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CAMINHOS
João Felinto Neto

Resumo:
Caminhos é minha tentativa como poeta, de permanecer reservado, evitando arroubos e extravagâncias em defensa de algum conceito; onde cada página seria um espelho à mercê do leitor para que o mesmo visse refletidas, suas próprias opiniões.
Caminho através de minhas composições literárias, laconizando em palavras, em letras, a minha própria escrita, tentando não objetar ideias, para que o ledor sinta-se possuinte de argumentos e não discorde de meus apotegmas.
Entretanto, quando se trata de versos, os quais extraem ideias pessoais, é quase impossível não haver quem divirja. O meu raciocínio interpessoal, embora também proponha pensamentos alheios às minhas convicções, raras exceções, apropria a dramatização de meus sentimentos num exagero congruente a intenção de verbalizar a emoção atípica de mim mesmo.    
                A voz da poesia ecoa além dos limites dos conceitos preestabelecidos, ultrapassa a alma intuitiva da razão, para fazer-se ouvir pelo bom senso.
     Não meço palavras para meu desânimo, como também não paro diante de meus otimismos.
     Digo a realidade em meus versos, que apesar da poética, são diretos e atrevidos, são extremamente vivos que chegam a pulsar nas páginas. Essa reverberação é toda a expressão reprimida pelas “verdades” imputadas pela força à razão humana.
      Meus versos em um universo próprio, ora discrepa, ora anui com as perspectivas do poema, abrolhando a impressão de que a concretização de minhas opiniões é fidedigna e arbitrária.
      Delineio direções antagônicas, sigo rumos por trajetos efêmeros, faço percursos mobilizados em rotas itinerárias, obstruo passagens e possibilito saídas, açambarco vias entrecruzadas, resvalo numa adunca literária, e finalmente desvio o leitor a uma estância inalterável em meu intrínseco pensamento.
           Os caminhos são para serem trilhados. Esse universo poético intitulado CAMINHOS, também requer a sua passagem. Através de cada página, a partir de cada verso, você leitor, terá infinitas trilhas para seguir, escolha a que melhor lhe convier. Sinta-se à vontade e siga-me, vamos caminhar.   

PARTE I

OS PRIMEIROS PASSOS

Amanhece.
São os primeiros passos.
Se houver obstáculos,
Não desista, também não se apresse.


CAMINHOS                                  


Cada um segue o seu.                    
Muitos seguem a outros.
Vou seguindo o meu,
Dando adeus
A todos.
Temos que respeitar
As nossas diferenças.
Deixemo-nos levar
Por nossas consciências.
Sei que nossos caminhos
Tendem a se cruzar.
Mesmo andando sozinhos,
Vamos nos encontrar.
Seja por terra, ar ou mar,
Os caminhos nos levam
Sempre a algum lugar
E podemos voltar
Para aqueles que esperam.


VOLTEI

Voltei para casa
Em busca de paz e tranquilidade.
Talvez a idade,
Corte nossas asas.
Tanta liberdade
Mal aproveitada;
Minha juventude
Foi desperdiçada.
Minha alma cansada
Pede quietude.
Minha atitude
Foi recompensá-la.





DESCONTRAÇÃO

À noite,
As cadeiras na calçada
Numa roda improvisada.
Uma conversa afiada e fiada
Corre solta
Boca a boca,
Gargalhadas.
Uma diversão de graça.
Uma descontração na vida.
Uma brisa nos afaga,
Nossa alma descansada,
Então, cochila.

NA LEMBRANÇA

Quanta saudade
Do meu tempo de criança.
Eu dormia com a ânsia
De acordar.
Tinha sempre a esperança
De ao futuro viajar.
Agora, só posso voltar
Em minha lembrança.
Quando penso na distância,
Dá vontade de chorar.


SEPARADOS

Quando eu era uma criança,
Media a distância
Ao meu futuro esperado.
Hoje, vejo o meu passado
Na lembrança
E é bem maior a distância
Que nos mantêm separados.


A JORNADA

As lágrimas no meu rosto,
Não são lágrimas de desgosto.
Mas por ter chegado ao posto
Que indica o fim da estrada.                                          
Uma mistura empoeirada
De alegrias e tristezas,
Convicções, incertezas,
Na mais incrível jornada.                                                                             
Tantas almas batizadas.
Quantas em extrema unção.
Tantos risos, tantas lágrimas.
Quantas sensações contrárias
Dentro de um só coração.


OPINIÕES

A quem interessa
A minha opinião?
Talvez, em vão,
Eu entabule uma conversa.
Qual quimera
É a dona da razão?
Porém, tenho uma sugestão:
Cada dedo em sua mão.
Pois se cada embarcação
Tem sua vela,
Que sigamos a lição:
Todas elas seguem certas,
O destino que lhe dão.


ÂNGULOS

Cada canto da casa
É um ângulo que enquadra
Os meus dias desfeitos.


SAUDOSA MOCIDADE

Em poucas horas
Estarei fora da cidade.
Sensação de liberdade
E de vitória.
Cada dia, um comemora
Sua idade,
Sempre sentindo saudade
De outrora.
Vejo agora,
Minha saudosa mocidade
Que em parte,
Foi embora.


AO CAIR DA NOITE

A noite cai.
Fecham-se portas e janelas.
Ninguém mais sai.
São apenas os ais
De suas novelas.
Pois lá fora,
A essa hora,
O perigo os espera.
Quando amanhece, se revela
Nas colunas dos jornais,
Crimes brutais
Nas ruas próximas às favelas.
Quem são os tais?
Quem eram elas?
A resposta,
Sempre suposta,
Não interessa.






EM SUA CARA

Às minhas costas,
As perguntas são silenciadas
Pelo medo das respostas.
Não importa
Quais seriam as palavras,
Se amargas,
Se piedosas.
Infeliz é quem se cala
Quando uma mão carinhosa
De repente, bate a porta
Em sua cara.


PRECEITOS

Não há como, não há meio,
Nem caminhos
Que nos levem a um único destino,
A não ser ao fim de nós mesmos.
Por não conhecermos
Nossos desatinos,
Seguimos sozinhos,
Os próprios preceitos.


TRISTE COLHEITA

Você me deixa
Sem saber o que deseja.
Eu me sinto uma roseira
Esquecida no jardim.
Se for o fim,
Serei em mim,
Triste colheita;
Flores desfeitas
Entre o verde do capim.

QUALQUER UM DE NÓS

Qualquer um de nós,
Se não tivesse educação familiar
E um pouco de cultura,
Estaria a essa altura,
A matar e a roubar,
Estaria em maus lençóis.

Qualquer um de nós
Seria capaz de agredir
E até mesmo de ferir,
Se não soubesse mais ouvir
A própria voz.

Qualquer um de nós
Pode andar do lado errado,
Acreditando que o culpado
É o mundo ingrato
E atroz.

LACUNAS DO QUERER

O que podemos fazer
Para tudo ser
Como antigamente?
Por que ficamos diferentes,
Tornando-se urgente
Algo acontecer?
Não culpo a mim, nem a você.

Ninguém pode dizer
Que fomos ausentes.
Estivemos tão presentes,
Preenchendo as lacunas do querer,
Que acabamos por esquecer
Da gente.



A FEBRE

Quantas noites
Eu terei que me deitar
Sob o peso de minha própria carne?
Meu corpo arde
Nessa febre de matar.
Se adormeço, ao sonhar,
Percebo que a pior parte
É abrir os olhos e acordar.
Tento apagar
Essa inscrição que me invade.
Ela é tão grande que não cabe
Em minha lápide
Tumular.


BATALHAR

O que não me pertence,
Jamais me serviria.
Melhor as mãos vazias
Que algemas permanentes.
Por mais que um bem me tente,
O desapego é sempre
A melhor das saídas.
Se eu tenho alternativa,
Melhor seguir em frente,
Fazer o que é decente
E batalhar na vida.


OSSOS DO OFÍCIO

Nossos ossos do ofício,
São quebrados no trabalho.
Rodeados de exercícios,
Nossos riscos
São marcados
Entre nossos compromissos,
Pelos traços do acaso.
NÃO VALE A DISCUSSÃO

A quem pertence a razão,
Já não importa.
Fechada ou aberta a porta,
Nós somos dois na multidão,
Que ora segue a direção
De sua mão
E ora pede a opinião
De quem discorda.
E cada um tem sua resposta
Para uma suposta
Indagação.
Em nossas covas,
Somos a prova
De que não vale a discussão.


UMA HISTÓRIA DE AMOR

Eu vou sempre sorrir,
Toda vez que ouvir
A nossa melodia,
Ao lembrar com alegria,
Aquele mesmo dia
No qual tudo inicia,
No qual tudo acabou.
Uma centelha de amor
Incendiou as nossas vidas.
O ciúme, água fria,
Apagou a magia.
Duas almas feridas,
Duas cabeças vazias,
Uma história de amor.







CONTINUAMOS

Somos os mesmos,
Apesar de tantos anos.
Cometemos nossos erros
E tivemos desenganos.
Em meio a tantos planos,
Fizemos alguns acertos,
Comemoramos os êxitos,
Os fracassos nós choramos.
Hoje, apenas continuamos,
Sempre com o mesmo zelo
Com o qual nós começamos.


QUESTÃO DE TEMPO

Quando você diz que não entendo,
Que pelo tempo,
Já estou ultrapassado,
De mim mesmo, eu me lembro.
Você é o meu retrato.
Vejo em você, o meu passado.
Olhe a mim e estará se vendo.
O meu alimento
Era essa sua adrenalina.
O seu melhor momento
Será no devido tempo,
Essa minha rotina.


FOLHAS AMARELAS

Cada folha que cai
Sob a árvore que seca,
Tem a cor amarela
Pela vida que se esvai.
Chuva, vento e animais
Levam as folhas amarelas
Que dispersas pela relva,
Já não verdejavam mais.
O SER PERFEITO

Se você quer acreditar,
Que seja num ser perfeito.
Que aos seus piores erros,
Ele possa perdoar.
Que jamais vai condenar
Alguém ao suposto inferno;
Pois o seu amor eterno,
O impede castigar.
Esse ser vai abraçar
Ao seu próprio inimigo.
Desconhece o proibido.
Tudo a ele é permitido,
Até mesmo, o negar.


O ARQUITETO MALUCO

À minha casa, eu quis mudar.
Fiz da porta um vai-e-vem.
Com a janela fui além,
Pus uma foto em seu lugar.
Na parede lateral,
Pus um varal
Para a roupa, pendurar.
Fiz na sala de jantar,
O meu jardim,
Que no fim,
Tive que de lá, mudar.
Já na sala de estar,
Tive que inaugurar
O meu playground.
Em meio ao enorme quintal,
Pus uma mesa;
Na mais convicta certeza
De que era o ideal.
Da cozinha, afinal,
Fiz o banheiro;
Onde passo o dia inteiro
Lendo jornal.
O POETA NO JARDIM

Estou sempre a procurar
Em todos os lugares,
Nos mais ínfimos detalhes,
Algo em que possa me inspirar.
Numa fruta a madurar,
O refúgio de uma lagarta.
Da janela a me olhar,
Os olhos de minha amada.
Numa nuvem pelo céu,
A forma de um corcel.
Na aba de meu chapéu,
Uma mosca a pousar.
No nome que ouço chamar,
Não estranho para mim.
Numa chuva a molhar
O poeta no jardim,
Que no fim,
Corre para se abrigar.


O MAL PELO BEM

Não sou dono da verdade,
Nem anseio estar acima de ninguém.
Eu só acho que também,
Mereço ter liberdade
De expressar o meu desdém
Por aqueles que não têm
Equilíbrio, nem vontade.
Talvez lhes falte coragem
Ou preferem viver à margem
De alguém.
Ajoelham-se, dizem amém,
Jamais questionam a mensagem,
Cegos por uma miragem,
Fazendo o mal pelo bem.



ETILISTA

O que deixo aos meus filhos,
Senão risos
E amigos populares?
Desses que vivem em bares,
Entretidos
Com os seus próprios caprichos,
Entre olhares.
Fazem das mesas altares,
Das tavernas os lugares
Onde não há compromissos.
Comemoram sem motivos,
Permanecendo esquecidos
Dos seus lares.


ALGUÉM AMADO

Vejo a rede balançar
Sob o telhado,
O chapéu dependurado,
A enxada a descansar.
Quem será
Que na tela é retratado?
Talvez, seja alguém amado,
Que o pintor tenha lembrado,
E se dispôs a pintar.


APENAS PACIENTE

Nunca queira ter muito,
Nem tenha tão pouco.
Tenha o suficiente
Para que não sobre troco.
Siga o conselho de um louco
Que talvez não seja tolo,
Seja apenas paciente.

INCESSANTE CAMINHAR

Apesar de viver em seu próprio mundo,
Há uma janela aberta
Para ouvir minhas conversas
Como uma música de fundo.
Sei que viaja tão profundo
Para dentro de si mesmo,
Que às vezes, falo a esmo,
Por não conhecer seu rumo.
Sempre tenho algum assunto
Pra tentar lhe acompanhar.
Porém, não posso lhe alcançar.
Pois você
Não consegue perceber
Meu incessante caminhar.


O PÉ DE CARRAPICHO

A poeira não me cega,
Pois aguça meus sentidos.
Uso aquilo que me resta,
Os meus ouvidos.
Com os menores ruídos,
Fico alerta.
O perigo então me cerca,
Sinto que estou em risco.
Fico arisco.
Algo adere à minha canela.
O pavor se apodera
Do meu ser estremecido.
A poeira se dispersa.
Vejo a fera que me pega.
É um pé de carrapicho.





LIVREMENTE

Uma única vida é suficiente.
Só o amor é para sempre.
Pois vai além de nós,
Em nossos filhos,
Em sucessivos descendentes.
Escritas em indivíduos diferentes,
Estão as letras de nosso abecedário.
O tempo se afixa ao calendário.
E cada dia, em qualquer horário,
O nosso amor é carregado
Livremente.

A MIRA

Não me queixo.
Não me deixo
Levar por sentimentalismos.
Meus amigos
Que perdoem o meu desleixo.
Não sou um eixo
No qual o mundo gira.
Sou uma mira
Que atira o tempo inteiro.

DEFESA

Eu gostaria de crer
Que honra e dignidade
Sobrevivem ao poder.
Por ter me cansado de ver
Tanta desonestidade,
Perdi a capacidade
De esperar acontecer.
Se nada posso fazer
Para mudar a realidade,
Uso a insensibilidade
Pra poder me defender.
O QUE TIVER DE SER, SERÁ. SERÁ?

Sei que tudo pode acontecer.
Que muitos vão me dizer:
O que tiver de ser, será.
Será
Que tudo irá se resolver
Se nem eu e nem você
Fizermos algo pra mudar?
É bem melhor acreditar
E não apenas esperar
Que algo venha suceder.
O que eu poderei fazer?
Você irá me perguntar.
O que eu posso responder
É que você tem o poder
De seu futuro alterar.
E dessa forma evitar
Que o mundo venha perecer.


ESTRADA VAZIA

O meu ânimo me guia
Pela estrada vazia,
Sob a mão que alicia
Meus desejos.
Apesar do enorme peso,
Outra mão me alivia.
É a minha alegria
De sustê-lo.
Numa queda de braço,
Superando o cansaço,
Eu me perco num abraço
A mim mesmo.






UMA DOCE ESPERANÇA

Quem me dera que os adultos
Acreditassem em Papai-Noel.
Não haveria pecado,
Não seriam castigados,
Todos iriam pro céu.
Papai-Noel
Não condena a ninguém,
Não faz o mal, só o bem,
Presenteando alguém
Através de um ente amado.
Se não for um contemplado
É por que alguém ao lado,
Não faz conta de ninguém.
Para aqueles que não têm
Nem mesmo o menor afago,
O alívio é não ser cobrado
E tampouco ser julgado
No além.
Mas, essa doce esperança,
Só faz parte da infância
Que o adulto já não tem.


TAREFAS

O dia não me dá trégua.
As horas me mantêm a léguas
De qualquer lugar.
Não tenho como me afastar
De minhas tarefas.
Sou tão fiel a elas,
Que mesmo estando de férias,
Continuo obstinado a executar.
Teimo em nunca descansar.
Elas são o que me resta.
A rotina é uma peça
Que não para de girar.


ALGUMA COISA

Eu sempre digo alguma coisa,
Quer seja inteligente ou estúpida.
Não é de todo, minha culpa
Por não fazer outra escolha.
Há tanta gente que caçoa.
Há outras que me levam a sério.
Aqui não há nenhum mistério,
Eu não consigo controlar a minha boca.
Se minha opinião parece louca,
Minha convicção a torna lúcida.
Tomo uma posição tão resoluta
Que enfrentaria a própria forca.


TERNA LEMBRANÇA

O meu medo de perdê-la,
Ultrapassou a barreira
De minha segurança.
Perdi qualquer esperança
De novamente revê-la.
Nada fiz pra merecê-la,
Minha terna lembrança.
Apesar dessa distância,
Não consigo esquecê-la.


JOGO DE XADREZ

Não sou uma peça de xadrez
Que se move o tempo inteiro
Num enorme tabuleiro
E agradece por ser a sua vez.
Um peão manipulado
Que tem o destino traçado
Para defender seu rei.
E após o jogo acabado,
Novamente ser guardado
Sem nem saber o que fez.
É IMPOSSÍVEL

É impossível
Esconder-se de si mesmo.
Os seus mais torpes segredos
São conhecidos.
Seus piores inimigos
São os seus medos.
Os seus anseios
Serão sempre antevistos.
Não importa seus motivos,
Não adianta desespero,
Esconder-se de si mesmo,
É impossível.


CÍNICO DISFARCE

Tenho pretensão e vaidade.
Não sinto a menor vontade
De ajudar quem me estende a mão.
Desconheço piedade.
Também não tenho intenção
De agir com caridade
Para quem me pede pão.
Sendo o dono da razão,
Não me importo com a verdade.
O que chamam de maldade,
Eu chamo de perfeição.
Não sou uma ilusão,
Sou sua realidade.
Veja sua própria face
Por trás do cínico disfarce
Que é sua religião.


ESPONTÂNEO

Caio e me parto
Em trabalho de parto.
Somos duas.
AMOR VISCERAL

Amo além do meu querer,
Em meio às entranhas do meu ser.
E costumo dizer
Que é amor visceral.
Sei que afinal,
Um dia irei morrer
E ao amor irei varrer
Pra debaixo de meu leito sepulcral.
Que seja imortal
Esse amor que teima em sobreviver,
Enquanto eu viver.
Posto eu ser
Apenas um mortal.


LINHA PONTILHADA

Você quer expor seu próprio pensamento
No poema, o qual escrevo,
Sem nem mesmo conhecê-lo?
Seria possível fazê-lo?
Mesmo se não for, eu tento.
Você quer parar o tempo
No mais sublime momento,
Onde não há dor, nem medo.
Você fez por merecê-lo.
Não importa quantos erros,
A vida lhe deve esse prêmio.
Sei que não estou lhe vendo.
Mas, você vê a si mesmo.
Continue então, escrevendo
Seus anseios.
Assim, deixo
Uma linha pontilhada
Como porta escancarada
Para seu maior desejo.
..................................................................................................


