Ao morto raramente se poupa elogios.
Todo morto é pródigo em virtudes...Talentos.
O morto é seu próprio monumento.
Ao morto
Tudo se perdoa e se inocenta.
Se crimes cometeu,
Estes serão prescritos
E a pena cumprida em liberdade.
Se dívida tinha,
Esta será perdoada.
Os compromissos assumidos,
Automaticamente desmarcados.
O morto
É, antes de tudo, homem livre.
Isento de obrigações sociais.
De desejos, medos, comichões,
Obrigações econômicas e eleitorais.
De dores, amores e doenças crônicas.
Não verá outros carnavais,
Não temerá os próximos vendavais.
O morto
Parece saciado... Distante.
Parece absorto com o próprio umbigo.
_ Era homem de bem!
_ Bom filho!
_ Ótimo pai!
_ Marido zeloso!
_ Cidadão exemplar!
_ Empregado padrão!
À socapa,
O morto parece rir de tanto adjetivo.
E finge que pra tudo é só ouvidos.
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