A QUEIXA
Texto: Flávio Alves
Cenário: Delegacia de Polícia
Antes de abrir as cortinas Gertrudes está entre a platéia. Chora descontroladamente e vai se acalmando. Entende-se que toda platéia está também para prestar queixa. Ela tem um olho roxo de um murro. (Ela respira e irritada começa a falar).
Parem, parem esta música, por favor, se não eu vou morrer, não sei se de raiva ou revolta, por me envolver com um cretino que eu acreditava que me amava e só me fez sofrer e por causa dele estou aqui, lugar que eu jamais pensei em estar, humilhada, acabada e até desfigurada por causa de uma vadia escrota chamada Saturnina. Como é triste a minha vida! E ainda tem gente que diz: aquela ali é mulher da vida fácil, fácil? Fácil uma ova. Quero ver alguém rodar bolsinha a noite toda na minha idade e conseguir o suficiente pra se manter. Quando eu era nova, tudo bem, eu conseguia descolar uma grana legal, mas agora uma quenga como eu quase beirando os quarenta, os machos olham pra mim e o que diz é o seguinte: sai pra lá tribufu estou procurando coisa nova e não uma mochila como você. O último safado que jogou esse desaforo na minha cara eu fui logo respondendo. Tribufu é a sua mãe e mochila e a senhora sua vó. Por isso quase apanhei, se não fosse um camburão que tava próximo eu ia me lascar. Eu juro que se eu arrumasse um homem legal pra cuidar de mim eu deixava esta vida, e eu já estava pensando em deixar porque pensava que o Xavier me amava. Sempre fiz ponto no beco da foice e lá conheci o Xavier, eu nunca sentia prazer com homem algum e quando ia pra cama era só fingimento, gemia, gritava, virava os olhos, berrava, mas era tudo fingimento pra ganhar o dinheiro dos machos. Fazia de tudo pra que os condenados gozassem logo pra partir logo pra outra e ganhar mais um pouco. Tinha um tal de Zé Zarolho que todas as quengas corriam dele porque o condenado além de bem dotado ficava num vuco, vuco, desgraçado em cima da gente, e pra o miserável gozar tinha que o sino tocar. Êita cara ruim de gozo! Dava vontade até de desistir e além do mais queria fazer sexo de todo jeito. Eu mesma com ele já tinha até uma tabela, papai e mamãe era um preço, no torno era outro, beira de cama, mais outro e assim por diante e o pior de tudo é que durante a relação o sujeito ficava falando um bocado de palavrão no meu ouvido e quando eu olhava pra ele não sabia se ele tava olhando pra mim ou pra o satanás com aquela instalação trocada. Já com o Xavier era diferente, pense num homem pra fazer gostoso! Aquele sim sabia fazer o dever de casa direitinho, mas ele me enganou e durante esses dois anos ele só soube me explorar, e prometeu me tirar do cabaré e eu como uma atabacada acreditei. E agora estou aqui num calor da porra desse esperando o delegado chegar. Quero só ver se eu não vou ser atendida. Êita demora condenada! Vai terminar eu torrar aqui.
