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Embora Alberto ainda tivesse uma boa popularidade entre os eleitores, seus primeiros dois anos à frente do governo do Estado de São Paulo não eram nem sombra da sua administração na Prefeitura da cidade de São Paulo. O governo de Alberto continuava austero e eficaz, era considerado bom ou regular pela maioria da população do Estado, quase não se ouvia falar em corrupção no governo paulista, quando o contrário ocorria no âmbito federal, mais especificamente na Presidência da República onde os presidentes que saiam não deixam saudade nenhuma. Alberto dependia de uma popularidade maior porque era justamente a Presidência da República em 2014 o seu maior alvo. No governo do Estado ele tinha se afastado bastante das características que o haviam tornado muito popular, quase não ia às ruas conversar com o povo, não ia mais às festas populares nas quais costumava discursar, não ia mais aos lugares frequentados pelo povo, e sabia que quando o político se afasta, o eleitorado se ressente do candidato. Faltavam apenas dois anos para o pleito que decidiria quem seria o novo presidente da República Federativa do Brasil e em uma pesquisa de opinião, Alberto aparecia apenas em terceiro lugar entre os presidenciáveis, para o PSE isso parecia bom, mas Alberto queria mais. O partido queria disputar a presidência para se projetar ainda mais na cena política brasileira, Alberto, no entanto, queria ganhá-la. Depois que Mário morreu, o PSE sentiu o impacto de ter perdido o seu principal arquiteto político, os políticos do partido estavam sem rumo, o presidente do partido, dr. Tavares, estava afastado por problemas de saúde e o comando do PSE estava nas mãos de Guedes Rabello, ex-professor e político carreirista profissional. Esse era o cenário do PSE para o pleito presidencial de 2014. Alberto poderia tentar a reeleição para o governo do Estado de São Paulo, certamente ganharia, mas não, o homem queria o topo e sentiu que aquele era o momento de se mexer, se quisesse aumentar a sua popularidade deveria bolar uma maneira de ganhar a confiança do país inteiro. Tinha que mostrar serviço. Lendo os principais jornais diários que ficavam sobre a sua mesa, deparou-se com uma notícia que chamou a sua atenção:
Os professores da rede estadual de ensino de São Paulo planejam fazer uma paralisação geral na quarta-feira da próxima semana. Provavelmente haverá greve por tempo indeterminado, os professores estão lutando por. . .
Imediatamente o governador ligou para a Secretaria da Educação, queria falar com o secretário, o dr. Mello Savigny, político da legenda do partido que aparecia com o candidato primeiro colocado nas pesquisas para a Presidência da República. Alberto havia convidado o dr. Savigny, a democracia tem dessas coisas, para participar do seu governo pela competência que sabia que o homem tinha, mas agora um plano maquiavélico passava pela cabeça do governador, precisava desmoralizar o partido adversário que estava em primeiro lugar nas pesquisas para o Palácio do Planalto, e começaria por Savigny.
– Pois não, governador?
– Como vai o meu mais competente secretário? – elogiou Alberto.
– Vou bem. E o governador mais competente que já vi, como vai? – retribuiu Savigny.
– Preocupado, Savigny. Preocupado.
– Com o que governador? – indagou o secretário da educação.
– Uma greve dos professores está prestes a eclodir na semana que vem.
– Eu já fui informado sobre isso há mais de um mês governador. Toda a secretaria está trabalhando no sentido de contornar isso, mas está difícil. Não há verbas para conceder reajuste salarial este ano.
– Eu sei secretário, eu sei. Eu estou ligando para o senhor porque na semana que vem terei compromissos de governo na Europa, não estarei por aqui. Tenho certeza de que o senhor será competente para resolver a situação, mas gostaria de deixar o meu telefone e qualquer problema que surgir, eu gostaria que o senhor me ligasse.
– Obrigado, governador! Pode falar o número que eu anoto. – o secretário anotou os telefones e estava feliz pelo amparo e a preocupação do governador com os problemas da secretaria da educação.