A INSANIDADE DA RAZÃO

Por que é tão difícil reconhecer
Que se quer tanto bem
A esse alguém
Que está tão próximo a você?
Será que o dia-a-dia não quer ver
Que o amor que ela tem
É seu também
No vai-e-vem do bem-querer?
E se for ele a dizer,
Diga amém
Numa oração que o faça crer
Que o amor vai muito além
De ser cristão, de ser pagão.
Pois o amor é mais que fé,
É bem maior do que si é,
A insanidade da razão.


ENGANAR E MENTIR

Eu tenho pena de você,
Do que fizeram seus pais,
Os seus avós e os demais,
Não te deixando viver.
Aprisionado em si,
Nem mesmo ousava pensar,
Não conseguia enxergar
Que poderia sair.
Se alguém tentar intervir,
Jamais irá aceitar
Que o fizeram acreditar
Que não podia fugir.
Tudo irá se repetir
Quando seu filho nascer.
Por você não compreender,
Vai enganar e mentir.
Ele também vai perder
A chance de existir.

À VERDADE

Se você quer seguir,
Enganado ou não,
Siga o seu coração,
Ele irá te iludir.
Mas, se quer encontrar
A melhor direção,
Siga sua razão,
Ela irá indicar.
Não importa o lugar,
Seja bom ou ruim,
À verdade, enfim,
Nós devemos chegar.


INTEIRO

Um amigo me falou
De alguns versos que escrevi.
Dizia-me que ofendi
E também causei horror
Por dar minha opinião
Sobre a religião,
A moral e o amor.
Qual seria meu valor
Se para agradar ao leitor,
Eu fizesse uma oração,
Sendo o que sou;
Se trocasse o coração pela razão;
Se falasse da paixão
Com mais pudor?
Eis a minha condição:
Não escrevo por dinheiro,
Nem tampouco é vaidade.
Mas por que eu sou inteiro
Dentro de minha verdade.




COISAS DO CORAÇÃO

Se você quer chorar, chore sozinha,
Não estou disposto a sofrer.
Se deseja morrer,
A culpa não é minha,
Eu prefiro viver.
Se você não quiser mais me ver,
Irei embora.
Talvez seja a hora
De ficar sem você.
Não importa a razão,
Às coisas do coração,
Ninguém pode entender.


AO JOVEM AUTOR

Será que é preciso sofrer
Para poder escrever
Sobre sofrimento e dor?
Não me diga, por favor,
Que temos de envelhecer
Para aprender a dizer
O que é um dissabor.
Mesmo jovem, um autor
Pode mostrar o valor
Que o mundo não quer ver.
Ele não tem que perder
Para saber que vencer
É dedicação e amor.


PESAR

Sinto um pesar,
Tenho medo
Que tudo não passe de zelo.
Que nada é o mesmo
Que amar.

HOMEM TRISTE

Todo homem triste
Que está à margem da sociedade
Na qual vive,
Merece piedade.
Se dele desiste,
É por ser covarde.
Nunca será tarde
Para ver que uma verdade
Subsiste:
A que o homem triste
Pode encontrar felicidade.


ENTRE LETRAS

Entre letras,
Deixo minhas queixas
Por escrito.
Fica sempre o dito por não dito,
Para que o leitor não veja
E eu continue esquecido
Em meu abrigo
Que é a tinta de minha caneta,
Onde me escondo sob cada letra
Que ela deixa feita
Em meu livro,
Num contorno azul o qual me espelha,
Sem que eu apareça
Refletido.


REVÊ-LA

Depois do mal entendido,
Sinto-me aborrecido
Em perdê-la.
Eu não prometo o meu riso.
Mas necessito
Revê-la.
MISERABILIDADE

O que fazem os homens diante dos alicerces da cidade?
O que estão deixando de ver?
Apesar da claridade,
Não conseguem perceber
Toda miserabilidade
Que tenta sobreviver
Sob o peso de uma sociedade
Que não sabe o que fazer
Ou nem mesmo quer saber
Que na verdade,
A maior necessidade
É comer.


SOB A CHUVA

Chuva que começa na aurora,
Se espalha no telhado
Escoando para os lados,
Escorrendo chão afora.
Chuva que me molha com afago,
Quando corro ao cercado,
Posto ter perdido a hora.
Chego ao curral já ensopado,
Mas ainda ajunto o gado,
Apesar desse cansaço
Que incomoda.
Vejo que à distância, alguém me olha.
Reconheço o filho amado
Que há tempos foi levado
E me aparece agora.
Fico comovido e calado,
Sob o chapéu encharcado.
Então, minha alma chora
Quando ele iluminado,
Monta num corcel alado,
Dá adeus e vai embora.


O MENINO DOENTE

Espera seu presente
Tão contente
Que todo mundo sente
A sua satisfação.
Desconhece a ilusão.
Acredita fielmente
Que Papai-Noel é gente
Como diz a tradição.
Que triste decepção
Para o menino doente,
Além de um pai ausente,
Uma mãe indiferente
A sua situação.
Descobre ser invenção,
O velhinho sorridente
E o natal ser simplesmente,
Comercialização.


A QUIMERA

Tentam iludi-los com a quimera
De que o mundo ainda conserva
A palavra, a promessa,
A verdade que atesta
A honestidade expressa
Na liberdade que apela
Por aqueles que estão presos,
Apesar de seus erros
Serem os mesmos
Da sociedade que os detesta.


MOMENTANEAMENTE VIVO

Ao dizer que existo,
Não afirmo que sou.
Mas apenas que estou
Momentaneamente vivo.
RECORDAÇÃO DE MEU FILHO

Sinto falta
Dos seus passos pela casa,
De seus braços feito asas
Ensinando-me a voar.
Ouço você me falar
Que tudo passa;
Ao mesmo tempo, me abraça
E me ajuda a levantar.
Não consigo esquecer o seu olhar
Quando me via chorar
Só por pirraça.
Você sempre me acalmava.
Pois dizia que me amava
Enxugando minhas lágrimas
Com pesar.
Sei agora, que amar
Não é só uma palavra,
É calor que não se acaba,
Chama que nunca se apaga,
Nem o tempo, nem a morte, nem a mágoa.
Na lembrança, se alastra.
Na saudade, queima a alma
Eternamente condenada
A sonhar.


CRIANÇAS PENSATIVAS

As lágrimas são escassas,
Apesar das dores excessivas.
Crianças pensativas
Pela fome que lhes cala.
Enquanto o mundo fala
De políticas
Que muitas vezes, são desnecessárias,
As crianças pensativas
Morrem tísicas
E cruelmente abandonadas.

VEREDAS

Passagens estreitas,
Veredas que encurtam caminhos.
Enfrento sozinho,
Garranchos e espinhos,
Mosquitos e abelhas.
Nos trechos de areia,
Vou devagarinho.
Portanto, me sinto
Perdido no mato.
Em meu embaraço,
Com todo o cansaço,
Apresso meus passos.
Encontro o asfalto
Que estava pertinho.


CONSCIÊNCIA OCULTA

A maioria das pessoas
Tem por escolha
Livros que prometem ajuda.
Talvez, por dissiparem a culpa
De sua impudica
Omissão.
Doces palavras de perdão
Encerram a busca
Por sua consciência oculta
Que já não julga
E nem exige uma ação.


RESSENTIDA

Entristecida,
Observa seu amor partir.
Deseja ir.
Está muito ressentida
Pra sorrir.

AS FADAS

Eu acredito em fadas.
As fadas são reais.
Mas, não são imortais,
Nem tem varinhas mágicas
Como contavam nossos pais.
Pois quando fazem sexo,
Tem os corpos abertos
E tornam-se imorais.
As fadas são demais:
Cabelos coloridos,
Decote atrevido,
Piercing no umbigo
E lábios sensuais.
Que as fadas são reais,
Eu não duvido.
Encantadas, realizam
Nossos desejos carnais.


BEM NA HORA DO JANTAR

Talvez devamos noticiar
Tudo que o nosso lar
Tem de melhor.
Seja aqui em Mossoró,
Seja em qualquer lugar.
Chega de sempre explorar
O que temos de pior
E o que é pior,
Bem na hora do jantar.
Não temos que ocultar,
Nem mesmo que mentir.
Mas, pararmos de sorrir
Para chorar,
Não vai mudar
Nossa forma de pensar,
Nem de agir.


UM SER BIZARRO

Segue louco, desvairado,
Feito um lobo atrás da presa,
Os próprios passos
Apagados
Pelo vento na areia.
Sente o pulso em suas veias,
Bater forte e acelerado.
No anoitecer macabro,
Um ser bizarro
Vagueia
E se vê iluminado
Pela imensa lua cheia.
Então, pranteia
Por ter sido condenado
A estar apaixonado
Por quem lhe odeia.


BRINCAR

Você quer ir embora
Ou quer ficar para a história
Ou apenas quer brincar,
Mesmo que por poucas horas?
Ver o tempo passar,
Já não importa
Para quem não quer ter glória,
Nem memória.
Simplesmente se entristece e até chora
Quando um lado comemora
A vitória
Numa guerra nuclear.







INSENSÍVEL DESCULPA

Apesar de sua baixa estatura,
Consegue alcançar
A mais sublime altura,
Onde o perdão está.
Esta fé, o faz negar
Que uma criatura
Do céu, da terra ou do mar,
Possa ser pura
Se não consegue superar
Essa loucura
Que é matar
Com a insensível desculpa
De que é justa
Se for para se vingar.


PALAVRAS PASSAGEIRAS

Eu sou todos se visto por semelhança.
Sou o velho, a criança,
O poeta, o leitor.
Sou tradutor
De palavras passageiras
Que se tornam verdadeiras
Ao definirem quem sou.


MINHA OPINIÃO

Quando eu morrer,
Deus não estará por perto.
Não por eu estar no inferno,
Mas por eu não ser eterno
E ele ser mera ficção.
Essa é minha opinião,
Por eu ser um homem cético,
Sendo verdade ou não.

ESSÊNCIA VERDADEIRA

Veja a forma de um balão,
Sua enorme proporção
Entra em contradição
Com a sua leveza.
Prova de que a beleza
Não está na silhueta,
Mas na estruturação,
Na essência verdadeira,
Ao olharmos com a razão.
Com as pessoas, a noção
Seria a mesma,
Com uma única condição:
Para vermos nossa essência verdadeira
Só existe uma maneira,
Olharmos com o coração.


MUNDO EM CONTRADIÇÃO

Eu sou feliz por estar triste
Com o mundo que é real e que existe,
Que sorri de sua própria condição:
De ter gente como eu, que não resiste
Ante tal situação,
A de um mundo que insiste
Em sorri quando está triste,
Em chorar quando está são.


NÃO HÁ MAIS NINGUÉM

Estou em mim
À procura de alguém.
Mas, sou eu quem
Se encontra em mim.
Descubro enfim,
Que não há mais ninguém
Além de mim
Numa busca sem fim.
IGUAIS

Somos iguais,
Apesar de nossas desavenças,
De suas crenças,
De meus ideais.
Nem parecemos racionais
Com nossos ais,
Nossas ofensas.
Somos meros animais,
Seres mortais
Que querem mais que ser reais,
Querem ser lendas.


TUDO BEM

Sei que a morte está lá fora
À procura de alguém
E que também,
Ao encontrá-lo irá embora.
Porém,
Voltará em outra hora,
Vinda, talvez, do além.
Num eterno vai e vem
Que ao vivo incomoda,
Que ao morto não importa,
Que por mim está tudo bem.


A ESPERA NO JARDIM

Ainda teimo em ficar no jardim,
A espera que possa voltar.
Nosso amor não devia acabar
Como sendo tão simples assim.
Uma parte de mim
Quer chorar,
Outra quer esperar
Pelo fim.

FOLHAS

As estrofes são dispersas
Tais quais folhas pela terra
Sob as árvores desfolhadas.
Versos secos,
Amarelos por si mesmos,
Entre páginas desbotadas.
Pelo tempo,
As palavras
Como folhas pelo vento,
São levadas.
Acompanho o movimento
De meus próprios pensamentos
Arrastados em silêncio,
Feito folhas pelas águas.


COMO NÓS

Nós
Entre laços e nós
De uma lona arrumada
Sobre a carga pesada,
Pela longa estrada
A sós.
Através dos faróis
Enxergamos as faixas
Contínuas e alternadas
Que seguem alinhadas
Como nós.


MISTÉRIO

Espero
Que um dia,
Esse mistério
Seja simplesmente aspecto
Do que não se conhecia.
ESPOSA E/OU AMANTE

Nem o cabelo esvoaçante
Causa-lhe algum entusiasmo.
A rotina vira um marasmo.
Sua esposa, entediante.
Ao se lembrar da amante,
Sente-se logo excitado.
Ao pensar em seus afagos,
Acredita-se importante.
Ao sentir-se solitária,
A esposa se separa.
Ele casa-se com a amante.
Com a esposa então, distante,
Uma saudade o atordoa.
Uma moda interessante:
A esposa vira amante,
A amante vira esposa.


POBRE PASSARINHO

Estou me sentindo agora,
Como o pobre passarinho
Que está preso na gaiola,
Mas só pensa no seu ninho.
Eu me sinto tão sozinho,
Meu desejo é ir embora.
Vejo o mundo que há lá fora,
Ainda guardo na memória,
A beleza do caminho.
Entre flores e espinhos,
Fui outrora,
Como o pobre passarinho
Em gorjeios matutinos
No silêncio da aurora.





PASSO INICIAL

Amar a ti, amar a mim, amar a quem:
Àquele ou àquela que convém?
Não é escolha de ninguém
E nem também,
É imoral.
Para o amor é natural
Amar ao bem, amar ao mal.
Amar até um animal
É tão normal
Quanto quem ama outro alguém.
O amor não merece desdém,
Por ser em si, irracional.
Pois afinal,
O amor foi o passo inicial
Pro pensamento racional.


ABRIGO ENCANTADO

Pelas velhas janelas,
O casarão me observa.
Com a porta aberta,
Sorri desdentado.
Abrigo encantado,
Que o mundo despreza.
Foi salão de festas,
Palco iluminado.
Hoje, abandonado,
O mato lhe cerca,
A chuva atravessa
O antigo telhado,
O vento soprado
À noite, revela
Que em sua miséria,
É mal assombrado.


O CAMINHO DE VOLTA

Continuo tentando encontrar
Uma passagem que me leve de volta
Ao dia em que minha mão se solta
E eu começo a caminhar.
Passo a passo, devagar,
Alcancei certa distância
De minha doce infância.
Já não posso regressar.
Não via o tempo passar,
Ao deixar de ser criança,
Nem a idade que avança
Sorrateira, sem parar.
Num simples pestanejar,
Vem a nítida lembrança.
Assim, nasce a esperança
De novamente brincar.
Continuo tentando encontrar
Uma passagem que me leve de volta
Ao dia em que minha mão se solta
E eu começo a caminhar.


DE FRENTE AO ESPELHO

Quem é esse homem
Que balbucia meu nome
De frente ao espelho?
Quem é o velho com medo
De já não ver a si mesmo
E sim ao jovem que esconde
Atrás dos ralos cabelos?
Ah! Sou eu esse infame
Que não atende aos apelos
De um jovem em desespero
Que velho não me responde.



UM DESABAFO

Às vezes, tenho vontade
De jogar tudo pro alto
E viver a vida, sossegado,
Sem responsabilidades
Ou qualquer preocupação.
Não teria prestação,
Por jamais eu ter comprado.
Sem trabalho,
Não haveria obrigação.
Minha maior devoção
Seria amanhecer deitado.
Nunca estaria ocupado
Para uma diversão.
Talvez, seja ilusão
Viver tal índio no mato.
E jogar tudo pro alto
Seja só um desabafo,
Não a melhor solução.


SUBLIME ADORAÇÃO

Você reclama:
Você não diz mais que me ama.
Amar não é propaganda,
É uma silenciosa e estranha
Inquietação
Que não requer divulgação,
Principalmente se platônica.
Mas a pessoa que é romântica,
Além dos versos que declama,
Dá flores e diz com paixão
Que ainda nos ama
De todo o seu coração.
O amor não é atuação.
Se for intenso e verdadeiro
É entregar-se por inteiro,
Abdicando a si mesmo
Na mais sublime adoração.
DESAFIO A MIM MESMO

Eu posso passar horas a fio
Em um desafio a mim mesmo.
Pergunto e respondo sem medo
De revelar-me o segredo
De meu perfil.
Um Eu sombrio e passageiro,
Na compulsão, no exagero,
Querendo em mim, ser verdadeiro.
O Eu doentio
Que é perverso e desordeiro
E submete ao desespero,
O Eu gentil
Que é infantil por ser inteiro
Enquanto fração em si mesmo.
Eu dividido o sou, sem sê-lo.
Pois sou em parte, o Eu primeiro,
O Eu senil.


ESCRITAS NA ALMA

Há pessoas que escrevem em nossa alma,
Palavras
Que jamais perdem o valor.
Embora não causem nenhum pavor,
Nos perseguem tais fantasmas.
São lembradas
Como as lágrimas derramadas
Pela mágoa e pela dor.
Tão exatas
Quanto fórmulas matemáticas
Na razão de um pensador.
Com os anos, mudam a cor;
Mas o tempo não apaga.
Permanecem desbotadas
Feito cartas de amor.

À MINHA PORTA
Ao menino que chora
À minha porta,
Eu pergunto o que lhe incomoda.
Ele para mim olha.
Em seu olhar implora,
Quer um pouco de pão.
Em seguida estende sua mão
Com a palma vazia.
Na verdade, era eu quem pedia
O seu pleno perdão.
Essa situação,
Nesse exato momento,
Traz ao meu pensamento,
Uma reflexão.
Não há justificação
Para um ser inocente,
Um pedaço de gente,
Ter tamanha aflição.
A não ser, a omissão
E a indiferença,
A falta de decência
E de humanização.
Outra explicação,
Juro que não entendo.
E imploro, temendo
Que o menino sofrendo,
Não me dê seu perdão.


PASSE DE MÁGICA

A magia
Não passa de mágica.
E como toda mágica
É simplesmente truque.
Nem tudo que parece ser real
É de verdade.
Ser enganado é sua vontade,
Sua atitude.
POR DIFERENTES CAMINHOS

Uma abusa dos carinhos.
Outra acusa os maus tratos.
Ambas seguem os mesmos passos
Por diferentes caminhos.
Uma mora em condomínio.
Outra vive num barraco.
Ambas seguem os mesmos passos
Por diferentes caminhos.
Uma desperta de mansinho.
Outra acorda aos sopapos.
Ambas seguem os mesmos passos
Por diferentes caminhos.
Uma deixa ele sozinho.
Outra morre em seus braços.
Ambas seguem os mesmos passos
Por diferentes caminhos.
Uma usa um tamanquinho.
Outra tem os pés descalços.
Ambas seguem os mesmos passos
Por diferentes caminhos.
Uma passa o dia rindo.
Outra chora ao descaso.
Ambas seguem os mesmos passos
Por diferentes caminhos.
Uma é rica por destino.
Outra é pobre por acaso.
Ambas seguem os mesmos passos
Por diferentes caminhos.


