O olhar fixo de Estênio percorria toda a superfície e a moldura do quadro.
Presente do Tio Olavo, a pintura traduzia o estado d'alma de um homem que investigava o âmago do sofrer e de ser humano ao mesmo tempo, o que, para ele, não passava de um simples pleonasmo vicioso.
A precisão dos traços, a disposição dos objetos no espaço e a luz evidenciavam o conhecimento da técnica. No entanto, os tons acinzentados e escuros entristeciam os olhos de quem doasse alguns momentos para a apreciação da figura, que jazia na parede do escritório. A água da cachoeira - tão bem reproduzida - não conseguia reanimar as folhas secas, protetoras das árvores perdidas na teia em que foram sacrificadas.
O sobrinho, depois de algumas horas de reflexão, apontou o ventilador para o quadro e viu as folhas - moribundas - voando e se afogando no lago nublado, logo abaixo da queda d'água. Mais tarde, quando todas estivessem sem seiva alguma, regaria o quadro, esperando que o verde e os frutos vindouros crescessem e colorissem mais o ambiente.
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