A dona Amélia vivia em constante estado de medo, tudo por causa de um bife acebolado. Nunca se viu ninguém ter medo de um pedaço de carne, mas no caso dela, o bife era a cruz que tinha que carregar dia após dia.
A história parece ser estranha e na verdade é mesmo. Tudo começou quando a mulher, ainda jovem, casou-se com o Raimundo. Os pais de Amélia não aprovaram o casamento, pois detestavam o rapaz, mas mesmo contra a vontade deles, a paixão falou mais alto. A moça não conseguiu enxergar o que os seus pais logo perceberam. Era difícil acreditar que o homem dos seus sonhos- pelo menos era o que ela pensava, tinha um comportamento um tanto diferente. De todos os defeitos que um homem pode ter, Raimundo tinha um dos piores; ele não gostava nem um pouco de trabalhar. A verdade tem que ser dita, o homem era preguiçoso por natureza e nem mesmo isso impediu que o casamento fosse realizado.
Coitada da dona Amélia, trabalhava de empregada doméstica em dois empregos para dar conta de arcar com as despesas da casa. Enquanto ela estava no trabalho o folgado do seu marido ficava deitado no sofá da sala assistindo TV. O Raimundo não fazia absolutamente nada, nem ao menos lavava um copo.
O pânico tomava conta da dona Amélia sempre na hora do almoço, pois o homem era exigente, ele só almoçava se tivesse no cardápio do dia um suculento bife acebolado. Sem o seu bife especial o Raimundo ficava irritadíssimo e batia na esposa por não ter providenciado a sua iguaria predileta. Além de não dar nenhum dinheiro para comprar a carne ele ainda obrigava a mulher a pedir dinheiro emprestado até para os vizinhos. Uma verdadeira humilhação diária.
Naquele dia, dona Amélia acordou com um mau pressentimento, aquela terrível sensação de que alguma coisa ruim iria acontecer. Logo quando acordou se lembrou do fato de que o dinheiro tinha acabado esse era o sinal de que o seu dia seria de sofrimento mais uma vez. Sem perder tempo foi até a casa da sua grande amiga, Dona Carmem, para ver se conseguia algum dinheiro emprestado. A sua amiga já a tinha livrado de muitas agressões, mas infelizmente, dessa vez, nem mesmo a amiga poderia ajudá-la. O jeito era se conformar e esperar pelo pior. Seria mais um dia em que seria covardemente agredida, tanto verbalmente como fisicamente.
Ao arrumar a mesa para o almoço, dona Amélia já estava naquela terrível expectativa. Antes que o seu marido explodisse em violência ouviu-se o som de palmas no portão da casa. Ao levantar-se da mesa o marido disse a esposa: “quando eu voltar você me paga!”.
Ao sair até o portão para ver quem era o Raimundo teve uma grande surpresa, três homens desconhecidos e com cara de poucos amigos queriam falar com ele. Um dos homens tinha em suas mãos uma panela. O diálogo entre eles foi o seguinte:
-Ficamos sabendo que o senhor adora comer um bife acebolado, por isso, viemos trazer muita carne para matar de vez a sua vontade de comer. Ao terminar de dizer tais palavras, o desconhecido olhou fixamente para o seu Raimundo com uma expressão nada amigável.
- Eu aceito um pedacinho. Respondeu com certo receio.
- Você vai comer tudo o que está dentro da panela, seu covarde! Hoje, ou você come ou vai ser tratado da mesma maneira que você trata a pobre da dona Amélia, ou seja, vai apanhar!
Percebendo que os três homens não estavam brincando, o Raimundo tentou correr para dentro de casa, mas não conseguiu. Os quatro entraram na casa. Um dos homens disse a dona Amélia:
-Pode ficar tranquila que hoje você não vai apanhar, nós trouxemos muito bife acebolado para o seu marido comer.
A mulher não estava entendendo nada. Nunca tinha visto nenhuma daquelas pessoas, como é que sabiam o seu nome? Pensou consigo.
Todos se sentaram a mesa da cozinha. Os forasteiros ficaram observando atentamente enquanto o Raimundo comia aquela quantidade absurda de carne. O homem clamava para que parassem de obrigá-lo a comer, mas ninguém lhe dava ouvidos. Ao terminar de comer com muita dificuldade, o seu Raimundo estava nitidamente enjoado. Quando os homens constataram que nenhum pedaço de bife tinha sobrado, levantaram-se tranquilamente e foram embora.
Nem é preciso dizer que o Raimundo passou muito mal depois de ter comido tudo aquilo. O hospital foi o destino certo. Após dois dias internado, o Raimundo voltou para casa, estava visivelmente abatido.
A dedicada esposa levou o almoço para ele na cama. Logicamente que o bife acebolado estava em destaque no seu prato. Ao avistar o antigo objetivo do seu desejo o Raimundo correu desesperadamente para o banheiro.
Desde então, algo inusitado aconteceu, o senhor Raimundo virou vegetariano e nunca mais maltratou a sua esposa.
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