ABRIR MÃO

Se sua mão não pode
Sustentar o peso.
Solte-o.
Prove que ser forte
É saber perdê-lo.


O ESMOLEIRO DA PRAIA

Numa casa inacabada,
Uma rede ainda armada,
Balançava um esmoleiro.
Nas tardes ensolaradas,
Mendigava nas barracas,
Por dinheiro.
Agradece o tempo inteiro
A quem lhe der uma migalha.
Levanta as mãos para o céu,
Num enorme escarcéu.
Tira e bota o chapéu
Com a mão desocupada.
Mas, se não lhe derem nada,
O esmoleiro fecha a cara
E resmunga uma praga
A si mesmo:
Que eu morra esmoleiro
E que nunca tenha nada.


AOS TRISTES

Sou feliz desde nascença
Em sorrisos de inocência,
Gestos de ingenuidade.
Com alegre impaciência,
Chego à minha mocidade,
Onde a felicidade
É a única experiência.
Sou feliz até na ausência.
Contento-me com a saudade.
E apesar da vasta idade,
Não percebo a diferença.
Se alegria for doença,
Aos tristes, sem ofensa,
Eu morrerei à vontade.



PARTE II

POR ALGUM TEMPO

Já é quase meio-dia,
Andamos por algum tempo,
São diversos sentimentos,
Cansaço, suor e alento,
Tristezas e alegrias.



PEDACINHO MÁGICO

Eu vou deixar retratado
Em detalhes, um pedaço
Desse quase fim de mundo.
Um cruzamento sem rumo,
Onde nas ruas, de um lado
Há casas, do outro, há mato;
Montes de areia ao fundo.
Com seus fios encapados,
Os postes enfileirados,
Seguem a mesma direção.
Numa aparente solidão,
O vento sopra os telhados.
Nos varais, dependurados,
Os lençóis são enrolados
Numa rítmica agitação.
À noite, a escuridão
Modifica o cenário.
Por ser mal iluminado,
Parece um quadro pintado
Com fuligem e carvão.
Apurando a audição,
Dá para ouvir o afago
Das ondas lambendo o chão.
O sossego é atração,
Enquanto não é verão,
Nesse pedacinho mágico.


A FARSA

Sou o homem cabisbaixo
Na multidão exaltada.
Quanta gente alienada
Com um mundo imaginário!?
O que será necessário
Para que enxerguem a farsa?
O que pagam pela graça
É um preço muito alto.

O PILAR

Não vejo a minha vida
Sem minha tríplice companhia
Que é esposa, filho e filha.
No seio dessa família,
Não há mais casa vazia.
Seja noite, seja dia,
Há risos de alegria,
Há choro de teimosia,
Há também desarmonia
Como é próprio à convivência.
Nas ações de paciência,
A sublime benevolência
Sob nosso teto, habita.
As reclamações, as brigas,
Nunca levam às intrigas,
Pois são meras discussões.
São tantas as emoções,
Sempre nos dando lições,
Que se tornam experiências.
Não há dogmas, nem crenças.
Enfrentamos os problemas
Dentro da realidade.
Nosso amor é na verdade,
O pilar que nos sustenta.


A PAIXÃO

A paixão é o entalhe
Na madeira apodrecida;
A lembrança que vem tarde,
De uma tarde esquecida;
A aposta já perdida
Antes mesmo de jogar;
O apego à mentira,
De quem acredita amar.



TOM SARCÁSTICO

Poderia ter uma jovem ao seu lado.
Mais que desajuizado,
Seria um velho esdrúxulo.
Alguns diriam: - É um luxo.
Outros: - Um tolo enganado.
Os amigos mais chegados,
Diriam: - Está maluco.
A sogra, usando luto,
Diria: - Isso é tentação do diabo.
A mulher do já finado,
Diria em tom sarcástico,
No amor vale de tudo.
Continuou ali plantado
Feito árvore sem dar fruto.


UNHAS

Qual a nossa diferença?
Talvez nenhuma.
Cabeça, tronco, membros e também unhas
Que servem pra coçar a nossa pele,
Pra retirar as farpas que nos ferem,
Para descascar frutas,
Também matar piolho,
Limpar canto de olho
E extrair meleca.
Nas mãos de uma boneca,
Longas e pintadas,
De forma caprichada,
É arte moderna.
As unhas são na certa,
As armas de uma fera
Que deixa suas marcas.





LEVIANAMENTE SÓ

Por mais que eu me castre
Da volúpia de minha carne,
Não sou eu mesmo,
É minha parte
Que ainda arde
De desejo.
Por mais que meus apelos
Me afastem
De obscenidades,
Eu anseio
Pela promiscuidade
De meus beijos.
Por mais que eu mantenha em segredo
A excitação que sei de cor,
Eu continuo em mim,
Levianamente só.


NAS AREIAS DO DESERTO

Nas areias do deserto,
Ajoelhou-se e prostrou-se,
O mais fiel dos fiéis.
O Oasis estava perto.
Se fosse mais esperto,
Não estaria a orar.
Bastaria caminhar
Para achar a salvação.
Mas morreu de insolação,
Na fanática ilusão
De que o salvaria, Alá.


EXISTIR

Existir é sentir
Que o todo
É o tanto
Que não cabe em si.


GROTESCOS ANIMAIS

Em uma cidadela, hoje perdida,
À sombra de algumas árvores,
Os moradores discutiam a vida
Em simples passagens,
Criando imagens
Com retratos do dia a dia.
Vão se tornado lendas
Que se consagram em crenças
Assustadoramente realísticas.
Com alucinações apocalípticas,
Seus descendentes vivem do passado,
Onde homens foram metamorfoseados
Em deuses encantados de magia.
Em tais alegorias,
Baseiam os seus passos atuais.
Os meros camponeses ancestrais
Tornaram-se imortais.
Os filhos dos seus filhos são reais
No sangue derramado, nos seus ais.
Grotescos animais.
Escravos de suas próprias fantasias.


ESSE HOMEM

Sou esse homem assombrado com a vida.
Não vê saída,
Vê apenas uma enorme estação.
Da qual, tanto as partidas
Quanto as chegadas repetidas,
Tem a mesma condução.
Em inúmeras tentativas,
Sobe e desce dessa estranha locomotiva
Que circula noite e dia,
Trazendo-lhe frustração.




SOMOS O QUE SE ACREDITA

Na verdade (Que verdade?)
A realidade (Que realidade?)
É aquela que dá evidências,
As quais provam sua existência (Que existência?).
A religião (Qual religião?)
E a ciência
Tem as suas diferenças
Entre razão e crença (Que crença?),
Entre homem e Deus (Qual deus?).
Pelas leis do universo (Que universo?),
Somos matéria e energia.
Em nossa filosofia,
Somos espectros.
E na fé que a muitos guia,
Somos eternos.
Mas, de acordo com o nosso cérebro,
Não há dúvida e nem mistério,
Somos o que se acredita.


VERSOS INFERNAIS

Sou passageiro, sou fugaz,
Sou pouco mais
Que alguns anos.
Mas no papel que está em branco,
Descrevo um cais
Onde aportam os meus ais,
Meus desenganos.
Serei notícia nos jornais
Pelos meus versos infernais
Num triste canto
Onde as dores são reais,
As atitudes imorais
E os ideais
Apenas pranto.

O ÚNICO CRIADOR

Pela perspectiva da criatividade,
O ser humano é incrível.
Ele é capaz de fazer o impossível,
De ir além da realidade.
Dê-lhe plena liberdade
Que irá a outro nível
E tornar-se-á uma divindade.

É capaz de voar,
De manipular a vida,
De fazê-la brotar
E destruí-la em seguida.
É capaz de observar
Uma estrela
E até de vê-la
Se originar.
Pisar no chão da lua,
Enquanto o sol continua
A brilhar.
Viajar sob as águas do mar
Sem se afogar.
Comunicar-se por entre fibras de vidro,
E mais que isso,
Em uma caixa, prender o choro e o riso.
Colocar ao redor da terra,
Pequenas esferas com pernas
Para a si mesmo observar.
O ser humano é o único criador,
Mas em seu próprio louvor,
Vai se matar.


LIVRE

Se sou livre,
Posso voar.
Pois minhas asas
São o meu pensar.
A MATRIZ

Tenho a cicatriz
De um enorme pesadelo
Que deforma o meu peito
Infeliz.
Sinto na raiz
Dos meus cabelos,
Um arrepio de gelo,
Quando o fantasma do medo
Então, me diz:
- Você é meu aprendiz
O tempo inteiro
E o seu maior segredo
É de ver ante o espelho,
Sua matriz.


PARA O PRÓXIMO MILÊNIO

A materialização do meu pensamento
É a prática de minhas ideias.
Nas aleias
Do meu tempo,
Brotam flores dissecadas
Para no próximo milênio,
Serem elas,
As relíquias conservadas.

Entre páginas
Dobradas em silêncio,
No mais sutil movimento,
Deixo a porta escancarada.
E na suavidade, seus dedos
Descortinarão segredos
De uma alma intrigada.



TALISMÃ
Não sei o dia de amanhã,
Nem me interessa.
Não tenho pressa.
O meu presente é meu divã.
Ao degustar uma maçã,
Lembro de Eva,
De sua espera,
De seu afã.
Quando a serpente lhe penetra,
Faz a incrível descoberta
De que o prazer
É nossa fonte de poder,
O nosso único talismã.


O MAIOR LEGADO

Não importa se serei o escolhido
Ou o desprezado;
Se serei condenado
Ou absolvido;
Se iluminado
Ou enegrecido;
Se crucificado, apedrejado, enforcado e queimado vivo
Ou abençoado, idolatrado, endeusado e elevado a mito.
O que interessa é o meu recado,
É o que eu tenha dito.
A verdade é o maior legado
Que terei deixado
Para os meus filhos.


A FLOR

Vejo você na janela,
Bela
Como no jardim.
No jarro, ainda a espera
Que o dia chegue ao fim.
CARTA À MINHA REENCARNAÇÃO

Se por acaso ou destino
Esta carta cair em minhas mãos
Quando em reencarnação
Eu for ainda um menino,
Talvez acolha com carinho
Esta estranha narração:
Em um passado muito distante,
Você foi um poeta intrigante
Que não tinha o seu nome,
Nem a sua fisionomia.
Mas que sempre defendia
Com ardor e com paixão,
Com a mesma convicção
Que você terá um dia,
Seus valores, suas crenças,
Sem jamais ter influência
Que não fosse da razão.
Não há morte e nascimento
Que afaste meu pensamento,
Que mude meu coração.
Você jamais saberia,
Nem mesmo acreditaria
Nessa tola ilusão.
E num eterno vai e vem
Da terra para o além,
Eu, você e outros também,
Teriam a mesma opinião:
Que na morte não há vida;
Que a vida é uma via
De uma única direção.


ACORDAR

Luto
Contra o luto,
Contra o mito.
A favor do próprio grito
De acordar.
CAMINHADA

Falta pouco
Para alcançar o outro
Que caminha à minha frente
Ele está indiferente
À minha aproximação
Quase toco em sua mão;
Parece louco
Ou é apenas abstração?
Estranha situação
Quando em passos
Ultrapasso
Mais um, nessa caminhada
Filhos da mesma ninhada,
Somos todos estrangeiros
Lado a lado
O tempo inteiro
Sem dizer uma palavra.


DIAS QUENTES

Os dias estão extremamente quentes.
São poucos os sobreviventes.
Não eram os mais valentes,
Nem tampouco os inocentes.
Foram sim, indiferentes
Àquela situação.
Mas, tinham uma missão,
Poder e muita influência.
Não usaram a consciência,
Não deram ouvido à razão.
Cegos na obediência
Às suas crenças,
Quase levam a humanidade à extinção.





TRISTE AQUARELA

No silêncio dos meus lábios,
Resumi a minha vida
Presumida
Na razão do pensamento.
Carregadas pelo vento,
Minhas últimas palavras,
Tão amargas
Quanto às lágrimas do momento
Em que a noite me revela
Uma triste aquarela,
Onde as estrelas são velas
Sob o telhado cinzento.


SEM CAPRICHO

As palavras fluem em cascata.
Mas, são levadas
Por meu pensamento distraído.
Dessa forma já não dizem nada,
Apesar da mão tê-las escrito.
Não sou eu que as digo,
Posto terem sido
Em mim caladas.
Não acentuadas,
Nem sinalizadas quando exigido,
Feitas sem capricho,
Foram apagadas.
Minha mente concentrada,
Não via sentido.


MUNDO LOUCO

Pouco.
Quase nada, resta.
O que ainda presta,
A gente empresta.
Que mundo louco.
O MARIDO DE GLÓRIA

Uma mola se solta
Do sofá colorido
E espeta o marido
Que implora:
Não me mande ir embora, Glória,
Me deixa ficar contigo.
Ela mete-lhe a mão no ouvido
E lhe diz num grunhido:
Caia fora, boiola,
Seu veado enrustido.
Ele então, comovido,
Se sentindo vencido,
Se revela e chora.


EM PRIMEIRO LUGAR

A mulher tem que ser, em primeiro lugar,
Ela mesma.
Não importa quem seja;
Se grosseira, se meiga,
Se bondosa, se má.
Ela tem que se enxergar
Como sendo uma princesa.
Pois o que ela mais deseja,
Tem poder de conquistar.
A mulher tem que se amar
Para poder encontrar
O seu príncipe encantado.
Pois se ela se por de lado,
Qualquer sapo adornado,
Poderá lhe enganar.


NO LIXO

É uma criança!
Seu choro espanta
As moscas no lixo.
O HOMEM VIVE DE PÃO

Somos bilhões de vidas e nomes
Entre mulheres e homens,
Crianças, bebês e anciões.
Por inúmeras nações,
Miséria e fome
Se misturam aos lixões.
Nossos ideais, nossas paixões,
Nossas doces ilusões
Não nos redime de culpa.
Pois, pedir perdão, desculpa
Não lhes serve de ajuda,
Serve de consolação.
Ao mostrarmos compaixão,
Temos a nítida impressão
De que somos inocentes.
Mas na prática é diferente,
Temos que ser conscientes,
O homem vive de pão.


UM COMPOSITOR DISTANTE

As notas estavam sonantes,
Muito antes
De serem executadas.
Eram cifras bem traçadas
De um compositor distante.
Qual seria o seu ânimo
Quando traduziu palavras
Numa música refinada,
Cheia de graça e encanto?
Convertia assim, em canto,
Uma eterna melodia.
Versos de pura magia
Que ainda causam espanto.




VESTIDO CASTO

O teu vestido casto,
Abaixo do joelho,
Reflete no espelho,
O teu jeitinho mágico.
Os pezinhos descalços,
Teus únicos companheiros,
Deslizam sorrateiros,
No liso assoalho.
O teu cabelo vasto,
Constantemente preso,
Oculta ao mundo inteiro,
O teu desejo lasso.
O teu decote raso,
Mal deixa percebermos,
O arfar de teus anseios,
Causa de teu cansaço.
Se nada traz por baixo,
Teu corpo está em pelo.
Mas, mantém em segredo
Com o teu vestido casto.


UM VIÚVO

Desviei minha atenção
Por seu sorriso.
Para um coração aflito,
Tudo se torna possível
Em nossa imaginação.
Sofrimento e solidão,
Talvez sejam os motivos
Pelos quais tenha esquecido
Minha triste condição
De viúvo envelhecido
Que se encontra empobrecido
Sem amor, sem devoção.


UMA CASUALIDADE
A mediocridade dos seus versos,
Não o impede de seguir em frente.
Incomoda tanta gente,
Prova do seu insucesso,
Que não esperaria reações diferentes.
Fala de Deus e do mundo.
Um herege imundo,
Nas palavras de um crente.
Ou talvez, um indecente,
Um inútil, um vagabundo,
Um metido sem assunto,
Um fracassado, um doente.
Outros dizem: É um descrente,
É um ateu condenado,
Deve ser sócio do diabo,
Vai queimar em fogo ardente.
Esse tolo impertinente
Ainda teima em escrever.
Não tenho tempo a perder
Com autorzinho independente,
Metido a inteligente.
Esse sujeito é demente,
O que escreve é bobagem.
Admiro sua coragem,
Apesar de deprimente.
Parece inexperiente,
Não demonstra qualidade.
Sua irresponsabilidade
É falar tudo que sente.
Se sair sobrevivente,
Será pura e simplesmente,
Uma casualidade.


OS MEUS PAIS

Os meus pais
São reais
E provocam meus ais.
NA MAIS CRUA FRIEZA

Sob os tacos do assoalho
Da antiga igreja,
Deixei minha impureza
E os meus pecados.
Enquanto Deus fingia estar zangado,
O Diabo consolava minhas queixas.
Enfim, o meu espírito se deixa,
Enquanto o meu corpo é disputado,
Levar pelo anjo condenado,
À mais inóspita profundeza.
Não quero que o mundo me proteja
Com a crença de que eu esteja salvo.
Assim, no campo santo, sepultado,
Meu corpo foi velado
Por Deus e pelo Diabo,
Na mais crua frieza.


O MAIS SÓRDIDO PECADO

Quantas vezes, fui levado
A dar o meu perdão?
Porém, não fui perdoado.
Dentre os abandonados,
Os mais fracos,
Dizem sempre sim.
Longe de mim,
Os que negam os seus pecados.
Quando um desobediente
É apedrejado,
Não se apontam os culpados.
Pois o povo exaltado
Pela fé, indiferente,
Não enxerga à sua frente,
O mais sórdido pecado.




ENTRE PLUMAS E ESPINHOS

Se todos estão seguindo
Na mesma direção,
O que então,
Estou fazendo na contramão
Do caminho?
Talvez seja destino
Ou mera opção.
Ao caminhar sozinho
Entre plumas e espinhos,
Não sinto solidão.
Porém, tenho a impressão
De que meu coração
Me diz baixinho:
Ouça a razão.
E com convicção,
Eu vou dizendo não
Ao que eles me ensinam.


SANGUE E PERFUME

Teus lábios asseveram o meu ciúme
E assim, confunde
O teu amor.
Enxergo em teus olhos, o pavor.
Mas sou imune
A remorsos, minha flor.
Há cada vez que o sol teima em se por,
Eu volto como de costume,
A ser quem na verdade, sou:
Um frio agressor
Que vive impune
Por trás do teu temor.
A todos aparento ter valor,
Um bom pastor
Que às suas ovelhas, une.
Enfim, a nossa vida se resume
A suor, sangue e perfume,
A escrava e senhor.
ENTRE O ONTEM E O AMANHÃ

Ontem, o perigo era atitude.
Hoje, a vida é muito pouco
Ou já não sou tão louco
Quanto em minha juventude.

Vivo a mais serena quietude.
Talvez, por já não ser aquele moço
Que adorava o alvoroço
Em toda sua plenitude.

