Fernando Pessoa, ao ensejo do que tinha a respeito do fado, disse que “(...) toda poesia – e a canção é uma poesia ajudada – reflete o que a alma não tem. Por isso a canção dos povos tristes é alegre e a canção dos povos alegres é triste. É um episódio de intervalo.(...).” Essa última oração, faz-me integral concorde, no que me diz respeito, como pretenso “poeta” amador. (A propósito, há “poetas” profissionais? Penso que não, os que “há” são apenas bons escritores).
Tornando: já chorei melancolia na intensa felicidade, explodi artifícios de alegria, enquanto imerso em lágrimas. Mas “temporária e episodicamente” (= “episódio de intervalo” ), de modo que não se pode ter a correlação como regra. No amiúde, a poesia o é pela graça da poesia. Se sentimento demais te toma as mãos, não há poesia boa. Boa poesia depende de espontaneidade e desapego. O poeta assopra, arquiteta e ela nasce e vive por si. Essa é a medida, sub censura. Com métrica ou sem.
Quando tristeza chegou,
E se fez ficar,
Quis eu saber,
Se ia passar
Quando alegria cantou,
E se terminou,
Fiz-me crer,
Que ia voltar
Em todas as circunstâncias, veja, houve questionamentos
[Até bem mais que sentimentos]
Foi que ainda em instância, de pensamento,
Que surgiu o momento: bem vinda a poesia, tal como cimento
Resposta de mim,
[sobre o que sinto].
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