IGNORÂNCIA ELEITORAL: BRASILEIRO NÃO QUER GASTAR VELA COM MAU DEFUNTO
Estamos em época de eleições. Os noticiários, os cartazes e panfletos, os discursos, as atualizações da internet, a Voz do Brasil e o horário político não nos deixam esquecer. Nesse emaranhado de informações, o que não falta são candidatos: diversas classes sociais, idades, profissões e, claro, particularidades…. e quanta particularidade! Temos visto muitas referências a personagens, produtos e celebridades. São Raul Seixas, Bin Ladens, Batmans, Robins e muitos outros. E a criatividade para criar novos nomes também não se esgota.
Tudo isso é um pouco familiar. Em 2010, com o slogan “pior que tá não fica”, Tiririca deixou o seu impacto político e também muitos discípulos. Na verdade, essa prática “irreverente” atribuída ao Tiririca não é nova. Sempre existiram aqueles candidatos cujo objetivo é pescar pela diversão e não pelas propostas. Na verdade, esses candidatos são um reflexo do entendimento do brasileiro com relação à política. Inevitável não dar ao menos uma gargalhada quando vemos uma figura inusitada no horário eleitoral. Só que, a meu ver, é rir pra não chorar! O próprio Tiririca fazia questão de dizer, em sua “campanha”, que não sabia qual a função de um deputado federal, estratégia que funcionou e o elegeu. Certamente, muitos eleitores se identificaram com isso.
A cultura brasileira não é estruturada para que a política seja compreendida por todos e o porquê de as coisas serem assim não me cheira muito bem. Quando se fala [abertamente] em política é para referir-se à corrupção ou para se queixar do quão tedioso é o assunto. Como se não bastasse, questões políticas em geral são tratadas com uma linguagem assustadoramente técnica. Mas, já reparou que nas eleições tudo é dito de forma bem popular? Nessas horas sim é interessante que todo mundo entenda a linguagem dos políticos, não é?
Que muitos Tiriricas sejam eleitos, não é apenas uma questão de ignorância política – e que fique bem claro que a população não tem culpa de tal ignorância – mas é também desilusão, já que a política anda tão desacreditada. Creio, inclusive, que muitos eleitores o fazem como forma de protesto. Então, por que não brincar com a situação? O povo brasileiro é sempre alegre e caloroso…. tudo uma questão cultural. Para fazer com que se importem com um assunto tão sério quanto política tem que haver ao menos uma pequena forma de entretenimento, humor e diversão. O Palácio do Planalto, que cheira a naftalina, e a política em geral mais parecem mausoléus, com os mesmos protagonistas e sempre cheios de lama. Não me surpreendo, portanto, que as pessoas tenham resistência a isso. Afinal, pra que gastar vela com mau defunto?
Mas, revoltas à parte, estamos falando de política, minha gente! E política, quer queira quer não, é algo sério e deve ser tratada como tal, ainda que o aspecto da coisa não seja bonito. Falar de corrupção é simples e já virou clichê. Não faltam discursos na televisão ou em posts e e-mails com críticas à respeito. Mas como combatê-la se não há conhecimento político suficiente e, diga-se de passagem, nenhum estímulo para que isso seja possível? Qualquer um sabe dizer que a política brasileira é corrupta. O difícil é falar mais a respeito, de forma minimamente fundamentada…
Bom, poderia considerar outras abordagens importantes, como a falta de memória política do povo e a própria corrupção. Mas, por hora, convido-os a pensar na questão da ignorância política, que mais parece uma característica do sistema “pão e circo” (haja vista aos Big Brothers e outras atrações globais da vida), e a nossa irremediável desilusão.
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