfazer com o quanto eles já sabem do que é absolutamente necessário para a salvação, mas devem procurar fazer progressos.
Este esforço de fazer progressos em tal conhecimento não deveria ser atendido como uma coisa ocasional, mas todos os cristãos devem se empenhar nisto. Eles devem olhar para isto como uma parte da sua atividade diária, e deve ser atendido como uma parte considerável do trabalho de sua elevada chamada, porque:
1. Nosso negócio deve, sem dúvida, consistir muito em empregar essas faculdades pelas quais se distinguem dos animais. A razão pela qual nós temos faculdades superiores às dos animais, é que somos realmente concebidos para um emprego superior. Isso que o Criador planejou deve ser o nosso principal emprego,já que nos deu poderes superiores. Portanto, sem dúvida, deve ser uma parte considerável do nosso negócio, melhorar as faculdades superiores. Mas, a faculdade pela qual somos principalmente distinguidos dos brutos, é a faculdade da compreensão. Segue-se então, que devemos fazer o nosso negócio principal melhorar esta faculdade, porque é na verdade a mais alta que temos.
Mas, não podemos fazer uma melhoria da nossa capacidade intelectual, de outra forma, do que fazendo um empenho para melhorar a nós mesmos no conhecimento real.
Deus deu ao homem algumas coisas em comum com os animais, como seus sentidos exteriores, seus apetites do corpo, uma capacidade de prazer corporal e dor, e outras faculdades animais; porém algumas coisas que Ele lhes deu são superiores às dos animais, e a principal delas é a faculdade do entendimento e da razão. Agora, Deus nunca deu ao homem essas faculdades, para estarem sujeitas às que ele tem em comum com os animais. Esta seria uma grande confusão, equivalente a fazer do homem um servo dos animais. Pelo contrário, Ele deu esses poderes inferiores para serem empregados na subserviência ao entendimento do homem, portanto deve ser uma grande parte do negócio principal do homem, melhorar sua compreensão através da aquisição de conhecimento, pois é com este que ele exerce domínio sobre a criação, conforme lhe foi dado pelo próprio Deus.
Os pagãos mais sábios foram os que entenderam que o principal negócio do homem era a melhoria e exercício de seu conhecimento, mas eles não sabiam o objeto sobre o qual o entendimento deve principalmente ser empregado. A ciência que muitos deles achavam que deveriam buscar pelo entendimento, foi a filosofia; e, consequentemente, fizeram dela o assunto principal de seus estudos.
Mas nós, que apreciamos a luz do evangelho somos mais felizes, porque não estamos neste particular, nem errados nem no escuro. Deus nos disse sobre as coisas que devemos principalmente empregar nosso entendimento; Ele nos tem dado um Livro cheio de instruções divinas, retendo muitos objetos gloriosos sobre o qual todas as criaturas racionais devem principalmente empregar seu entendimento. Estas instruções são acomodadas a pessoas de todas as capacidades e condições, e adequadas para serem estudadas, não só por homens cultos, mas por pessoas de todos os tipos; cultos e incultos, jovens e velhos, homens e mulheres. Portanto, a aquisição de conhecimentos nestas coisas deve ser um negócio principal de todos aqueles que têm a vantagem de desfrutar das Sagradas Escrituras.
2. As verdades da divindade são excelências superlativas, e dignas de que todos devem se esforçar para crescerem no conhecimento delas. Elas são tão acima das coisas, que são tratadas em outras ciências, como o céu está acima da terra. (Nota do tradutor: nem tanto na complexidade do conhecimento, mas na sua essência e proveniência divina, celestial e espiritual, e não natural). O próprio Deus, o eterno Três em Um, é o principal objeto desta ciência; e ao lado de Jesus Cristo, como Deus-homem e Mediador, e a gloriosa obra da redenção, a obra mais gloriosa que já foi feita, seguida pelas grandes coisas do mundo celestial, a herança gloriosa e eterna adquirida por Cristo, e prometida no evangelho; a obra do Espírito Santo de Deus nos corações dos homens; o nosso dever para com Deus, e a maneira em que nós mesmos podemos nos tornar como anjos, e como o próprio Deus em nossa medida; todos estes são objetos desta ciência.