Colho os detalhes amiúde,
Nas coisas que não percebia.
Sei que tudo aquilo que fazia
Era por vicissitude.

Há na mocidade, uma virtude:
Não sentimos o tempo passar,
Pois o dia a dia nos ilude.

Sem reflexão no que será,
Somente iremos notar
Quando a idade nos mostrar
A própria decrepitude.


ENTRE SONHO E REALIDADE

Entre migalhas de sono,
Renuncio a minha idade.
Desde minha mocidade,
Acompanho
Passo a passo, vou formando
Essa perfeita imagem,
Uma paciente montagem,
Onde sonho se transforma em realidade
E realidade em sonho.

UM RETRATO NA PAREDE
Quem dera que você me percebesse
Como alguém que ainda existe.
Não passo de um retrato na parede
Que só traz lembranças tristes,
Numa moldura antiquada
Que há tanto tempo resiste.
Minha cara não agrada,
Mas calada, não desiste
E sempre insiste
Em fitá-la,
Minha antiga namorada,
Ressentida, magoada,
Que jamais ficou curada
De meu deslize.


SATISFAÇÃO

O brilho cativante das retinas
Nos olhos de quem tem satisfação,
Nos dá a impressão
Que ilumina,
Se espalha e contamina,
Tal riso de menina
Em meio à diversão.
E essa sensação
Nos leva acima
De nossa triste sina
Em qualquer condição.


O GRITO

Sigo
Os meus passos
Quando volto.
Solto
Os meus braços
Quando grito.
O BEM MAIS PRECIOSO

O meu avô dizia:
Hoje em dia
É muito perigoso.
Mas quando eu era moço
Reinava a harmonia.
Meu pai era um garoto
E o ouvia.

Meu pai envelhecia
E assim se repetia.
Falava que seu tempo era outro,
Enquanto eu garoto,
Ainda não sabia.

Até que um belo dia,
Ao meu filho dizia:
Na sua idade eu era solto,
Pelas ruas corria.
Agora, é muitíssimo perigoso.

Meu filho que ouvia, desgostoso,
Não sabia que também repetiria
A mesma melodia
A um futuro moço
Que um dia nasceria.

A infância é movida
Por muito alvoroço.
O jovem tem um rosto
De plena rebeldia.
O medo e a falta de ousadia
São traços de um homem cauteloso
Que considera a vida
De toda sua família,
Seu bem mais precioso.




O COMPLEXO

Pensar
É atravessar canais
De ruas químico-elétricas
Num complexo de células
Sensoriais.
É muito mais
Que alicerçar ideias.
É caminhar pelas aleias
Das sinapses cerebrais
Entre construções neurais
Que a mente intercepta
E as adéqua
Às situações reais.


MERECE UMA CENSURA

Se um homem bate noutro,
Seja o motivo qual for,
Deve sim, pedir desculpa;
Não por medo ou por culpa,
Mas porque provocou dor.

A violência é o fator
Que merece uma censura,
É escrava da loucura,
Inimiga do amor.

Não é fraqueza o pudor,
A mansidão, a doçura.
Pois a pior criatura
É aquela que ainda usa
A força como valor.






PINTURA ESCOLHIDA

O berço no canto do quarto,
Revela um retrato
De vida.
A minha menina querida,
Pintura escolhida
Do mais belo quadro.
À noite, em sono velado,
Seu rosto parece magia.
Entre os finos lábios,
Sua alma sorria.
Quem sabe em sonho ela via
Seu pai tolamente encantado
Com aquela que sempre seria
Sua doce filha,
Seu bebê amado?


MENTIRA DESLAVADA

As pessoas não querem escutar
Uma única palavra
Que não venha confirmar
A mentira deslavada
Que se tornou necessária
Acreditar:
Que o mundo é um mar
De imundície e sujeira,
Onde passam a vida inteira
A nadar.
É preciso ir devagar
E jamais exagerar
A dor alheia.
Tanto existe gente feia
Quanto belo exemplar.
Se existe gente má,
Também há
Gente boa e ordeira.
“Se entrarmos na fogueira,
Será para se queimar.”
BOQUIABERTO

Na cidade de minha morada,
Sempre estou boquiaberto.
As pessoas não levam a sério,
As leis sancionadas.
O pedestre confunde a calçada
Com o meio da rua;
Ainda usa e abusa
Dessa prática arriscada.
O semáforo já não vale nada,
Sendo verde, vermelho ou amarelo
É invenção descartada.
O pedestre que morre na faixa
É chamado de cego.
Considera-se certo,
O suborno ao guarda.
Contramão se tornou mão usada.
Proibido parada
É onde para o esperto.
Nesse trânsito caótico, o remédio
É ser muito discreto
E fingir não ter mérito,
Nem vergonha na cara.


APENAS ALVOS

Quantos homens se mataram por dinheiro!?
Tantos outros sepultaram seus pecados.
Somos apenas alvos
De nós mesmos
E de nós mesmos,
Não poderemos ser salvos.
Entre céticos e fanáticos,
Entre humildes e soberbos,
Entre ameaça e medo,
À morte, condenados.



FLOR- DE-SEDA

Vou
Aonde o vento me levar.
Qual semente de uma flor-de-seda,
Necessito de um lugar
De areia
Para me enraizar.

Sei que aonde o vento me largar,
Até mesmo junto à cerca,
Com a neblina que me beija,
Vou, na certa, germinar.

E do chão irei brotar
À procura desse sol que queima.
Vou crescer além da cerca.
Produzir formas que secas,
Sementes de flor-de-seda,
Espalharão pelo ar.


ANJOS E DEMÔNIOS

Estou ficando louco,
Vendo demônios soltos
E anjos na prisão.
Os bons pedem perdão
Por terem posto
Um anjo torto
Na proliferação.
Os maus mantêm a sua punição
Por gratidão
A um deus morto
Que sempre disse não
A um e outro,
Sem comiseração.




SUSPIROS

São só palavras o que digo.
Mais que palavras, são suspiros
De minha alma
Que encantada
Com tudo isso
Que tem perdido,
Por tão banal motivo
Que é amar calada,
Não guarda mágoa
Por seu exílio
No ceticismo
Que é negada.


A TAVERNA

A taverna vazia que se cala,
Ainda mata a sede
De quem paga
E mantém sua alma
Nas paredes,
No balcão e nas mesas arrumadas.
Permanece a espera de uma fala
De seus poucos fregueses:
Aldeões, camponeses
Que sem alma,
Se distraem às vezes.


A ESTRELA

Aquela estrela, o que diz?
Siga-me, continue em frente
Se deseja ser feliz.
Estarei aqui somente
Até o amanhecer.
Se ainda quer me ver,
Experimente
Olhar pro céu e sorrir.
SIMPLESMENTE CRER

O que é a vida?
É respiração sentida.
A vida é a vida,
É feita pra se viver.
É nascer, lutar, morrer.
É carne, matéria viva.
É rotina, é dia a dia.
É tentar sobreviver.
Basta simplesmente crer
Que a vida é infinita,
Que é eternamente ser.


SEMPRE IREI TE AMAR

Bem cedo, enquanto amanhecia,
Senti na pele, a brisa
Que vinha de alto mar.
Tentei me concentrar
No que fazia.
Porém, não me esquecia
Do quanto foste má.
Apesar
De tua alma ser vazia,
Soberba, vaga e fria,
Eu sempre irei te amar.


ANOS DE EXISTÊNCIA

Tenho a brevidade de meus dias
Atrelada aos meus anos de existência.
Minha paciência
Por demais elastecida,
Não por minha conivência,
Mas por prática e experiência
Na espera de outro dia,
Sofre com a covardia
De minha própria consciência.
PSICOGRAFADA

Tudo que acontece
Tem uma explicação sensata.
Mas tem gente que esquece
E se torna engraçada.
Eis que recebo uma carta
Que um morto me escreveu.
Dizem que psicografada.
Era um velho amigo meu
Que em vida não rezava
E também era um ateu.
Mas agora, era fantasma
E jurava que era Deus
Que seu caminho, guiava;
Que uma vida não bastava;
Que o próximo serei eu.


PALAVRAS SILENCIOSAS

Passo meus dias
Procurando por respostas
Às perguntas sempre impostas
Por minha intrigante alma.
Nenhuma dada,
Satisfaz à minha lógica.
Mesmos as supostas
Não significam nada.
Não há palavras
Que definam minha ótica;
São em mim silenciosas,
Mas jamais, serão caladas.


O CALDO

Flutuo
Nesse caldo de miséria,
Onde boiam a pilhéria
E o escrúpulo.
POSTURA ADEQUADA

Eu não mantenho a cabeça levantada
Por soberba ou altivez.
Mas por que sei
Que é a postura adequada.
Linha reta,
Linha curva
Ou cruzada.
Nem sempre a medida certa
É a meta
Desejada.


MINHA POESIA

A minha poesia
Não se limita a metáforas belas,
A sonhos encantados,
A barcos a vela,
A flores, a festas,
A versos adocicados.
Pois falo da dor que aflige ao mais fraco,
Das garras das feras,
Do espinho do cardo,
Do esboço ao retrato,
Da fome à miséria,
Dos mais tristes fatos
Que a vida nos prega,
Do primo primata que vive na selva,
Do psicopata que é civilizado,
Do jovem castrado
No pó e na erva,
Do horror da guerra,
Da triste espera
Dos anjos alados
Pelos alienados.
A minha poesia
Às vezes, é fria
Qual corpo velado.

ILHA SOLITÁRIA

De minha perspectiva,
O mundo é uma ilha solitária,
Onde a coisa desejada
É apenas, companhia.
Na tristeza ou na alegria,
Na vontade reprimida,
Na verdade mascarada.


GRANDE BATALHA

Meu medo está sob a cama e atrás das cortinas.
A história termina
E começa assombrada.
Meus próprios fantasmas
Me acordam bem cedo.
Mas, por que temê-los
Se é minha morada?
O pavor me cala.
Me agarro aos brinquedos
Que guardam segredos
Da noite passada.
Minha mãe me acalma
Dos meus pesadelos,
Me diz pra vencê-los
Numa grande batalha.
Onde o vencedor não será um guerreiro,
Mas eu, cavaleiro
De capa e espada.
Por trás da cortina do singelo banheiro,
Faço do chuveiro
Uma bela cascata.
Da colcha arrumada
E do travesseiro,
Um corcel ligeiro
E uma enorme capa.
Levanto o braço, imagino a espada.
E à mim, um cavaleiro
Em plena batalha.
ATÉ QUANDO

Qual motivo me faz chorar tanto?
O que faço para acreditar
Que o amor ainda está
No meu pranto?
São perguntas que teimo em fazer,
Sem saber o porquê
Desse meu desencanto.
Se eu mesmo não sei responder,
Quem poderá me dizer
Até quando?


GAROTINHA

Desdentada ainda,
Seu sorriso ilumina
Toda a casa.
Deixa-se ser levada,
Se para passear.
Ela põe-se a chorar
Só por teimosia.
Porém, volta à alegria
Se a deixarmos bagunçar.
Já começa a se arrastar
Pela casa inteira.
Tem sua própria maneira
De chamar.
Sei que o tempo irá passar.
Que caminhará sozinha.
Não importa o quanto cresça,
Será na minha cabeça,
Sempre a mesma
Garotinha.






SEM QUERERMOS

Nossos olhos se perderam
À procura um do outro.
Nossos beijos foram poucos.
Talvez, não se mereceram.
Nossas bocas se bateram
Com palavras de mau gosto.
Nossos corpos feitos loucos,
Se afastaram sem querermos.
Nesse vai e vem do oposto,
Somos ambos, o desgosto
De nós mesmos.


VOZES ALHEIAS

Essas vozes,
O que querem essas vozes?
São fantasmas, são algozes
Que não param de falar.
O que há
Dentro de minha cabeça?
Antes que eu enlouqueça,
Devo fazê-las
Calar.
Querem me intimidar
Com ameaças.
Sorrateiras e descalças,
Se aproximam devagar.
Não consigo me afastar.
Vozes alheias,
Cruéis e feias,
Talvez queiram me matar.







SEI

Sei que entre tantos afazeres,
Sentimentos e prazeres
Ficam à parte.
Quando você para já é tarde,
Não convém enfim, meus interesses.

Sei que não importa minha sede,
Em seu leito fico à margem.
Mesmo que transborde sacanagem,
Permaneço em minha rede.

Sei que antes mesmo que se deite,
O cansaço lhe invade.
E não haverá vontade
Que estrague seu deleite.


SONETO 40°

Eu estou com muita febre.
Febre que me incendeia,
Que aquece as minhas veias
E ao meu sangue quente, ferve.

Mesmo ardendo a minha pele,
Não é o calor que queima.
É o frio que não me deixa
E ao meu corpo quente, fere.

Ultrapassa os trinta e sete
Em três graus que a enfermeira
No termômetro, confere.

A cabeça não me serve,
Em meus delírios, alheia,
Simplesmente não percebe.



INFINITAS LUZES

No céu não há luzes.
Além dele, estrelas
Que à noite, acesas,
Iluminam as cruzes
Das covas alheias
Que parecem feitas
Para serem lúgubres.

Infinitas luzes
São ao sol, desfeitas.
Nas covas alheias,
Permanecem as cruzes.


AOS POUCOS

Eu estou morrendo aos poucos.
Mas, seria um louco
Se pedisse ajuda
A estranha força oculta
De um deus.

O meu corpo está doente.
Porém, a minha mente
É fiel e crente
À convicção de ateu.

Ser feliz por que viveu,
É aceitar e dar adeus
Aos sobreviventes.


ESPERADO FIM

Despedida ruim
Pra viagem tão curta.
A chegada é abrupta
E esperado é o fim.

SONETO AO BOM MÉDICO

São raros os que honram o compromisso
De dar prioridade a vida humana;
Que jamais sobrepõe com a ganância,
O que fora um dia prometido.

Devemos estar sempre agradecidos
A estes que nos dão tal segurança
Que entregamos pela confiança
A vida de nossos entes queridos.

Diante de semblantes comovidos,
Respeitam tanto a dor quanto a esperança
Daqueles que se sentem tão perdidos.

Procuram ser por estes, entendidos.
Pois desconhecem por ignorância,
As probabilidades e os riscos.


SAUDADE E PRAZER

O que são lembranças
Senão a esperança
De nunca esquecer
O tempo de infância
Que a gente não sonha
Até se perder?

Brincar de correr
Sem medir a distância
E quando se alcança
Deixamos de ser.
Voltamos a ver
Depois de uma aliança,
Em outra criança
Que nos faz reviver
O tempo de outrora
Que olhamos agora,
Com saudade e prazer.
REUNIÃO

Apesar do desalinho,
Eu me sinto à vontade.
Cedo ou tarde,
Serei deixado sozinho.
Por vergonha, o vizinho
Mostra-se embaraçado.
Ao seu lado,
Um rapaz engravatado,
Diz demasiado baixo:
Vamos sair de fininho.
Coitadinho,
Fala uma senhora gorda.
Talvez, não tenha uma roupa
Própria para a ocasião.
Será que é opção
Ou é desleixo?
Pra evitar pior desfecho,
Arranjo então um pretexto
E saio da reunião.


É BEM MAIOR

Alguém que não me quer,
Jamais me satisfaz.
Por que o amor a mim,
É bem maior enfim,
Que o amor aos demais.
As brigas de casais
Que chegam a ser letais,
São por próprio desdém.
Amar a si, além
Do amor a outro alguém,
É aquilo que mantém
As relações em paz.




SOBRE OS OMBROS

Não sou tão velho assim.
Pois pesam sobre mim,
Pouco mais que quarenta anos
De sonhos, desenganos,
De planos que no fim,
Acabam-se enfim,
Nunca se realizando.
Os anos vão passando.
Os ombros suportando
Uma carga não prevista.
Então, perco de vista
Minhas oportunidades.
E em plena meia idade,
Vejo o final da vida.


RAZÃO X FÉ

Na vida tudo é lição.
O mundo é um velho docente
Que mesmo estando doente,
Teima em dar educação.
Numa breve altercação
Entre um ateu e um crente,
Ouvi algo comovente
Que me chamou a atenção.
Ante crença e adoração,
A convicção resiste.
A razão então, assiste
A uma fé que é desmedida.
Só há uma alternativa
Pra provar que Deus existe,
Exaltado, o crente insiste,
É você perdendo a vida.
O ateu um tanto triste,
Cabisbaixo então revida,
Para provar o contrário,
Que ele é seu imaginário,
É deixar que você viva.
UM FANTASMA

Se eu deixar
Que você me beije agora,
Talvez seja como outrora,
Você queira me deixar.

Quando diz que quer ficar
É só por hora.
Por prazer então implora,
Tenta se justificar.

É preciso evitar
Que essa história
Se repita com a senhora
Que quer destruir meu lar.

Evito assim, lhe olhar
Dando-lhe as costas.
Fico de pé ante a porta,
Imagino você morta,
Um fantasma a me assombrar.


NOSSA IMAGINAÇÃO

O mundo não é mais, nem menos
Que a nossa imaginação.
Não que seja ilusão,
Pois nós o temos
Moldado por nossas mãos.
Em nossa percepção,
Estamos vendo
O que desejamos ver.
Mas não há como saber,
Como o mundo pode ser
Sem nossa observação.




MUNDO ACELERADO

Não tive tempo pra pensar
Que poderia ser melhor.
De tanto ir daqui pra lá,
De tanto vir de lá pra cá,
Terminei só.

A vida deu um seguro nó
Em meus cadarços,
Freou meus passos
Sem remorsos e sem dó.

Assim, descubro que o pior
Não é ficar enfim, parado.
É ver no mundo acelerado,
Tudo que foi por mim deixado,
Tornar-se pó.


ABSURDO

Corto meus amores
Em meus próprios pulsos.
Assim, vivo de luto
Por mim mesmo.
Guardo em segredo,
Esses meus impulsos
Que fazem uso
De amor e de desejo.
Tardiamente vejo
Que é um insulto
O sangue que escorre por meus longos dedos.
Passo as mãos no rosto e nos cabelos;
Enfim, percebo
Entre pudor e medo,
Que o ato foi um absurdo.




AMIGOS DE VERDADE

Um aperto de mão ao amigo bem-vindo.
Um abraço, um carinho
À amiga que parte.
Que intrigante a amizade,
Tão devota ao espinho
Quanto à flor que se abre.
Cedo ou tarde,
Encontramos no caminho
Alguém como nós, sozinho,
À procura de amizade;
Sentimento que exige lealdade
Entre lágrimas ou sorrindo.
Nossos braços vão cingindo,
Nossos passos vão seguindo,
Somos amigos de verdade.


POETA DAS SOMBRAS

De maneira sombria
São meus versos sussurrados no silêncio;
Se parecem com o lamento
De um filho que ao pai não conhecia.

Minhas ilusões perdidas,
Desafiam o meu próprio pensamento.
Talvez seja comoção do meu tormento,
Minha natureza fria.

Sai das sombras minha triste poesia
Sob lápides que sepultam sofrimento.
Se dispersa tal a névoa pelo vento,
Mas deixa para trás ressentimentos
E lembranças de momentos de agonia.