Espero que esse delegado me atenda hoje, já é a terceira vez que venho aqui e não sou atendida, duas vezes pela manhã e agora à tarde. Ora! Eu lá tenho culpa se a polícia tava em greve? Já basta a humilhação quando saio na rua, só escuto piadinhas. E aí periguete: caiu um cisco no seu olho foi? O que é isso no seu olho é a nova moda é? Menina como ela ta chique! Ta parecendo um cavalo de cabriolé! A puta levou uma surra danada, olha ela ali! Eu tive que escutar e ficar na minha pra não perder minha razão, mas muitas vezes tive vontade de responder: Caiu um cisco no meu olho foi? Caiu sim, um cisco no meu olho, e outro no olho do seu oiti, seu fresco. Isso é nova moda é? É a moda que sua mãe me ensinou quando tranzava com os canavieiros de olhos vendados pra se concentrar nas danadas dos machos. Estou parecendo cavalo de cabriolé é? E você despeitada tá parecendo com o quê? Rabo de tanajura é a sua mãe sua decaída! Maldita hora que fui naquela boate, e o puto do Xavier ele que se lasque pra lá. Ele me deixou largada na mesa com a dose de cana e o caranguejo de coco, só por causa daquela chupa cabra. E eu não quero nem saber, hoje só sairei daqui quando prestar minha queixa contra aquela agressora dos infernos. Ela me paga, isso eu garanto. Já são quatro horas da tarde e esse delegado não chegou ainda, que absurdo! Parece até que eu sou uma vagabunda pra ficar indo e voltando nessa delegacia. Como coro de ... deixa pra lá. Que ódio daquela peste! Uma rapariga safada que transou com o meu parceiro, ainda quer ter razão, mas ele também é safado e vou conversar com ele depois, mas quero ver ela atrás das grades. E agora foi que lascou! Todo mundo aqui presente vai prestar queixa também? Eu não estou acreditando. Se vocês quiserem prestar queixa estão no direito de vocês, mas só que tem uma coisa, eu já vim aqui pela manhã duas vezes, e essa é a terceira vez, por isso tenho que ser a primeira. É isso mesmo minha senhora e deixe de me olhar com desdém com esses seus olhos aboticados pra cima de mim. Parece até que a senhora é da laia daquela agressora que fez isso comigo. E o senhor fique na sua, ta olhando o que pra debaixo da minha saia é? Nunca viu uma bunda boa não foi? Tudo bem: quer ver? Olhe aqui olhe, (levanta a saia) satisfeito agora? Eu não sei o que tem com esses homens, essas pestes são todos iguais não podem ver um rabo de saia que ficam de olho duro em cima da gente. Pois o senhor pode desistir não sou qualquer uma não, e homem pra sair comigo tem que ter grana meu irmão, entendeu? Quando o delegado chegar eu vou é emburacar, não quero nem saber. (para um expectador) O quê? Como é a história? Tenho que pegar uma ficha? Um cacete que vou pegar ficha na portaria vou nada! E não quero nem saber se seu número é meia nove. Pode ser meia nove, beira de cama, no torno, papai e mamãe, a gota serena, mas não vou pegar ficha porra nenhuma. E a senhora aí com o cabelo arrepiado tá rindo de quê? Fique na sua que o assunto não chegou até aí não. Ora essa ter que pegar ficha! Não pego de jeito nenhum. O que é meu senhor? Ta me mandando sentar? Só se for no colo do senhor. E você aí é mulher dele é? Pois bem, segure seu marido viu, ele é muito assanhadinho pra o meu gosto. Ora! Eu sentar... Já estou aqui arretada da vida por causa daquela puta de quinta categoria que me agrediu, e o cara me manda sentar, sentar só se for em cima de uma... Deixa pra lá. Calor desgraçado esse! Nessa porcaria não tem nem ventilador, mas tudo bem. (As cortinas vão se abrindo ela corre pra o procênio). Não passa ninguém na minha frente, não passa ninguém, (no palco). Boa tarde doutor delegado! Posso sentar? Obrigada. Meu nome? Gertrudes Guerra e Paz, da Silva, pode colocar aí na sua ficha? Idade? 