Sinto-me igual a um navio
parado lá em alto mar
pronto para aportar.
Seguir por um canal
profundo mas certeiro
que ao cais pudesse levar.
Sinto-me igual a um navio.
Esperando, esperando
um sinal, um toque,
para funcionar os motores
e avançar em direção ao cais.
Mas queria ser uma canoa
que navega em qualquer lugar,
do alto mar ao remanso rio
que cruza minha cidade
toda florida, quase já
em tempo de primavera.
Ah, se fosse uma canoa,
deslizaria bem quietinha
no remanso do rio até chegar
ao sopé da primeira montanha azul,
e ali atracaria, bem amarrada,
com o mais forte cipó, ao primeiro
pinheiro andino que encontrasse.
Não pode ser qualquer pinheiro,
tem que ser um pinheiro calejado
de palavras que me diga
o quanto esperou a chegada
de tão doce canoa,
e que me amarre a si tão apertado,
que nunca mais, nunca mais,
consiga dali fugir.
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