SONETO ÀS CONSOANTES FORÇADAS

Provou-se pelas letras de um mapa
Que vem de um primata, nossa cepa.
Numa remota época, ele se trepa;
Em outra, se oculta numa lapa.

Dele também descende o próprio papa.
Mas a sua mente sábia, a fé decepa.
O que resta na cabeça é só carepa
Que a bela coroa sempre rapa.

Na evolução de uma mera tulipa,
Não cabe artesão com uma garlopa
A dar acabamento a uma chalupa.

Se você der um nó na sua tripa,
O novo alimento nele topa.
E é apa, epa, ipa, opa, upa!


NA POEIRA DOS QUINTAIS

Meus olhos se perderam na distância,
Em busca daquela tola criança
Que brincava com a esperança
De crescer.

Que se afastava de si, sem perceber.
Enquanto suas pequenas passadas
Apagavam-se na estrada
Sem jamais retroceder.

Não consigo mais me ver,
Por ter ficado para trás,
Dispersado, aliás,
Na poeira dos quintais,
Sem jamais,
Voltar a ser.


ANTES DO SONHO ACABAR

Quantas palavras
Serão necessárias
Para mostrar quem eu sou?
Quantas ações devem ser praticadas
Para provar meu valor?
Quantas velas devem ser acesas
Para dar a certeza
De que já envelheci?
Tantas vezes eu parti
Quantas voltei pra ficar.
Quanto terei que chorar
Pelo tanto que sorri?
Tudo aquilo que senti,
Nunca desejei mudar.
Eu preciso acreditar
Que existi,
Antes do sonho acabar.


MONUMENTO

Sou apenas uma frágil existência
Que acredita ser eterna.
Que devasta a própria terra
Pra tirar o seu sustento.
Muitas vezes, não aguento
A pressão do dia a dia.
Solidão e apatia
Deslocam meu pensamento.
Entre espaços e o tempo,
Sou quimera.
Talvez seja, quem me dera,
Um estranho monumento.






INIMIGO DIÁRIO

Que os dias se façam
Com as horas tardias.
Eu desejo na vida,
O atraso diário.
Rasgo meu calendário.
Ao acaso, sem guia,
Deixo a casa vazia
E caminho descalço.
Dessa forma, me afasto
De qualquer companhia.
Meu olhar desafia
O inimigo que via
No espelho quebrado.


REAL COMO EU

Não tenho medo de Deus.
Tenho medo daquele que é capaz de matar em seu nome.
Eu tenho medo do homem
Que é real como eu.

Não tenho medo dos meus
Pelo meu vínculo de sangue.
Eu tenho medo dos outros
Que acreditam ser loucos
Pela vontade de Deus.

Eu tenho medo do mal
Que é causa do próprio bem.
Eu tenho medo também,
Daquele que diz amém
Quando anuncia o final.






SANGUE ESVERDEADO

Samambaias aberrantes.
Entre elas,
Exuberantes flores vermelhas
Sob as telhas
Do galpão iluminado.
Um botânico ilhado
Por cimento, ferro, areia,
Passaria a vida inteira
Numa estufa, enraizado.
Tem nas veias mais que seiva,
Corre sangue esverdeado.


ESTRADA DESERTA

É sombrio sob as árvores.
A estrada parece deserta.
Espero na certa,
Pelo fim, a chegada.
O silêncio me afaga.
A solidão comigo espera.
Eu me sinto como a fera,
Livre sob a madrugada.
Objeto de uma caçada
Que de repente recomeça.
Onde a caça é esperta.
Mas o caçador revela
O poder de sua arma.
Bam! Um tiro ecoa na mata.
O civilizado mata
O bruto que vive na selva.


OLHAR AFLITO

Meu eu em conflito
Recorre ao espelho.
Quem é esse cavalheiro
Que tem o olhar aflito?
PONTO DE VISTA

Alegre calçada,
Vara madrugada
Em animação.
Um deita no chão,
Outro se agacha.
Um par de sandálias,
Um belo violão.
Um calça chinelão,
Outro nada calça.
Todos na cachaça.
Pingos de limão.
Um chora em vão,
Outro acha graça.
Um mija na calça.
Vômito pelo chão.
Tudo é diversão
Pra essa garotada.
Onde vemos falha,
Uma grave falta.
Eles veem farra,
Mera distração.
Prova que a visão
Tende a ser contrária.
A idade marca
Qual a posição.


ENTRE GREGOS E JUDEUS

Um dia,
Deus será mitologia
Como Zeus foi Deus um dia.
Jesus Cristo então seria
Como Hercules filho de Zeus.
Entre gregos e judeus,
Nada se diferencia.
O que foi realidade em um dia,
Noutro é mera fantasia.

AGENDA

Na minha agenda
Não há compromissos.
Mas, estão escritos
Versos e poemas.
Nas linhas, apenas
Meus dias, reviso.
Assim eu revivo
Semanas de cenas.
Palavras amenas
Com letras em grito.
Meses de conflitos
Que acabam aflitos
Sem um compromisso
Na minha agenda.


SERVIDÃO DOENTIA

Uma sombra me seguia
Numa servidão doentia
Que atribuía ao amor.
Não dava nenhum valor
A si mesma.
Sua pessoa estava alheia
Ao seu olhar que vagueia
Entre solidão e dor.
Bêbado no corredor;
Ela sempre prestativa.
Uma influência negativa
Sem vergonha e sem pudor.
Feito um cão aos pés do dono,
Entregue ao próprio abandono,
Tão fiel ao se senhor.






A BORBOLETA

O amor de minha vida,
Entre flores pelo campo,
Era o mais doce encanto
Que eu cegamente via.

Era cheia de alegria.
Sua voz trazia o canto
Da mais sublime harmonia.

Fosse noite, fosse dia;
Confiante em si mesma,
Conseguia o que queria.

Mas enquanto ela morria,
Entre lágrimas e pranto,
Em profundo desencanto,
Eu apenas escrevia.

Com pesar e com tristeza,
Rodeado pelas letras,
Vejo-a em minha fantasia,
Disfarçada em borboleta,
Pousar em minha caneta
Para ler a poesia.


UM SER LETAL

É natural
Eu ter bondade e maldade em mim.
Mas, ser ruim
Não seria desejar o mal,
Mesmo que ao próprio? Afinal
O bem pretende destruir o tal.
E sendo assim,
Eu sou enfim,
Humanamente, um ser letal.


TERRA E MAR

Não me canso de esperar
Por aquela que será
Minha eterna companhia.
Como a noite anseia o dia,
Eu desejo encontrar.
A procuro em cada olhar,
Sei que a reconheceria.
Na tristeza, na alegria,
Ela sempre estará lá.
O sorriso a iluminar
Como o brilho das estrelas.
O doce mel das abelhas
Nos lábios que irei beijar.
O seu nome irei gritar
Com anúncios de trombetas.
Que o mundo não esqueça,
A união de nossas letras
É a junção de terra e mar.


EM PAZ

Ao sussurro dos anjos
Que odiavam seu pai,
O murmúrio dos ais
Dos malditos humanos,
Superam em anos.

Aflição, desenganos,
Apetites insanos
E ofensas morais,
Foram dos imortais
O terror que herdamos.
Ilusões que criamos,
São nossos ideais.
Somos meros mortais,
Tudo que desejamos
É morrermos em paz.



PARTE III

Apenas mais um pouco

Não está longe,
Ande apenas mais um pouco.
Não importa o sol no rosto,
Logo, logo ele se esconde.



SEGREDO

Abro os olhos
Vejo que os homens choram.
Eles me imploram
Para deixá-los livres.
Contudo, um senhor
Tem que impor amor
Aos humildes.
Os escravos são felizes
E agradecem em oração.
Só ao estender a mão,
Apagam-se as cicatrizes.
Suas raízes
São cravadas em um chão
De superstição e medo.
O segredo
É mantê-los ocupados
Com ações de um ser macabro
Que é parte deles mesmos.


INGENUAMENTE TOLO

É ingenuamente tolo.
Traz a inocência das crianças,
Tolas esperanças
De um mundo puro e gentil.
É um ser servil
Que obedece a leis cruéis, insanas,
De uma voz estranha
Que nada lhe diz.
É um infeliz
Que aceita o jugo de um mito,
Um ser esquisito
Que ao vê-lo aflito
Em seu conflito,
Não diz: - Existo,
Sou sua matriz.


ENTRE CAPAS

Pelas frases passageiras,
Eternizam-se as palavras.
No contexto sob as falas,
Fazem ideia de si mesmas.

Materializam-se em letras.
Uma a uma são grafadas
No caderno que as cala,
Quando entre capas, se fecha.


SONETO A CAMINHO DE CASA

Atravesso a antiga praça,
Dobro na segunda rua,
Mal iluminada, escura,
Sigo rumo à minha casa.

O silêncio me abraça
Quando a solidão me culpa.
Sei que devo uma desculpa
E não digo uma palavra.

Na avenida iluminada,
Minha sombra se insinua.
Já é quase madrugada.

Chego e deito na calçada;
Observo enfim, a lua
Que está quase apagada.


A PROCURA DE SAÍDA

Cavo o chão,
A procura de saída.
O meu túmulo tem vida.
Minha vida,
Solidão.
EM MENTE

Em pouco tempo,
Percebi que minha vida
Era apenas pensamento.
Cada momento
É reflexo de uma ideia,
Onde a plateia
É o mundo em movimento.
Marcando o passo
No compasso da história,
Vou lembrando a cada hora,
Na memória do passado,
Onde o futuro
É um sonho desejado,
Em que o presente
É uma ideia persistente
De que tudo que se sente
Pode ser realizado.


É UMA ABSTRAÇÃO

Acordado tão cedo
Pela dor, pelo medo
Ou pela obrigação.
Talvez por devoção
Ou promessa a si mesmo.
Por excesso de zelo.
Por carência de pão.
Fica aquela impressão
De que o dia já veio
E acordar-se tão cedo
É uma abstração.







SONHO DE CRIANÇA

Quando ainda era menino,
Eu falava com carinho
Que seria engenheiro
Pra ganhar muito dinheiro,
Para viver construindo.
Ergueria no futuro
Enormes prédios de luxo.
Meu pai me ouvia sorrindo.

Já não sou mais um menino.
Também não sou engenheiro.
Mas construo o tempo inteiro,
Os mais sublimes castelos
De sonhos e ilusões.
Vou ganhando alguns tostões
Com a minha fantasia.
O que faço hoje em dia?
Deixo minha poesia
Para as próximas gerações.


CHUVA DE SINCERIDADE

Em um pingo de verdade,
Eu resumo minha vida.
Piso em lama de mentira.
Escorrego em vaidade.
Queda de antipatia.
Chuva de sinceridade.
Um guarda-chuva de sonho,
Protege minha fantasia.
Molho em poças de alegria,
Meus pés com felicidade.






RETALHO DA VIDA

Procuro a infância perdida,
Retalho da vida
Que é um grande lençol,
Assim como procuro o sol
No céu de uma noite sombria.

Eu sei, jamais encontraria
Uma agulha escondida
No meio de um paiol.

Tal peixe que fisga o anzol,
Levado pela cor da isca,
Sou uma criança arisca
Encantada com o arrebol.


NINGUÉM ME QUER

Acho
Que se acaso
Agacho
É que o mundo é baixo
Para ficar de pé.

Se melhor me convier,
Eu simplesmente afasto
O que achar nefasto,
O que mal me fizer.

E quem vier
Verá que não sou casto;
Tudo que ganho, gasto;
Meu desmantelo é vasto.
Enfim, ninguém me quer.





AINDA ASSIM

Quero tanto estar contigo agora,
Não vejo a hora,
Da tua terna companhia.
Tua alegria,
Docemente me transporta
À suprema harmonia.

Os teus delitos
Podem ser justificados.
Os teus pecados
Podem até ser esquecidos.
Os meus ouvidos
Estão moucos pros que falam,
Só escutam teus gemidos.

Sei que meus olhos poderiam ser vazados
E na garganta, sufocados
Os meus gritos.
Se meus delírios
Fossem a todos revelados,
Ainda assim, ia querer estar contigo.


LÂMINA AFIADA

Cortei o queixo
Tirando a barba.
Foi por desleixo
Ou foi por falha
De minha coordenação?
A fraca iluminação,
Também culpada,
Fez com que fosse enganada,
Minha aguçada visão.
Com a dor, abro a mão,
Largo a lâmina afiada
Que ainda brilha separada
Do barbeador, no chão.

PARTES

Uma parte de mim quer ajuda,
Aquela que nunca tem culpa,
Que se sente suja
Com tanta vergonha.
A outra, a que lhe acompanha,
Tem muita arrogância,
Não pede desculpa,
É fria e astuta,
Procura luxúria
Em sua ganância.
As duas em mim se misturam,
Flutuam
Com suas mãos dadas.
Por fora, não se percebe nada.
Por dentro é aquela loucura.
Não creio que possa ter cura.
Mas, posso mantê-las reclusas
Em mim, controladas.


SEM NINGUÉM

Você me trocou
Por lembranças de alguém
Que já não mais tem
Tanto amor.
Você me deixou
Sem ninguém
E ficou também
Assim, como estou.
Você mesmo criou
Esta situação:
Você sem direção,
Eu não sei aonde vou.
Você presa do que passou
E eu caçador sem paixão.



SOB A CHUVA FINA

Teu amor levanta dúvidas
Através do meu ciúme.
A essência de um perfume
Pode exalar tua culpa.
Tua explicação
Torna-se uma desculpa.
Tua comoção,
Uma cena de novela.

Tua maquiagem borrada
Pelas lágrimas discretas,
Serve como bofetada
Na cara de minhas suspeitas.
Minhas insinuações desfeitas,
Caem por terra.
Minha vergonha enterra
Minhas queixas.

O orgulho sobrepõe teu sofrimento.
São palavras que me ferem como faca.
Tua voz que era a pouco tempo fraca,
Soa forte tal qual eco pelo vento,
Ampliada pela força de tua mágoa.

Entre lágrimas e abraços nos beijamos.
Prova de que perdoamos
Nossas falhas.
Entre roupas espalhadas,
Nos amamos
Sob a chuva fina, pela madrugada.


ANTE UMA DESPEDIDA

Essa dor que me castiga,
Que desenxabida
Tenta me matar,
É a mesma dor que dar
Ante uma despedida.
ENTRE FLORES NO JARDIM

A minha cara de anjo
É para ocultar o demônio
Que existe dentro de mim.
A minha voz cativante
É para no último instante,
Fazê-la enfim, dizer sim.
Mas coitadinho de mim,
É a impressão que eu passo.
Meu coração é devasso.
No meu abraço, há um fim.
Minha bondade é ruim,
Pois na verdade, eu caço.
A timidez e o embaraço
São armadilhas que faço
Para pega-la pra mim.
Oh, flor vermelho-carmim
Que tem o néctar da vida!
Sou uma abelha perdida
Que a vê aberta, passiva,
E febrilmente lasciva,
A fecundar no jardim.


ASSIM SURGE UM MITO

Uma história parece muito pouco
Para afirmar que um homem está louco
Ou completamente são.
Se as ideias caem em contradição,
Pode ser um mentiroso
Contando sua versão.
Agrava a situação
Se o mesmo estiver morto.
Muitos dirão
Ver seu rosto.
Enquanto outros
Negarão.


MAIS QUE NAMORADOS

Grito que estou apaixonado.      
Mas do outro lado,
Ela não me escuta.
Eis que o vento leva meu recado
Num sopro apressado,
A ela sussurra.
De repente vira-se e procura
Pela voz que diz o inesperado.
Vê no rosto do seu bem amado,
A expressão de amor e de ternura.
Como dois possessos de loucura,
Duas criaturas
Correm pro abraço.
Beijo os seus lábios,
Cinjo sua cintura.
Ela corresponde à altura.
Somos mais que apenas namorados.


PÓ DE CARVÃO

Meu rosto imundo
Pelo pó de carvão.
Passo no rosto, as mãos
Para olhar meu mundo.
Sei bem lá no fundo,
Que essa solidão
É a única visão
De meu olhar profundo.

Suporto as noites
De calor intenso.
Aguento o vento
Frio da madrugada.
A única estrada
Jamais me levou.
E aqui estou
Sem saber de nada.

FANTASIA COLETIVA

Por mais que eu lhe mostre a verdade,
Você sempre se apega à mentira.
Contra a nossa única realidade,
Opõe-se uma fantasia coletiva.

No campo e até mesmo na cidade,
O homem se esquece de sua vida.
Em toda e qualquer sociedade,
Espera-se um lugar de harmonia.

Devido a tamanha ansiedade,
A espécie sucumbe doentia,
Nos braços da suposta divindade.

Fiel a sua falsa castidade,
Revela em sua própria hipocrisia,
Que a fé seca e oprime a liberdade.


TRISTES FIGURAS

Cavo a minha sepultura
Nos cabarés da vida.
Vejo as mais tristes figuras
Ente drogas e bebidas,
Procurando redenção.

Vivem de uma ilusão
Não merecida,
Esperando compaixão
De onde se castiga
Através de punição.

Haverá maior castigo
Que sua própria condição?




VIGÍLIA

À noite na escuridão da rua,
Meus passos são guiados pela luz da lua.
Enquanto a solidão em mim, aperta
E o silêncio enfim, me cerca,
O perigo não me assusta.

Um cachorro, ao longe, ladra.
Um apito ecoa na madrugada.
A minha vigília continua.

Por trás de portas e janelas fechadas,
Há pessoas assustadas
Que acreditam estar seguras.

Sopro e esfrego as minhas mãos,
Tentando abrandar o frio.
O verdadeiro desafio
É acreditar na ilusão
De que temos proteção.


EU ACHO

Eu acho
Que morro aos poucos,
Ou de exaustão
Ou de descaso
Se acaso
Por desgosto,
Posto
Não poder com o fardo,
Me mato
Ou me tranco louco
Num profundo poço
Ou num fosso
Raso.



TODAS AS VEZES

Todas as vezes que sinto medo,
Busco em segredo,
O seu doce colo.
Fecho os meus olhos
Com seu aconchego,
Eu durmo bem cedo
E bem cedo acordo.

Todas as vezes que me dá conselho,
Guardado em seu zelo,
Eu sempre me afobo.
Abre então meus olhos
Por eu não ter medo.
Fica em desespero
Por eu sentir ódio.

Todas as vezes que eu a vejo,
Eu sempre despejo
Os meus maus negócios.
Enxuga meus olhos
Por que eu nunca cresço.
Cobre assim de beijos,
Quando me esforço.

Todas as vezes que eu a deixo,
Ou porque a esqueço,
Digo que não posso.
Enche então seus olhos
Pelo meu desprezo.
Tarde reconheço
E sinto remorsos.


PALAVRAS DISCRETAS

O vento levou minhas letras,
E dispersas,
Soletram as mesmas
Palavras discretas.
FEITO ASA E FERRÃO

Dou vagas ao pensamento
Sem cobrar-lhe sentimento
Ou devoção.
Reclamo ao coração
Pelo meu desprendimento.
Não há um único momento
Que meu frio julgamento
Não condene uma boa ação.
Entro em contradição
Feito asa e ferrão
Num inseto em movimento.


