E falar como se não há quem ouça?
E dizer prá quem?
Para o vento que foge veloz
quando vê a sombra da lua?
Para a ave que dorme quieta
e calada nas noites tristes
de luar solitário e esmaecido?
Para a montanha tão distante
que soberana permanece inalcansável
para as flores do campo
e dos vales sem fim?
E gritar porque,
se o sol foge a cada fim do dia
ao aproximar-se da lua embrumada?
Até os animais, insetos,
mamíferos e felinos
vão procurar alento
e alimento nas horas do dia.
Como soltar as asas do pensamento
se ele irá perder-se no vazio
e voar como pluma para recantos
do imaginário do nosso ser,
perdido, perdido e sozinho
a vagar sem parar,
sem encontrar um ombro onde pousar?
E fica a voz muda e rouca
de tanto falar sem ser ouvida
a contemplar impotente
o fugir das coisas ao seu redor.
Condenada ao silêncio,
fadada a viver,
sem nome e sobrenome,
nas bordas do jardim de sonho,
que para si mesma construiu
e que agora o guardião
das sete chaves abriu
para estrelas que só
viajam à luz do dia.
Às flores da noite
resta o dormir silencioso
e eterno nos braços
do sono da morte
do dia que se foi.
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