Tais coisas como estas têm sido o assunto principal do estudo dos santos patriarcas, profetas, apóstolos, e os mais excelentes homens que já existiram; e elas também são objeto de estudo para os anjos no céu; 1 Pedro 1. 10-12.
Elas são tão excelentes e dignas de serem conhecidas, que o conhecimento delas vai recompensar ricamente todas as dores e o trabalho de uma busca sincera das mesmas. Se houvesse um grande tesouro de ouro e pérolas acidentalmente encontrado, e aberto em tais circunstâncias que todos possam ter tanto dele quanto pudessem pegar; cada um não poderia pensar que valeria gastar seu tempo e esforço neste propósito?
Mas esse tesouro do conhecimento divino, que está contido nas Escrituras, e é fornecido para cada um, para juntar para si mesmo o tanto quanto ele possa, é muito mais rico do que qualquer um de ouro e pérolas. Quão ocupados todos os tipos de homens estão em todo o mundo, no sentido de obter riquezas! Mas esse conhecimento é um tipo de riqueza muito melhor, do que a comumente perseguida.
3. Verdades divinas não são um assunto exclusivo para ministros, mas de importância infinita para todos os cristãos.
Elas são sobre aquelas coisas que se relacionam com a salvação eterna, e felicidade de todos os homens. As pessoas comuns não podem dizer: “Vamos deixar esses assuntos para ministros e teólogos; eles não nos dizem respeito, porque são de importância infinita para cada homem.” Aquelas doutrinas que se relacionam com a essência, atributos e ordenanças de Deus, dizem respeito a todos, pois são de importância infinita para pessoas comuns, bem como para os ministros, para saber que tipo de ser Deus é. Porque ele é um ser "em quem vivemos, e nos movemos, e existimos" (Atos 17:28), que é o Senhor de todos; o ser diante de quem todos nós somos responsáveis; é o fim último do nosso ser, e a única fonte de nossa felicidade.
A doutrina também que se refere a Jesus Cristo e Sua mediação, Sua encarnação, Sua vida e morte, Sua ressurreição e ascensão, Sua exaltação à direita do Pai. Sua satisfação e intercessão interessa tanto às pessoas comuns, bem como aos teólogos. O mesmo pode ser dito da doutrina que se relaciona com a maneira de justificação do pecador, ou a forma em que ele se torna interessado na mediação de Cristo. Ela também diz respeito a todos, porque têm igual necessidade de justificação diante de Deus; porque a condenação eterna, para a qual todos somos naturalmente expostos, é igualmente terrível. Assim, no que diz respeito às doutrina que se relacionam com a obra do Espírito de Deus no coração, na aplicação da redenção em nossa regeneração eficaz e santificação, todos são igualmente interessados nelas. Não há qualquer doutrina da divindade que não seja de alguma forma do eterno interesse de cada cristão.
4. Podemos argumentar a favor da mesma posição, desde as grandes coisas que Deus fez para nos dar instruções acerca delas. Quanto a outras ciências, Ele nos deixou à luz da nossa própria razão, mas as coisas divinas sendo infinitamente de maior importância para nós, Ele não tem deixado para um guia incerto, mas tem nos dado uma revelação da verdade nestes assuntos, e tem feito grandes coisas para transmiti-las e confirmá-las para nós; levantando muitos profetas em diferentes idades, inspirando-os imediatamente com o Espírito Santo, e confirmando a Sua doutrina com inúmeros milagres ou obras maravilhosas fora do curso estabelecido da natureza. Sim, Ele levantou uma sucessão de profetas, a quem revelou a verdade por diversas eras.
Foi para este fim que Deus de forma maravilhosa separou o povo de Israel de todas as outras pessoas, e os manteve em separado; para que Ele pudesse lhes entregar os Seus oráculos, e a partir deles pudessem ser comunicados ao mundo. Ele também, muitas vezes tem enviado anjos para trazer instruções divinas aos homens; e frequentemente aparecido em símbolos milagrosos ou representações de Sua presença. E, agora nestes últimos dias enviou Seu próprio Filho para o mundo, para ser seu grande profeta, e nos ensinar a verdade divina (Heb 1. 1). Deus nos deu um livro de instruções divinas, que contém a soma de divindade. Agora, essas coisas que Deus fez assim, não é só para a instrução dos ministros e homens cultos, mas para a instrução de todos os homens, de todos os tipos; cultos e incultos, homens, mulheres e crianças.
