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Casamento: Da TPM ao VIAGRA - 2 PERSONAGENS
Alcir Nicolau Pereira

Resumo:
RESUMO DA PEÇA: Tudo se passa em uma sala de estar de uma residência onde mora um casal. Os problemas que ocorrem são aqueles comuns entre um casal. 1. Monólogo do homem: As queixas do marido em relação às broncas da esposa e as TPM que acometem as mulheres. 2. Monólogo da mulher: As broncas da mulher, em relação às coisas que o homem faz no banho, com a roupa suja A conversa do casal (conversa em certos momentos picantes). 3. As diferenças homem x mulher: Quando falam ao telefone, quando se referem às cores, quando o homem resolve fazer um churrasco, o uso do banheiro, os apelidos. Tem cena hilariante é aquela que a mulher faz uma proposta sobre sexo que o homem não aceita. As cenas vão se desenrolando de acordo com o humor de cada um. Existem queixas, afirmações e situações que ocorrem com um casal com filhos e seus problemas: as mazelas, os ranços, os carinhos. As conversas, onde as mulheres se entendem dentro de casa e os homens não.

Inspirada em contos publicados pelo autor, no Livro CONTOS PARA BISOLHAR; e em contos publicados no Jornal Tal & Qual e RS Letras.

(c) Alcir Nicolau Pereira, Versão outubro de 2010.

PERSONAGENS: duas
    Zé Henrique - (Marido)
    Gertrudes - (Esposa)


AMBIENTE ÚNICO
1. Sala de estar de uma residência. Neste local existem saídas entradas e porta falsa imitando banheiro
2. Poltrona 3 lugares (Com almofadas, cobertor em cima, latinha vazia de cerveja e controle remoto de TV embaixo do cobertor). Esta poltrona deve permitir que em uma das cenas o casal se esconda atrás da mesma
3. Mesinha ao lado da poltrona (várias revistas em cima)
5. {Mesa ou similar (com telefone sem fio), Um pacotinho tipo presente (contém Viagra) e um copo e uma jarra com água}.
6. Outros móveis de acordo com necessidades ou para fazer ambiente.
7. Aparelho de televisão, em um dos cantos da sala. Este aparelho (pode ser somente o móvel externo de uma TV) está de costas para o público. Dentro pode-se colocar sistema de luz como se a televisão estivesse ligada.

Autorização: Fica autorizado o uso deste roteiro, sem custo algum, bastando citar a autoria do roteiro em Imprensa (escrita, falada, televisada), internet folders, cartazes, à frente do teatro ou qualquer tipo de comunicação existentes e – também - avisar pelos:
E-mail alcirnicolau@yahoo.com.br
Site: www.alcirnicolau.com
Podem, também, modificar em partes que o Diretor achar por bem, para melhor adaptação das cenas.


Cena 1 – Monólogo do homem
Personagens em cena:
Zé Henrique

AO ABRIR AS CORTINAS A SALA ESTÁ VAZIA. APARELHO DE TV ESTÁ LIGADO.
ZÉ HENRIQUE ENTRA NA SALA. ESPREGUIÇA-SE – OLHA PARA O TELEVISOR.

Zé Henrique
Televisão ligada! Tá certo, a luz quem paga é o trouxa aqui. Ninguém assistindo. (PAUSA) Querem ver uma coisa? Basta eu sentar pra olhar meu programa preferido e lá vem alguém querendo cortar meu barato. Ou os filhos, ou a dona Gertrudes, minha mulher. (PAUSA – OLHA PARA O ÚBLICO - EXCLAMA) Minha mulher! Pois sim. A Gertrudes é a sargentona desta casa.

Zé Henrique indo ao televisor.
Isso é coisa da Chiquinha. Minha filha é assim. Liga a TV, mas quando chega aquele filho da mãe do namorado, ela larga tudo e se tranca no quarto. (PAUSA - PENSA) Será que ele já está aí? (APONTA PARA QUARTO) Sei lá! O desgranido vem e vai. O filho da mãe parece um ioiô. Vai e vem! Vai e vem! Esse vai e vem até meio que aceito. O que me incomoda é o vai e vem na horizontal lá no quarto (FAZ GESTO COM A MÃO IMITANDO SEXO) Isso aqui parece a casa da mãe-Joana. Mãe-Joana! Pois sim! (APONTA O DEDO PARA O PEITO) Casa do João-Bobo. Ou Zé Henrique bocó. (APONTA QUARTO DA FILHA) Além disto, aquele safado do namorado dela faz todas as refeições aqui. Come na mesa e come lá. Come na mesa e come lá. Às vezes acho que só come lá!

Zé Henrique tenta trocar de canal.
Tem mais. Ele faz piadas sobre o meu time, toma a minha cerveja. E o pior é que não aguento o olhar de tarado pra guria. E quando eu falo, a dona Gertrudes, a sargentona, vem e diz que isso é moderno. Moderno? Pois sim! Agora namoro é um tal de namorido. Na-mo-ri-do, que é uma cruza de namorado com marido. Pode isso? Na verdade esta bandalheira é pura safadeza. Namora pra isto (FAZ GESTO DE SEXO), sem as responsabilidades de botar comida na casa. Coisa moderna uma pinóia.

Zé Henrique vai à passagem para interior da casa.
Até colchão a sargentona fez com que eu comprasse. Eu falei que o colchão seria de solteiro. Para o sacana dormir lá nos fundos, onde está cheio de mosquito. (PAUSA) Sabem o que a Gertrudes respondeu sem pestanejar: (VOZ DE MULHER) Vai ser colchão de casado sim senhor! E tem mais, o namorado dela vai dormir no quarto da Chiquinha. (PAUSA – VOZ DE HOMEM) E para completar jogou sujo. (VOZ DE MULHER): E se o filho fosse teu? E o pai da namorada dele mandasse nosso filho dormir num quartinho sujo e cheio de baratas? Nosso querido filho não. (VOZ DE HOMEM) Fiquei quieto! O que mais podia dizer! Mas é diferente, na filha da gente nada né, na dos outros, tudo (SACODE OS OMBROS) E eu com isso. O pai dela que cuide da cabrita dele que o meu bode anda solto. (PAUSA)

•     BARULHO NA COXIA – LADO ESQUERDO
•     ZÉ HENRIQUE SE ASSUSTA E CAMINHA PELA SALA

Zé Henrique
Será a jararaca? É melhor esquecer! Já chega as incomodação com a sargentona. (PAUSA) Ontem fui fazer a barba. Sabem o que aconteceu? A Gertrudes tinha usado meu aparelho para depilar as axilas, as pernas e as virilhas. Quando fui fazer a barba, a gilete tava cega. Me ralei todo! (PAUSA) Ela e a filha me matam. Para saírem tem duas fases. A fase pré. Nem me falem! Elas passam o dia fazendo dieta preventiva, compram roupa e sapatos novos, pintam os cabelos, fazem unhas, depilação, e uma escova. (PAUSA) O homem é mais fácil, basta tomar banho.

•     ZÉ HENRIQUE CAMINHA PELA SALA

Zé Henrique
Agora vamos à fase dois: É a fase espera um minutinho. Elas andam pra cá e pra lá, e o trouxa aqui esperando. (VOZ DE MULHER) Pai, tenho que fazer xixi! Benhê, espera que vou tomar água! Espera cinco minutos. (VOZ DE HOMEM) Cinco minutos, pois sim! Quem me dera! Mas agora estou me vingando. Quando vamos sair, eu me sento à frente da tv. Só levanto quando as duas estão dentro do chevete. (PAUSA – OLHA PRA PLATÉIA) Sim, tenho um chevete. É um carrinho meia nove! (RI) E daí? Finjo que não vejo que elas estão no carro. Deixo as duas gritarem umas dez vezes. Daí, fecho a porta da casa e entro na porcaria do chevette. (ESFREGA AS MÃOS). Vingança, meu nome é vingança. (DÁ RISADA)

•     ZÉ HENRIQUE CAMINHA PELO PALCO – VAI À FRENTE DO PALCO

Zé Henrique
Depois disso, tenho que aguentar os chiliques. As malditas fases da mulher? E o pior, na dona Gertrudes os chiliques são com pós-graduação. Ela é doutora nesta área. (PAUSA) Sabem quais são? Nós, homens, sabemos. De cor e salteado! T... P. M... Isso mesmo! TPM. Tensão pré-menstrual. Sei que é um treco fisiológico, mas a mulher usa em seu proveito. Querem ver: TPM às vezes pode ser Treinada Para Matar. Esta acontece quando, por exemplo, ela desconfia que a gente olhou para outra mulher. Querem mais uma? Tou Puta Mesmo. Essa é largamente usada. Basta que alguma coisa não saia como ela quer. (PAUSA) Mas, para nós homens a pior é esta: Tente Próximo Mês. Pode isso? Um mês no seco! Podem parar. Podem parar! Tem uma variante para esta aí: Tente Pela Manhã. (ESFREGA AS MÃOS DE CONTENTAMENTO) Bom! Pelo menos essa dá uma pequena esperança. (RI) Não é mesmo? Elas têm esses trecos e nós é que pagamos o pato. É uma coisa cheia de fases. A fase meiguinha é uma barbada para se identificar. Ela fica dengosa, pegajosa, grudentinha, nojentinha mesmo. Uma sarna! Se a gente está assistindo ao futebol, ela te abraça por nada, fala com vozinha de criança e com as palavras tudo com inho: (VOZ DE MULHER) Amorzinho, fofinho queridinho, bizuquinha, maridinho. Fuzuquinha. (VOZ DE HOMEM) O que será que é o raio de bizuquinha e Fuzuquinha? Vê se pode! A fase começa quando ela chega e pede: (VOZ DE MULHER) Benhê! Tô louca pra comer uma banana-maça (VOZ DE HOMEM) E ainda frisa: (VOZ DE MULHER) Com chocolate cremoso em cima, tá! (VOZ DE HOMEM) Tinha que ser banana-maça. Não poderia ser simplesmente banana? E pede quando estamos na entressafra e raio de fruta custa o olho da cara? Quando a gente pensa que tá tudo legal? Mas tem mais. De repente ela diz: (VOZ DE MULHER) Zé Henrique! Amor, eu quero um sorvete de chocolate, com mahsmelon e pitadas de amora. Busca pra mim? Busca, benhê? (VOZ DE HOMEM) Saco! Até que sorvete é legal. Eu também gosto! (PAUSA) Mas, sorvete às três da madrugada? E no inverno? (PAUSA) E onde vou arrumar essa porcaria de amora? Outro dia, às duas da madrugada ela pediu pra beber água mineral. Saí da cama com um frio de lascar e levei a água. Ela me olhou e disse: (VOZ DE MULHER) Quero sem gás, viu! Gás me atrita o estomago. (VOZ DE HOMEM) Hum! Me atrita o estomago! Pode isso? Aí lembrei que não tinha água sem gás em casa. Sabem o porquê não tinha? Ah! Não sabem, é! Naquele dia fomos ao supermercado e eu quis comprar água mineral sem gás. Ela logo falou: (IMITA VOZ DE MULHER) Zé Henrique! Eu já não falei que água é com bolinha? Tu sabes que eu só bebo água com gás. (VOZ DE HOMEM) Comprei água com bolinha, a pedido da jararaca. E agora ela queria água sem bolinha! Onde eu ia conseguir água sem gás naquela hora? (PAUSA - RI) Sabem o que fiz? Peguei uma garrafa de água com gás e sacudi (FAZ GESTO DE SACUDIR COM RAIVA) até o raio do gás sair. Funcionou, porque ela não reclamou. É assim mesmo! Pra qualquer destas coisas, se eu me nego, ela faz carinha de dengues. E o beicinho? (PAUSA – CARA DE SAPECA) Hunnnnn, o beicinho! (ESFREGA AS MÃOS) Já saiu coisa boa depois destes famosos beicinhos. Só não sai nada por causa deste raio de TPM. (RI) Neste momento temos que ficar atentos, pois é o sinal de mudança de fase. É quando inicia o temperamento depressivo. A coitadinha fica sensível, sensível. Fica dodói por qualquer coisinha. Tudo tudo causa dodói.

•     ZÉ HENRIQUE CAMINHA PELO PALCO

Zé Henrique
É o início da famigerada fase dois. Sabem como é esta segunda fase? Não sabem? Pois é outro inferno que os homens têm que aguentar. Elas se emocionam com qualquer coisa. Querem ver? Ontem aconteceu uma boa. Ela estava no banheiro e gritou: (VOZ DE MULHER) Zé Henrique? (VOZ DE HOMEM) O bobo aqui, imaginando coisa grave, correu pra lá. Ela está de pé com o olhar fixo no chão. Olhei e enxerguei um raio de uma toalha molhada. Uma porcaria de uma toalha toda úmida. Quase enlouqueci, a dona Gertrudes chorava apontando aquela porcaria de toalha. (VOZ DENGOSA DE MULHER) Olha ali, amorzinho, não parece um bebezinho? (PAUSA - VOZ DE HOMEM) Procuro a tal de bebezinho. Não vejo nada. Vejo é uma porra de uma toalha suja e molhada no chão. Ela me olhou raivosa e aos prantos pegou carinhosamente a toalha e disse: (VOZ DE MULHER – FAZ GESTO DE EMBALAR) Nana nenê, nana nenê que o bicho vem aí. (VOZ DE HOMEM) Só faltou ela dar de mamar à toalha. (GRITANDO) Mas vai ela entender que para mim aquilo era apenas uma toalha toda enrolada, amassada e molhada, porque alguém se enxugou nela. Para nós, homens, aquilo é uma bosta de uma toalha molhada. E pronto! Mas pra ela, não. É um bebê. E tá decidido! E chora emocionada.