39 anos. Casada? Claro que não doutor, qual é o homem que vai querer casar com uma rapariga? Desculpe doutor. Profissão? Quenga, prostituta, rapariga... Pode anotar aí o que o senhor quiser. Perdão doutor, eu sei que não devo responder dessa forma e que o senhor é uma autoridade, mas é que eu estou muito nervosa. Tudo bem pode continuar. Mas o que tem haver minha família, e o porquê que decidi ter a vida que tenho hoje? Ah doutor faça-me o favor! O senhor quer mesmo saber? Revolta doutor, simplesmente revolta. Eu quando criança sempre via o porco do meu pai chegar bêbado em casa e espancar a minha mãe e quando eu ia defender ela, sobrava sempre pra mim e eu era sempre o saco de pancadas. Eu com doze anos de idade escutava sempre ele gritar no meu ouvido, essa cachorra pensa que me engana, e tu vagabunda velha, isso com minha mãe, fica defendendo essa assanhada. Eu sei qual a escola que ela vai todo dia, ela sai é pra machear. E eu doutor escutava tudo no meu canto, calada. E ele continuava: Se eu souber que você tá quengando com algum macho, eu lhe dou uma surra que você não vai ficar nem viva nem morta e lhe boto no olho da rua. Não quero escutar piadinhas por causa de uma rapariguinha safada, tá me ouvindo? E tome tapa na minha cara. Minha mãe ia me acudir e levava tapa na cara também. Eu ficava com tanto ódio que prometi a mim mesma fazer o que desse na minha cabeça. E como era época de São João, eu dançava numa quadrilha junina, escondida dele é lógico. E nesse vai e vem fiquei apaixonada por Tufão, Tufão não era muito bonito não, nas tinha algo nele que me chamava à atenção e nessa época eu tinha treze anos e ele tinha dezoito. Tufão sempre falava que eu era a mulher da vida dele e que se eu me perdesse com ele, ele me assumia. Resultado: Eu dei. Eu dei, mesmo doutor. E quando terminou o ensaio, a galera dançava forró e tomava cachaça, ele pegou a chave de uma escolinha para criança onde a mãe dele era a zeladora, abriu a escolinha, procurou algo no armário pra forrar no chão, e no escuro começamos a transar e quando estávamos no bem bom, à porta foi aberta por um gaiato chamado José Euzébio que era afim de mim, e com José Euzébio tinha mais doze pessoas, ele acendeu a luz e quando percebemos estávamos em cima da bandeira brasileira e isso deu o maior rebu, por onde eu passava o povo me chamava de antipatriota e o safado do Tufão fez jus ao seu nome, que como um tufão desapareceu. Meu pai ficou sabendo, e antes dele me dar a surra prometida, peguei minhas coisas em casa, e como não tinha trabalho fiz o que realmente meu pai mais odiava. Virei rapariga. Cheguei na boate de Sibéria e chorava que só uma condenada, com medo que o meu pai viesse atrás de mim. Foi quando Sibéria me deu uns conselhos e perguntou se era realmente aquilo que eu estava querendo. Eu não tive outra opção. E como eu era novinha, coxas grossas, peitinhos durinhos, os homens ficavam loucos por mim. Mas doutor o senhor não me pediu pra eu contar minha história? E agora fica me pedindo pra poupar os detalhes? Pelo amor de Deus! Tudo bem eu continuo: Pois é, como eu estava falando, todos os homens só queria ficar comigo, e a boate de Sibéria era a mais freqüentada. Trabalhei muitos anos com Sibéria, mas o senhor sabe que a carreira de prostituta é curta como outras profissões, ficou velha a coisa já muda. Foi quando socorri aquela vadia que me agrediu, ela chegou chorando e teve todo o meu apoio e se fez passar como minha amiga e depois começou a me apunhalar pelas costas, e olhe o que me aconteceu: E essa é toda minha história, mas eu não vim aqui pra contar história não doutor, eu vim aqui prestar uma queixa contra a vadia da Saturnina. Mas que danado o senhor ainda quer saber? Quem é Zé do Sebo? Agora foi que lascou! O que é que tem haver minha história com Zé do Sebo? Ah! Pra lhe ajudar nas investigações? Bem, se o senhor quer saber mesmo, eu já fiz alguns programas com ele sim, mas na época ele não era açougueiro não, tinha uma cabeleira cheia, era perfumado, não tinha mau hálito, só tinha a mesma barriga de sempre, aquele bucho quebrado e é por isso que eu deixei de sair com ele. Não gosto de homem barrigudo. Desculpe seu delegado eu não estou me referindo ao senhor, até porque o senhor é um homem casado, respeita sua mulher e não freqüenta cabaré. A quenga da Saturnina? Está com ele sim, sempre sai com ele, mas só porque ele manda carne do açougue. Aquela peste parece um pitbull, não pode ver um pedaço de carne. Ela se acha a tal, mas eu nunca ia me passar pra essas coisas. Hoje seu delegado Zé do Sebo é o homem mais nojento que existe no cabaré, não sei como a mulher dele suporta, deve ser outra nojenta igual a ele. Um homem que não toma banho, um mau hálito desgraçado, e só vive coçando o saco depois da operação