No alpendre meu pai dança.
No bananeiral eu brinco.
Me escondo do cachorro manco.
Com minha prima tomo banho na bica,
bica nossa de cada dia.
Minha mãe, chinelo na mão,
cachimbo na boca, me olha feio,
escorrego na casca de minhas travessuras.
Na capela a vela acesa vela
tantos santos assentados
cheirando a flor de laranjeira.
E os homens e suas enxadas,
mãos inchadas,
mas já é janta que descansa na mesa
e já se vai o sol do céu do sertão pernambucano.
E sob a luz da lua, ao grilar dos grilos,
do vaivém dos vaga-lumes, meninos,
homens e mulheres se ajeitam e sapos pulam,
monstros espreitam atrás das portas,
vindos das histórias de Trancoso.
Nós, brancos, negros e índios
ao redor da fogueira e na roda de Toré
nos alimentamos,
de amor, riso e fé.
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