•     ZÉ HENRIQUE MEXE NA TV

Zé Henrique
Outro dia apareceu na televisão uma reportagem onde um leão corria atrás de um macaquinho. Pronto! A Gertrudes pulou no meu colo e choramingando sacramentou a fase sensível (VOZ DE MULHER) Corre macaquinho, corre macaquinho! (VOZ DE HOMEM) Vou confessar, fiz cara de pena do macaquinho, mas torci para que o leão pegasse aquele macaco desgraçado. Tomara que o leão pegasse o macaco, o Tarzan e a Jane tudo junto. E de sobremesa engolisse aquelas porcarias de pigmeus. (PAUSA) Mas tem mais. O ápice desta fase é quando ela chega e diz: (VOZ DE MULHER) Beennhê, tu não achas que eu estou ficando meio enormezona? Olha aqui pra mim, olha! (VOZ DE HOMEM) Eu dou uma mirada na circunferência. (PAUSA) O problema não é a frase que ela diz, mas sim a entonação. Ao em vez de dizer talvez esteja enorme, ela afirma: (VOZ DE MULHER) Estou enorme. (PAUSA – VOZ DE HOMEM) Notaram que ela fugiu da palavra gorda? Eu fico pensando: digo ou não digo, digo ou não digo, digo ou não digo. Devo falar algo sobre a gordura dela? Se falo que está gorda ela diz com voz dengosa: (VOZ DE MULHER) Tu não me ama mais. (PAUSA - VOZ DE HOMEM) Se não falo nada, ela diz: (VOZ DE MULHER) Se fosse a boazuda aí do lado, mesmo gordinha, tu notava, não é? (VOZ DE HOMEM) O que tem que ver a boazuda... quero dizer... a vizinha ali do lado com nossa conversa? Nunca olho pra ela. Ontem, por exemplo, quando ela estava de vestido curto, alias muito curto, de cor azul com bolinhas amarelas, eu juro que nem vi. Nem enxerguei a blusa decotada! E nem sequer notei as tetonas. Quem é que notou que a vizinha pintou o cabelo? Eu não! Eu não! (PAUSA) Mas, vamos ao que interessa! Quando mulher pergunta se está gorda, realmente não existe resposta. Nós, do sexo masculino jamais encontraremos uma palavra adequada para responder isso. (OLHA A PLATÉIA) Se alguém souber, me conta o segredo. (PAUSA - PENSA) Com estas atitudes começa a pior e mais perigosa fase da TPM. É um divisor de águas. A famigerada fase da bomba atômica. A fase explosiva. A fase mais irascível de todas elas.

•     ZÉ HENRIQUE CAMINHA PELA SALA – ESPIA PELA PORTA INTERNA

Zé Henrique voltando
Desculpem, mas tenho que olhar se ela não vem vindo. Longe de eu provocar aquela jararaca. (PAUSA) Mas voltando a fase danada da bomba atômica. Nem Deus de mete nesta bronca. Até o diabo, nestes dias, se esconde nos quintos do inferno. Querem um exemplo? Tu chega em casa e ela está de robe e pantufas. (RI) Aquelas pantufas ridículas com um gatinho no bico. (PAUSA) Vale a pena dizer algo sobre estas pantufas. Ela comprou uma para mim e, quando esta nesta fase, quer que eu use. Deus me livre! Além das pantufas ela está com uns malditos bobs na cabeça. A cara dela, então, não é das melhores. O beijo é bem rápido, seco mesmo.

•     ZÉ HENRIQUE MEXE NA TV

Zé Henrique
Ela faz tudo isso sem tirar os olhos da tv. Aí a gente cai na asneira de perguntar: Tá tudo bem? A resposta é curta e seca: (VOZ DE MULHER) Tá! (VOZ DE HOMEM) Esse tá e com um olhar daqueles, mas sem olhar na nossa cara. Inocente a gente pergunta: tem certeza? Ela responde com um rosnado cavernoso: (VOZ DE MULHER) Teeenhoooo. (VOZ DE HOMEM) Bom, nesta hora a gente deve desconfiar que ela não está a fim de papo. Nenhum homem deve sequer sonhar em reatar qualquer papo. De repente ela grita: (VOZ DE MULHER) Merda, viu! (VOZ DE HOMEM) E nós homens, inocentemente caímos na asneira de perguntar: bem, que foi? (PAUSA) Pronto! É gatilho para o começo da fase explosiva. Uma fase nuclear. (VOZ DE MULHER) Tu não liga pra mim! Tá vendo que eu tô aqui quase chorando e tu não pergunta o que eu tenho! Claro! Tu só pensa em ti mesmo. Ah! Teu dia pode ter sido uma bosta lá no serviço? Sabe de uma coisa? O meu também é uma porcaria! E nem por isso eu fico aqui me lamentando pra ti. (VOZ DE HOMEM) Se isso não é lamento, não sei o que é! Aí o ranço aumenta mais: (VOZ DE MULHER) Pára de me olhar com essa cara que tu faz só pra me irritar, Zé Henrique. Sabes por que estou de robe? Pois te digo: aquele vestido que tu compraste pra mim ficou apertado! Eu até acho que foi indireta tua pra dizer que eu estou gorda. Tu só pensa em ti, não quis ir comigo no shopping trocar essa porcaria! Ah, não quero nem lembrar de shopping. Quando tu resolve ir, fica todo o momento dizendo: vamos embora! Vamos embora! Vamos embora, que tô com dor nas pernas. Dor nas pernas! Pra jogar bola tu não sente nada. (VOZ DE HOMEM) E o que posso fazer? Ficar quieto, bem quietinho. E ela continua com a sua TPM. Ela persiste com suas lamurias. (VOZ DE MULHER) Ontem o vizinho, aquele tarado do 26 assoviou pra mim. Por que tu não estavas comigo pra me defender! Hein, Zé Henrique? Responde! (PAUSA) Não precisa dizer! Já sei! Tu tava com alguma sem-vergonha das tuas colegas de trabalho. Só pode ser aquela loira sirigaita mesmo! Loira! Pois sim, uma oxigenada! (PAUSA) Nem pra ir buscar uma porcaria um chocolate tu presta, não é Zé Henrique. Tu me irrita! Vai embora antes que eu faça alguma besteira. Some da minha frente! (VOZ DE HOMEM) Desnorteado, a gente tenta dar um beijinho de boa-noite e quase leva um bofete. À noite ela dorme Na posição 96. Sabem o que é posição 96? É o contrário daquela outra. Ou seja, o casal dorme um de costa para o outro. Isto é, os dois de bunda. Se tentamos algo mais intimo, só se ouve um resmungo. Daí, a gente que não é bobo se ajeita na cama e dorme. (PAUSA) Quando acordamos, ela fica deitada. Pra não complicar o homem sai e vai trabalhar na santa paz. Anrã! Pensam que já tudo passou? O pior está por vir. Isso tudo que vocês ouviram é a encenação para a fase da cólica. Meus Deus! O corpo humano da mulher é diferente do homem: a mulher tem cabeça, tronco, membros e... cólicas.

•     ZÉ HENRIQUE CAMINHA PELA SALA SACUDINDO A CABEÇA

Zé Henrique
A fase da cólica começa bem no meio do expediente do nosso trabalho. O telefone toca na minha sala e eu tenho arrepios. Corro e atendo. É que, se alguma colega atender e a minha mulher estar nesta fase da TPM, coitado de mim. Quando identifico no bina a chamada, ela, com uma voz chorosa vai logo avisando: (VOZ DE MULHER) Amor, estou com uma cólica que nem consigo caminhar. Foi só colocar os pés no chão, me subiu uma dor de baixo pra cima. Nem me levantei ainda! (VOZ DE HOMEM) Preocupado aviso no serviço e volto ao lar. Para minha surpresa ela me recebe mais dócil e superamável. E faz uma cara de coitada, como se nada tivesse acontecido na noite anterior. Sem perguntar vou à farmácia comprar um remédio pra cólicas. Tu sai pra buscar o tal antispasmódico. Quando chego com o medicamento ela pega o vidrinho e fala toda melosinha: (IMITA VOZ DE MULHER) Isso eu não quero mais, prefiro um chazinho! (VOZ DE HOMEM) E eu caio na asneira de perguntar qual chá. E ela diz: (VOZ DE MULHER) Quero um chá de folhas de boldo, folhas de cidreira, folhas de laranjeira e um pouquinho de jurubeba. (VOZ DE HOMEM) Ju-ru-be-ba. Pena que não tenha supositório de jurubeba. (PAUSA) E ela acrescenta: (VOZ DE MULHER) Sem açúcar, só com adoçante, viu, Zé Henrique. Açúcar me causa gases e engorda. (VOZ DE HOMEM) Gases, pois sim. Pacientemente saio à procura destas plantas. Duas horas depois eu venho que as folhas pra fazer o chá. Ela diz: (VOZ DE MULHER) Amor, não coloca jurubeba não. (VOZ DE HOMEM) Justamente a jurubeba que fui encontrar a vinte quadras de casa. (VOZ DE HOMEM) Fico quieto, pois me parece que ela esta um pouquinho melhor. Com isso fico pensando o que será que aconteceu?

•     ZÉ HENRIQUE VAI À PORTA DE ENTRADA DIREITA - ESPIA - VOLTA

Zé Henrique
Mas a parte pior, o ápice mesmo desta fase bomba nuclear é quando ela cisma com alguma coisa. A simples troca de uma lâmpada. Haja saco pra aguentar. Elas começam com a clássica frase: (VOZ DE MULHER) Eu sou sozinha nesta casa. Ninguém sabe como trocar uma lâmpada! Nem os filhos, nem o incompetente do meu marido. É um bando de imprestável. Na verdade eles ficam vendo televisão e nem percebem que a lâmpada queimou! Esses inúteis ficam no escuro por três dias antes de notar que a bosta da lâmpada queimou! (VOZ HOMEM) Eu não troquei a lâmpada, pois achava que a luz estava apagada por causa da dor de cabeça dela, que a TPM causou. Aí ela contínua. (VOZ DE MULHER) Quando notam, vão passar mais cinco dias esperando que eu troque a porcaria da lâmpada. Eles acham que eu sou a escrava aqui da casa. Dois dias depois se dão conta de que eu não vou trocar a porra da lâmpada. Sabem por quê? Eles não sabem que as lâmpadas novas ficam dentro da porcaria do armário da cozinha. Na verdade, nem lembram que temos que comprar lâmpadas. Mas se, por um aborto da natureza, os infelizes encontrarem as lâmpadas novas, sabem o que acontece? Arrastam a poltrona da sala até a lâmpada queimada e arranham todo o chão. Isso se a cambada achar a escada! (VOZ HOMEM) Como vou saber da escada. Ela vive emprestando pra vizinhança! Aí ela inventa de trocar, só pra justificar a TPM, E fica falando: (VOZ DE MULHER) Então sou eu mesma que vou trocar. Sou independente, vou lá e troco! (VOZ DE HOMEM). E eu, que não sei de nada e recém estou chegando, recebo um olhar que fuzila: (IMITA VOZ DE MULHER) Zé Henrique! Some da minha frente! (VOZ DE HOMEM). E eu saio, né! Não sou bobo.

•     ZÉ HENRIQUE CAMINHA PELA SALA SACUDINDO A CABEÇA

Zé Henrique
Mas graças a Deus, de repente ela muda de gênio. Acho que ela se livra da possessão do capeta! A paz reina novamente. Parece mentira, mas uma colicazinha doma o monstro e a gente volta a ser um casal feliz. (PAUSA). Bom, não vamos exagerar. Elas ficam legais um tempo. Até nova crise.

•     ZÉ HENRIQUE CAMINHA PELA SALA – OLHA TV DE PERTO

Zé Henrique
Quando a mulher usa o termo (VOZ DE MULHER) Está tudo bem (VOZ DE HOMEM) é que o perigo está por chegar. É uma das mais perigosas frases que elas falam. Tudo bem significa que elas vão pensar muito antes de decidir como, quando e quanto nós vamos pagar por alguma coisa que elas acham que fizemos. A pior palavra de todas é quando ela diz (VOZ DE MULHER) Esquece (VOZ DE HOMEM). Na verdade ela quer dizer: foda-se, foda-se.

•     OUVE-SE - EM OFF - BARULHO DE ALGO CAINDO – LADO ESQUERDO
•     ZÉ HENRIQUE CORRE ATÉ PORTA LADO ESQUERDO

Zé Henrique com medo
Será que a megera me escutou falando estas coisas.

ZÉ HENRIQUE FICA BREVE TEMPO ESCUTANDO NA PORTA ESQUERDA - CAMINHA PELA SALA - VAI À FRENTE AO PALCO E OLHA PLATÉIA

Zé Henrique
Já viram homem indo ao Shoping? Nós homens vamos um pé lá, outro pé cá. É tudo rápido. Homem faz tudo de imediato. Saímos de casa com a certeza do que vamos comprar. Fazemos assim ó!

