Uma colega de trabalho estava para casar, moça bonita e cheia de vida, do tipo que contagia o ambiente com uma alegria natural e inata. Quanto mais se aproximava a data da cerimônia mais exultante e ansiosa ela ficava, como ficam todas as noivas de todos os lugares e de todos os tempos. Preocupava-se com o vestido, com as alianças, com a lista de convidados e os convites, com a decoração e a música, a comida e a bebida. Pensava em tudo. Resolvia os problemas atuais e antecipava soluções para problemas hipotéticos. Tudo minuciosamente preparado. Tudo previsto.
Faltavam poucos dias para o casamento quando ela recebeu um e-mail do pai. Começou a ler e, não se contendo, comentou com os colegas do que se tratava antes mesmo de terminar. Não li o texto, mas não foi difícil imaginar o que dizia. Era a carta de um pai amoroso, contente, é claro, com a felicidade da filha, mas triste e de coração partido ao se dar conta de que a menina que vira crescer agora era adulta, dona de seu nariz, e ia embora de casa para sempre.
As pessoas esqueceram o assunto e se concentraram em seus afazeres. A moça se calou para ler o e-mail até o fim. A noiva e o texto do pai da noiva na tela do computador. Era um momento de intimidade só deles. Meio sem querer e porque estava a seu lado, não pude deixar de notar que ela começara a soluçar baixinho, quase imperceptivelmente, enquanto uma lágrima solitária descia pelo seu rosto. Não, nem tudo estava previsto. Ela não tinha pensado em tudo. Esquecera-se dos sentimentos de seu pai.
Vejam só como são as coisas: uma cena das mais comoventes que se possa imaginar acontecendo bem do meu lado, no momento mais improvável e no lugar menos esperado. Claro que não deixei a moça perceber que eu testemunhara sua tristeza. Ela tampouco percebeu o quão profundamente comovido eu ficara e não viu a lágrima que derramei por aquele pai desolado e por mim mesmo, porque chegará o dia em que minha filha, hoje uma menina, há de se casar e ir embora também.
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