Login
Editora
|
|
Texto selecionado
Sem escolha, sem razão, sem lógica |
Cátia Courela Grenho |
Resumo: As aparências iludem, mesmo quando tudo leva a querer o contrário. |
Ela correu pela casa. Os seus pés descalços arrefeciam em cada contacto com o chão. As vestes compridas iluminavam-se pelo brilho dos candeeiros instalados por toda a mansão.
Estava escuro. Era noite.
Tremeu. Respirava sofregamente num ritmo descompassado.
Encostou-se ao pilar central da entrada.
- Sabes que te encontro onde quer que te escondas. - Uma voz masculina fez o coração dela quase saltar do peito. - Sinto a tua presença à medida que me aproximo dela.
Ele pronunciava as ultimas palavras numa expressão quase cantada.
Ela tentou fugir, alcançar as enormes portas da entrada.
Em vão.
- Eu avisei-te. - Ele agarrou o braço dela com força e puxou-a contra o seu peito.
- Faças o que fizeres, nunca te vou dizer nada.
- Não precisas. Eu consigo ler nos teus olhos.
- Imbecil. Vais pagar por tudo.
- Podes-me ofender. Força. Eu não me importo. Até gosto. Porque no momento em que ele vier e te atingir nas costas, será assim que irás acabar. Nos meus braços, contra o meu peito, a chorar de desilusão.
- Odeio-te.
Ele largou-a. Afastou-se dois passos.
- Eu sei que sim. Mas como eu acabei de ver nos teus olhos que esse ódio é excesso doutro sentimento, tu também podes ver no brilho dos meus que, tudo o que faço é para te proteger.
- Chamas a isto proteger? - Ela soltou uma gargalhada - Deixa-me rir.
Ele aproximou-se dela. Ela recuava. Ele avançava. Alcançaram a parede. Ele alcançou o ouvido dela.
- Ele está lá fora. Podes ir. Correr ou andar. Gritar pelo seu nome ou esperar a sua aproximação em silêncio. Mas para que saibas por onde andas naquela escuridão. Ele está acompanhado. Sempre. O seu único objectivo? Levar o teu coração como troféu para casa. Ergue-lo sob a mesa e gabar-se de mais um. Afinal, ele alimenta-se disso. E tu? Alimentas-te da ilusão de segurança que ele te deu.
Silêncio.
- E tu? - Ela perguntou.
- Eu? - Ele sorriu ainda com os seus lábios junto dos dela. - Eu arrancaria o meu se isso te alimentasse.
Silêncio.
Duas lágrimas rolaram pelo seu rosto.
Estava presa.
Destino.
Sem escolha. Sem razão. Sem lógica.
Apenas, destino.
|
Biografia: |
Número de vezes que este texto foi lido: 60456 |
Outros títulos do mesmo autor
Publicações de número 1 até 6 de um total de 6.
|
|
|
Textos mais lidos
|