•     ZÉ HENRIQUE FAZ MÍMICA NO PALCO PERCORRENDO DEVAGAR DE UMA PONTA A OUTRA, MOSTRANDO DIVERSOS LOCAIS ALEATÓRIAMENTE.

Zé Henrique em cada lugar que para
Loja, Loja, Loja, Loja, Loja, Loja, Loja (PODE ATE INVENTAR NOME DE LOJAS)

•     ZÉ HENRIQUE VAI ATÉ UM DOS LADOS DO PALCO, AVANÇA ATÉ UM LOCAL ONDE MOSTROU EM MÍMICA SER UMA LOJA. FAZ MÍMICA QUE ENTRA NA LOJA. FAZ GESTO DE CUMPRIMENTAR UMA APARENTE ATENDENTE DA LOJA. APONTA A PRATELEIRA. PERGUNTA COM GESTO QUANTO CUSTA. FAZ QUE PEGA DAS MÃOS DA ATENDENTE O OBJETO ESCOLHIDO, CAMINHA UM POUCO. FAZ QUE PAGA O OBJETO. SAÍ DA LOJA E VAI AO CANTO OPOSTO DO PALCO.

Zé Henrique volta ao centro do palco
Agora querem ver a mulher num Shoping?

Zé Henrique circula novamente em cada lugar
Loja, Loja, Loja, Loja, Loja, Loja, Loja (PODE ATE INVENTAR NOME DE LOJAS)

•     IMITA COM TREJEITOS MULHER CAMINHANDO NO SHOPING. OLHA PRIMEIRO LOCAL ONDE MOSTROU SER UMA LOJA. OLHA VITRINE. PASSA O DEDO NO VIDRO DA VITRINA COMO SE ESTIVESSE VENDO OS PRODUTOS. VIRA PARA A PLATÉIA. FAZ CARA DE NOJO PARA O QUE VIU. CAMINHA DOIS PASSOS PARA O LADO E OLHA OUTRA VITRINE. SE ABAIXA, LEVANTA, ABAIXA, COMO SE ESTIVESSE VENDO PRODUTOS. VIRA PARA PLATÉIA E SACODE NEGATIVAMENTE A CABEÇA.
ESTA CENA PODE SE REPETIR TANTO QUANTAS VEZES O DIRETOR POR ACHAR INTERESSANTE COM OUTROS TIPOS DE GESTOS DE QUEM OLHA VITRINES.

•     ZÉ HENRIQUE IMITA CAMINHAR DE MULHER. ENTRA NUMA ÚLTIMA LOJA. OLHA PARA PRATELEIRAS. FAZ GESTO QUE QUER VER TODOS OS PRODUTOS. FAZ GESTO QUE NÃO QUER E VOLTA À PRIMEIRA LOJA QUE HAVIA OLHADO. FAZ GESTO QUE QUER VER DIVERSOS OBJETOS. VAI AO CENTRO DO PALCO

Zé Henrique
Esta última loja, que vocês viram, que foi a primeira que ela entrou, é um local que vende roupas. Não é nada fácil encontrar uma roupa perfeita. Aí que está o problema. Ela chega para a atendente e diz: (VOZ DE MULHER) Eu quero uma roupinha básica para eu ir trabalhas, mas tem que ser linda que eu possa ir numa festa caso eu precise. (PAUSA) Nada que seja justo no meu corpo, pois não quero que apareçam as gordurinhas e os pneuzinhos, mas nada larga que eu fique parecendo um saco de batata. (PAUSA) Tem que ser sóbria até por que sou uma mulher madura e devo mostrar que sou profissional. (PAUSA). Não quero nada que me deixe muito velha e que faça eu parecer uma adolescente indo pra balada. (PAUSA). Quero algo de cor bonita que não seja daquelas cheguei e nem que eu pareça uma morta. Entendeu? (VOZ DE HOMEM OLHANDO PARA PLATÉIA) Viram. E o pior, não gostam de nada que é mostrado pelas coitadas das atendentes. Deu pra entender? Mulher entra numa cacetada de lojas. Fazem as atendentes derrubarem tudo das prateleiras. E saem faceiras com um lencinho. Pode! (PAUSA) Viram as diferenças?

•     ZÉ HENRIQUE CAMINHA PELO PALCO – VOLTA À FRENTE DO PALCO

Zé Henrique
Ah! Ia esquecendo da história do colchão da filha. Estava em casa, na minha folga, quando de repente toca a campainha. Espio e vejo um caminhão de entregas. Penso: se o caminhão está em frente da minha casa, deve ser algo pra nós! Fiquei imaginando o que seria? Eu não comprei nada! É coisa da Gertrudes. Os caras vieram com uma cama e um colchão de casal novinhos em folha. Quase desmaiei. Ai! Ai! Ai! Fiquei de tocaia. Os cara entraram com o raio da cama e do colchão. De casal é claro. Perguntei se tinham certeza que era aqui. Com uma cara mais do que sem-vergonha disseram que era. Indiquei o caminho do meu quarto. (PAUSA) Cama de casal é em quarto de casal, casal casado, não é? A Gertrudes foi gritando: (VOZ DE MULHER) Espera aí, este colchão não é pra nós. (VOZ DE HOMEM) Me assustei. Pra quem seria? Sabem onde a desgranida mandou colocar o raio do colchão e a maldita cama? No quarto da nossa filha Chiquinha. Um dos entregadores me olhou com cara safada e disse: (VÓZ ROUCA DE HOMEM) Patrão! Onde coloco isso? O que eu poderia responder? Enfia esta porcaria no... no... só não disse por que o brutamontes me olhou de cara feia. Falei bem fraquinho: Coloque onde a Gertrudes mandou. Quando os eles foram embora, disfarcei e perguntei pra quem era a cama e o colchão. E a dona Gertrudes repetiu num ranço só: (IMITA VOZ DE MULHER) É pra nossa filha! (VOZ DE HOMEM) Perdi a batalha. O filho da puta do namorado da filha vai dormir aqui em casa. Dormir. Pois sim! Aquele viado tá é comendo a guria. E eu pago o pato. Pagar o pato! Pois sim! Vou é pagar as prestações do colchão e da maldita cama. Só vou esperar os carnês da loja. É o pago e pegue! Eu pago e ele pega a filha. (COMEÇA A TREMER DE RAIVA –Te acalma, Zé Henrique, acalma, olha as coronárias). Tá certo, não posso enfartar. Se morro, quem vai pagar estas porcarias de colchão e cama?

•     ZÉ HENRIQUE CAMINHA PELO PALCO E VAI SE ACALMANDO - MEXE E DÁ PANCADINHAS EM CIMA DA TV

Zé Henrique
Querem mais diferenças entre nós homens e as mulheres. Como exemplo Apelidos: A Carla, a Silvia, a Vera e a Lucimara chamam umas às outras de Ca, Sil, Vé e Lu. Nós homens falamos afetuosamente com os amigos: Montanha, Cabeção, Seco, Negão, Prepúcio e Peidorréia. Tudo numa boa. (PAUSA) E os Objetos do banheiro. Nós, homens, tem apenas seis: escova de dente; pente, quem tem cabelo, né; espuma de barbear; barbeador, sabonete e uma toalha. Já as mulheres tem 865 coisa no banheiro. Nós, homens, não conseguimos identificar a maioria. (PAUSA) No casamento a mulher casa esperando que o homem mude e ele não muda. Os homens casam esperando que elas mudem, mas ela simplesmente muda.

•     ZÉ HENRIQUE CAMINHA PELA SALA

Zé Henrique faceiro
Domingo é folga. Adoro domingo. Cervejinha, televisão, futebol no canal dos esportes. Ah! Poltrona! Papo pro ar! Preguiça! (PAUSA) Será?

•     ZÉ HENRIQUE CAMINHA PELA SALA

Zé Henrique muda de humor
Domingo! (PAUSA – MUDA DE HUMOR) É uma droga. Pode virar um pesadelo. Primeiro: o domingo é a ante-sala da segunda-feira. Chefe chato! Pensam que vou dar o vexame de ir de chevette para o serviço? Nunquinha! Vou é de condução com motorista particular. Isto é, de ônibus mesmo. Segundo: o domingo é uma droga mesmo. Daqui a pouco vem a jararaca da minha mulher. Na certa vai querer assistir àquele gordo que só e gordo do umbigo pra cima. (OLHA PARA PÚBLICO) Quem? Aquele que não deixa ninguém responder as perguntas que ele faz. Orra, meu! A Gertrudes se julga dona da tv. (PAUSA) Pois hoje não vai ter pra ela. Vai ser futebol ou rebento esta tv. (PAUSA) Rebento nada, depois quem paga o prejuízo sou eu. Pago a prestação da TV, pago o maldito colchão e a porcaria da cama. Tudo praquele filha da mãe faturar a minha filha. Ah! Tem mais. Dia de folga tem as tarefas impostas pela sargentona. Uma ditadora cruel. Vive me enchendo o saco, (VOZ DE MULHER) Zé Henrique, troca a lâmpada do quarto que queimou! Zé Henrique isso, Zé Henrique aquilo. Zé Henrique arruma a tomada do ferro elétrico (VOZ DE HOMEM) Ferro é o ela vai levar hoje à noite. (VOZ DE MULHER) Se tu não trocar não passo a tua calça. (VOZ DE HOMEM) Pode até não passar, eu vou com elas amarrotadas mesmo. A desgranida espera eu ligar a TV pra pedir coisas. (VOZ DE MULHER) Zé Henrique, ajeita o carro na garagem. Amanhã eu levanto cedo e não posso colocar o lixo na rua. (VOZ DE HOMEM) Lixo! Eu vou é colocar essa desgramada no lixo. Sabem qual é o perigo? O perigo é o lixeiro devolver esta jararaca. Ou a prefeitura me multar por não colocar as coisas certas no lugar certo. Ainda mais se for dia de coleta seletiva. (DÁ RISADA) Ou lixo orgânico, isso sim. (PAUSA - PENSA – SE ARREPENDE DO QUE DISSE) Não, na verdade ela ainda tá muito apetecível. (RI E SACODE OS OMBROS). Já cansei de olhar a Gertrudes e dizer: não tem tu, vai tu mesmo. (PAUSA- PENSA – OLHA PARA SI) Também olhem pra mim! Nós nos merecemos!

•     ZÉ HENRIQUE CAMINHA PELO PALCO – COÇA A CABEÇA

Zé Henrique
Ela vive reclamando que eu largo as cuecas em todo lugar. Me digam! Quem me ensinou isso? Mamãe! Minha mãe! Que é mulher. Ela juntava sem dizer nada. Os homens são vítimas eternas das mulheres que não são sua mãe. A mãe ensina que mulher faz tudo para o homem. As esposas quebram este encanto. Não querem que a gente faça aquilo que aprendemos com a mãe da gente. A Santa Mãe, que é mulher! Depois tem a nossa filha! Ela se tranca no quarto com o namorado. Não concordo, mas a Gertudres me corta toda vez que eu falo. Ela esquece que, quando namorávamos, eu queria ir pro quarto dela, e ela não queria ir. Que droga!

•     ZÉ HENRIQUE CAMINHA PELO PALCO - ARRUMA AS CUECAS ENFIANDO AS MÃOS PELA CINTURA

Zé Henrique
Tem uma coisa que ela reclama. Se fico com cueca três dias, lá vem bronca. Se tiro a cueca, lá vem bronca! (VOZ DE MULHER) Zé Henrique, bota esta cueca imunda na roupa suja. O pior é quando não puxo a descarga no banheiro. (PAUSA – DÁ RISADINHA) Uma vez, quando fui ao banheiro, dei descarga umas dez vezes. O raio do negócio ia até o fundo. Quando eu ouvia um barulho, lá estava o treco de volta. Parecia um ioiô. Sabem como é. Vai e volta. Volta e vai. Ia lá no fundo e regressava triunfante à tona. Parecia que a porcaria queria respirar. Na última ele foi água abaixo. Sai descansado. Não levou dois minutos a sargenta gritou: (IMITA VOZ DE MULHER) Zé Henrique, vem cá. Vem ver teu submarino que voltou à tona! (VOZ DE HOMEM) Pois fui. Quando entrei, ela apontava o vaso. Olhei e lá estava o raio do torpedo boiando. Mirei aquela bosta de cocô e gritei: Jeison! Só pode ser o cocô tipo jeison. Aquele dos filmes que não morre nunca. É verdade! Dava descarga o treco dava mil voltas na água e mergulahava. Logo a seguir voltava triunfante.

