Login
E-mail
Senha
|Esqueceu a senha?|

  Editora


www.komedi.com.br
tel.:(19)3234.4864
 
  Texto selecionado
INOCENTES PECADORES
Paulo Moreno

Resumo:
“O que nos outros chamamos de pecado, para nós é experiência.” Ralph Waldo Emerson


- Fechem os olhos e peçam ao Criador para que nos perdoem de nossos pecados.

Após algum tempo de oração sempre alguém começava a cantar, puxando a multidão com voz tremula e desafinada e as suplicas ao Criador eram por horas cantadas...

A pequena igreja com seus mesmos membros de sempre era a única diversão que tínhamos quando garotos. Eu e meus irmãos.

- As almas dos pecadores serão consumidas no inferno!

Eu me lembro de Julia. Éramos duas crianças que gostava de segredos.
Ela, branca como algodão, parecia que não existia uma gota de sangue naquele corpo magrinho, e eu, como diziam as irmãs na fé, tinha cara de anjo.

Adquirimos hábitos estranhos, nos entendíamos apenas com o olhar.

- Vem – ela dizia com gestos.

- Aonde vamos? – minha pergunta não emitia som, somente nossos olhos falavam, despistando os nossos pais.

Corríamos para os fundos da igreja, onde muitos tinham medo de ir, pois diziam que o diabo estava acorrentado lá e foi o pastor que o acorrentou. Eu e Julia sabíamos que isso era mentira. Alguém inventou isso para que ninguém fosse bisbilhotar as dependências da velha igrejinha.

Mato alto e arvores frondosas nos escondiam e ali brincávamos a sós.

- Olha essa Joaninha! Que engraçada- Julia dizia mexendo com um pauzinho o inseto que buscava abrigo.

Eu ficava com cara de que nada entendia e aguardava ansioso onde Julia iria chegar.
Julia conduzia a joaninha com o pauzinho, fazendo com que o inseto desaparecesse debaixo de sua saia.

- Sumiu!- Julia dizia com voz baixa e olhar languido.

Ela me convencia com sua inocência e manha, em instantes eu tocava suas partes a procura do inseto que a essa altura deveria estar longe. Não nos importávamos mais.

- Preparem-se para o fim do mundo! Não haverá lugar no céu para fornicadores, bêbados e blasfemadores.

Ali aprendíamos sobre nossos corpos nos toques trocados.

- Que engraçado. Eu sou diferente de você. Enquanto eu procurava nossa diferença perdia minha inocência.

A sensação do prenuncio me fazia gostar ainda mais dessa brincadeira, pois os prazeres descobertos depois jamais seriam esquecidos.

- Vinde agora para o perdão, amanhã pode não haver mais tempo! Purificai!

As mãos agora conectadas aos prazeres rosados e rostos colados. Afogávamos nossa réstia de inocência.

- Se sua mão for motivo de pecado, melhor cortá-la fora!

Nós ficávamos ali assistindo o desabrochar da malicia enquanto perdia força a inocência...


Biografia:
"Não sou tudo aquilo que penso ser, mas sou o que preciso ser"
Número de vezes que este texto foi lido: 61668


Outros títulos do mesmo autor

Poesias FANTASMAS... Paulo Moreno
Contos SEGREDO... Paulo Moreno
Poesias MOMENTOS... Paulo Moreno
Poesias ALIENADO... Paulo Moreno
Poesias LEMBRANÇAS Paulo Moreno
Crônicas O FUNK DE OUTROS TEMPOS... Paulo Moreno
Contos PARAÍSO Paulo Moreno
Contos ESTRANHOS... Paulo Moreno
Contos O REGRESSO DE LAURA Paulo Moreno
Poesias NOITE INDISCRETA... Paulo Moreno

Páginas: Primeira Anterior Próxima Última

Publicações de número 11 até 20 de um total de 22.


escrita@komedi.com.br © 2025
 
  Textos mais lidos
Resumo - Direito da Criança e do Adolescente - Isadora Welzel 62726 Visitas
A SEMIOSE NA SEMIÓTICA DE PEIRCE - ELVAIR GROSSI 62687 Visitas
A Aia - Eça de Queiroz 62542 Visitas
O pseudodemocrático prêmio literário Portugal Telecom - R.Roldan-Roldan 62541 Visitas
Mistério - Flávio Villa-Lobos 62537 Visitas
Legibilidade (Configurando) - Luiz Paulo Santana 62520 Visitas
Minha Amiga Ana - J. Miguel 62495 Visitas
MEDUSA - Lívia Santana 62475 Visitas
O Senhor dos Sonhos - Sérgio Vale 62466 Visitas
RODOVIA RÉGIS BITTENCOURT - BR 116 - Arnaldo Agria Huss 62464 Visitas

Páginas: Primeira Anterior Próxima Última