Login
E-mail
Senha
|Esqueceu a senha?|

  Editora


www.komedi.com.br
tel.:(19)3234.4864
 
  Texto selecionado
Talvez Amanhã
Diogo Souza

Para ler ao som de Stranger in Moscow (Michael Jackson).

Quarenta e cinco metros o separam do chão, do gran finale. Há quanto tempo estava às voltas com aquela hipótese? Tão tenebrosa que, só de ser (in)conscientemente cogitada, levava-o para debaixo do chuveiro, da água fria e na tentativa insana de afogar as angústias, ou apenas sufocá-las por alguns momentos.
A água que corria o corpo, inundava os olhos secos e desmanchava os resquícios da dignidade que forjava para si. Água que anestesiava, causava tonturas, pontadas. Os ombros curvados, olhos perdidos, cabeça pesada, e a mente insurportavelmente pesada. Peso demais.
Saía do banho e, ainda molhado e despido de emoções, jogava-se na cama, a maldita e imensa cama vazia. Sentia vazio. Sentia-se vazio. Sentia frio. Sentia-se frio. Sentia-se meio morto, não meio vivo, apenas meio morto. Não sentia mais nada. Morria por dentro.
Nos últimos 68 dias, ao entardecer, subira ao terraço do prédio público onde trabalhava e ali encarava o pôr do sol. Não achava o crepúsculo bonito, achava-o triste, somente. Fim do expediente, fim do dia, fim da luz, fim da vida.
O pôr do sol é uma morte que se repete diariamente, o Sol morre diante de nós durante 365 dias ao ano, às vezes 366. Porém, não nos damos conta de sua partida, não nos importamos. O Sol morre ali: sozinho, aos poucos, esquecido.
Quarenta e cinco metros o separam de seu próprio pôr do sol. Frio, sem luz, sozinho, vazio, lento. Já são 68 dias de indecisão. Olha o chão, espera o Sol morrer mais uma vez.
Talvez amanhã finalmente se decidisse. Mas, (in)conscientemente, talvez ainda se agarrasse à certeza de que o Sol renasce todos os dias. Talvez um dia renasça também. Talvez um dia se jogue.
Talvez amanhã.

18 de março de 2014 23h:55min


Biografia:
Estudante de jornalismo tentando se formar, 19 anos, apaixonado por livros e música, metido a escritor e autor preguiçoso do blog "Cara do Espelho".
Número de vezes que este texto foi lido: 52807


Outros títulos do mesmo autor

Contos Se as baleias voasssem? Diogo Souza
Poesias Prosa com gosto de poesia Diogo Souza
Crônicas Talvez Amanhã Diogo Souza
Crônicas Você Diogo Souza


Publicações de número 1 até 4 de um total de 4.


escrita@komedi.com.br © 2024
 
  Textos mais lidos
O TEMPO QUE MOVE A ALMA - Leonardo de Souza Dutra 54750 Visitas
1 centavo - Roni Fernandes 54715 Visitas
frase 935 - Anderson C. D. de Oliveira 54607 Visitas
Ano Novo com energias renovadas - Isnar Amaral 54485 Visitas
Na caminhada do amor e da caridade - Rosângela Barbosa de Souza 54439 Visitas
NÃO FIQUE - Gabriel Groke 54432 Visitas
Amores! - 54388 Visitas
saudades de chorar - Rônaldy Lemos 54376 Visitas
PARA ONDE FORAM OS ESPÍRITOS DOS DINOSSAUROS? - Henrique Pompilio de Araujo 54321 Visitas
Jazz (ou Música e Tomates) - Sérgio Vale 54291 Visitas

Páginas: Primeira Anterior Próxima Última