•     ZÉ HENRIQUE CAMINHA PELO PALCO

Zé Henrique
Sabem a última? Levei bronca dias atrás? Coloquei erradamente as meias na cestinha de papel higiênico. Tava distraído, sentado no vaso lendo uma revista. Não sei usar o vaso sem ler. Não tem homem que consiga ir ao vaso sem ler alguma coisa. Se não o treco não sai de jeito nenhum. Parece que existe uma pacto evacuatório entre a revistas, os olhos que lêem, o aparelho digestivo e o fiofó. Sem revista ele não abre. Como estava quente retirei as meias e distraído coloquei na cesta do papel higiênico. Nem notei que tinha feito. Colocar as meias ali foi um pequeno engano. Uma distração. Mas a bronca foi como se eu tivesse cometido o maior crime do mundo. E sabem o que ela disse: (IMITA VOZ DE MULHER) Tira estas meias fedorentas da cesta de papel higiênico. (VOZ DE HOMEM) Parece que ela deu uma indireta que as meias fediam mais do que o resto que estava no cestinho. Mas tem pior. Muito pior. Quando a sargentona limpa a casa tem uma regra. E aí de mim se não acato! Quando chegou em casa, ela grita: (IMITA VOZ DE MULHER) Zé Henrique não vai pisar no chão limpo. (VOZ DE HOMEM) Acho que vou ter que aprender uma maneira de andar com os pés na cabeça. Outro dia, quando sentei sem cueca na cama veio o sermão: (IMITA VOZ DE MULHER) Zé Henrique, não senta na cama, tira esta bunda suja daí. (VOZ DE HOMEM) Quando perguntei o que tem a minha bunda ela lascou: (IMITA VOZ DE MULHER) Zé Henrique, a bunda não tem nada, o perigo é o que tem no meio dela (FAZ GESTO FECHANDO DEDO INDICADOR COM POLEGAR) Aquilo sela o lençol limpo da cama. (VOZ DE HOMEM) Mas não adianta! Se não quer que eu sente é definitivo, não posso sentar. Na ocasião eu disse que faria uma coisa drástica. Que ia colocar na porta de entrada da sala um cabide. (PAUSA – DÁ ÊNFASE NA FRASE) Um cabide de pendurar bumbum, na verdade cabide de pendurar fiofó. (PAUSA – FAZ GESTO DE PENDURAR) Entro em casa, tiro o (MOSTRA O TRASEIRO), e deixo-o pendurado no cabide. Sem fiofó talvez ela permita que eu sente na cama. A gente sem (MOSTRA TRASEIRO) não pode sujar a cama, né? (RI) Meu medo é que o cabide vire moda. E todos que nos visitam inventem de colocar seus devidos cuzes no cabide. Sabem como é! Se for novidade e não ter custo, sempre aparece um louco para entrar numa fila para experimentar um fiofózinho no cabide. E se a gente, quando vai sair de casa, em alguma confusão, pega o (MOSTRA TRASEIRO) dos outros. Imagina eu pegar o (MOSTRA TRASEIRO) da minha sogra. Eu acho que não saberia fazer cocô com o fiofó dos outros. Na verdade nem sei o que o raio daquela sogra faz com o dela. (PAUSA – RI) Não fica bem a gente ficar pegando o cu dos outros, né! Pensando melhor, é melhor não fazer este cabide. Quem vai tomar lá sou eu de novo! Mas resolvi o problema sem o cabide. Ou fico nu e de pé, ou compro uma cueca reserva pra sentar na cama. (PAUSA – RI) Imagine, inventei a cueca estepe. Acabei de inventar a cueca regra três. Pode?

•     ZÉ HENRIQUE CAMINHA PELO PALCO - DÁ RISADAS

Zé Henrique
Nós não entendemos as mulheres! Querem ver? Vamos falar em cores. Por exemplo cor A... bó... bo...ra... Isso não é cor, pombas! Me deixam louco. Ela fala cada cor que vou te contar. Na verdade são todas as mulheres que falam estas estranhas cores. Prestem atenção caros homens. Esta que está ao seu lado certamente as usa. E nós homens nada entendemos. Querem ver? Pra nós existem somente sete cores. (FALA PAUSADO) No... má... xi... mo... se... te... co... res. Por aí. São elas azul, verde, amarelo laranja, rosa, roxo e vermelho. Mais que isso não existe porcaria de cor. (PAUSA) Vou dizer como elas não falam Azul. Dizem Azul furtivo! (FAZ CARA DE HORROR) Puta que pariu! Azul furtivo? Que porcaria de cor é esta? (FAZ CARA DE DESCONFIADO) Outro azul é Azul aço! (GARGALHA). Pode? Só se for a cor das indústrias de aço. (PAUSA) Mas a melhor variante de azul é azul céu profundo. (RI) Nossa! (FALA PAUSADO) Azul... céu.... profundo. Vão sacanear nós homens lá na caixa prego. Se é azul céu, deveria ser chamado azul pra cima! (PAUSA). Nós homens aceitamos a cor rosa. Rosa é rosa e acabou. Nãoooooooooooo. Para elas têm variantes. (PAUSA) Salmão (FAZ CARETA) Salmão é peixe aqui e até em baixo d´água. (PAUSA) Rosa profundo. Nãooooooo! Mas profundo não é o azul? Vai entender isso lá no inferno. Decidam-se senhoras, profundo é o azul ou é a porcaria do rosa? (PAUSA) Rosa chocante (CARETAS) Deve ser a cor de quem leva um choque. (PAUSA) Tomara que levem um choque no rabo quem inventou esta cor. Mas fiquem sentadinhos que agora vem a maior variante de rosa; (SARCASMO) Fúcsia, Puta que los pariu! Fúcsia é cor? Fúcsia pra mim é o raio de uma plantinha. (FICA OLHANDO COM CARA DE BOBO A PLATÉIA - REPETE EM VÁRIAS ENTONAÇÕES CAMINHANDO PELO PALCO): Fúcsia, Fúcsia, Fúcsia, Fúcsia, Fúcsia. GRITA: Fúcsiaaaaaaa. (PAUSA) Um dia a Gertrudes, que não entende nada de futebol, viu a camiseta do inter. E lascou: (IMITA VOZ DE MULHER) Que urucu maravilhoso. Urucu? A camisa do inter é vermelha, porra! E ela teimou: (IMITA VOZ DE MULHER) Vermelho é diferente. (VOZ DE HOMEM) Na insistência de que a camiseta era urucu só faltou eu mandar ela tomar no urucu. (PAUSA) Urucu dela, né!

•     ZÉ HENRIQUE ESPIA PELA PORTA LADO ESQUERDO

Zé Henrique
Já tentaram assistir ao futebol com elas por perto? Ou qualquer outro programa. Mal ligamos no canal preferido e lá vem ela: (VOZ DE MULHER) Amorrrrrrrrr! Benhêêê! (VOZ DE HOMEM) Finjo que não ouço. Aí, mais incisiva grita: (VOZ DE MULHER) Zé Henrique Tu não viste a propaganda daquele automóvel lindo, lindo? (VOZ DE HOMEM) Nosso chevete tá bom! Ela insistiu para trocarmos de carro. Só se eu tirar dinheiro do... (PAUSA) Noutro dia a Gertrudes perguntou se eu vi como o Antônio Fagundes beijou a ... (PAUSA) Não vi porcaria nenhuma. Foi quando ela disse que eu era desligado, que não olhava e não dava bola para os comerciais de que ela gosta, que eu odiava o BBB! Sei lá o que é BBB. Quem assiste isso? Muitas pessoas, embora neguem, que não assistem, assistem sim. No trabalho dizem: Tava passando pela sala da TV e vi um pedacinho. (PAUSA) Outro dia, tarde da noite estávamos vendo TV. E a Gertrudes me propôs recordar os tempos de namoro. Aquilo que fazíamos na sala por baixo do cobertor. Pode isso? Bem no meio do futebol. Quando começamos o pega-pega a mãe dela chegou. Pensei que o raio da velha tava dormindo. E eu de calças no joelho. Tudo de fora. Quando falo tudo, quero dizer, tudo mesmo. E a Gertrudes segurando o que a velha viu que ela tava segurando. Pensam que a veia saiu? Que nada! Ficou ali mesmo. Ela sentou ao lado, eu com a calça arriada e a velha falava pra Gertrudes: Agora ele não vai casar contigo. Naquele tempo fez tinha que casar. Hoje não! É diferente. Quando vamos para onde os filhos estão namorando, a gente vem tossindo de longe. Ou arrastando os pés.

•     ZÉ HENRIQUE CAMINHA PELA SALA

Zé Henrique
Na verdade, tudo é confusão aqui em casa. Os filhos que brigam um com o outro. Se eu dou umas xingadas num deles, cinco minutos depois estão unidos contra mim. E com apoio de Gertrudes. Quando jovem, se eu dizia isso pro meu velho, levava um bofete de virar a cara pra trás. Mas hoje tem a tal psicologia. Quando eu era guri a psicologia era diferente. Meu pai usava a psicologia em volta da barriga. Eu errava, meu pai me colocava no caminho certo, tudo psicologicamente apoiado pela cinta paterna. Hoje tudo mudou. Se faço algo para os filhos, corro o risco deles ficarem maluquinhos. E tenho que aguentar a jararaca defendendo os dois. Minha geração está presa entre duas gerações. Antes eu ficava quieto na mesa. Ai de mim que falasse alguma coisa. Hoje, eu é que fico quieto. Os filhos são os que dão a letra.

•     ZÉ HENRIQUE CAMINHA PELO PALCO (NESTA CENA AS PALAVRAS DO TEXTO EM NEGRITO DEVEM SER COLOCADAS EM DESTAQUE COM ENTONAÇÃO DE VOZ PARA CASA UMA DELAS)

Zé Henrique
Mas tem outras coisas de mulher que irrita. É a semântica do palavreado feminino. Nós homens não conseguimos entender patavina. Quando elas conversam somente elas entendem. Vocês que são homens vão entender. (PAUSA – RESPIRA FUNDO) Outro dia eu escutei uma conversa entre a Gertrudes e minha filha. As duas falavam numa língua que parecia ser português. Mas eu nada entendia. Olhem como começou. A filha perguntou: (IMITA VOZ DE MULHER) Manhê, onde é que tá aquilo? (VOZ DE HOMEM) E a resposta veio imediata: (IMITA VOZ DE MULHER) Em cima daquela coisa! (VOZ DE HOMEM) A filha, entendendo tudo ainda perguntou: (IMITA VOZ DE MULHER) Onde? Perto daquela outra coisa? (VOZ DE HOMEM) A Gertrudes, na carinha lascou: (IMITA VOZ DE MULHER) Aquilo está bem do lado do outro negócio. Pra que é que tu queres aquela coisa? (VOZ DE HOMEM) E a filha entendendo tudo responde: (IMITA VOZ DE MULHER) Ora, mãe, pra vestir com aquele outro treco. (VOZ DE HOMEM) Elas estavam entendendo tintim por tintim. Eu, simples mortal, não entendia patavina. Pensei que o assunto havia terminado quando a filha perguntou: (IMITA VOZ DE MULHER) Tem certeza que aquilo tá lá, mãe? (PAUSA – RESPIRA FUNDO - VOZ DE HOMEM) A resposta da Gertrudes veio de imediato: (IMITA VOZ DE MULHER) É só ir por ali. (VOZ DE HOMEM) E a minha filha atenta àquela conversa responde: (IMITA VOZ DE MULHER) E aí eu chego lá? (VOZ DE HOMEM) (VOZ DE HOMEM) E eu nem sabia que em casa tinha um ali e um lá! (PAUSA) Brava, a Gertrudes, foi falando. (IMITA VOZ DE MULHER) Esta guria não encontra nada de nada. Parece Até o pai dela. Aquilo tá em baixo daquela coisa ao lado daquele negócio, em frente daquela outra coisa. (PAUSA – RISADA DESESPERADA) (VOZ DE HOMEM) Viram, sobrou pra mim. Pois não é que a filha foi buscar o tal daquilo que estava ao lado da coisa. Ou será que ela queria era o negócio. Quem sabe o treco. Que dúvida cruel. Quase tive um treco, que é uma coisa diferente dos trecos que elas procuravam. E eu pensei cá com meus botões: Agora sim, ela vai voltar com este raio de coisa ou aquilo e vou saber o que é o treco. Pra meu azar, e aumentar ainda mais o meu isolamento lingüístico, a filha voltou sem a coisa e muito menos com o aquilo, que pelo jeito não estava em cima do raio do treco. Se tivesse voltado com um objeto palpável, visível, real, sólido, que ocupasse um lugar qualquer no espaço, talvez eu entendesse aquela conversa maluca. Desta maneira eu poderia descobrir o que seria aquilo ou, quem sabe, o que era o treco e o negócio. Negativo. Mulher tem muitas surpresas Nada veio nas mãos da minha filha em forma de matéria. E como sei que não existem coisas invisíveis o tal de treco ficou insistentemente lá, ao lado daquilo. Foi quando resolvi entrar na conversa. Num repentino estalo do Padre Vieira estabeleci “contatos imediatos de primeiro grau” e fui me introduzindo no bate-papo. E perguntei: Amor! Posso tomar aquilo que tá lá junto com aquele outro treco? A resposta veio pronta e de imediato: (IMITA VOZ DE MULHER) Pode, só não toma aquela outra coisa. Toma aquele negócio. (VOZ DE HOMEM) E com cara severa ainda avisou: (IMITA VOZ DE MULHER) E não vai sujar lá, (VOZ DE HOMEM) Ela parecia manjar tudo o que eu estava falando. Entendi o que era aquilo que eu não devia tomar. E aceitei que deveria mesmo tomar era a outra coisa. Não consegui entender como ela compreendeu que, para as duas, aquilo era uma coisa que procuravam no quarto, enquanto o outra coisa era um negócio diferente. Minha esposa, que conhecia profundamente aquela estranha língua, entendia que o meu aquilo não era o aquilo que minha filha estava procurando. Aí aconteceu o melhor. Minha filha, entendendo tudo avisou: (IMITA VOZ DE MULHER) Pai! Pega também aquilo em cima do treco. Leva também aquele negócio que eu preparei para o aperitivo. (VOZ DE HOMEM) E num apoio incondicional feminino, sacramentou: (IMITA VOZ DE MULHER) Pai, cuida pra não sujar lá. (VOZ DE HOMEM) Neste momento eu pousei novamente no planeta Brasil. Até me sentia poliglota. A semântica de família havia entrado no meu cérebro de alienígena ignorante e imbecil. Sabem o que aconteceu? Abri o treco, que pra mim era a geladeira; peguei aquilo, identificado apenas como uma cervejinha e agarrei o negócio, simplesmente umas azeitonas. Juntei tudo com a outra coisa, que era um reles copo de vidro; e fui sentar lá, vulgarmente o que entendemos como sala da tevê. Esta sala que agora estou. (PAUSA) Mas, para não me complicar com as mulheres da casa fechei bem o treco, ou seja a geladeira, tomei todo cuidado para não sujar o lá com o aquilo e a outra coisa. Se não as duas, que entendem melhor que eu este incrível vocabulário familiar e semântico, poderiam gentilmente solicitar que eu pegasse um outro treco qualquer, junto com um novo aquilo e fosse limpar a sujeira que eu por ventura fizesse no lá. (PAUSA – FALANDO AOS HOMENS DA PLATÉIA) Senhores, entenderam este treco todo? Não? Se querem saber que negócio é este, perguntem para as mulheres que estão ao seu lado. Perguntem. Mas antes vejam se não estão iniciando uma TPM.