NO ANONIMATO

Deverei fechar os olhos
Para tudo que há de errado?
Alguns dizem que é pecado,
Outros que causa remorsos.
Porém, até onde eu posso
Arriscar o meu pescoço?
Sou feito de carne e osso,
Não de fibra e/ou de aço.
Não importa o que faço,
Muito menos meus esforços.
Os certos estarão mortos
E jamais serão lembrados.
É melhor ficar calado,
O silêncio é bom negócio.
Da verdade, eu sou sócio
Desde que no anonimato.


ESTÁ NA CARA

Eu posso ter perdido a alma,
Mas ganhei a visão.
Quer enxergar ou não?
Está em sua cara.
O MALANDRO

O malandro arrebenta
Com a faixa no peito
Como sendo o primeiro
Que conclui o percurso.
Na verdade, era o último.
Sonhador, brasileiro,
Sempre encontrando um jeito
Pra se dar bem em tudo.

O malandro é astuto,
Sedicioso e lampeiro.
Pra fugir é ligeiro.
Sempre sabe de tudo.
Da preguiça, faz uso.
Sabe ganhar dinheiro.
Com mulher, lisonjeiro.
Já com homem é peitudo.

Para malandro, estudo
É um barco bem cheio
Afundando no meio
De um lago escuro.
Quem se salva enxuto,
Sem nadar, sem recursos,
É doutor verdadeiro,
De anel e canudo.


POR TRÁS DAS LENTES

Seus olhos por trás das lentes,
Tão displicentes,
Indiferentes
Ao meu amor,
Talvez queiram se opor,
Inconscientes,
Aos meus, tementes
E ao seu dispor.

ESTRANHA CAMINHADA

Meus dias são contados,
Não nos dedos,
Mas nos passos.
A vida é um caminho
Com paradas
Quase sempre obrigatórias.
Pois elas são os marcos da história
Que narra
Essa estranha caminhada.

Olhando a estrada solitária,
Percebo que já não estou sozinho.
Alguns passam por mim
Ainda sorrindo,
Embora enxugando as próprias lágrimas.

E quanto ao fim dessa jornada,
Não serei vencedor,
Serei vencido.
Somente ao ver a faixa de chegada,
Eu saberei que nada
Faz sentido.


DE CABEÇA BAIXA

Nossas escolhas são as mesmas.
E de novo são eleitas
A trapaça, a sujeira,
A fraude, a corrupção.
Elas falam à multidão
De uma maneira
Que lhe toca o coração.
De eleição a eleição,
A paixão vence a razão,
E em vez de dizer não,
O povo baixa a cabeça.


A MOÇA

Olha para o céu que se avermelha,
Não há ninguém por perto pra chamar,
Caminha tropegamente tal sereia
Que volta a praia para se banhar.

Seus pés deslizam lassos, devagar.
A água lambe suas finas meias,
Ensopa seu vestidinho de seda
Enquanto ela se deixa carregar.

Gaivotas tentam em vão lhe avisar.
Mas sua consciência estava alheia.
Aquela moça de feição tão meiga,
Estava decidida a se afogar.

A espuma gentilmente a ensaboar   
A boa forma física e perfeita
Que a onda fortemente traiçoeira,
Impiedosa teima em lhe assaltar.

Enfim, depois de tê-la, o velho mar
Em sua imensa solidão, a rejeita.
Empurra e lhe arrasta pela areia,
Tentando de seu corpo, se livrar.


MEMENTO

Lampejos do pensamento,
Eu sei a cena de cor.
Na brevidade do tempo,
O tempo é sempre menor.
A vida some em silêncio
No esquecimento
Vira pó.
E toda vez que me lembro
Não me encontro.
Quando me encontro,
Estou só.
ATRAVÉS DE UM SÓ OLHO

Vivo de rotina e sentimentos tolos.
Não posso aceitar viver de fantasias.
Preciso questionar tristezas e alegrias.
Não quero me calar, fazer ouvidos moucos.

Acham os meus pensamentos loucos
Por eu não concordar com a maioria.
Confundem ignorância com sabedoria.
Os seus próprios defeitos, põem nos outros.

O caminho a seguir eu mesmo escolho.
Se fácil ou se difícil, que eu decida
O que irei fazer com a minha vida.

Não tenho a minha mente iludida
Por uma estória mágica que é lida
Por todos, através de um só olho.


BRAVOS SOLDADOS

Onde estão nossos bravos soldados?
Talvez, andem armados
Numa nova missão
Em defesa de nossa nação.
Enfrentando o perigo diário,
Como heróis serão condecorados
Pelos assassinatos
De outros bravos soldados
De uma outra nação.
Não se aceita mais a rendição;
Os feridos são executados,
Os seus feitos para sempre apagados,
Jamais serão lembrados
Por outra geração.
Uma estranha visão
De poder e de glória;
Um soldado que chora
Com a arma na mão.
NA ESTRADA DO PRAZER

Você me deixou sozinho
Pois não quis me acompanhar;
Esperou-me no caminho,
Sem mostrar que estava lá.

Quando fui até o fim,
Não senti você em mim,
Mesmo estando em seu lugar.

Mas só pude perceber
Que continuava só,
Quando olhei ao meu redor
E a vi se desfazer.

Na estrada do prazer,
Meu desânimo foi maior
Que a vontade de você.


SONETO AO MATUTO

Arrastava os pés a cada passo
Na simplicidade do seu dia a dia.
No seu mundo não havia
Pretensão de mais espaço.

Caminhava quase sempre cabisbaixo,
Não pelo peso que havia,
Mas apenas por mania
Que o levava a tal hábito.

O sertão será lembrado
Na coragem e simpatia
Do matuto em seu recato.

Posto olhar para o cercado
Como no primeiro dia:
Boquiaberto, encantado.

ESTOU SENDO SINCERO

Não me deixe sozinho,
Amor, eu te peço.
Teu regresso, eu espero
No caminho.
A meiguice e o carinho
São aspectos
Do teu jeito angélico
E divino.

Quando a vejo sorrindo,
Sou eterno.
Estou sendo sincero,
É o que eu sinto.
No deserto desterro
Minha dor.
No jardim que és a flor,
Sou espinho.


ATRIZ

Sei apenas que amo.
E amo tanto,
Que seria capaz de ser feliz.

As primeiras palavras de uma atriz,
Quando presa à raiz
De desengano.
O amor é tratado com espanto.
Seu encanto
É uma mera cicatriz.
Os seus gestos servis
São tragicômicos.
Personagem anônima,
Infeliz,
Que parece estranha
Quando é quem se diz.


O ANONIMATO

Tão pensativo estava
Que permanecia estática,
A mão que a pouco escrevia.
O dia já amanhecia.
Era uma fria madrugada
Que aos poucos penetrava
E ao cômodo invadia.
No mesmo instante, percebia
Que a vida não passava
De uma modesta carta
Escrita ao dia a dia.
O envelope esconderia
A história ali grafada,
Tal o anonimato ocultara
A existência de minha vida.


MEUS AMORES

Dores
São o que sinto.
O tempo todo eu minto
Aos meus amores.

Enquanto oferto flores,
Eu me espinho.
Vou acabar sozinho,
Sem meus amores.

São tantos os rumores
De odores clandestinos.
São tantos os caminhos
De variadas cores.

Entre sutis temores,
Encontro meus instintos.
Talvez, o meu destino
Seja morrer de amores.

MUNDO INFAME

Tenho sede e fome.
Porém, tenho um nome
Para zelar.
Tento então gritar,
Contudo a voz some.
É feliz quem come
O que desejar.
Já não posso andar.
Se de pé, ficar,
Talvez eu tombe
E ninguém virá me ajudar.
A sociedade me esconde
Para ao mundo infame,
Não incomodar.


FRANCO E VERDADEIRO

Eu não tenho piedade,
Nem benevolência.
Porém, tenho paciência
E respeito.

Talvez seja um defeito
Ou mera conveniência
Para quem pensa
Desse jeito.

Não desejo amizade.
Peço apenas simpatia.
Não suporto a alegria
De um tolo satisfeito.

Sei que não tenho o direito,
No entanto, deveria.
Não sou de filantropia.
Mas sou franco e verdadeiro.


CASA ABANDONADA

Será que sou apenas um fantasma
Errante pela casa
À procura de saída
Ou mais um morto em vida
Que não põe o pé na estrada?

A minha porta vive escancarada.
Porém, um medo enorme me obriga
A não sair pra nada
E entre paredes gastas,
Eu gasto os meus dias.

Tristezas e alegrias
São palavras
Que entre risos e lágrimas
Ninguém dita
Nessa maldita
Casa abandonada.


RASCUNHO

O rascunho de uma carta sobre a mesa,
Sob a lâmpada acesa,
Ainda por terminar.
O envelope mal dobrado
A esperar
Que uma cópia seja feita
Com capricho e destreza
E com pesar.
O relógio observa a marcar,
Quantas horas o orgulho não me deixa
Esquecer as minhas queixas
E tentar lhe perdoar.
Dobro assim como está,
Quase ilegível a letra,
Guardo junto à caneta
Sem jamais lhe enviar.

BOM PADRE

Nas provas do Satanás,
Sou reprovado.
De nós dois, menos culpado.
Por seu deus tão odiado
Quanto os atos dos demais.
Somos meros animais
Que enjaulados
Lutam pela liberdade.
Meus instintos naturais,
Levam-me a necessidade
De questões e ideais.
Somos carnais.
Nossa alma, uma vaidade.
Vou lhe dizer a verdade
Meu bom padre:
Ante a fome e a vontade,
Você peca muito mais.


CHEGOU A HORA

Com as pernas cansadas de andar,
Paro um pouco.
Por não ser mais tão moço,
Tenho que descansar.
A distância parece aumentar,
Apesar do esforço
Não consigo chegar.
Para mim, não importa a vitória.
Sei que chegou a hora
De voltar.


DIÁRIO

Deixou-se descrita
No livro diário.
Hoje, obituário
De uma breve vida.
MITO IMPOTENTE

As lamentações,
Os mitos e o coro
Fizeram calar-me.
Nada que meu choro,
Não possa consolar-me.
Tamanho alarido
Vinha tarde.
Num breve sorriso,
Eu fiz a minha parte.

São observações
De um cético presente
Num culto pós morte.
Um profundo corte
Que deixou ausente
Um ente querido.
O principal motivo
Para se manter vivo
Um mito impotente.


CALÇANDO A CIDADE

A cada marretada,
O chão se treme.
Mas não abala
A minha integridade.
Sou filho da vontade.
Sou sobrevivente.
Não temo adversidades.
Nas mãos, calosidade.
Uma filha doente.
Continuo no batente,
Calçando a cidade;
Onde a necessidade
É deprimente,
Onde um homem consciente,
Zela pela liberdade.

NÃO SOU INVISÍVEL

Corte minha carne,
Atravesse minhas vísceras.
Não encontrarás espírito.
Ouvirás apenas gritos
De quem é só carne viva.

Veja que é sangue derramado,
Não ectoplasma.
Serei morto sepultado,
Não serei fantasma.
Sobrenatural é farsa,
Não passa de mito.

Nada disso faz sentido.
Vou morrer de graça.
Dentro de minha carcaça,
Não sou invisível,
Sou aquilo que se acha.   


OUTRA PESSOA

Se eu pudesse beijar a tua boca,
Eu seria feliz novamente.
Quanto tempo minha alma não sente
O calor de tua escolha?!

Sei que agora me sinto à toa.
Os meus olhos choram tristemente.
Tua voz me diz suavemente:
Deve ser outra pessoa.

Teu sarcasmo ainda ecoa.
Tu disseste: É evidente,
Deve ser outra pessoa.

Percebi que já estavas louca.
E desejei ardentemente,
Que tu fosses uma outra pessoa.
BECO SEM SAÍDA

A pequena rua se acaba
Em minha casa.
A porta da frente
É o limite do beco sem saída.
A calçada me obriga
A ficar indiferente.
A cada meia volta,
Percebo a revolta
De quem tem que recuar.
Não consigo evitar
A expressão tão evidente
De alguém que não se importa.
Quando fecho minha porta,
Corto o rumo aparente
De que leva a algum lugar.


ENTRE O MAR E A TERRA

O amor se revela
Na mais triste e singela
Situação.
Conquista o coração
Como o vento e a vela
Numa velha
Embarcação,
Desbravam o mar.

Aos poucos, devagar,
O amor se entrega
Tal qual longe da terra,
O barquinho se apressa
Em naufragar.






ENTRE MÃE E FILHA

Eu passo dias esperando uma notícia,
Ninguém me escreve,
Ninguém me liga.
Nenhum email
E nenhum meio
De avisar
Que a vida tende a melhorar,
Então virá pra me buscar,
Mamãe querida.
Essa separação sofrida.
Aquela dor de despedida,
Nos fez chorar.
Pois nada pode suplantar
O amor que há
Entre uma mãe e uma filha.
Eu continuo a esperar
Você voltar.


CONSCIÊNCIA PESADA

Debruçado na sacada,
Olho a rua.
Uma sombra se insinua
Na calçada.
Era quase madrugada,
Sob a lua,
Parecia seminua
E assustada.
Uma visão inesperada
Que se oculta
Sob o manto da desculpa
De quem deve e não paga.






COMO UM SIMPLES BRASILEIRO

Com soberba se exibia
Um simples soldado raso:
Logo, logo serei cabo.
Enchendo pneu de carro,
O rapaz com entusiasmo,
Diz que será um frentista.
Eu vou ser um motorista.
Diz com paixão e ardor,
O antigo cobrador.
O jovem agricultor,
Com olhar de sonhador,
Diz que será um vaqueiro.
O servente de pedreiro,
Fala para o companheiro:
Eu serei pedreiro um dia.
Um senhor se vangloria:
Ajudava em padaria,
Hoje, sou enfim padeiro.
Quero ser um borracheiro.
Diz o moleque arteiro,
Em frente à borracharia.

Ser garçom, eletricista,
Faxineiro, taxista,
Manobrista, funileiro,
Soldador e carpinteiro,
Pescador, caminhoneiro,
Vigilante, sapateiro,
Carvoeiro, carroceiro,
Serralheiro, marceneiro,
Outra humilde profissão,
Leva qualquer cidadão,
A exercer uma função
Como um simples brasileiro.





ROSTO POPULAR

Eu inspiro confiança
A quem não me conhece.
A minha cara de prece
Alcançada,
Satisfaz a quem me indaga
Com o olhar.
Talvez queiram idolatrar
A um santo do pau oco;
Eu,
Com o pensamento louco
E um rosto popular.


AO ELEITOR

Tento me encontrar,
Mas meus olhos corrompidos
Não me deixam enxergar.
O mal cheiro, a podridão,
Não sei diferenciar.
Da sujeira, fiz meu Lar
De um bom homem, um ladrão.
Explorei a precisão.
Quantos eu mandei matar,
Dos quais apertei as mãos
E jurei sempre ajudar.
O poder tende a mudar
Até mesmo um cidadão
Que é íntegro, exemplar.
O dinheiro é o pilar,
A ganância a razão,
A política a ocasião
E na próxima eleição
Pense antes de votar.





SEDE

Tenho sede.
Tanta sede
Que seria até capaz de me afogar.
Minha sede não é de beber,
Minha sede é de amar.
Não vivo de bar em bar.
Procuro não me exceder.
Minha busca é por prazer.
Quem sabe não é você
Meu novo par?
Tenho sede.
Tanta sede
Que seria até capaz de me afogar.


MUNDO MACABRO

Não se entregue a morte.
Lute pela vida.
Pois nem mesmo a morte
É tão merecida.

O que o leva a crer
Que o melhor seria
Se entregar à noite
E abandonar o dia.

A pele amarela,
Os olhos fechados,
As chamas das velas,
O caixão lacrado.

O nome finado
Em futuras conversas.
Ilusões e rezas
De um mundo macabro.



PRETO E BRANCO

Sem cores, em preto e branco,
Lamentando a minha dor.
Estarei sempre chorando
Esse pranto meu amor.

Seguindo meu próprio caminho
A procura de você,
Perseguindo meu destino
Até mesmo me perder.

Nunca consegui saber
Qual seria a maior perda
Entre meu eu e você.

Talvez possa entender
Numa busca a si mesma,
Quão doloroso é perder.


LÂMINA CEGA

Uma praça sem sol.
Só o velho farol
Apontando pro mar.
Amanhã, vou banhar
A minha solidão
Que na palma da mão
Não consigo apanhar.
Mas ainda é luar,
Silencio em mim
Essa espera sem fim,
Vento frio que regela.
Mais um barco a vela,
Outro enorme navio.
Tenho a vida num fio
De uma lâmina cega.



POR ALGUÉM TER PENSADO

Talvez não queiram mentir,
Queiram apenas iludir
A nossa fria realidade,
De que somos na verdade,
Presas fáceis de atingir.

A conversa acaba aqui,
Antes que eu seja julgado
E até mesmo condenado,
Culpado por permitir
Que alguém tenha pensado
Antes mesmo de agir.


MÃO CORPORATIVA

Eles usam fardas.
Ostentando armas
São a própria lei.
Matam a mim
E a todos vocês.

Sempre têm razão.
Somos os errados.
Têm o aval de Deus.
Nós, filhos do diabo.

A chacina é permitida
Pela mão corporativa
Do passado.


ÚNICO FIM

Tenho que unir
Em um único fim,
O que sobra em mim
Com o que falta em ti.

INDÍCIO DE FRAQUEZA

Lamento
O alimento perecível que se estraga sobre a mesa.
Não é questão de despesa;
Mas sim, tristeza
Por aquele que ainda passa fome.
Não importa o seu nome,
Nem o estado de pobreza.
Desperdício
É indicio de fraqueza.
Ostentar sua riqueza
É humilhar a quem não come.


MÁ CONDUTA

Me deixe viver
Nos becos, nas praças,
Nas ruas escuras
Ainda assombradas.

Me deixe beber
Nas bocas devassas.
Em camas ocultas,
Varar madrugadas.

Me deixe sofrer
Por rabos de saias
Que com falsas juras
Me livram da culpa
De querer amá-las.

Perdão, gargalhadas.
Sermão, má conduta.
Em minhas desculpas,
Suas tristes lágrimas.




UM VELHO LIVRO

Tenho a noite toda
Pra pensar bastante,
Nesse mundo errante
Que não faz sentido.

Escuto o gemido
De quem muito longe chora.
No relógio, altas horas.
Na estante, um velho livro.

Observo o pó de suas capas.
Uma história assombrada
De um homem esquecido
Que escuta a si mesmo
Sem saber que ainda mora
Entre páginas de um livro.


CHEIRO DE PÃO

Quanto mais se pede
Menos se concede
O próprio perdão.
Quem estende a mão,
Do orgulho, em vão
Se despe.
Sua roupa fede.
Sua, sua pele
Que exala um cheiro de pão.
Quando digo não,
Não sou eu que deve.
Alguém não exerce
Sua obrigação.






