CIRCO DE HORRORES
'Do fazendeiro é o bezerro e a mãe
do fazendeiro é o pai do bezerro também'
Espera! Tem gado de todas as eras,
e até quando nós estaremos a dizer amém?
Que não suporta ofensas conheço alguém,
que não deseja a morte, nem matar ninguém,
que prefere omitir-se e não testemunhar
nada mais, nada menos,nem o mal, nem o bem.
Conheço quem controla a náusea,
mas enojado continua,
entre goles de vinho ou de cerveja,
entre um e outro cigarro,
em casa, no bar, ou na rua.
'Do fazendeiro é o bezerro e mãe
do fazendeiro é o pai do bezerro também'
Vejo filhos abandonados por suas mães,
esquecidos e sem nenhuma oportunidade,
vejo outros bem cuidados filhos da mãe,
aprontando tantas das suas pela cidade.
Vejo policiais, seguranças e guardas,
guarda costas a pé e também em autos,
de olho na movimentação das pessoas
para que estas não sofram sobressaltos.
"Do fazendeiro é o bezerro e a mãe
do fazendeiro é o pai do bezerro também'
Nos corredores dos Palácios,
bobos da corte e lacaios,
lobistas, gatunos e gaiatos,
parasitas estufando o peito,
a galhofar ora por empáfia,
ora por desídia, ora por despeito.
Alguns vassalos e trombeteiros
trabalham arduamente o tempo inteiro
a convencer, e bem depressa,
multidões ansiosas por ver e ouvir
o que bem lhes interessa.
'Do fazendeiro é o bezerro e a mãe
do fazendeiro é o pai do bezerro também'
Contra as paredes,
ou assentados no passeio público,
a mendigar o pão, e sem condições
pessoas desapontadas
que praguejam e vociferam maldições.
'Do fazendeiro é o bezerro e a mãe
do fazendeiro é o pai do bezerro também'
Surgem alguns inconformados,
desajeitados gladiadores
voluntários com chama acesa,
sem definir boas estratégias
e táticas de ataque e defesa.
E nos corredores dos Palácios,
velhacos e bajuladores,
aproveitadores e ladrões,
demagogos e charlatães de plantão
a criar bons discursos
para convencer os cidadãos.
'Do fazendeiro é o bezerro e a mãe
do fazendeiro é o pai do bezerro também'
A claque ensaiada entra em ação,
e aplaude a quem discursa, efusivamente,
os mimos, ou o suborno, já está na mão
aquecendo as suas vidas constantemente.
'Do fazendeiro é o bezerro e a mãe
do fazendeiro é o pai do bezerro também'
Mas há quem lute contra a corrupção,
contra os oportunistas fanfarrões,
os traidores do povo, espertalhões,
e delapidadores dos bens da nação.
Contra os grandes e gordos porcos,
porcos de engorda e mimados leitões,
contra os leiloeiros dos laranjas
que são servidos ao molho pardo,
à caráter, sem farpas e sem senões.
Contra os que ungem-se
e cortejam-se mutuamente
com a ambição de permanecerem
no poder continuamente,
Como se fossem um bando
de gansos famintos atacando os grãos,
ou como famintos gaviões
com garras afiadas atacando os pintos.
'Do fazendeiro é o bezerro e a mãe
do fazendeiro é o pai do bezerro também'
Mas tem muita gente a mendigar
e a cortejar políticos indignos
que tem a ousadia de ameaçar
os dignos trabalhadores honestos
quando estes estão a questionar.
Era assim, ainda é, e acabou sendo,
Vamos juntos refazer tudo; refazendo...
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