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Cena 2 – Primeiras conversas
Personagens em cena:
Zé Henrique
Gertrudes

GERTRUDES ENTRA NA SALA

Gertrudes incisiva
O que tu tá falando aí?

Zé Henrique recuando
Nada, não! Nada, não!

•     ZÉ HENRIQUE VAI À FRENTE DA PLATÉIA

Zé Henrique à plateia
Viram. Não tenho razão?

•     ZÉ HENRIQUE TENTA SAIR DA SALA

Gertrudes
Aonde tu vai?

Zé Henrique
No banheiro! (PAUSA) Posso, dona Gertrudes?

Gertrudes
Pode!

Zé Henrique irônico
Muito obrigado.

•     ZÉ HENRIQUE VAI EM DIREÇÃO AO BANHEIRO

Gertrudes
Zé Henrique! No banheiro da frente não senhor! Vai no banheiro dos fundos.

•     ZÉ HENRIQIE IRRITADO SACODE OS BRAÇOS. PEGA JORNAL E VAI EM DIREÇÃO A PORTA LADO ESQUERDO

Gertrudes
Zé Henrique!

Zé Henrique virando-se para Gertrudes
Quié?

Gertrudes
Pra que este jornal?

Zé Henrique
Ora essa! Pra que seria, Gertrudes.

Gertrudes brava
Olha lá, hein, Zé Henrique. Olha tuas respostas.

Zé Henrique
Também, mulher, Tu pergunta cada coisa.

Gertrudes
É pra ler, né?

Zé Henrique
Não! É pra limpar a bunda!

Gertrudes brava
Tem papel no banheiro.

Zé Henrique
Não pode ser papel higiênico. Tem que ser jornal. Aliás, tô louco que minha bunda aprenda a ler.

Gertrudes brava
Zé Henrique! Zé Henrique!

Zé Henrique
Eu sei, mulher. O jornal é pra eu ler. Posso ler no banheiro, não?

•     ZÉ HENRIQUE TENTA SAIR

Gertrudes
Zé Henrique!

Zé Henrique irritado
Quiéééé, Gertrudes!

Gertrudes
Depois fecha a braguilha, tá

•     ZÉ HENRIQUE TENTA SAIR NOVAMENTE

Gertrudes
Zé Henrique!

Zé Henrique mais irritado
Quiéééé, Gertrudes!

Gertrudes
Dá descarga, viu! Olha o submarino que vai e volta.

Zé Henrique mais irritado
Engraçadinha!

•     TELEFONE TOCA
•     ZÉ HENRIQUE ATENDE AO TELEFONE

Zé Henrique
Alô! (PAUSA) Tá sim, Vou chamá-la (TAPA BOCA DO TELEFONE – VIRA-SE PARA GERTRUDES) Acho que não vais atender. É a Isaura! Aquela tua amiga que disseste que não gosta mais dela. (PAUSA) Vais atender?

Gertrudes
Vou!

•     ZÉ HENRIQUE ENTREGA FONE PARA MULHER
•     GERTRUDES PEGA O TELEFONE

Gertrudes
Alô! Amigaaaaaaaaa! Querida, como vai esta belezura!

•     ZÉ HENRIQUE VAI À PLATEIA – SEGREDA PARA A PLATEIA

Zé Henrique
Isso que ela não gosta da Isaura. (PAUSA BREVE) Mas não gosta mesmo. Querem só ver o que mulher faz ao telefone! Fiquem sentados e esperem pra me darem razão.

•     ZÉ HENRIQUE CAMINHA EM DIREÇÃO A PORTA INTERNA – PÁRA - FAZ GESTO DE FIGA PRA GERTRUDES E SAI PELA PORTA LADO ESQUERDO



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Cena 3 – Mulher ao fone
Personagens em cena:
Gertrudes
Zé Henrique

Gertrudes atendendo ao telefone sem fio caminhando pelo palco.
Alô! Vou bem e tu? Estás bem, é! (PAUSA COMO SE ESCUTASSE - TAPA BOCAL – DIRIGE-SE À PLATÉIA) Eu quero que esta bruxa morra.

Gertrudes ao fone
Claro, amoreco, mas claro que vi, querida. O corte do teu cabelo ficou uma ma-ra-vi-lha. Aliás, nem precisava. Teu cabelo sem corte e ao natural já é lindo.

Gertrudes à plateia, sarcástica, tapando o bocal do fone.
Lindo, pois sim, parece umas espigas de milho. E com caruncho.

Gertrudes ao fone, rindo
Claro, né, só podia, Tu cortaste lá no Manoelito Fru-Fru, aquele mago da tesoura.

Gertrudes tapa o bocal, olha à plateia, zombando.
Mago da tesoura. Pois sim! Para aquele cabelo ele tinha que ser o mago da máquina de cortar grama.

Gertrudes ao fone, sorrindo
O quê? Repita, querida. (PAUSA) Não ouvi porque estava abanando uma mosca. (PAUSA) O que eu achei? Maaaraaaviiilhooosooo. Ficaste uns dez anos mais moça.

Gertrudes tapa o bocal, olha à plateia, rindo
É uma mosca, querida! A mosca! (PAUSA – TAPA BOCAL DO FONE E SECREDA À PLATÉIA) É verdade! Essa baranga ficou dez anos mais moça. Agora parece ter uns setenta e quatro anos.

Gertrudes ao fone, sorrindo
As mechas que fizeram no teu cabelo? Ficaram bárbaras! Bárbara não, ficaram tártaras (PAUSA) Não, querida, quis dizer tártara por que os tártaros eram mais que os bárbaros. Entendeu? (TAPA BOCAL DO FONE - DIZ Á PLATEIA) Que burra! Não sabe quem eram os tártaros. (PAUSA - VOLTA A FALAR AO FONE) Vou mandar fazer meu cabelo igualzinho ao teu. Claro! (PISCA PRA PLATEIA) Quero algo igualzinho ao teu. (PAUSA) Foram luzes? (PAUSA) Não? É uma técnica nova de clareamento que ele trouxe de Paris? (PAUSA) Maravilha!

Gertrudes à plateia, desdenhando, tapando o bocal do telefone
Mecha! (RISADA) De Paris. Veio é da estância do coronel Limoeiro. Lá se faz mecha em vaca.

•     GERTRUDES FICA CALADA COMO SE ESCUTASSE O FONE.
•     ZÉ HENRIQUE ENTRA SEM FAZER BARULHO – VAI A PLATEÍA – FAZ SINAIS E FALA MOVIMENTANDO OS BRAÇOS E OS LÁBIOS DIZENDO QUE AGORA VOCÊS ENTENDEM – SAI DISFARÇANDO

Gertrudes ao fone, sorrindo
Teu vestido? (PAUSA) É divino! Um pouco curto, mas realça teu jeitão. Principalmente estas suas lindas pernas.

Gertrudes à plateia, debochando tapando bocal do telefone.
Curto demais (RISADA) Da pra ver as varizes até na altura das coxas.

Gertrudes ao fone, sorrindo
Mas claro que achei linda a blusa! (PAUSA) É, realça teus seios. Notei que tu não estava usando sutiã! (PAUSA) Como notei? Notando, ué!

Gertrudes à plateia, com escárnio, tapando bocal do telefone.
Quem não notaria. Os bicos estão na altura do umbigo. (RISADA) Sem sutiã estava tudo lá embaixo. Se ela tentasse se suicidar com um tiro no seio, pegava no joelho.

Gertrudes ao fone, rindo
Teu marido gostou de tudo isso? (PAUSA) É merecido. Ele deve ter orgulho da mulher que tem.

Gertrudes à plateia, debochando, tapando bocal do telefone.
Não sei como aquele gato continua casado com ela. Deve ser pelo dinheiro. Só pode!

Gertrudes ao fone, rindo
O quê? Precisas sair (PAUSA) Que pena, tu sabes que eu adoro conversar contigo. (PAUSA) Pra ti também. Te adoro. Qualquer coisa me liga, tá!

Gertrudes desliga o fone se dirige à plateia, debochando
Ainda bem, não aguentava mais esta baranga. (PAUSA - PENSA) Será que a bruxa fica falando de mim? (PAUSA) Só pode! Gentinha como ela é só pode fazer isso.

•     GERTRUDES COLOCA TELEFONE NA BASE - VAI À PLATÉIA

Gertrudes
Era uma amiga minha! Amiguíssima!

•     GERTRUDES OLHA EM VOLTA COMO SE PROCURASSE ALGO



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Cena 4 - Monólogo da mulher
Personagem em cena:
Gertrudes

Gertrudes
Ué! Quedele o Zé Henrique? (BATE NA TESTA) Ah! Foi ao banheiro. Deve estar trancado lá. Quando vai parece que aluga o banheiro.

•     GERTRUDES VAI À PLATEIA

Gertrudes
O Zé Henrique fica bravo quando faço as coisas com ele. Só faço pra ver o sujeito zangadinho (RISADA SARCÁSTICA). Ele fica lindinho quanto tá zangado. (PAUSA) Mas quem tem que ficar brava sou eu. Querem ver? Pra homem qualquer pano é toalha! Até as calças ou bermudas. Ele lava a mão e enxuga nas calças. Não são eles que lavam. (PAUSA) Mas a esposas que têm homem assim devem dar graças a Deus que, pelo menos, estes lavam as mãos. Tem aqueles que não lavam as mãos depois de ir ao banheiro. (PAUSA). Como sei? Ora essa! Perguntem pra maioria das mulheres. (PAUSA) Antes acontecia aqui em casa. Certo dia fiquei espiando. Ele não me viu. O sujeito fez xixi. Sacudiu aquela porcaria, e depois, nada de lavar as mãos. Quando chegou perto de mim quis fazer carinho no meu rosto. Essa não! Mão naquilo e mão na minha cara? Não mesmo! Acham que adiantou? Quando eu não tô por perto, o filho da mãe vai até à pia, joga água no sabonete. (PAUSA) Pra que água no sabonete? Para as mulheres acharem que ele usou o raio do sabonete. Na verdade ele só molha as pontinhas dos dedos. Mas, homem é assim mesmo.

•     GERTRUDES CAMINHA PELA SALA. VAI À FRENTE DO PALCO

Gertrudes
Sabem o que o safado me disse? Que não lava o dito-cujo do meio das pernas (FAZ GESTO - IMITA VOZ DE HOMEM) Minha filha, o bruto aí debaixo (FAZ GESTO MOSTRANDO) tá sempre bem protegido. Não tem coisa mais limpa que esse coitado. Nem poeira pega de tão tapado que está! Então, se tá bem limpo e protegido, pra que lavar a mão. Entre as mãos e ele, o mais limpo é ele. Dá de dez a zero nas mãos. (VOZ DE MULHER) Respondi na hora. Então lava as mãos antes de pegar o “tá sempre mole” dele, pombas!