SONETO DA FÉ ABALADA

Ainda sou um homem crente.
Sei que Deus do céu existe.
Mas, eu fico muito triste
Por saber que ele mente.

Ouvi meu pai descontente,
Lamentando em voz alta.
Sua fé já abalada
Por um deus tão impotente.

Lentamente se acabava
Na garrafa, o aguardente.
E meu pai continuava:

Sendo tão indiferente,
Deus do céu não me agrada.
E também a muita gente.


MONSTRO EMPEDERNIDO

Lembre-me de chorar
Para poder provar
Que ainda sou humano.
Se eles não ouvirem o meu pranto,
Dirão que sou um monstro empedernido.
Reajo ao desengano
Com um simples sorriso;
Não por sarcasmo,
Nem por cinismo,
Apenas por frieza do espírito
Que caminha ao acaso
Sem fazer caso
Pelo que está perdido.





ILUDIDA

Espalhafatosa, corria pros meus braços.
Com sua minissaia, me deixava embaraçado.
Filha de uma pobre mãe solteira.
Eram seus estudos muito poucos.
Seu palavreado meio solto
Dava a impressão de dar bandeira.
Seus pequenos pés sempre descalços,
A levavam acima e abaixo
No sobrado onde vivia.
Sei que ela quase não comia,
Ocupada com meu embaraço.
Triste, me dizia:
Não importa agora o que faço,
Mas o que outrora eu fazia.
Sua histeria,
Me deixava louco.
O dia era pouco.
À noite, a gente não dormia.
Eu, apenas um velho assanhado.
Ela, uma jovem iludida.


QUANDO EU ESTIVER ASSIM

Quando eu estiver assim,
Resmungando o meu passado,
Sem saber quem ao meu lado,
Está tentando me ouvir.
Mesmo eu estando aqui,
O meu consciente escasso
Não me deixará sorrir.
Não verei você partir,
Nem darei um só abraço.
Não importa o que faço,
Já não poderei sentir.




O QUE PASSOU, PASSOU

Peço que você não me perca.
Se perder.
Não me esqueça.
Se esquecer,
Não me queira.
Se quiser,
Não me procure mais.

Peço que você me deixe em paz.
Que enfim, desapareça.
Se ainda me deseja,
Então me beija,
Deixe o que passou pra trás.


DEFEITO

Encontrei um jeito
Pra falar de amor,
Sem provocar dor
E sem sentir medo.

Amar a si mesmo.
Dar-se mais valor.
Não importa a cor
Do meu preconceito,
Meu maior defeito
É não ser quem sou:
Um escravo negro
Do meu eu Senhor.


BREVES MOMENTOS

Devo reconhecer que fico
A madurar meus pensamentos.
Nesses breves momentos,
Eu prefiro
Permanecer em silêncio.
FALSA LIBERDADE

No calor de Mossoró,
A vida continua,
A poeira se insinua,
A chuva vira pó.

Uma vez que estou só,
Caminhando pela rua,
Brinco qual criança nua
A cavalo num cipó.

Só em dia de domingo
É que posso andar sozinho
Pelo centro da cidade.
Sem querer saber da hora
Numa falsa liberdade
Que me deixa à vontade
Feito alegre passarinho
Na gaiola.


SOU LIVRE

Ainda que me ponham algemas,
Lutarei por liberdade.
Ainda que me arranquem a língua,
Expressarei ainda,
Qual a minha vontade,
Olhando lá no céu, voar as aves.
Ainda que me furem os olhos,
Sentirei o vento em minha carne.
Ainda que retirem minha pele,
Pularei com os meus ossos.
E quando quebrarem meus ossos,
Balançarei a cabeça.
Ainda que degolem minha cabeça,
Eu morrerei com a certeza
De que sou livre.


APOSTA E PALPITE

As filhas,
Elas nos dão alma,
Tiram nossa calma,
Nos deixam felizes.
Nossas cicatrizes,
Com elas se apagam.
As palavras calam,
Quando estão tristes.
Filhas não resistem
A dar uma resposta.
Nossa cara oposta.
Aposta e palpite.


ALÉM DOS LENÇOIS

Eu peço pra você me olhar,
Não me dê às costas.
Espero por sua resposta
Pra lhe consolar.
Não quero mais lhe enganar,
Quero estar presente.
Pensando no que a gente sente,
Irei ao mundo, indiferente
Ao que vão pensar.
Não vamos nos despir de nós,
Pois além dos lençóis,
Quando estivermos sós,
Teremos que aceitar.


ENIGMA

Um enigma desde o berço.
Sua mão sustém o terço.
O seu peito,
O pecado.


O NORMAL

Eu não tenho argumentos,
Nem tampouco documentos
Para provar o contrário:
Que no mundo imaginário,
Nosso sonho é real.
Que existir é afinal,
Um desejo inconsciente.
Que nas costas do presente,
O passado é atual.

Acredito que o mal
É apenas oponente
Ao bem que ingenuamente,
É um ato cultural.
Que o normal
É um padrão intransigente
De uma gente que é demente
E plenamente irracional.


O SILÊNCIO DO COVEIRO

Entre palmos e passadas,
Minha cova era cavada.
O coveiro mal falava
Por não ter o que dizer.
Apesar de não me ver,
Os seus olhos se escondiam.
À minha alma perseguiam,
Sem o mesmo, perceber.
Eu tentava compreender
O que havia em seu silêncio.
Talvez, fosse sofrimento
Pelo fato de viver
Por amor, por piedade
Por extremosa saudade,
Por vontade
De morrer.

NA VONTADE E NO QUERER

Se eu pudesse tê-la em meus braços,
Não teria pudor e nem cansaço,
Eu seria exagerado
Na vontade e no querer.
Entraria em você
Pela sua castidade.
Sairia na verdade,
Saciado de você.


VEJO A MORTE

- Num diálogo, eu demonstro
As neuroses de um monstro
Que a si mesmo, se queixa.
- Por que me sentindo um monstro,
Tendo consciência disso,
Não atiro na cabeça?
- Nunca esqueça,
Até mesmo o pior monstro
É covarde ante a morte.
- Então, os monstros não são fortes,
Mas, violentos e perversos.
- De certa forma, estais certo,
São capazes de horrores,
Mas também tem seus temores,
Suas dores, seus mistérios.
- Minhas senhoras, meus senhores.
Em seus olhos sedutores
Vejo a morte.


VÍCIOS

Eu me endivido
Como um indivíduo
Que faz muitas compras.
Porém, as minhas contas
Sustentam meus vícios.
UMA ILUSÃO

Se você chegar em casa
E a mamãe não estiver,
Ela foi até a vizinha
Pedir um pouco de café.

Se você chegar em casa
E o papai não for encontrado,
Ele foi andar na rua
À procura de trabalho.

Se você tiver chegado
Prostituído e drogado,
Encontrado embriagados,
Papai e mamãe em casa,
Prova que não houve graça,
Nem piedade, nem perdão.

Se você estende a mão,
Não lhe dão nada.
Sua vida é uma desgraça.
O seu deus, uma ilusão.


GESTOS FALSOS

A mulher não tem dono.
Todavia, ela é dona,
Ela manda em nossa cama
E em nossos lábios.
Muda as cenas e os cenários
Num faz de conta.
Finge que nos acompanha,
Que somos astros.
A mulher de beijos castos,
Diz que nos ama.
Mas apenas nos engana
Com gestos falsos.


LINCHAMENTO

Eu vi um homem caído,
Talvez já morto.
E vi um outro
Que tentava levantar,
Cambalear molemente
Por sobre o corpo,
Na espera que podia escapar.
Ouvi a turba gritar
Pelo seu nome.
Senti o cheiro de seu sangue
Pelo ar.
Tentei fechar os meus olhos
Para não ver
O que estava a acontecer,
Um linchamento como um ato popular.


SOMBRAS DO PASSADO

Sou parte de uma plateia excluída
Que assiste à própria vida
Sem perder o entusiasmo.
Somos os abandonados,
Os renegados
Que outrora,
Tinham nome, tinham glória.
E agora,
São só sombras do passado.
Somos pálidos,
Somos bêbados inveterados
Sem história,
Sem herança, sem memória,
Sem deixar nenhum legado.






APESAR DOS VELHOS ÓCULOS

Apesar dos velhos óculos,
Eu ainda enxergo o óbvio:
Que ninguém dá mais valor
Aos casamentos sólidos,
Aos laços de amor.

Nesse mundo transitório,
Onde tudo é imediato,
Relacionamentos rápidos,
Sentimentos ilusórios,
O meu tempo é muito pouco.

Para que não fique louco,
Jogo fora o relógio,
A agenda e o calendário.


LÁGRIMAS II

O que o mundo me deu
Senão lágrimas,
As mesmas lágrimas
Que meu pai também verteu.

Quem me consola,
Talvez desconheça agora,
Qual a verdadeira história
Do que nos aconteceu.

O pai morreu,
E eu outrora,
Pedia esmola
Pelo nome de seu deus.






DA BOCA DE UM FANTASMA

Aos meus ouvidos, fala
A voz do pensamento.
Quem sabe vem de dentro
Da boca de um fantasma
Ou simplesmente cala
Por próprio sofrimento
Diante das palavras.

Minha alma já fadada
De dor e de lamento,
Não luta contra o tempo.
De fé desenganada,
Procura ser levada
Num sutil movimento
Qual folha pelo vento,
Qual barco pela água.


SONETO DO ANIVERSARIANTE

Parabéns pelo vento levado.
O meu bolo é na palma da mão.
Sopro velas sobre meu caixão
Com o sorriso ainda acanhado.

No espelho, um só convidado.
No retrato, minha solidão.
Bato palmas com sofreguidão
Por saber que é meu aniversário.

Marco o dia para ser lembrado
Na esperança de ser ilusão
Mais um ano por mim já passado.

Meu desejo é voltar ao cenário
No qual via na imaginação,
Eu velhinho, sorrir encantado.


MEU AMOR

Meu amor não se apressa
Quando beija,
Ele somente deseja
Conquistar.
Mas, se perde a conquista,
Não se irrita,
Nem tampouco se deixa
Abalar.

Meu amor quer ganhar
Enquanto anseia
Pela perda
Do bem que ainda quer.
Relegado ao que é,
Quem sabe queira
O que não lhe convier.


OUTRA ESCOLHA

Deixo que o mundo me acolha,
Pois não tenho outra escolha
Que não seja esperar.
Não tenho a pretensão de agradar,
Sendo uma outra pessoa.
Eu prefiro estar à toa
Que fingir pra me adequar.
E se o mundo tenta me calar
Pra poder me aceitar
Como a uma alma boa,
Continuo a falar,
Chego mesmo a gritar
Que não tenho outra escolha.






UM SEGREDO MILENAR

Não posso mergulhar
Nesse mar
De ignorância e medo,
De lágrimas e um segredo
Milenar.
Já não posso sustentar
As velhas alianças
Na tola esperança
De encontrar
Os meus heróis e os seus feitos.
Seus piores defeitos,
Não tenho o direito
De negar.


SONETO AO POETA ESQUECIDO

Foi um dia um marco na história.
Na memória, um ícone do passado.
Na cadeira, seu nome intitulado,
Um legado do seu tempo de glória.

Sua data, já não se comemora.
Ninguém olha seu busto depredado.
O seu rosto de tão desfigurado,
Dá a impressão que chora.

Seus sonetos aplaudidos em outrora,
Não comovem os corações de agora.
Foi seu sonho para sempre, sepultado.

À poeira e às sombras foi exposta,
A poesia de toda a sua obra,
Num museu que agora está fechado.

















PARTE IV

chegamos

A Noite está chegando,
Chegamos enfim.
Mas jamais será o fim,
Vamos acabar voltando.




























































O TOLO

Não que eu seja o mais esperto,
Posto ser deveras tolo.
Mas, me serve de consolo
Acreditar que estou certo.

Como água no deserto,
Meu dinheiro é muito pouco.
Faço-me às vezes, mouco,
Quando sei que não acerto.

Quando sou visto de perto,
Pareço que sou um louco
Com meu paletó aberto.

Cada mão que eu aperto,
Insiste em me dá um troco
Pelos temas que disserto.


QUADRINHOS

O moleque se agrada com a capa.
Vai passando cada página
Com carinho.
De desenho em desenho, ganha asas
E viaja
Na história em quadrinhos.
Na escola, sempre encontra um jeitinho
Pra passá-la adiante.
Com o braço, faz a tromba do elefante.
Com sua sombra, um gigante.
Com as mãos, um passarinho.







DO AMIGO

Você quer que eu evite
Esse olhar de vem comigo.
Você quer me ver cativo
Por temer algum deslize.

Mas, meu coração insiste
Que eu seja mais que amigo.
De você, eu não desisto.
Desse amor, nunca duvide.

Toda vez que me vê triste,
Cabisbaixo e calado,
Quer saber o que há de errado.

Digo algo engraçado
Pra mantê-la ao meu lado,
Certa de que nada existe.


FRUTO DA INGENUIDADE

Filho de uma vontade
Que se dá de repente.
Como um louco que demente,
Procura felicidade.
Com a incapacidade
De um velho doente,
O amor é indiferente
À sua própria insanidade.
Com a mesma verdade
De um jovem inocente,
O amor é simplesmente,
Fruto da ingenuidade.
Nem o tempo, nem a idade
Tiram a necessidade
Dessa falsa liberdade
Que no amor, a gente sente.


MINHA ÚLTIMA PALAVRA

Eu esquadrinhava a sala
A procura de esperança
Quando veio na lembrança
O que realmente faltava.
Era fé.
Essa dama disfarçada
Que é cega e aleijada,
E insiste em caminhar.
A vontade de chorar
Me dominava.
Minha última palavra
Foi: sonhar.


UM HOMEM MAL OUVIDO

Não desejo mudar o mundo,
Até mesmo por que,
Há sempre um rumo
A se tomar.
Quero influenciar
Alguns conceitos
Que ainda negam meu jeito
De pensar.
Se um dia acordar
E de nada mais lembrar,
Concordarei comigo,
Um homem mal ouvido
Que procura a si mesmo
Escutar.


COM O TEMPO

É tão fácil perceber
Quão difícil é aceitar.
No começo, vai doer.
Mas o tempo faz passar.

AS BORBOLETAS

As borboletas voam sobre mim
E tomam conta desse meu jardim
De flores alheias
Com pétalas feitas
A traços de nanquim.
Não foi assim
Que desejei vê-las.
Tristes borboletas
Com as asas desfeitas,
Morrendo no fim.


COADJUVANTE

Sou um coadjuvante
Que somente um instante,
Vira o protagonista.
Você é a minha artista.
Eu, um mero espectador.
Seja belo como for,
O espetáculo é humilhante.
Onde um jovem aspirante,
Suicida-se por amor.


ULTRAPASSADO

O espelho já não revela minha beleza,
Mas, à minha tristeza,
O meu desgosto
Pela minha cara feia.
Meu escanifrado corpo,
Minhas roupas de mau gosto
Fazem parte do passado.
Sou um velho ultrapassado,
Que carrega o enorme fardo
De não ser pra sempre moço.


DO AMOR

Nenhum amor
É maior de que si mesmo
Por ser inteiro
No limite em que em si cabe.
Quando se abre,
É razão para temê-lo.
Melhor perdê-lo
Que tentar aprisioná-lo.


SIMPLESMENTE TRISTE

Tenho tanto em mim
Que se chegar ao fim
Não vou saber.
Tenho tanto a dizer
Que mesmo sem entender
Não poderia calar.
Não tenho nada a dar,
Nem tento oferecer.
Pois meu maior prazer
É simplesmente sofrer
E arduamente chorar.


AQUI MESMO

Tenho punido a mim mesmo
Com desprezo e desdém.
Não sou alguém
Que mereça algum apelo.
Não tenho apego
A mais ninguém.
A vida tem
As notas de um pesadelo.
O meu desterro
Não é além.
Sei muito bem,
Que é cruelmente, aqui mesmo.
CORAÇÃO LASCIVO

Não sou equilibrado,
Sou impulsivo.
Meu erro é divertido
E primário.
Jamais fui condenado,
E duvido que um jovem convertido
Seja um velho inocentado.
Meu mundo é nefasto,
Depressivo,
De hábitos nocivos,
Ordinários.
Serei um centenário
Pervertido,
De coração lascivo
E de sorriso fácil.


AMAR É MUITO MAIS

Eu te amo,
Mesmo que inutilmente.
Sei que você não entende,
Pois amar é muito mais.
Eu te amo por demais,
Sem servir de companhia.
Vejo a tua alegria
Que irradia e se desfaz.
Eu te amo
Como há muito tempo atrás,
Quando eu era um rapaz
E você uma jovem linda.
Eu te amo mais ainda,
E jamais
Sentirei a mesma paz,
Se esse amor em mim se finda.




AO AVESSO

Nesse mundo louco e bizarro,
Sou mero espasmo
De arrogância e de medo.
O meu sorriso é desfeito
Pelo simples contato
Com o que é alheio.
Não sou bonito, nem feio,
Sou ao contrário,
Um ser virado ao avesso.
Tenho o meu sonho, acordado.
Pois sou um morto velado
Por Deus que é o próprio Diabo,
Que sou eu mesmo.


HIPOTETICAMENTE

Num país em que a verdade ainda soa
Como algo inexistente,
No qual todo eleito rouba,
Não há escolha
Entre qual o mais decente.
O seu voto é indiferente,
Não dá outra,
Um corrupto acaba sendo o presidente.

Num país onde o povo é impotente,
A eleição não passa de uma coisa tola.
Cada pessoa
Acredita estar ciente
Que seu voto é consciente,
Que fez a melhor escolha.
Eis que um dia enfim, descobre tardiamente,
Que o sorriso à sua frente
É de alguém que finge e mente,
E tristemente,
Vê que tudo foi à toa.


POR CONQUISTA

Eu não sei se é desatino ou defeito,
Ter espelhos
Refletindo a própria vista,
Sentir dores sufocarem o seu peito,
Ver as noites se afastarem dos seus dias.

O que me dá alegria
E me alivia,
São os amores que se alojam no meu peito.
Não que os tenha por direito,
Mas apenas por conquista.


TARDE DE AGOSTO

Ponho as minhas mãos no rosto
E choro compulsivamente,
Por saber que ainda mente,
Apesar do quanto sofro.

Minhas lágrimas de desgosto,
Não demonstram o que ela sente;
Ainda age friamente,
E me deixa mais exposto.

Era tarde de agosto.
Escurece de repente,
Mal consigo ver seu rosto.

Mas percebo com esforço,
Seu sorriso entre dentes,
Desfazer-se enquanto morro.







DE OUTRA MANEIRA

Nem sempre o que se diz ser
É na verdade o que é.
Essa é a minha fé,
Onde aquele que aceita
Pode ser o que não quer.

Se o mundo assim disser:
Que o fogo não me queima,
Que a dor não me incomoda,
Devo por meu corpo à prova
E jogar-me na fogueira?