de vasectomia e pra o senhor que não sabe, ele tem mais de dez filhos, o bicho é tão nojento que deixa criar esmégma no órgão genital, ou o senhor não sabe o que é esmégma? É por isso que lhe deram o apelido de Zé do Sebo. E a maldita da Saturnina que é toda metida, vive desfilando pra cima e pra baixo com aquele bucho de baiacu. Ela é tão safada e depravada que quando dizia ser minha amiga, me disse: Gertrudes, é hoje que aquele bucho estoura. Comprei uma langerie toda vermelha a cor que Zé do Sebo gosta, pra hoje à noite fazer algo bem diferente num lugar bem diferente. O lugar doutor era um cercado onde um bocado de bois pastavam só sei dizer que eles começaram a transar dentro do cercado que até os bois e as vacas saíram de perto pra não presenciar a cena horrorosa e no outro dia a cadela chegou toda arrepiada e toda arranhada de arame farpado e ainda toda inchada de ferroadas de abelhas. Pra o senhor que não sabe ela é masoquista e sádica também, aquilo não vale o que o gato enterra. Agora será que daria pra o senhor ouvir o meu relato? Obrigada doutor. O que aconteceu? Fui agredida doutor. Se eu tenho como provar? A prova ta aqui, ta aqui, ta vendo seu delegado? (Mostra o olho roxo). Toda essa confusão por causa de uma perua que dizia que eu era sua melhor amiga das pistas noturnas. E olhe o que aconteceu: Ela fez essa desgraça comigo, (tira de dentro de uma sacola) me lascou com esse paralelepípedo e se aproveitou quando me viu estatalada no chão passando na minha cara um gargalo de garrafa. Ora essa! Aquela rapariga safada ta pensando que vou ficar como o macho dela que um dia foi meu é? Só porque ele tem os olhos verdes é? È um gigolô safado seu delegado. Ta bem: Eu conto, eu vou contar tim, tim, por tim, tim, pra aquela fresca se fechar pra meu lado. Eu sei seu delegado que tenho que moderar meu vocabulário, mas o senhor não está vendo minha situação, toda lascada, arrebentada. Olhe aqui na minha cabeça onde o paralelepípedo pegou! Veja também minhas costas! Olhe aqui o salto da minha azaléia novinha, pensa que foi fácil arrumar dinheiro pra abalar com a cara dela foi? Olhe o murro aqui no meu olho direito! Mas ela me paga Ahh ela me paga. Saturnina desgraçada. Ta bem doutor eu vou contar. É o seguinte: Ontem de meio dia eu tava tomando um quartinho na boate de Sibéria, cheguei e disse: Sibéria estou lisa e o movimento ontem foi fraco. Tem uma caninha aí? Bota na minha mesa e deixa no pendura que à noite te pago. Sibéria pegou e botou um quartinho. Nisso por volta das doze e quinze me aparece Xavier, entrou na boate e foi logo dizendo: Gertrudes filé! O filé doutor já foi um elogio, ai ele se sentou, e de uma forma ou de outra com aqueles olhos verdes não tinha mulher nenhuma do beco da foice que não ficasse amarrada no bofe, mas que fiquei logo de orelha em pé, porque tem um ditado que diz doutor, que quando a esmola é grande o santo já desconfia, e foi dito e feito, porque ele foi logo dizendo: e aí gatinha descola um caranga de coco que de noite tenho um troco e te pago. Olhei assim pra ele doutor, olhei assim, olhei não vou mentir, olhei, mas antes de falar qualquer coisa o condenado me lascou um beijo, aí não resisti, e ao invés de caranguejo lhe ofereci o mangue inteiro. Nisso envolvida de paixão gritei: Sibéria bota meu brega, e Sibéria lascou ficha na radiola. Foi quando apareceu aquele espírito Zombeteiro com uma maquiagem ridícula para o meio dia, chegou ao balcão e falou: Sibéria não se bebe nessa pinóia? E pra contrariar dizia: Ah meu amor! Isso bem alto pra chamar a atenção do bofe, o movimento ontem foi fantástico, ver só quanto descolei. Foi na bolsinha arrastou logo um peixinho, cem reais e continuou: Mas cinco dessas coloquei no banco que não sou otária feito certas raparigas que tem por aqui. Foi quando Sibéria falou: Quer uma caninha? E ela: Deus me livre! Eu sou lá pobre pra tomar cana? Bota aí um litro do melhor wisk Escocês que tiver. Eu já tava passada com as provocações e ela continuou: ultimamente minha vida tem sido um mar de rosas, porque o que tem pintado de clientes não ta no gibi, primeiro porque tenho um corpo perfeito, segundo não tenho marcas de bite bite, pra melhor dizer, feridas, não tenho impinge. E a condenada sabia que no meu peito