•     GERTRUDES CAMINHA PELA SALA. VAI À FRENTE DO PALCO FALA ÀS MULHERES

Gertrudes
Amigas, já viram banho de homem? Não finjam que não? (PAUSA) (PAUSA) Eles já se pelam no quarto. Sentam na cama e jogam as coisas pra todo lado. (PAUSA) (PAUSA) O meu, por exemplo, cheira as cuecas quando tira. Acreditem! (FALA PAUSADAMENTE) Chei... ra as cu... ecas. Se não tem cheiro, o danado veste novamente. (PAUSA) Isso ele não apreendeu comigo. Sabem com quem? Ah! Adivinharam, né? (PAUSA) Aprendeu com a megera da minha sogra que viciou o filhinho nisso. E tem mais. Depois de usada o dia todo ainda pergunta: (IMITA VOZ DE HOMEM) Acho que esta aguenta mais um round. (VOZ DE MULHER) Como se a coitada da cueca estivesse lutando box com o bigolim (PAUSA) Pode ser! O treco dele tá sempre nocauteado. (DÁ RISADA – PAUSA) Quando vai ao banheiro não leva toalha. Também, tem a bobalhona de plantão pra levar. Ele grita: (IMITA VOZ DE HOMEM) Bennnnnhê, trás a toalha. (VOZ DE MULHER) E lá vou eu levando o raio da toalha. Mas eu levo! Claro que levo! Não por ser serviçal. Sabem por quê? Se não o sacana se enxuga na toalha de rosto. (PAUSA) Mas não pára por aí, toda vez que entro no banheiro ele tá dando risada. Ele passa espuma na bunda só pra ver o traseiro fazer bolinha. (PAUSA) O pior é quando pego o infeliz fazendo xixi embaixo do chuveiro. (PAUSA) Minhas amigas, se não sabem! Eu vos digo! Homem faz xixi dentro do box. E depois a gente pisa naquilo. (PAUSA) E os pelos pubianos? Eu não agüento mais cabelos que ficam no sabonete. Ele sempre tem uma ou duas respostas. (IMITA VOZ DE HOMEM) Vai ver que só eu que tenho pentelho aqui em casa! (VOZ DE MULHER) E lá vem a piada infame dele. Pergunta se eu sei a diferença de um pentelho no sabonete e uma criança numa festa. Lógico que eu não sabia. Mulher nunca sabe de nada! Ainda mais piada. E ele respondeu com a cara de pau. (VÓZ DE HOMEM) Não tem diferença. Pois na festa de criança e no sabonete, ninguém sabe de quem é aquele pentelho! (VÓZ DE MULHER) O safado diz pentelho para a gurizada pequena. E dava risada o desgranido! Até hoje estou em dúvida que ele insinuou que os cabelinhos no sabonete são meus. (SACODE OS OMBROS) Os meus eu depilo. (PAUSA) Tem outra! O Zé Henrique não se enxuga direito e deixa pegadas de água pela casa toda. (PAUSA) Deixa a luz do banheiro acesa. E quem tem que ir apagar sou eu. Deixa a torneira aberta. Porque o filho de uma égua não desliga.

•     GERTRUDES CAMINHA PELA SALA E ESPIA PELA PORTA LADO ESQUERDO

Gertrudes
Querem mais? Se reclamo dos puns dele. (PAUSA) O safado diz que soltar é humano. Pode? Ele diz que até cão solta. Na verdade ele quer é colocar a culpa dos puns no Tói. (PAUSA) Quem é o Tói? Tói é nosso cachorrinho. Um dia fiquei furiosa. Ele falou que até o Papa solta uns traques. Bom, se solta, deve ser um santo pum. O Zé Henrique também anda falando que o nosso querido Paixão Cortes, que serviu de modelo para a estátua do gaúcho, solta uns e outros. Deve ser um pum campeiro. Só pode! Tomara que a gauchada cape o desgranido. (PAUSA) Não o do Paixão, o do Zé Henrique. (PAUSA) Esqueçam! Ele capado vai fazer falta aqui em casa. (RI) Querem outra? Lembro o primeiro dia que ele foi lá em casa. Não é que ele soltou um na sala. Ainda bem que o vovô disse que ele assumisse. Vovô falou: (IMITA VOZ DE HOMEM VELHO) Aqui nessa família ninguém pede ninguém em namoro com o fiofó. Normalmente é com a boca. (PAUSA) Eu sempre digo pra ele. Pára como isso, olha a camada de ozônio. A última dele não aguentei. Estávamos na cama e ele soltou um. Embaixo das cobertas. E adivinhem: Dez minutos queria fazer sexo. Imaginem! Que romântico: traque com sexo! Mas ele, terminou a noitada (APONTA A POLTRONA) ali ó!

•     GERTRUDES CAMINHA PELA SALA

Gertrudes
Homem não entende as mulheres. Nem as coisas simples do mundo. Num desses dia pedi: Zé Henrique, me trás minha bolsa abóbora que esta no guarda-roupa. Ele apareceu com a bolsa de cor abóbora. Bem certinho. Mas sabem o que o infeliz disse? (VOZ DE HOMEM) Amor, a bolsa tá aqui, mas não tem abóbora no guarda-roupa. (VOZ DE MULHER) Como ele não presta atenção no que falo, só ouviu a palavra abóbora. E foi procurar um vegetal dentro do guarda-roupa. Que raça mais burra.      

•     GERTRUDES CAMINHA PELA SALA E ESPIA PELA PORTA LADO ESQUERDO

Gertrudes
Tem mais! (PAUSA) Domingo! Ah, domingo! Os homens acordam e falam de boca cheia. (VÓZ DE HOMEM) Minha querida esposa hoje vai descansar. O almoço quem vai fazer sou eu. (VOZ DE MULHER) Até parece! Churrasco é o único prato que a maioria dos homens sabem fazer. Pra início vou ter que arrumar a esculhambação que ele e o filho deixaram na garagem dos fundos. Limpo a mesa, varro o chão, recolho os badulaques. (PAUSA) Depois vem o pior. É a fase do “onde é que tá?” Todo homem tem esta fase. A do onde é que está tal coisa. Dias atrás ele chegou me perguntando onde estava a chave do chevette. Fiquei olhando pra ele, pra aquela cara de pateta. Quando ele falou que queria as chaves eu só disse: Abra a mão, infeliz. Ele estava com as chaves na mão. Outra vez ele perdeu os óculos. Deixei ele procurar sozinho. Duas horas depois eu disse que os óculos estavam na testa dele. (PAUSA) Na hora de assar o churrasco, não acha nada. (IMITA VOZ DE HOMEM) Mulher! Quedê os espetos? (VOZ DE MULHER) E lá vou atrás dos espetos. Meia hora depois encontro o raio dos espetos ainda sujos do churrasco anterior. Sujos porque ele disse que ia lavar e não lavou. Não é que o sujeito, para não lavar, escondeu os espetos num buraco atrás da churrasqueira? E a boba aqui tem que lavar. (IMITA VOZ DE HOMEM) Negrinha! Quedele o sal grosso? (VOZ DE MULHER) Não é que o filho da mãe, que disse que iria cozinhar, não comprou o sal grosso. Saio correndo para o armazém, rezando que esteja aberto. (PAUSA) Pra não ter que ouvir mais, já vou colocando junto à churrasqueira todos os apetrechos necessários. (PAUSA) Nem os pratos e talheres ele ajuda colocar. (VÓZ DE HOMEM) Não posso arrumar a mesa, se saio daqui a carne queima. (VÓZ DE MULHER) E notem bem! Quem vai fazer o almoço era ele. Ai ele pega um ridículo daqueles que ao levantar a barra aparece um (FAZ GESTO ESPALMANDO AMBAS AS MÃOS MOSTRANDO O TAMANHO - RI) Embora de avental, ele limpa as mãos nas bermudas. (PAUSA) E os cinco panos de prato. (PAUSA) Nesta hora já tomou quatro caipirinhas. Mais as oito cervejas. Depois disto, quem fica cuidando a carne? (BATE NO PEITO) Eu, né! Na hora de comer ele vai perguntando (IMITA VOZ DE HOMEM) Querida, quedê a maionese? Bem, traga o óleo pra salada. Tem sobremesa? Querida, já que tu tá mais perto, traga mais uma cervejinha. (VÓZ DE MULHER) Abro a geladeira e não tem cerveja ali. Claro! Ele não colocou. E ai, na maior cara de pau ele pede: (IMITA VOZ DE HOMEM) Amor, busca lá na geladeira da cozinha. (VÓZ DE MULHER) E fala fazendo beicinho, entenderam? Bei-cin-nho. (MUDA EXPRESSÃO BRAVA PARA CARINHOSA) Bom, ai até que não resisto e vou buscar. (RI) Ninguém é de ferro, né? (MUDA PARA BRAVA) Depois deste trabalho eu pergunto: afinal, quem é que ia cozinhar. (PAUSA) Ai termina o almoço! (PAUSA) Ele, cheio de cachaça, se joga na poltrona e ronca que nem porco. E lá vou eu lavar a louça. Mas afinal, me respondam? Quem é mesmo que cozinhou? Eu ou ele? Nem precisam responder! E depois de três horas roncando, ao acordar, ele pergunta: (VÓZ DE HOMEM) Amor, gostou de não ter que cozinhar? (VÓZ DE MULHER) Mas a gente pode se vingar. Se não estamos a fim de sexo a gente olha o pebolim dele e vamos falando: Ahhh, que meigo. O bruto amolece na hora. (PAUSA) Quer jogar água fria somente diga: Vamos ficar apenas abraçados. (PAUSA) Dê uma olhada com cara de nojindo e diga: Tu sabia que tem uma cirurgia para consertar este tamanho? (PAUSA) Para fazer ele se aquietar, basta dizer: Quando te conheci o seu pé era grande. Imaginei que aquilo era grande também. (PAUSA) Ou falar: Se regar ele cresce? (PAUSA) A mais corriqueira que ainda funciona, desde o tempo da vovó: Ai, de repente me deu uma dor de cabeça.

•     OUVE-SE TOSSE EM OFF – LADO ESQUERDO

Gertrudes
Viram? Falou no burro, apontou as orelhas. Ou o relincho.

•     ZÉ HENRIQUE ENTRA PELA PORTA LADO ESQUERDO – PIGARREANDO – SENTA - PEGA UMA REVISTA E COMEÇA A LER
•     GERTRUDES SENTA E COMEÇA A VER TV



.
Cena 5 - acertos e desacertos
Personagens em cena:
Zé Henrique
Gertrudes

Gertrudes
– Benhêêê!

•     ZÉ HENRIQUE SE MEXE NA POLTRONA – CONTINUA LENDO A REVISTA.

Gertrudes olha Zé Henrique e aponta a TV
– Amorrrrrrrrr!

•     ZÉ HENRIQUE SE MEXE - NÃO TIRA OS OLHOS DA REVISTA – NÃO RESPONDE

Gertrudes grita
Zé Henrique.

Zé Henrique sem tirar os olhos da revista
Quié?

Gertrudes
Tu não viste?

Zé Henrique bravo
Viste o que, mulher?

•     GERTRUDES MAGOADA VIRA PARA O LADO, VOLTA A OLHAR TV - SE REMEXE NA POLTRONA
•     ZÉ HENRIQUE LÊ REVISTA EM VOZ ALTA

Zé Henrique batendo na revista
Prenderam cinco senadores. (PAUSA – ENFIA O ROSTO NA REVISTA) O queeeeeeeee? Não acredito. (PAUSA – LÊ - SUPRESO) Ah! Nos Estados Unidos. Ah! (PAUSA) Só podia ser em outro país. Aqui no nosso não se prende ninguém! Será? Ah? (CONTA NOS DEDOS) Prenderam o... Não, já soltaram! (CONTA NOS DEDOS) Aqueles da... Também não. Tão soltos. O que colocou a grana na cueca? Tá solto. Essa agente não é presa nunca. Com o roubo compraram mansões. (BATE NA REVISTA) Olha aqui! Tem um que tem um castelo. (PAUSA) Vinte milhões! (SUPRESO) De euros! (PAUSA – BATE NA REVISTA) Olha aqui, vendiam até selos do governo. O cara vendia selo. (PAUSA) Selo ou não selo eis a questão!

Gertrudes
Zé Henrique! Fala baixo, por favor! Não tá vendo que eu tô assistindo meu programa?

•     ZÉ HENRIQUE CONTINUA LENDO A REVISTA

Gertrudes
Zé Henrique!

•     ZÉ HENRIQUE NÃO OLHA PRA GERTRUDES - CONTINUA LENDO

Gertrudes dócil
Mozinho

•     ZÉ HENRIQUE RESMUNGA

Gertrudes
Tu viste como o Antônio Fagundes beijou a ...

Zé Henrique para de ler a revista (FALA FORTE)
Não vi porcaria nenhuma. Tô lendo a revista!

Gertrudes
Seu bruto! (PAUSA) Também, tu nunca vê nada. Tu vive alheio às coisas importantes!

Zé Henrique
Nossa! Eu alheio? O que queres dizer com isso?

Gertrudes
Tu és desligado das coisas importantes. Não olha novela. Não dá bola para os comerciais de que gosto. Não gosta do BBB!

Zé Henrique sacode a cabeça
E quem assiste isso?

Gertrudes
Todo mundo!

Zé Henrique
Gertrudes! Gertrudes! E desde quando novela é importante. Desde quando bbb é importante?

Gertrudes
Não são pra ti! Pra mim são!

Zé Henrique
E propaganda, qual a importância disso?

Gertrudes
É, mas quando é propaganda tem mulher gostosa, tu faz zoinho, não é?

•     ZÉ HENRIQUE SE ENGASGA – TOSSE – LEVANTA E CAMINHA

Zé Henrique
Desculpe, amor!

Gertrudes
Nada não, amor eu também sou meio chata!

Zé Henrique
Humm...

Gertrudes dengosa
Vem agora. Vem aqui pertinho. Pra recordar os tempos de namoro. (MALICIOSA) Aquilo que fazíamos na sala por baixo do cobertor. Vem namorar, vem!

Zé Henrique
E as crianças?

Gertrudes
Sei lá, deixa pra lá!

•     GERTRUDES LEVANTA - SENTA

Gertrudes
Sabe quem está internado no hospital. Na U.T.I.?