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Paris. Quarta-feira da semana seguinte. Alberto aproveita ao máximo a estada na Europa, em Paris o governador está na companhia de... Mônica. A amante havia chegado naquele dia a Paris, viera por solicitação de Alberto. Passaram várias horas passeando e fazendo compras pela famosa “Cidade Luz”, agora estavam deitados na cama de um hotel de luxo no qual Alberto se hospedara. Ana já era carta fora do baralho para o governador. Antes da viagem à Europa, eles tiveram uma discussão feia. Alberto tinha ido ao apartamento de Ana atrás de sexo e foi posto contra a parede por ela:
– Alberto, eu estou cuidando do Betinho, seu filho. Eu o adoro e amo você. Acho que nós deveríamos nos casar. Tenho certeza de que a Mirtes ficaria feliz com a nossa união e Betinho também ficará.
– Você enlouqueceu, Ana? Quem falou pra você que eu pretendo me casar?
– Alberto, e o nosso amor?
– Que amor? Eu estou achando você pretensiosa demais, hein!
– Então, assim eu não quero mais, Alberto.
– Você que sabe, meu bem. Iguais a você eu já tracei mais de cem. Só espero que você não vá pra cama com o Betinho daqui a alguns anos, certo?
Ana perdeu a paciência com o cinismo e a hipocrisia de Alberto, desferindo um violento tapa no rosto dele:
– Suma daqui, seu maldito! Suma daqui, seu cretino! O que você pensa que eu sou, hein? Você pensa que eu sou sua mãe, seu desgraçado! Saia já! Saia!
E Alberto foi embora como se nada tivesse acontecido, “Puxa vida! Eu nunca vi a Ana tão irritada. Não sei por que ela se irritou tanto. Será que ela não se enxerga, não passa de uma piranha qualquer e coroa por sinal”.
Passados alguns dias da briga que tivera com Ana, Alberto se deleitava no corpo de Mônica, “Está cheio de mulher atrás de mim e a Ana querendo que eu me case com ela, ficou doida”. Em Paris todo o romantismo da cidade se propaga no ar, mas Alberto quer o sabor do sexo de Mônica de todas as formas. A linda mulher, durante o intervalo das insaciáveis transas com Alberto, recosta a cabeça sobre o peito dele:
– Engraçado.
– O quê? – ele pergunta.
– O seu coração. Eu quase não consigo ouvir as batidas dele. Acho que ele bate tão tranquilo de amor que a gente quase não escuta.
– É? Deixa eu ouvir o seu agora! Uhnnnnn! Uhnnnnn! Uhnnnnn! – esfregava o rosto nos seios fartos de Mônica.
– Ai, Alberto. Assim você me mata de tesão!
Antes de mais uma transa, o telefone de Alberto toca. Ele se levanta nu para atendê-lo:
– Que dia é hoje, Mônica?
– Aujourd’hui c’est mercredi, monsieur! – respondeu Mônica gastando todo o seu francês.
– Oui, mademoiselle! Merci beacoup! – retribuiu Alberto –. Então é quarta-feira. Acho até que sei quem é. Alô?
– Governador?
– Sim, pois não?
– É o Savigny, secretário da educação.
– Oi, Savigny. O que você manda? – questiona Alberto como se não soubesse sobre o que o secretário da educação queria tratar.
– Governador, o senhor se lembra daquela manifestação dos professores?
– Sim, Savigny. Eu me lembro.
– Ela está acontecendo agora aqui em São Paulo. Os professores estão em passeata percorrendo várias ruas do centro da cidade, estão se encaminhando para a Avenida Paulista, disseram que vão fechar a avenida. Depois continuarão caminhando até a na praça da República e acamparão aqui na frente da Secretaria da Educação. O que o senhor me diz, governador? O que devo fazer?
– Eu acho que você deve ligar imediatamente pro secretário da segurança e impedir o fechamento da Paulista.
– Mas como, governador?
– Savigny, Savigny. É fácil. Fale pro secretário chamar a PM, a tropa de choque, o exército, o esquadrão da morte, a SWAT, e mais o que puder, meta a borracha nessa gente! Mantenha todos sob controle na marra!
– Governador, não se trata de uma medida muito radical? E o Estado de Direito e as garantias constitucionais?