Isto seria uma asneira.
Pois a voz que me consola
É a mesma que reprova
Se eu agir de outra maneira.


DO CIÚME

Será que ainda lembra o meu nome
Ou apenas me confunde com alguém?
Já que nunca disse quem,
Nem por qual motivo esconde.

O ciúme me consome,
E meu ódio vai além.
Jamais será de ninguém,
Muito menos de outro homem.

Já não sei o que é fome,
Nem consigo mais dormir,
Só pensando como agir.

Mas preciso resistir,
E ao meu caminho seguir.
Só assim, o medo some.


MÃOS DO TEMPO

As mãos do tempo
Sempre me moldando,
Foram borrando minhas cores vivas,
E nas noites frias
Vão continuando.

Na solidão do espelho, me olhando,
Vejo sinais de minha ansiedade
Numa saudade
De melhores dias,
Nas alegrias
Da mais tenra idade.

Velocidade.
O tempo vem voando
E finalmente retirando
A minha mocidade.
Na claridade,
O meu desencanto
É-me ver chorando
Pela realidade.


PALAVRAS PROFERIDAS

Apesar do meu silêncio,
Eu discordo das palavras proferidas
Que emudecem as verdades
Com o uso da mentira
E que faz de mim, covarde.
Sem liberdade,
Eu me apego ao único sustento,
O meu tímido pensamento.
E lamento
Pela falta de coragem.




LIÇÕES DE GUERRA

Onde estão meus amigos agora?
Toda hora,
Eu preciso lembrar
Que eles foram pra guerra,
E da guerra
Não conseguiram voltar.

Suas famílias puderam chorar.
Mas seus corpos na terra,
Nenhuma delas
Teve a chance de sepultar.

Onde estão as razões pra lutar?
Ninguém nunca dissera.
As lições de uma guerra,
Apesar de severas,
Não nos fazem pensar.


O MEU PERFIL

Os olhos que perscrutam a minha testa
São daquela que atesta
O meu perfil.
Chega a me dar calafrios,
De tão severa.
Por ser perversa,
Torna-se enorme o desafio.
Por mais que eu seja gentil,
Me desconversa.
E o emprego que me interessa,
Vai pra puta que a pariu.







VARONIL

Não sou discreto.
Não há nada de secreto.
Não acato um só decreto
Feito por algum decrépito
Velho e senil.
São as cores do Brasil:
Verde, branco, amarelo
E azul anil.
Mais parece com um canil,
Que mesmo estando aberto
Jamais fica deserto.
Pois há sempre um esperto
Armando algum ardil.
Eis a faixa do gentil:
Ordem e progresso.
Nós fazemos tanto sexo
Que esquecemos que há o resto.
Eta povo varonil!


O APOSTADOR

Acredita de verdade,
Que a sorte vai chegar.
Continua a apostar
Que a dura realidade,
Logo, logo vai mudar.
Entra em cena, a loteria.
Vai virando uma mania
Que não consegue largar.
Usa um “X” para marcar
Um palpite permanente.
A si mesmo, ele mente,
Na esperança de ganhar.





DESENHO

Meu mundo não tem tamanho
E ao mesmo tempo é pequeno.
Não cabe dentro de um sonho.
Mas, sonho é tudo que tenho.
É maior do que si mesmo.
Não tem fim, não tem começo.
Tem a forma que eu desenho.


POUCO MAIS DE UM ANO

Seu chinelo é tão pequeno
Quanto o seu tamanho.
Preenche o meu pensamento
Da realidade ao sonho.
Sei que nunca acompanho
Todos os seus movimentos.
Não que eu seja o mais lento.
Mas além de não ter tempo,
Seu desempenho é um espanto.


DA CULPA

Sou aquele que quer pedir desculpa,
Mas minha culpa
Não quer me redimir.
Eu permaneço aqui,
Por precisar de ajuda.
A mesma emoção que me acusa,
Também me faz sentir.


PADRE

O padre
É a triste realidade
De que a humanidade não mudou.
Deus, sem existir, a condenou.
DESTINO PREVISTO

De meu amor,
O que mais me afeta
É a saudade que sinto
Ao lembrar seu sorriso.
Nada mais me resta,
A não ser a espera
De um sacrifício.
Vivo submisso
À ideia constante
De que se ela foi antes
É porque foi preciso.
Cruel esse castigo:
O de aceitar, tolamente,
Que a morte é simplesmente,
Um destino previsto.


CÃO ABANDONADO      

Fui deixado para trás
Como um cão abandonado
Por seu dono, um desgraçado
Que não preza os animais.
Ela foi longe demais.
Deixou-me cair de quatro,
Pra depois fechar o quarto
E não abri-lo jamais.
Quantos ais
Serão preciso agora,
Pra não me deixar de fora
Desse seu chove e não molha,
Desse balança e não cai?







IGNORÂNCIA

Vamos pedir humildemente como os pobres,
Para não sermos arrogantes quanto os nobres.
Sejamos fortes,
Não por utilizarmos a força,
Mas para resistirmos a ela.
Nosso barco não tem vela.
Nossa vela não tem chama.
Chama aquele que nos vela
Pela morte de quem ama.
Ama a guerra
Quanto a terra
Que soterra
Nossa própria ignorância.


MESMA HISTÓRIA

Contar a mesma história,
Não se ofenda,
Seja eu, seja você,
Se torna lenda.
É folclore, é parlenda,
É retalho, verso e prenda,
É teatro, é cinema,
Uma velha cantilena
Que no meio da novena
Se repete mais e mais.


MINHA HORA

Meu sorriso pede graça,
Por enquanto é sarcástico.
Meu adeus é tão ingrato
Que não chora.
A saudade que agora
Ainda sinto do passado,
É de já não ter chegado
Minha hora.
MEROS MORTAIS

Sei que na realidade,
Sou apenas uma pessoa
Que acredita estar à toa,
Remando numa canoa,
Contra as forças naturais.
Sou nada mais,
Que um ser sobrevivente,
Que acredita ser urgente,
Aceitarmos simplesmente,
Que somos meros mortais.
Dos animais,
Somos o mais intrigante.
Bons em um breve instante.
Noutro, perversos demais.


SUPER-HOMEM LATINO AMERICANO

Tenho que acordar de madrugada
Para buscar o leite e o pão das criancinhas.
Tenho que pedir para as vizinhas
Dar de vez em quando,
Uma olhada em minha casa.
Eu não tenho asas,
Mas tenho que sair voando.
Jamais usei capa,
Mas tenho que ser sobre-humano,
Um super-homem latino americano,
De fala arrastada,
De pele queimada,
De olhar insano.


ESFORÇO

Meu esforço
Conduzido ao final
É tão real
Quanto o próprio desconforto.
É PRECISO PONDERAR

Em minha fuga,
Reconheço o choro triste
De alguém que ainda resiste
A fugir, com a desculpa
De que tudo irá mudar.

É preciso ponderar.

Entre soluços,
Minha voz se desespera,
Ruge como uma fera
Que não se deixa julgar.

É preciso ponderar.

Eu continuo a tentar me convencer,
Mas não posso compreender
Por que eu não quero ver
Que é preciso enxergar.

É preciso ponderar.

Deixa pra lá.
Continuo a ser quem sou.
Mudarei aonde estou
Ou jamais irei mudar.

É preciso ponderar.


QUAL UMA ROSA

Sonho com o dia
Em que o mundo se abrirá
Qual uma rosa,
Para cada ideia nova
Que vier iluminar
O jardim do bem estar
De nossa vida.
PÉSSIMA EDUCAÇÃO

Tenho me aborrecido
Com esses tais ruídos
Que designam de som.
Acredito ser um dom,
Um dom desmerecido,
Alguém ter um ouvido
De péssimo tom.

Tenho ar de moço bom,
Mas está muito difícil.
Sem falar do alto risco
De perder a audição.
Apesar da condição
De ser proibido
A determinado nível,
Não há punição.

Por andar na contramão,
Sinto-me perdido
Nesse mundo de ruídos
E de péssima educação.


PEDAÇO DE CHÃO

Minha terra cercada,
Não demarca
O pedaço em que me enterrarei.
Pois nada levarei.
O gado, o chão, a casa
Serão nada
Pro nada que serei.
Aos vivos, deixarei
A minha história,
Guardada na memória
Daqueles que amei.



RITUAL MACABRO

Eu quase enlouqueço
Ao ver seu corpo esquálido
Estendido sobre o estrado
Do paiol.
Puseram um lençol
Sem cobrir seu rosto pálido.

O meu rosto apático,
Não percebia que o sol
Como um farol,
Apagava-se no ocaso.

A noite enegrecia o cenário.

Meus olhos marejados,
Se afogavam na aflição
De um homem são
Que sentia o coração
Ser arrancado
Ao ver seu filho amado,
Tão jovem, assassinado
Em um ritual macabro
Que exaltava a salvação.


MEIA NOITE

Os fantasmas de minha sombra,
Não assombram o meu ser.
Posto eu reconhecer
Meu arrastar de sandálias.
Meia noite pela casa,
Sem saber o que fazer,
Na penumbra começo a perder
Um a um,
Os meus fantasmas;
Pela sombra apagada,
Pela falta de você.

MIGALHAS DE PÃO

As migalhas de pão
Que deixei no caminho,
Me deixaram sozinho,
Sem Maria e João.
Me deixaram na mão,
Sem os contos de fada,
Sem duende, sem mágica,
Com a mais sóbria razão.
São as mesmas migalhas de pão
Que agora, recolho do chão,
Ainda tentando em vão,
Encontrar o caminho de casa,
Onde eu poderia ter asas
E voar na imaginação.


ENTRE DOIS IRMÃOS

Tento não ter pressa
Para ouvir sua conversa
Como numa festa
Paro
Para ouvir uma canção.
Tento dar a minha opinião,
Mas a língua emperra.
O suor na testa,
É o que atesta
A minha aflição.
Sei que falta comunicação
Entre dois irmãos,
Quando um detesta
Por timidez, reserva,
A conversação.






TALVEZ NÃO SEJA EU MESMO

Como ouso me esconder
Do próprio espelho
Para me ocultar?
Por que procuro me negar,
Se me conheço?
Por que não me dou o direito
De opinar,
Devo ou não devo
Me lembrar
De ser eu mesmo?
Sou eu sem mesmo
Ser quem sou.
Quem sou,
Talvez não seja eu mesmo.


À MERCÊ DO RESULTADO

Não persigo lembranças do passado,
Nem me desfaço de minhas esperanças,
Que não são tantas
Quanto o que foi desejado.
Saciado
Até o limite da ganância,
Sendo criança
Pelo pouco realizado.
Sou levado
A não crer na ignorância.
Sou deixado
À mercê do resultado.


DAMAS NUAS

As ruas
Tais quais damas nuas,
Desfilam calçadas.
Muitas delas claras,
Outras tão escuras.
DESCALÇO

Se você me ver correr descalço
Sobre estilhaços de vidro,
Não será por masoquismo,
Nem promessa de fanático.
Será pressa de lunático
A procura de um abrigo.
Se você vier comigo,
Não me sentirei perdido,
Posto ter-me encontrado.


ENTRE MURALHAS

Na brevidade dos sonhos,
Eu eternizo minha alma,
Que se instala
Na realidade em que vivo,
Entre meus mitos,
Aprisionada em muralhas
De desespero e delírios,
De fantasia e de mágica.


PACATOS CIDADÃOS

Crivos de bala em meu peito;
Um homem direito
Que morre em vão.
Quem são
Esses pistoleiros
Que não matam por dinheiro,
Mas por pura diversão?
Não importa a direção,
O projétil é certeiro.
Os alvos são sempre os mesmos:
Os pacatos cidadãos.



DO ENFERMO

Eu prefiro o meu livro de ciências
Do que a Bíblia sustentada em meu sovaco.
Admiro a razão, coisa do Diabo,
Contra a fé na divina providência.

Agradeço por minha sobrevivência
Ao médico, posto ter me receitado.
Ao remédio, por ter sido inventado
E a mim mesmo, por ter tido paciência.

Não duvido que haja cura pela crença,
Mas por parte de quem pensa,
Não de um ser iluminado.

Muitas vezes, o enfermo é lesado
E deixado à mercê de sua doença,
Na esperança de um milagre alcançado.


ENCLAUSURADA

Uma jovem educada
Com fanatismo e rigor,
Vive louca e assombrada
Com seu mundo de terror.
Não percebe que o amor
Desabrocha entre lágrimas;
Que a liberdade dá asas
Ao gênio criador.
Sua virgindade e pudor,
A mantém enclausurada.
Sua ânsia de culpada,
Faz sentir-se condenada
Quando geme excitada
Com seu corpo em ardor.




PERIGO OCULTO

Estou achando que perdi o medo
De atravessar a porta e sair à rua.
Não sei se devo ou não devo,
Pois lá fora, ainda continua
Um grande segredo.
Não há perigo no que vejo,
Mas naquilo que se oculta
No sangue de uma prostituta
Que não se ocupa
Em proteger seu leito;
Na mente de um milagreiro
Que não quer conselho
De alguém sensato,
Só porque é cético.
E na fé de um evangélico
Que comete o pior erro
Que é julgar-se a si mesmo,
Se considerando certo.


REAIS

Você me completa
Tal qual retas
Paralelas
Sempre iguais.
Eu a amo ainda mais
Que outro dia.
Somos em nossa utopia,
Bem reais.


PERIGOSO

Sou um homem vaidoso,
Impulsivo e compulsivo,
E por isso,
Extremamente perigoso.

MUNDO CARO

Sou esse rapaz desajeitado
Que caminha pela rua
Sem fortuna, nem legado,
Carregando o mesmo fardo
Sob o sol e sob a chuva.

Que insiste e continua
A viver num mundo caro,
Onde Deus se vende ao Diabo
Pra manter o seu status,
Preservar sua postura.


A LOUCA

Quem é essa louca
Que acompanha os meus passos
E é capaz de sustentar-me numa queda,
Que vive à espera
Que eu caia em seus braços
E que num longo abraço
Me despeça?

Quem é essa cega
Que reluta em enxergar,
Que acredita amar
A quem despreza?
Sem nunca ter pressa
Em me deixar,
Teima em se calar
Numa conversa.


MORTAL

É desnecessário sofrer
Por demasiado ser
Mortal.

QUALIDADES TORTAS

Não quero amargar minha derrota,
Nem arrotar a glória de meus feitos.
Talvez por meus defeitos
Serem feitos
De qualidades tortas.

As minhas ambições parecem mortas
Numa visão suposta
De mim mesmo.
E nas revelações de meu espelho,
Já não me vejo
Procurando por respostas.

Enfim, ao dar as costas,
Eu percebo
Que o medo dos meus erros
Não importa.
Que a porta entreaberta dos anseios,
Me arrastam ao desejo de desforra.


RG

O que preciso fazer
Para provar que existo,
Além de um frágil registro
E de um antiga RG?
Tenho que ser
Mais que uma arcada dentária,
Que digitais registradas,
Algo que possa valer.
Também não quero me ver
Como um fantasma,
Nem um casulo de alma
Que faça por merecer.




O CARA DO ESPELHO

Desta vez sou eu que falo.
Quem se cala
É meu espelho.
Me escuta com tal calma,
Que me faz doer os nervos.
Entre nós, não há segredos.
Mas sim, raiva e desprezo.
O que pensa esse cara
Que me olha taciturno?
Mais parece um intruso
Em minha casa.
Eu não lhe ofereço nada,
Posto ser dono de tudo.


CARLOS E MARIA DO CARMO

- Olá! Bom dia!
Diz o Carlos.
- Que entusiasmo e euforia.
Responde a jovem Maria.
- É que estou despreocupado,
Esbanjando simpatia.
O sério Carlos sorria.
- O motivo não seria
Um novo amor encontrado?
Atiça a bela do Carmo.
Se sentindo encorajado,
Pela jovem acuado,
O Carlos assim replica:
- És o meu único achado.
Sempre estarei ao teu lado,
Desde que tu me permitas.
Maria do Carmo treplica:
- És um homem educado.
Se queres viver ao meu lado,
Faça de nosso diálogo,
Uma simples poesia.

SEM ESFORÇO

Deus é o diabo disfarçado de bom moço.
Enganando o tempo todo
O homem de carne e osso,
Por prazer e diversão.
Olhe que situação:
O crente tolo,
Ainda vive de oração.
Deus promete ao cristão
Paz e conforto
Mas só depois de estar morto
Qual seria a razão?
Deus é pura invenção
Que o diabo sem esforço,
Pois na imaginação.


ASPIRANTE

Tente em mim, reconhecer.
Olhe meu rosto;
São as marcas de desgosto,
Como você pode ver,
Que deformam meu semblante,
Tal qual triste navegante
Que vê a nau se perder.
Faça valer
Sua vontade de aspirante.
Mas, saiba o quanto antes,
Que a conquista é desgastante
Quando por um só instante,
Por derrotado, se ver.


O CRÂNIO

Entre espalhados ossos,
Um sinal de seus remorsos,
O meu crânio.

MUNDO IMAGINÁRIO

Mantenho meus olhos fechados
Para ficar à distância
Na mais tola esperança
De que estarei afastado.

Continuo sendo alvo
De minha própria ignorância,
Acreditar que a lembrança
Deixar-me-ia a salvo.

Sou um homem temerário
Que procura ser criança
Em um mundo imaginário.

A realidade, ao contrário,
Tira minha doce infância,
Dá-me o atual cenário.


SOB O CHÃO

Meus mortos
Não voltam pra falar comigo.
Talvez, o motivo
Seja por estarem mortos.
Hoje, seus corpos,
Um caldo pútrido por vermes movidos.
E os mais antigos
Foram mantidos
Sob o chão, em ossos.


PASSAGEIRO SEM DESTINO

Passageiro sem destino,
Em um trem desgovernado,
Vejo o trilho enferrujado
Que atravessa o meu caminho.


Biografia:
No dia 04 de outubro de 1966, nasce João Felinto Neto, em Apodi, Rio Grande do Norte. Em 1969, parte com sua família para Tabuleiro do Norte no Ceará. No mesmo ano passa a residir em Limoeiro do Norte, sua pátria emotiva e ponto de partida de uma fase migratória que duraria toda a sua infância, e o levaria até Santa Isabel/PA (1971), Limoeiro do Norte/CE (1973), e Mossoró/RN (1974), onde ingressa, no Instituto Dom João Costa no ano de 1975. Retorna novamente a Limoeiro do Norte (1977), onde permanece até 1982, ano em que conclui o 1º grau no Liceu de Artes e Ofícios. Retorna definitivamente, com sua família à cidade de Mossoró. Conclui em 1985 o 2º grau na Escola Estadual Prof. Abel Freire Coelho. Em 1986 ingressa no serviço público, como técnico de biodiagnóstico do Hospital Regional Tancredo Neves, atual Tarcísio Maia. Conclui o curso de Ciências Econômicas, pela UERN, em 1991. Somente aos 34 anos, começa escrever e catalogar poemas e crônicas. Até então seu mundo literário se resumia à leitura e ao pensamento.
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