•     GERTRUDES LEVANTA E VAI ATÉ À TV – BATE EM CIMA DA TV
•     ZÉ HENRIQUE LEVANTA – VAI À FRENTE DA PLATÉIA

Zé Henrique
Querem apostar que ela vai trocar de assunto novamente?

•     ZÉ HENRIQUE VOLTA AO SOFÁ
•     GERTRUDES SENTA AO LADO

Gertrudes
Sabe da última?

Zé Henrique
Sim, falaste que tinha alguém na UTI.

Gertrudes
Euuuuuuuuuuu

Zé Henrique
Sim, tu mesmo.

Gertrudes
Tu tá é louco. Eu não.

Zé Henrique
Tá bom! Tá bom! Qual a novidade?

Gertrude
Adivinha quem casou?

Zé Henrique
Sei lá!

Gertrudes
Tenta!

Zé Henrique
Tua mãe!

Gertrudes
Poxa! Já apelou.

Zé Henrique
É verdade! Não poderia ser ela! Quem iria querer casar com a tua mãe.

Gertrudes
Olha!

Zé Henrique
Só o louco do teu pai.

Gertrudes
Olha!

Zé Henrique
Brincadeirinha! Afinal, quem casou?

Gertrudes
A galinha aqui do lado?

Zé Henrique
Tá brincando?

Gertrudes
É, encontrou um trouxa, né!

Zé Henrique
Mais um corno na rua!

Gertrudes
Mais um corno? Quem é mais corno aqui na rua?

Zé Henrique
O Paulinho do 416. Tá levando chapéu de vaca?

Gertrudes
Conta! Conta!

Zé Henrique
Bom, o Armandino, um dia viu o carro do Paulinho num motel.

Gertrudes
Viu só os homens? O sem-vergonha já tava no motel

Zé Henrique
Calma, calma! Foi o que o Armandinho também pensou naquela hora.

Gertrudes
Como assim! O Armandinho viu o carro do Paulinho no motel. E se o carro era do Paulinho, quem era o sem-vergonha que estava no motel se não aquele safado?

Zé Henrique
Burra, tu não entendeste nada.

Gertrudes
Explica, então!

Zé Henrique
O vidro do carro do Paulinho, que estava no estacionamento do motel estava baixado. O Armandinho, só pra sacanear, pegou o rádio do carro.

Gertrudes
E daí?

Zé Henrique
Ontem, quando estávamos no bar, o Paulinho chegou e disse que roubaram o rádio do carro.

Gertrudes
Viu? Bem feito. Quem manda ir pra motel!

Zé Henrique
Amor! Tu não entendeste nada mesmo. (CARA DE SAFADO) Era a mulher do Paulinho que estava com o carro naquele motel.

Gertrudes
A mulher dele?

Zé Henrique
Sim! Quem estava no motel era ela?

Gertrudes
Nossa! Esta rua tá virando a rua da cornalhada. Ainda bem que nós nos amamos, né, bem? (SE ENROSCA NO PESCOÇO DO ZÉ HENRIQUE) Que tu acha de brincar de casinha embaixo do cobertor?

Zé Henrique
Pára, mulher. O que deu em ti!

Gertrudes
Vamos brincar então de médico! Eu sou a médica e tu o paciente.

Zé Henrique
Que é isso, mulher!

Gertrudes
Não quer? Então tu é o médico e eu sou a paciente.

Zé Henrique
Tá com calor, mulher?

Gertrudes
Calorão!

Zé Henrique
Vai tomá um banho frio que passa.

•     GERTRUDES LEVANTA E PUXA ZÉ HENRIQUE PARA DETRÁS DO SOFÁ.
•     ZÉ HENRIQUE DEIXA-SE LEVAR FINGINDO QUE NÃO QUER IR




.
Cena 6 – sexo hilariante
Personagens em cena:
Zé Henrique
Gertrudes

•     ZÉ HENRIQUE E GERTRUDES FICAM ATRÁS DO SOFÁ SEM SEREM VISTOS PELA PLATEIA
•     PLATEIA SÓ ESCUTA AS VOZES DOS DOIS

Zé Henrique e Gertrudes
Hunnnnnnnnnnnn!

Gertrudes falando dengozinha, mostrando prazer.
Ai, amor, assim não pode ser!
Ai, amor, assim não pode!
Ai, amor, assim não!
Ai, amor, assim!
Ai, amor!
Ai!

•     ZÉ HENRIQUE E GERTRUDES FICAM EM SILÊNCIO

Gertrudes
Continua, continua!

•     ZÉ HENRIQUE E GERTRUDES FICAM EM SILÊNCIO

Zé Henrique
Acho que ouvi um barulho!

•     ZÉ HENRIQUE COLOCA SOMENTE A CABEÇA PARA FORA DA POLTRONA – OLHA COM TODO TIPO DE FISIONOMIA PARA OS LADOS

•     CABEÇA DA GERTRUDES APARECE, FICA OLHANDO PARA TODOS OS LADOS. BRAÇOS DELA PUXAM ZÉ HENRIQUE PARA BAIXO E AMBOS SOMEM NOVAMENTE

Gertrudes
Continua, continua!

•     OUVE-SE GEMIDOS – DEPOIS BREVE SILÊNCIO

Zé Henrique com voz brava
Quié isso, Gertrudes.

Gertrudes
Ah! Deixa!

Zé Henrique ainda com voz brava
Tu tá louca, mulher!

Gertrudes
Só um pouquinho!

Zé Henrique ainda com voz brava
Não, senhora! Nem com tortura.

Gertrudes
Ah! Deixa, bem!

Zé Henrique ainda com voz brava
Pode parar, pode parar.

•     ZÉ HENRIQUE LEVANTA BRAVO – FICA DE COSTAS AO PÚBLICO E ABOTOA BRAGUILHA DA CALÇA – SENTA NA POLTRONA

Zé Henrique
A Gertrudes só pode estar louca.

•     GERTRUDES SE LEVANTA LENTAMENTE, COM A CABEÇA SOMENTE PARA FORA - ARRUMA A ROUPA – LEVANTA E VAI SENTAR AO LADO DO ZÉ HENRIQUE].

Gertrudes
O que houve, amoreco?

Zé Henrique
O que houve? Como assim? Com as tuas loucuras ali atrás?

Gertrudes
Quié que tem?

Zé Henrique
Nem me fale! Nem me fale!

Gertrudes
É, uma coisa inocente que tentei.

Zé Henrique
Puta que pariu! Inocente? Aquilo?

Gertrudes
É, coisinha inocente entre quatro paredes e detrás de um sofá. Tudo pode acontecer.

Zé Henrique
Puta que los lambeu, Gertrudes. Tu chama aquilo de inocente?

Gertrudes
É, né? Foi no entusiasmo! Foi inocente

•     ZÉ HENRIQUE LEVANTA – FICA MEIO INDIGNADO – VAI À FRENTE DA PLATÉIA – VOLTA À FRENTE DA POLTRONA
•     GERTRUDES TAMBÉM LEVANTA

Zé Henrique
Posso perguntar uma coisa.

Gertrudes
O que?

Zé Henrique
A maluquice que tu querias fazer.

Gertrudes
Nada de mal! Nada de mal!

Zé Henrique
E tua acha que enfiar o dedo na bunda do marido é inocente?

Gertrudes
Entre marido e mulher que mal tem?

Zé Henrique
Como assim?

Gertrudes
Ficaste muito estranho quando eu tentei fazer aquilo.

•     ZÉ HENRIQUE PENSATIVO – PIGARREIA– SE MEXE NERVOSO

Zé Henrique pensativo
Estranho é! Por que tu quiseste colocar o dedo no meu (FAZ GESTO FECHANDO DEDO INDICADOR COM POLEGAR).

Gertrudes
Não sei! Me apeteceu!

Zé Henrique
Ah, é! Agora sacanagem tem o nome de apetecer?

Gertrudes
É!

Zé Henrique
Tá bom! Apetecer agora é colocar o dedo na minha bunda?

Gertrudes
É. De leve!

Zé Henrique
De leve uma pinóia! Cacete!

Gertrudes
Não era cacete, Zé Henrique! Era o dedo!

Zé Henrique
Qual dedo seria.

Gertrudes mostrando o indicador
Este!

Zé Henrique
Deixa ver este dedo aí

•     GERTRUDES MOSTRA OS DEDOS DA MÃO AO ZÉ HENRIQUE ZÉ HENRIQUE PEGA O DEDO – EXAMINA – APALPA – OBSERVA TAMANHO - GROSSURA,

Zé Henrique
Tu tá louca! Negativo. Nesta grossura, nem que a vaca tussa!

Gertrudes mostra o dedo minguinho
Nem o pequenino?

Zé Henrique
Nem o grosso, nem o fino!

•     GERTRUDES RI

Zé Henrique
Mulher! Estamos casados há um tempão e tu nunca fizeste isso!

Gertrudes
É! Mas algumas pessoas fazem isso! Às vezes, né?

Zé Henrique pensativo
Que é isso Gertrudes? Tu já fizeste?

Gertrudes
Eu não!

Zé Henrique com jeito surpreso
Como sabes disto, então?

Gertrudes
A Glorinha.

Zé Henrique
O que tem a Glorinha?

Gertrudes
Ela enfiou o dedo no marido dela!

Zé Henrique
Ela já enfiou o dedo no (FAZ GESTO FECHANDO DEDO INDICADOR COM POLEGAR) dele?

Gertrudes
Já!

Zé Henrique
Só pode! O Fredinho é meio boiola mesmo.

Gertrudes
E daí?

•     ZÉ HENRIQUE FICA INQUIETO

Gertrudes
Quando ela contou, eu pensei: Será que o Zé Henrique não gostaria?

Zé Henrique espantado.
Euuuuuuuuuu?

Gertrudes
É.

Zé Henrique
Bueno! Eu não sou chegado nisso não!

Gertrudes
O marido da Glorinha até que gosta

Zé Henrique
No dele, né! No meu é que nem válvula. Só sai em uma direção. De dentro pra fora. Não entra nada! (PAUSA) Nunca mais faça isso, certo?

Gertrudes
Tá certo! Tá certo! Homem quer enfiar no traseiro da mulher. Quando é no dele, no caso, no teu, tu ficas bravo.

Zé Henrique gesticula com as mãos
Pode parar! Quem foi que falou isso?

Gertrudes
Ora essa! Todo homem tem a fantasia de atacar pela retaguarda?

Zé Henrique categórico
Eu não! Eu não! Tô fora!

Gertrudes
Verdade? Não tem vontade mesmo?

Zé Henrique
Não! Nunca fui chegado nestas coisas. Tendo lugar melhor onde colocar, vou lá colocar dois centímetros abaixo? Tu ta louca, mulher!

•     GERTRUDES FICA OLHANDO CHATEADA PARA ZÉ HENRIQUE

Gertrudes
Não quer olhar o meu (APONTA PARA O TRAZEIRO)?

Zé Henrique
Olhar teu... (APONTA PARA O TRAZEIRO DA GERTRUDES)

Gertrudes
Isso! (CHORAMINGA) Tu tá menosprezando o meu (FAZ MÍMICA, APONTANDO)!

Zé Henrique
Mulher! Pára com isso!

Gertrudes
Por que não quer olhar? E se fosse o da Glorinha?

Zé Henrique
Também não.

Gertrudes sorridente
O meu é mais bonito que o da Glorinha

Zé Henrique
Ah, é! Não sabia que tinhas participado de um concurso de fiofó?

•     GERTRUDES RI

Zé Henrique
Os critérios são pela cor. Ganharia os rosadinhos. Ou pelo número de pregas?

•     GERTRUDES RI

Zé Henrique
Não consigo me imaginar eu juiz de concurso de fiofó alheio.

Gertrudes
Sei lá! Mas eu acho que o meu é mais bonito!

Zé Henrique
Tenho certeza que teu (FAZ MÍMICA, APONTANDO) é maravilhoso. Talvez até seja a nona maravilha do mundo (PAUSA) Dos mais lindos! Na verdade ele é ótimo!

Gertrudes
Como sabes se nunca olhaste.

Zé Henrique
Ai! Ai! Ai!

Gertrudes
Então por que não te interessa olhar?

Zé Henrique
Mulher! Mulher!

Gertrudes
Tu devias olhar! Homem que ama olha.

Zé Henrique
Mas pra que olhar, Gertrudes? Posso amar este treco sem olhar!

Gertrudes
Viu como és?

Zé Henrique
Olhar pra quê? Eu sei onde ele está! Está sempre onde esteve!

Gertrudes
Não é só olhar! E ver e apreciar.

Zé Henrique
Só faltava essa! Eu virar olhador oficial disto aí! E o pior! (PAUSA BREVE) Apreciador! Pode parar!

Gertrudes
Malvado!

Zé Henrique
Diga qual a razão que devo olhar?

Gertrudes
Ora essa! Porque sou tua mulher! Tu devias te interessar mais pela minha bunda.

Zé Henrique
E o que mais?

Gertrudes
Pelos anexos dela.

Zé Henrique
Ah não, ah não! Que raio de anexo que tu falas?

Gertrudes
Claro, não sabes, nunca olhaste o meu.

Zé Henrique
Pra quê? Pra quê?

Gertrudes
Devias conhecer o meu (FAZ MÍMICA, APONTANDO) tim-tim por tim-tim. Marido que é marido tem que saber tudo sobre sua mulher. (PAUSA – APONTANDO) Principalmente dele!