– Ah, Savigny, para com isso! Isso é tudo bobagem, meu nêgo! Você acha que algo é mais radical do que um grupo de vagabundos e malandros fechar a principal avenida da Capital de São Paulo impedindo que qualquer carro por ela transite, inclusive ambulâncias, veículos do resgate do Corpo de Bombeiros e tantos outros essenciais para São Paulo? Desça o caibro nessa gente se for preciso, ora bolas!
– O senhor assume a responsabilidade? – indagou o secretário da educação.
– Você está com medo, Savigny? Você é o secretário da educação e o problema é relativo a professores da rede estadual, não é? Vai querer abandonar o barco agora? Vai ficar feio pra você! – Alberto estrategicamente deixou o secretário numa saia justa.
– Desculpe, governador. Não foi isso que eu quis dizer. Vou ver o que faço. Obrigado pela atenção e desculpe o incômodo.
– Tudo bem, Savigny. Vamor arregaçar as mangas. Eu também não estou tendo folga por aqui.
Alberto desligou o telefone satisfeito com o resultado de mais um de seus planos, “O idiota do Savigny está caindo direitinho na cilada que eu armei”. Deitou-se de novo na cama onde Mônica já o esperava sedenta por mais sexo:
– Quem era, mon amour?
– Um secretariozinho idiota com assuntos mais idiotas ainda! Agora eu quero você de novo, minha gostosona!
– Eu também quero mais, gostosão!
E os dois amantes se entregaram mais uma vez ao sexo total.
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Passaram-se duas horas e Alberto que continuava fazendo sexo com Mônica, o homem era insaciável mesmo, recebeu outro telefonema de Savigny:
– Governador, a investida contra os professores foi um desastre. Um professor foi morto pisoteado por um dos cavalos da tropa de choque e oito ficaram feridos, estão em hospitais da região central, inclusive dois estão internados em estado grave.
– Savigny, o que vocês fizeram? – indagou Alberto de forma intimidativa.
– Fizemos o que o senhor mandou, governador! – confrontou Savigny, sem saber que aquela era a brecha que Alberto queria.
– Seu incompetente, você está destituído do cargo a partir de agora! – sentenciou Alberto –. Estou voltando pra São Paulo agora mesmo!
– Filho da p...
Savigny não teve tempo de desabafar, Alberto desligou o telefone na cara dele. O governador, chegando a São Paulo, providenciou uma reunião imediata com os dirigentes sindicais dos professores e concedeu o reajuste salarial que a categoria pleiteava, fez questão de informar a todos de que ele não tivera participação alguma no confronto violento que resultou na morte de um colega de profissão, mas que, mesmo assim, desculpava-se pela insensatez do secretário da educação Savigny, já destituído do cargo. A imprensa, no dia seguinte, divulgou o encontro do governador com a categoria dos professores, tornando Alberto novamente um herói nacional:
Governador chega a São Paulo, afasta o secretário Savigny, concede aumento para os professores e põe ordem na casa.
Governador lamenta a morte de professor e chora no enterro.
“O secretário Savigny é o culpado pela morte do professor”, afirma o governador no enterro do educador.
O plano de Alberto fora perfeito. Ele conseguiu tirar proveito da tragédia e população o absolveu de qualquer responsabilidade, aplaudindo a atitude do governador de afastar e punir o secretário da educação. Alberto não precisou de muito esforço para consolidar a sua candidatura à Presidência da República, aproximou-se um pouco mais do povo e colheu os frutos da popularidade. O candidato do partido de Savigny despencou nas pesquisas de intenção de votos, indo para as últimas posições. O caminho estava aberto para que o governador chegasse à Presidência. Alberto se afastou do cargo de governador do Estado de São Paulo no final do mandato, foi para o 2º turno das eleições com o candidato do presidente, saiu do pleito vitorioso com a maioria incontestável de votos, 61% contra 39% do adversário. Alberto se tornou presidente da República pelo PSE, mas ignorou a cartilha do partido, decidiu que governaria o país como bem entendesse. “Nas minhas mãos, o Brasil vai ou racha!”, afirmou ao presidente do PSE. Restava ao povo brasileiro, que o via como o ‘Salvador da Pátria’, esperar para conferir.
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