Vemos em Jeremias 7.25 a afirmação de Deus de que desde os dias de Moisés vinha levantando profetas para ensinarem Sua vontade ao Seu povo: “Desde o dia em que vossos pais saíram da terra do Egito, até hoje, tenho-vos enviado insistentemente todos os meus servos, os profetas, dia após dia”. E vemos no verso 13: "Eu vos falei, madrugando, e falando." Esta é uma figura de linguagem, que significa, que Deus é quem fez isso como um negócio de grande importância, em que tomou muito cuidado, e no qual tinha o coração muito envolvido.
Se Deus tem sido tão envolvido no ensino, certamente não devemos ser negligentes na aprendizagem, mas fazer do crescer no conhecimento uma grande parte dos negócios de nossas vidas.
5. Pode-se argumentar a partir da abundância das instruções que Deus nos deu, e da grandeza daquele Livro, que nos deu para nos ensinar sobre a divindade, com a grande variedade de assuntos que nele está contido. Muito foi ensinado através da revelação que Ele fez a Moisés no passado, e que foi transmitido até nós; depois disso, outros livros foram de vez em quando adicionados, e muitas e excelente são as instruções comunicadas pelos profetas, porém Deus não achou que tudo isso fosse suficiente, porém após Cristo enviou seus apóstolos, por quem é adicionado um grande e excelente tesouro ao livro sagrado, que é para ser nosso governo no estudo deste importante assunto.
Este livro (a Bíblia) foi escrito para o uso de todos, e assim são direcionados para examinar as Escrituras (João 5.v 39 - "Examinai as Escrituras, porque julgais ter nelas a vida eterna, e são elas que testificam de mim"; e Isa. 34. 16 - "Buscai no livro do Senhor, e leia."). Àqueles que lerem e compreenderem são pronunciadas bênçãos, (Apo 1. 3 - "Bem-aventurado aquele que lê, e os que entendem as palavras desta profecia."). Se isso for verdade em relação a esse livro particular do Apocalipse, muito mais é verdade em relação à Bíblia em geral.
Deve ser considerado, que todas essas instruções abundantes que estão contidas nas Escrituras foram escritas para que pudessem ser entendidas; caso contrário, não seriam instruções. Aquilo que é dado e o aluno não pode compreender, não é dado para a instrução do aluno, a menos que nos esforcemos para crescer no conhecimento da divindade, pois uma grande parte dessas instruções será para nós em vão, quando não podemos receber o benefício na leitura das Escrituras, pois é necessário que compreendamos o que lemos. Temos razões para louvar a Deus por nos ter dado tão variada e abundante instrução na Sua Palavra; mas seremos hipócritas ao fazê-lo, se depois de tudo, nos contentarmos com pouco desta instrução.
Quando Deus abriu um grande tesouro diante de nós para o atendimento de nossos desejos, e Lhe agradecemos por nos ter dado tanto; mas ao mesmo tempo, estamos dispostos a permanecer na miséria, enquanto o temos ao nosso alcance, porque somos preguiçosos demais para recolhê-lo, isso não vai mostrar a sinceridade de nossa gratidão.
Estamos agora sob muito maiores vantagens de adquirir conhecimento da divindade, do que o povo de Deus no passado, mas se somos negligentes com as nossas vantagens, nunca poderemos ser melhorados por elas.
6. No entanto, por mais diligentes que sejamos em nossa aplicação ao estudo, há espaço suficiente para aumentar nosso conhecimento da verdade divina. Ninguém tem essa desculpa para dar, por não se aplicar diligentemente para adquirir conhecimento da divindade, com o falso sentimento de já saber muito; nem podem dar essa desculpa, por pensar que não há necessidade de se aplicar diligentemente, a fim de saber tudo o que há para ser conhecido.
Há espaço suficiente para empregar-nos para sempre nesta ciência divina, com a maior aplicação possível. Aqueles que se aplicaram mais e têm estudado por muito tempo, e fizeram as maiores realizações neste conhecimento sabem, senão pouco do que há para ser conhecido. O assunto é inesgotável.