•     ZÉ HENRIQUE COÇA NÁDEGAS - SURPRENDE-SE COÇANDO O TRASEIRO - DISFARÇA - COÇA A CABEÇA

Gertrudes
Temos que saber tudo um do outro.

Zé Henrique
Com que finalidade? Pra que eu vou saber coisas do meio da tua bunda, mulher?

Gertrudes
Se eu me acidento e fico toda desfigurada! Como vais me identificar? Se conhecesse meu fiofó tu identificava o resto do corpo.

Zé Henrique
Queres dizer que aqui no Brasil iremos reconhecer cadáver pelo... pelo... nem quero dizer o nome.

•     GERTRUDES RI

Zé Henrique coloca a mão na testa
Pode parar! Queres dizer que, se ficares irreconhecível, eu vou te identificar por aquilo ali no meio do bumbum?

Gertrudes
É claro! Vais se familiarizando. Se no acidente eu ficar irreconhecível, tu me identifica por ele (FAZ GESTO UNINDO POLEGAR AO INDICADOR)

Zé Henrique agitado
Só falta tu querer fazer impressão digital deste raio de anexo! (PAUSA). Acabas de dar a idéia de termos mais um sigla no Brasil. O I.I.F.

Gertrudes
I.I.F?

Zé Henrique
É! Instituto de Identificação de Fiofó!

Gertrudes magoada
Só queria que tu se interessasse por ele, né, bem!

Zé Henrique
Tá certo, todo mundo deve ter as pregas diferentes mesmo. Igual as digitais. Nem uma prega deve ser igual a outra prega!

Gertrudes
É!

Zé Henrique
Na verdade tem gente aí que já perdeu algumas.

•     GERTRUDES RI

Zé Henrique
Só imagino o acervo de fotos na polícia. (PAUSA) Inventaste o álbum da polícia para identificar pessoas pelo (FAZ GESTO COM DEDO INDICADOR COM POLEGAR).

Gertrudes
É?

Zé Henrique
Tá bom! Tá bom! Vais dizer que quer que eu olhe agora?

Gertrudes
Agora não! Pode ser depois!

Zé Henrique
Por quê?

Gertrudes
Agora vou ver TV! Perdi o embalo!

•     OUVE-SE BARULHO NA COXIA
•     ZÉ HENRIQUE E GERTRUDES FICAM PARADOS TENTANDO ESCUTAR. PUXAM COBERTOR E TAPAM OS CORPOS.
•     MAIS BARULHO NA COXIA – PORTA ESQUERDA.
•     ZÉ HENRIQUE E GERTRUDES FICAM ATENTOS.
•     BARULHO CESSA.

Zé Henrique
Que barulho é este na porta dos fundos.


Gertrudes
Eu não escutei nada não.

Zé Henrique
Então tô louco! Ouvi bem direitinho um barulho que parece que é na janela do quarto da Chiquinha!

•     ZÉ HENRIQUE LEVANTA – ESCUTA À PORTA DO QUARTO DA FILHA – FUNDOS DO QUARTO.

Zé Henrique
Fica aqui, vou lá ver o que é!

•     GERTRUDES DEMONSTRA NERVOSISMO

Gertrudes nervosa
Melhor não ir.

Zé Henrique
Ué, por quê? Vou lá e mato o desgraçado do ladrão que entrou!

Gertrudes
E vais deixar a filha viúva antes dela casar?

Zé Henrique bravo
O quê? Viúva? Como assim?

Gertrudes
Zé Henrique! Deve ser o Ginivaldinho.

Zé Henrique
Ginivaldinho. Quem é este cara?

Gertrudes
O novo namoradinho da Chiquinha.

Zé Henrique
Novo? E o velho?

Gertrudes
Já era!

Gertrudes
Agora o namorado já é outro.

Zé Henrique sarcástico
Ainda bem que a cama já tá comprada.

Gertrudes
Agora o Ginivaldinho é o namorado da tua filha!

Zé Henrique
E como este traste entrou?

Gertrudes
Dei uma cópia da chave do portão pra ele.

Zé Henrique
Nãoooo. Dar chave do portão para um cara que se chama Ginivaldinho?

Gertrudes
É um apelido, Zé! O nome é Genisvaldoclei.

Zé Henrique surpreso
O nome deste traste é Genisvaldoclai?

Gertrudes
Clei!

Zé Henrique
Ta brincando comigo!

Gertrudes
Estou não!

Zé Henrique
Tanto faz! Piorou. Como ele entrou no quarto?

Gertrudes
Pulou a janela

Zé Henrique
Pulou a janela? Não acredito.

Gertrudes
É que a chave da porta da frente ainda não veio.

Zé Henrique olhando para Gertrudes
Tu queres me dizer que aquela chave que paguei é pra ele?

Gertrudes
É, Zé!

Zé Henrique
Não é possível. Eu mato aqueles dois.

Gertrudes brava
Deixa eles, deixa eles. Tu até esquece quando nós namoramos.

Zé Henrique
Mas não no quarto. Se eu entrasse no teu quarto o teu pai me capava.

Gertrudes rindo
No quarto não, mas quando a gente via televisão tapados com um cobertor.

Zé Henrique
Mas era tudo numa boa.

•     ZÉ HENRIQUE TOSSE! SE ENGASGA – LEVANTA. VAI ESCUTAR NA PORTA DO QUARTO DA FILHA


Zé Henrique
Mulher, na outra vez diz pra sua filha ficar assobiando e batendo palma. Aí sei que nada está acontecendo lá dentro.

•     ESCUTA NA PORTA NO QUARTO DA FILHA - FUNDOS – FECHA A PORTA

Gertrudes
Tá bem! É ridículo, mas vou falar.

Zé Henrique
Tomara que ela obedeça.

Gertrudes
Mas tu é quadrado, homem. Deixa eles namorarem

Zé Henrique
Namorar é? Vai ver tão é... (FAZ GESTO DE FAZENDO SEXO) E se essa guria engravidar?

Gertrudes
Que é que tem?

Zé Henrique
Tu vai cuidar dos netos, viu?

Gertrudes
Não tem perigo. Ela tá protegida.

Zé Henrique
Protegida! Tomara!

•     ZÉ HENRIQUE VAI ATÉ À TV. MEXE NO APARELHO. VAI ATÉ PORTA DO QUARTO DA FILHA. COLOCA OUVIDO E ESCUTA. SACODE A CABEÇA. FAZ MENÇÃO QUE VAI BATER NA PORTA. DESISTE. VOLTA AO CENTRO DO PALCO. SENTA

Zé Henrique
Que será que estes dois estão fazendo lá dentro. (PAUSA) Nem quero saber, quanto menos olhar ou ouvir, melhor. (PAUSA) Tenho uma tese de homem que tem filha. (PAUSA) Deus dá filha para homem quando este é muito sem-vergonha quando jovem? (OLHA PARA A PLATEIA) Tá cheio por aí!

Gertrudes
Vestiu a carapuça, né? Tens filha porque eras safado em jovem?

Zé Henrique
É tese, mulher. Eu não! Mas é certo o castigo para estes é ter filha. O que se faz com a filha dos outros, podem fazer com a da gente. Só que hoje com maior liberdade. No da gente arde! É uma porcaria a gente passar de consumidor (FAZ GESTO DE SEXO PUXANDO OS PUNHOS FECHADOS EM DIREÇÃO AO CORPO) para fornecedor.

•     ZÉ HENRIQUE CAMINHA NO PALCO – OLHA PRA GERTRUDES

Zé Henrique dando bronca com a Gertrudes
Tu viste! Tu és a culpada se esta guria ficar prenha.

•     ZÉ HENRIQUE LEVANTA NERVOSO – VAI EM DIREÇÃO AO QUARTO DA CHIQUINHA – VOLTA E PEGA UM COPO VAZIO EM CIMA DA MESINHA – VAI À PAREDE – TENTA ESCUTAR COM O COPO O QUE SE PASSA NO OUTRO LADO. FAZ MURISQUETAS ENTRE BRABO E NERVOSO – VOLTA E SENTA NA POLTRONA

Zé Henrique dando bronca com a Gertrudes
Se esta guria engravidar, eu te mato!

Gertrudes
Não tem perigo, eu já disse que ela tá protegida.

Zé Henrique
Protegida? De que maneira?

Gertrudes
Tou dando camisinha pra ela usar.

Zé Henrique desesperado
O queeeeeeee! Camisinha?

Gertrudes
É, comprei no rancho!

Zé Henrique
Tu estás falando que aquelas camisinhas que compramos no rancho eram para aqueles dois?

Gertrudes
É!

Zé Henrique
Aquelas camisinhas tamanho GG?

Gertrudes
É sim. Tu pensa que GG era pra ti?

Zé Henrique
Ué, por quê?

Gertrudes
Te faz de besta, homem!

Zé Henrique
Não entendi!

Gertrudes
Tu não usa mais camisinha.

Zé Henrique
Tá me gozando?

Gertrudes ri
Além do mais, camisinha pra ti (DÁ RISADINHA – FAZ SINAL DE PEQUENO COM DEDOS INDICADOR E POLEGAR) tem que ser tamanho PPM.

Zé Henrique
PPM?

Gertrudes
É. Pequeno, paupérrimo e mole.

Zé Henrique
Engraçadinha! Mas bem que tu gostava, né!

•     GERTRUDES RI

Zé Henrique aponta para cortina
Este filho da mãe tá no fuque-fuque com a guria e eu que pago o pato. Digo... a camisinha!

Gertrudes
É sim, ou queres que ela engravide?

Zé Henrique
É demais. Pago o pato, pago colchão, pago camisinha. Qualquer hora este filha da puta vai querer me comer!

Gertrudes
Deixa pra lá, vamos ver TV

•     ZÉ HENRIQUE E GERTRUDES SENTAM PRA VER TV

Zé Henrique
Tu não estás com frio?

Gertrudes
Mais ou menos

Zé Henrique
Puxa o cobertor!

Gertrudes
Sem-vergonha!

Zé Henrique bem sensual
Pega. Vai.

•     GERTRUDES ERGUE O COBERTOR – COLOCA O COBERTOR NOS DOIS TAPANDO ATÉ O PESCOÇO - OS DOIS SE OLHAM.
•     ZÉ HENRIQUE COMEÇA A APALPAR POR TUDO EMBAIXO DO COBERTOR.

Gertrudes
Pára, Zé Henrique! Pára. Olha as crianças.

Zé Henrique
Tu acha que tua filha vai voltar aqui. Devem estar fazendo pior lá dentro.

Gertrudes
Pára, homem!

Zé Henrique
Era só o que falta (PAUSA – OLHA PRA CORTINA) o filho da mãe do Givanildinho faz o que quer aqui em casa e eu se faço tenho que me cuidar todo.

•     ZÉ HENRIQUE CONTINUA A APALPAR POR BAIXO DO COBERTOR

Gertrudes
Zé Henrique, tu não é mais o mesmo.

Zé Henrique
Ué, por quê?

Gertrudes
Tu já não sabe mais onde apalpar.

•     ZÉ HENRIQUE CONTINUA A APALPAR POR BAIXO DO COBERTOR

Gertrudes
Afinal, Zé Henrique! Que tu tá querendo?

Zé Henrique
Não acho o controle da tv.

Gertrudes entregando o controle ao Zé Henrique
Tá aqui esta porcaria.

•     GERTRUDES SE AFASTA UM POUCO.

Zé Henrique carinhoso
Vamos lá para o quarto, vamos.

Gertrudes
Não!

Zé Henrique
Vamos.

Gertrudes
Tá bom! Então vamos (PAUSA) Espera aí! Tenho um presente pra ti.

Zé Henrique
Pra mim?

Gertrudes
É, tu tá precisando.

Zé Henrique
Meia? Gravata?

Gertrudes
Mais útil ainda. Comprei quando fizemos o rancho.

Zé Henrique
No rancho do supermercado?

Gertrudes
Não, na farmácia.

Zé Henrique
Dá logo então, mulher!

Gertrudes
Tá ali na mesinha. Pode pegar!

•     ZÉ HENRIQUE LEVANTA E VAI ATÉ MESA AUXILIAR AO LADO - PEGA O PRESENTINHO.
•     GERTRUDES SAI PELA PORTA LADO ESQUERDO.

Gertrudes saindo com cara sapeca
Vem logo.

•     ZÉ HENRIQUE VAI À FRENTE DO PALCO. ABRE O PACOTE

Zé Henrique grita
Viagra! Viagra! (PAUSA) Mal não vai fazer, né?

•     ZÉ HENRIQUE VAI ATÉ MESINHA, SERVE ÁGUA TOMA O COMPRIMIDO – OLHA A PLATEIA – PENSA – TOMA MAIS UM COMPRIMIDO – OLHA SAPECA PARA PLATEIA.

Zé Henrique
É bom não facilitar!

•     ZÉ HENRIQUE FICA DE COSTAS E OLHA PLATEIA VIRANDO O PESCOÇO – PISCA OLHO – MÍMICA DE AJEITAR OS GENITAIS - OLHA PLATEIA - PISCA OLHO.

Zé Henrique grita
Shazam!

•     ZÉ HENRIQUE SAI CORRENDO PELA PORTA DO LADO ESQUERDO

                           
PANO



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