“11 Vede com que grandes letras vos escrevi por minha mão.
12 Todos os que querem ostentar-se na carne, esses vos obrigam a circuncidar-vos, somente para não serem perseguidos por causa da cruz de Cristo.
13 Porque nem ainda esses mesmos que se circuncidam guardam a lei, mas querem que vos circuncideis, para se gloriarem na vossa carne.
14 Mas longe esteja de mim gloriar-me, a não ser na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, pela qual o mundo está crucificado para mim e eu para o mundo.
15 Porque em Cristo Jesus nem a circuncisão, nem a incircuncisão tem virtude alguma, mas sim o ser uma nova criatura.
16 E a todos quantos andarem conforme esta regra, paz e misericórdia sobre eles e sobre o Israel de Deus.
17 Desde agora ninguém me inquiete; porque trago no meu corpo as marcas do Senhor Jesus.
18 A graça de nosso Senhor Jesus Cristo seja, irmãos, com o vosso espírito! Amém.” (Gál 6.11-18).
Nós chegamos à última seção desta epístola onde o apóstolo começa a se despedir dos gálatas a partir do verso 11, fazendo suas considerações finais, e para mostrar a eles o zelo que teve em lhes dirigir esta epístola, registrou que foi ele próprio o seu redator, e que não tinha se valido de qualquer amanuense, como fazia em todas as suas demais epístolas, nas quais fazia apenas questão de escrever de próprio punho a saudação das mesmas, como um sinal de que eram de sua autoria (II Tes 3.17), para prevenir falsificações em seu nome.
Quando ele diz neste verso 11: “Vede com que grandes letras vos escrevi”, a expressão grandes letras, certamente não é uma referência ao tamanho das letras, mas a extensão da epístola, considerando que era muito grande para ele não ter se valido de um amanuense, tendo em vista que era uma tarefa difícil escrever naqueles dias, tanto no que tange ao uso da tinta, quanto ao tipo de superfície usada para a escrita, sendo em pergaminho ou papiro.
Ao falar dos falsos apóstolos e mestres Paulo fez de si mesmo um contraste com eles, conforme vemos nos versos 12 a 15, e 17.
Os falsos apóstolos buscavam a sua própria glória ao manipularem os gálatas ao seu bel prazer, sujeitando-os a fazer a própria vontade deles, especialmente por constrangê-los a se circuncidarem.
Paulo trazia no seu corpo as marcas das perseguições que havia sofrido por amor a Cristo (v. 17).
E os falsos apóstolos e mestres em vez de trazerem marcas no seu corpo faziam estas marcas no corpo dos outros, como faziam com os gálatas em relação à circuncisão.
Além disso eram covardes e temiam muito sofrerem por causa da sua religião, porque ordenavam aos gentios a se circuncidarem para não serem perseguidos pelos judeus.
Eles haviam se convertido nominalmente ao cristianismo, não conheciam de fato ao Senhor, e o único senhor deles era Satanás que lhes havia infiltrado como joio na Igreja para inquietarem os verdadeiros cristãos.
Paulo disse ainda neste verso 17 que dali por diante ninguém mais lhe inquietasse.
Muitos devem lhe ter aborrecido com questionamentos sobre quem de fato estava com a verdade, se ele ou os judaizantes, e ele deve ter sido pressionado pelos gálatas também quanto aos reais motivos que o levaram a lhes pregar o evangelho, dentre muitas outras questões que não somente denunciavam as dúvidas que estavam levantando não somente quanto à doutrina que Paulo lhes pregara, como também quanto ao próprio caráter do apóstolo.
Eles lhe haviam provocado, inquietado, aborrecido o suficiente, e tiveram com esta epístola uma resposta bem mais alta do que a expectativa deles, e por conseguinte ele lhes disse, em outras palavras: “Não me aborreçam mais daqui em diante com estes questionamentos. Tudo está respondido. As marcas que trago no corpo por amor ao evangelho são a minha resposta relativamente ao meu caráter e às intenções com que tenho pregado.”.
Enquanto os falsos apóstolos buscavam a sua própria glória com o fim de fazerem ostentação na carne, isto é, para mero exibicionismo pessoal (v. 12, 13), Paulo afirmou que diferentemente deles, ele se gloriava somente na cruz de Cristo, porque por ela ele estava crucificado para o mundo e o mundo para ele.
Então não tinha nenhum motivo para procurar para si qualquer glória mundana.
A glória pela qual ele aspirava era a celestial e esta se alcança buscando somente glória para o próprio Deus (v. 14).
E não somente Paulo como todos os cristãos têm fundas razões para se gloriarem somente na cruz de Cristo, porque foi por causa da Sua morte que alcançaram toda sorte de bênçãos espirituais nas regiões celestes (Ef 1.3).
Como Paulo sabia que aqueles falsos apóstolos não eram nascidos de novo pelo Espírito, como não eram novas criaturas em Cristo, ele podia afirmar com toda a segurança em relação a eles que nenhum deles guardava a lei (v. 13) que afirmavam defender com suas práticas cerimoniais e rituais, porque sabemos que aquele que não é nova criatura não pode de modo algum guardar os mandamentos de Deus da maneira que convém guardá-los, de forma que se possa dizer deles que estão Lhe obedecendo verdadeiramente.
Nós já apresentamos anteriormente fartos argumentos para afirmar a razão desta impossibilidade. Daí Paulo afirmar que “em Cristo Jesus nem a circuncisão, nem a incircuncisão tem virtude alguma, mas sim o ser uma nova criatura.” (v. 15).
Tão convicto o apóstolo estava da verdade da sua doutrina, que afirmou no verso 16 que: “a todos quantos andarem conforme esta regra, paz e misericórdia sobre eles e sobre o Israel de Deus.”, isto é, aos gálatas que se submetessem a todos os mandamentos e à doutrina que lhes passou nesta epístola, estes, e somente estes, poderiam contar com a misericórdia e a paz de Deus em suas vidas, e para não restringir a área de efeito desta bênção, Paulo a estendeu a todo o Israel de Deus, a saber, sobre toda a Igreja de Cristo de todas as épocas e lugares.
Não há bênção de paz e misericórdia, ou qualquer outra bênção de Deus senão para aqueles que obedecem a Sua Palavra, especialmente nos aspectos destacados por Paulo nesta epístola.
Para fechar a epístola, Paulo recomendou os gálatas à graça de nosso Senhor Jesus Cristo, e para fixar neles que a graça opera nos cristãos, forjando sobretudo as bênçãos espirituais, ele delimita a ação da graça no espírito deles (v. 18), de modo que fossem desestimulados de buscarem as bênçãos de Deus através de práticas carnais de cunho cerimonial e ritualístico.
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