esquerdo tinha uma impinge, e ela continuava baixando o nível. E tem mais, só faço sexo de camisinha e faço exame todo mês, por isso que os bofes sabem que sou uma barreira contra qualquer doença infecto contagiosa, comigo não tem vez. E outra meu amor: Estou na flor da idade tenho apenas vinte e cinco aninhos e é por isso que os homens ficam todos atacados por mim, não sou nenhuma velha coroca como certas criaturinhas que vivem mendigando um programinha. Na última deixa da condenada o gigolô saiu feito doido, me deixou plantada na mesa e se atirou nos braços da cretina e ficou dançando com ela. Ahh doutor! Não prestou não, a coisa fedeu, da minha mesa gritei: Sibéria tira já essa porra dessa música. Afinal de contas quem tava pagando a ficha era eu, ai Sibéria fez não sei como a radiola parar de tocar, a outra em cima da bucha declarou guerra e gritou: Ainda bem Sibéria, eu já ia lhe pedir pra tirar essa música ridícula, detesto essa música. Bota aquele outra. Olhei pra cara da piranha e falei: não bota porra nenhuma! Cheguei primeiro e estou na vez, repete a minha música e quem tiver incomodada que procure outra boate. Foi quando esquentou a coisa. E o gigolô veio me pedir pra eu ter calma, calma uma porra! Ta bem doutor desculpe. Ele me agarrou e eu falei, não me agarre não seu macho da cara de rapariga, quer ficar com essa puta pode ficar, mas me deixe em paz, saia da minha vida. E ela: ele já lhe deixou imbecil. Será que você é cega? Cega é a sua mãe, a puta que lhe pariu, falei, já tava arretada mesmo. Foi aí que ela falou: ta despeitada é meu amor? Tá despeitada é? Se tiver pule pra cima solte três peidos e caia de cu trancado feito sapo. E eu: tome um chá de bússola e se oriente, pensa que tenho medo de uma piranha feito você é? E ela: por isso não meu amor. Quer decidir? Quer decidir? A gente decide agora. Ai Sibéria gritou: aqui não! Vão se atracar na rua, na minha boate não. Quando saímos da boate começou o arranca rabo, peguei no cabelo da quenga, mas vi que a desgraçada usava peruca e quando ela se viu descabelada e a galera gritando: Pessoal é a quenga, é aquela quenga careca, bate nela, dar nessa quenga sem cabelo, é a rapariga metida, lasca essa puta! Então ela ficou com a bexiga lixa no couro, deu uma dentada no meu peito que arrancou um pedaço da impinge, eu gritando de dor a aproveitadora me passou um paralelepípedo, que só não estou morta porque baixei e só pegou de raspão, e como eu tava de peito sangrando, a miserável montou em cima de mim e falou: Agora vou dar uma massagem indiana na sua preciosa, pegou um tamanco arreganhou minhas pernas e meteu o tamanco pra cima, meteu o tamanco pra cima, e eu gritava de dor e a belzebu falava: Isso é pra você aprender, eu não quero aquele macho zarolho e nem seu gigolô dos olhos verdes não, pegue os dois e enfie onde você quiser. E a bexiguenta com o espírito de Mike Tyson continuava batendo em mim e hoje estou de um jeito que não posso nem fazer xixi. E como ela tava com o satanás no coro, passou a garrafa quebrada na minha cara e ainda lascou meu olho com um murro. E agora o senhor vai ter que resolver essa situação. Tudo bem doutor. Quer dizer que eu posso ficar tranqüila? Pode mandar um camburão lá pra o beco da foice pra prender aquela agressora que há essas horas ela deve ta jogando baralho e contando vantagem pras outras quengas da laia dela. O quê? O senhor precisa de testemunha? Pra que testemunha melhor que essa pedra? Ta ai pode ficar com ela pra o senhor, é toda sua, e se o senhor quiser pode chamar Sibéria a dona da boate que ela dará seu depoimento. Ta bem Doutor. Obrigada, obrigada mesmo. Prenda aquele coisa. Fico muito orgulhosa do trabalho maravilhoso que vocês policiais estão fazendo, sempre agindo com competência. Tchauzinho doutor. (vai saindo e fala pra platéia). Agora eu posso dizer que estou vingada, pois aquela quenga vai ver somente como é ruim passar um tempo no xilindró. Pronto, tá tudo acabado. Agora o delegado é todo de vocês, podem prestar suas queixas.
FINAL
OBS. Esse texto tem registro em cartório, já foi montado e premiado. Se alguém montar, favor entrar em contato com o autor pelo fone: – 81 – 8640-0534 – 8805-0574 ou pelo e-mail: flavioactor@gmail.com.
A QUEIXA
Texto: Flávio Alves
|