Não tinha para onde ir. Não tinha o que fazer. Nem sabia onde estava.
Os sentimentos eram uma profusão de dúvidas, um emaranhado inexplicável de sensações.
Estava assim o dia todo. Nem entendia o motivo. Acordou sobressaltado, com o coração acelerado. Um sonho. Um sonho agitado e cheio de confusões era o motivo dessa perturbação. Durante o sonho, as cores se misturavam, as imagens eram desfocadas.
Um corredor escuro... Pessoas falando... Vozes se confundindo em sua cabeça... Não conseguia entender o que diziam, nem o que queriam. Nem sabia o que estava fazendo ali. Não sabia quem eram aquelas pessoas. Quanta confusão!
Acordou sobressaltado, com essas imagens em sua mente. E o sentimento de angústia o perseguiu desde então. Tentou tomar um banho frio para ver se sua mente clareava. Tinha de ir trabalhar. O banho não resolveu. Nem o café amargo. A mesma sensação angustiante e sufocante o perseguia. Foi para o trabalho assim mesmo. Não podia se dar ao luxo de faltar. Decisões precisavam ser tomadas e ele precisava estar presente. Mas não adiantava. Não conseguia se concentrar. Nem ouvia o que lhe diziam. Aquelas vozes de seu sonho ainda estavam em sua cabeça. Sufocantes. Angustiantes. Aquele corredor escuro. Aquele quarto apertado.
O que esse sonho queria dizer? Ele precisava entender. Ele sabia que tinha motivos para estar nervoso. Problemas no escritório. Contas a pagar. Há mais de 20 anos que ele se dedicava ao trabalho. Sua vida era essa. Escritório. Casa. Escritório. Reuniões importantes. A família havia deixado de lado fazia tempo. Tanto que sua esposa o havia deixado há 3 anos e meio. Os filhos foram com ela.
Ninguém entendia que tudo que ele fazia era para o bem da família. Para dar conforto. Só ele entendia isso. Só ele sabia que fazia o melhor para todos. Um dia iriam entender. Mas agora, aquelas vozes o assombravam.
Às 4 da tarde não aguentou. Resolveu ir para casa. Pensava em tomar um analgésico. Sua cabeça começava a doer. Queria relaxar. Deitar e tentar esquecer essa angústia que lhe inundava o peito.
Foi para casa. Depois de um banho demorado tentou comer algo, mas o estômago estava embrulhado. Resolveu ligar para seus filhos. Fazia semanas que não falava com eles. Conversou com eles por uns 20 minutos. Parece que a conversa lhe fez bem. Seus filhos tinham o dom de fazê-lo se sentir melhor. Era difícil ficar longe deles. Sentia muitas saudades. Mas após a conversa sentiu o coração menos pesado. A mente mais tranqüila. Resolveu se deitar. Tomou um copo de leite morno, afinal, não havia conseguido comer nada no jantar. Apagou as luzes da casa. O rádio estava ligado em uma música calma, baixa. Ficou pensando na vida, pensando no trabalho. Tantas coisas para resolver no dia seguinte. Precisava mesmo de uma boa noite de sono. Um contrato importante esperava para ser fechado logo pela manhã.
Demorou um pouco, mas enfim, conseguiu dormir. Sem sonhos malucos dessa vez. Sem vozes misturadas ou corredores escuros. Um sono tranqüilo e reconfortante. Viu-se em um jardim... Muitas flores e pássaros. Uma sensação de paz e calma o invadiu, como se ali fosse o seu lugar. Era isso que lhe faltava: paz!
Pela manhã, apenas um corpo inerte foi encontrado na cama pela faxineira. Um sorriso nos lábios demonstrava que morreu tranqüilo. Quem sabe com um lindo sonho!
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