O Ser divino, que é o tema principal desta ciência, é infinito, e não há fim para a glória de Suas perfeições. Suas obras ao mesmo tempo são maravilhosas, e não podem ser levadas até a perfeição de conhecimento, especialmente a obra da redenção, sobre a qual a ciência da divindade é principalmente focada, e cheia de maravilhas insondáveis.
A Palavra de Deus, que é dada para a nossa instrução na divindade, contém o suficiente para dela nos ocuparmos até o fim de nossas vidas.
7. É, sem dúvida, que diz respeito a cada um se esforçar para se destacar no conhecimento de coisas que pertencem à sua profissão ou vocação principal. Se, se trata de homens para se destacarem em qualquer coisa, ou em qualquer sabedoria, ou o conhecimento, certamente lhes diz respeito se destacarem nos assuntos de sua profissão principal e trabalho. Mas a vocação e trabalho de cada cristão é viver para Deus; isto é dito ser sua vocação, Filipenses 3. 14. Este é o negócio, e, se assim posso dizer, o comércio de um cristão, seu trabalho principal, e na verdade deveria ser o seu único trabalho, portanto certamente o cristão deve se esforçar para ser bem familiarizado com as coisas que pertencem a este trabalho, para que possa cumpri-lo.
8. Pode-se argumentar, portanto, que Deus determinou uma ordem de homens para este fim, para ajudar pessoas em adquirir conhecimento nestas coisas. Ele tem determinado que eles sejam mestres, 1 Cor 12. 28 – “E a uns pôs Deus na igreja; primeiro apóstolos, em segundo profetas, em terceiro mestres.” Efésios 4. 11, 12 - "Ele deu uns para apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas, alguns para pastores e mestres, para o aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério, para a edificação do corpo de Cristo". Se Deus os chamou para serem mestres, então o negócio deles é o de transmitir conhecimento. Mas que tipo de conhecimento? Não o conhecimento da filosofia, ou das leis humanas, ou das artes mecânicas, mas da divindade.
Se Deus tornou o negócio de alguns serem mestres, segue-se, portanto que fez o negócio dos outros serem aprendizes.
O nome pelo qual os cristãos são comumente chamados no Novo Testamento é discípulos, cujo significado é “estudiosos ou alunos”. Todos os cristãos são colocados na escola de Cristo, onde seu negócio é aprender, ou receber o conhecimento de Cristo, seu mestre e professor comum, bem como a partir desses professores inferiores nomeados por Ele para instruir em Seu nome.
9. Deus nos tem revelado claramente nas Escrituras, qual é a Sua vontade; que todos os cristãos devem diligentemente se esforçar para se sobressaírem no conhecimento das coisas divinas. É a vontade revelada de Deus, que os cristãos não só devem ter algum conhecimento das coisas desta natureza, mas que devem ser enriquecidos com todo o conhecimento: 1 Cor 1. 4, 5. "Dou graças a Deus sempre em seu nome, pela graça de Deus que vos foi dada em Jesus Cristo, porque em tudo fostes enriquecidos nele, em toda palavra e em todo conhecimento."
Então, o apóstolo orou fervorosamente, que os cristãos filipenses abundassem mais e mais, não só no amor, mas no conhecimento cristão; Filipenses 1. 9. "E peço isto: que o vosso amor aumente mais e mais no pleno conhecimento e em todo o discernimento."
Assim, o apóstolo Pedro aconselha a "dar toda a diligência para adicionar à fé a virtude, e à virtude o conhecimento", 2 Pedro 1. 5.
O apóstolo Paulo, no próximo capítulo a esse em que está o texto que estamos comentando, aconselha os cristãos hebreus, a deixarem os primeiros rudimentos da doutrina de Cristo, para prosseguirem até a perfeição.
Ele não desejaria de modo algum, que eles sempre descansassem apenas nas doutrinas fundamentais do arrependimento e fé, da ressurreição dentre os mortos, e o julgamento eterno, em que foram instruídos quando foram batizados, em sua primeira iniciação no cristianismo.



Este texto é administrado por: Silvio Dutra
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