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Saudosa viola
Alci Massaranduba

O mundo inteiro admira o nosso país pela sua diversidade musical, há ritmos para todos os gostos. Temos o samba, o pagode, o sertanejo, o rock, a MPB e tantos outros estilos diferentes. Apesar de toda a nossa riqueza musical algo seríssimo está acontecendo e quase ninguém está percebendo os seus efeitos. O conteúdo das nossas músicas está mudando radicalmente. As mudanças são inevitáveis e é preciso evoluir acompanhando a novas tendências- argumenta alguns. A afirmação anterior faz sentido e não deixa de ter um pingo de verdade, mas ao analisarmos o que vem acontecendo com a música nacional nos últimos anos notamos que algo não está nada bom. É comum vermos crianças cada vez mais novas cantando e dançando ao som de refrões carregados de sexualidade, utilizando roupas e calçados impróprios para essa fase. As músicas erotizadas se tornam febre entre meninos e meninas em todo o país, mesmo sem muitas vezes terem conhecimento do que estejam ouvindo ou dançando. O que antes era totalmente impensável se tornou aceitável e até bem visto pela sociedade. O sucesso comercial tem falado mais alto. Artistas populares têm aderido a letras de músicas no mínimo questionáveis. Não é difícil encontrar músicas que exploram os seguintes assuntos: relacionamentos descartáveis, palavrões, bebedeiras, exploração do sexo livre, apologia ao uso de bebidas alcoólicas e drogas ilícitas. As letras de muitas músicas atuais são realmente deploráveis.
Várias músicas distorcem a imagem da mulher ao utilizarem expressões como “cachorra”, “potranca”, “Maria-gasolina” e “piriguete”, que reforçam o estigma da mulher como objeto sexual e do corpo com valor de troca, denegrindo sua imagem. Nem mesmo o nome de Deus é mais respeitado, em nome da irreverência vale quase tudo. Veja o trecho seguinte de uma música do grupo Tchê Garotos: “Eu tô levando a vida que o véio mandô, eu tô seguindo o caminho que ele traçou e me mostrou”. O “véio” a que se refere a música é o próprio Deus.
É claro que devemos respeitar os gostos musicais de cada um. O objetivo aqui não é simplesmente proibir ninguém de ouvir as suas músicas prediletas, o que estamos tentando fazer é levá-lo a refletir sobre o assunto.
Nem é preciso dizer que a música é extremamente poderosa e onipresente, pois em qualquer lugar que formos lá estará ela, reinando soberana. A música tem a capacidade extraordinária de mexer com as nossas emoções e comportamento.
O que você entende ao ouvir o seguinte trecho de uma música: “Nessa longa estrada da vida, vou correndo e não posso parar. Na esperança de ser campeão, alcançando o primeiro lugar”. Agora com esse: “Créééééu, Crééééu, Crééééu...(inúmeras vezes o CRÉU se repete)”. E com esse: “ Você é linda, mais que demais, você é linda sim...”. E com esse: “uh só as cachorras, uh uh uh uh uh! as preparadas,uh uh uh uh uh! as popozudas, uh uh uh uh uh! o baile todo,uh uh uh uh uh!”. Mais uma: “Quando a chuva passar, quando o tempo abrir, abra a janela e veja: Eu sou o Sol... Eu sou céu e mar, Eu sou seu e fim... E essa: “passa, passa esfrega nela, Vem que Vem que vem com arrasta ela, passa passa esfrega nela vai, pega o sabãozinho...”
Apesar de tudo isso, cada vez mais, as pessoas escutam esse tipo de música e saem cantando por ai. Até mesmo as crianças têm essas letras na ponta da língua. Pense comigo, o que se espera de uma sociedade que não tem o mínimo de respeito próprio no futuro? O que irá acontecer com nossos filhos, netos e bisnetos que crescem ouvindo e indo dormir ouvindo “um tapinha não dói!”.
Sei que os apreciadores desse tipo de música irão defendê-las alegando que é só brincadeira, que não há nenhum problema, pois é só curtição, mas me preocupa o fato de uma criança perguntar a um pai boquiaberto: “O que é o Créu? O que são as popozudas? O que significa mulher cachorra?
Apesar de todo o liberalismo atual, penso que a maioria dos pais não achará tanta graça ao ver as suas filhas adolescentes usando roupas sumárias e rebolando com sensualidade diante de rapazes que “só pensam naquilo”.
Um dos cantores mais queridos do Brasil é o Leonardo. Veja a mudança que ocorreu no seu repertório ao longo da carreira. Quando ainda fazia dupla com o seu saudoso irmão Leandro, a dupla cantava um dos seus grandes sucessos: “Não aprendi dizer adeus, não sei se vou me acostumar, olhando assim nos olhos teus, sei que vai ficar nos meus, a marca desse olhar”. O sucesso musical atual do cantor Leonardo já revela no seu nome qual é o teor da canção e sua relevância para a nossa cultura. O título da música é “Zuar e beber”. Um trecho da música diz: “Hoje tem farra
Vou fazer o movimento
Lá no meu apartamento
Entrou, gostou, gamou, quer mais...
Já preparei, abasteci a geladeira
Tá lotada de cerveja
O muído vai ser bom demais...
O prédio vai balançar
Quando a galera dançar
E a cachaça subir
Fazer zum, zum...
Não tem hora pra parar
O cheiro de amor no ar
Vai todo mundo pirar
E ficar nu (todo mundo nu!)...
Eu vou zuar e beber...”

Nem é mais preciso saber cantar para atingir o sucesso, basta pronunciar um refrão repetitivo, muitas vezes sem sentido algum e está feito mais um grande sucesso nacional. Com tantos talentos desconhecidos espalhados pelo nosso país é lamentável que a maioria deles nunca terão uma chance de mostrar todo o seu potencial. Ainda bem que temos muitos artistas que ainda não trilharam por esse caminho. Enquanto muitas cantores só tem a mostrar o seu corpo desnudo é uma grata surpresa ver uma cantora talentosa como Paula Fernandes entrar no palco e soltar a sua voz maravilhosa. Os seus trajes são discretos para os padrões atuais e sua música é de muita qualidade. Nem tudo está perdido. Valorizar a música de qualidade e agir com indiferença diante daquela que é ruim, eis o nosso grande desafio.


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