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13 dias
uma relação com o perigo
Augusto Cesar Pereira

Resumo:
uma história de sequestro, felizmente tou aqui contando a estória, eu que fiquei presa, escondida do mundo.

13 dias

A vida tem momentos para gente esquecer e lembrar.

     Talvez exista inferno e Dante com suas cantigas possa assim definir cada parte existente por lá. O que eu vivi não se enquadra em nenhuma definição dada pelo autor da Divina comédia. Evidente que para mim foi bem pior que qualquer cena dantesca. Enfim foram 13 dias trancada num quarto sórdido. Um colcha sujo, lâmpada ligada o tempo inteiro, banheiro só acompanhada. Sobrevivi por um milagre. Nestes dias sem noticias, desligada do mundo, nada a saber, nem a perguntar. Mantive-me calada muito tempo, quieta, nem fui ofendida, nem molestada. O silencio foi pior que um tiro no ouvido, a incerteza do que poderia acontecer muitas vezes fez com que minha cabeça doesse. Passava sem tomar nada, sem analgésico. Tive tempo pra tudo, pensava muito, ao mesmo tempo para nada. Meu coração acelerava. Eu dormia de cansada.
     Relembro o dia em que vim parar neste lugar fétido e desorganizado. Estava num restaurante a beira mar. Sozinha esperava uns amigos para tomar um chope. Como sempre chegava cedo. Pedia água e aguardava. Um rapaz me paquerava. Tudo bem. Sempre tem alguém interessante, mesmo eu tendo meus 4.5 anos de vida. O tempo passava e o rapaz continuava a sorrir. Virei o rosto e olhei a TV. Ele aproximou. Perguntou as horas, sorridente agradeceu e saiu. Minutos depois me senti um cansaço, uma dormência. Não sabia o que tava acontecendo, lembro-me do rapaz ao meu lado, pegando minhas mãos. Acordei horas depois num colchão, num chão frio, de um quarto escuro. Sonolenta continuei deitada. Meu corpo dolorido, pesado, mal mexia os olhos. Como vim parar ali, na sabia. Alguém abriu a porta do quarto, de máscara, deixou uma “quentinha”, eu não nunca precisei comer em tal recipiente. Deixei ao lado, não tinha fome. Aliás, não sei o que se assava comigo. Nem sei se era meu primeiro dia ali naquele lugar. Tinha dormido muito tempo, não sei.
     A noite entrou um rapaz sem máscara, rude e desconfiado, conversou comigo. Como todo bandido foi logo me ameaçando de morte. Minha família teria que pagar um resgate. Que ele precisava melhorar sua vida, por isso tinha escolhido a pessoa certa. Por menos de 500 mil eu não sobreviria. Naturalmente fiquei assustado. Agora sabia mais que nunca o porque de está ali. Ele falou grosseiramente que a comida era aquela mesma, não podia ser diferente, embora reconhecesse que eu era “gente granfina”, disse ele. Calada e deitada fiquei. No outro dia chegou outra “quentinha” junto veio um refrigerante. Abri a vasilha, tudo misturado arroz, feijão, carne e verdura. A fome era pouca, belisquei um pouco e tomei o refrigerante. Quando estamos trancados perdemos a noção do tempo. Sei que ele voltou e pediu um número para eu ligar,e assim pudesse adiantar o lado dele. Queria agir diferente dos demais seqüestradores, eu ligaria e falaria tudo que ele mandasse. Com um revolver na cabeça eu não seria boba de titubear. O medo ao meu lado como companheiro. Dei o número do meu filho. A primeira ligação como ele pediu foi para tranqüilizar todos. Queria que eu dissesse que estava bem, precisava de 500 mil e logo estaria em casa. Desliguei e fiquei imaginando o desespero do meu filho.
     Meus dias seguiram uma rotina. Alguém sempre deixava uma refeição e aquele refrigerante pobre que eu não conhecia. Depois ele aparecia e ligávamos para meu filho. Se eu precisava ir ao banheiro ele me acompanhava. Quando precisava de banho era para ser rápido e ele ficava vigiando, embora não pudesse sair por lugar algum do banheiro. Nem todo dia tinha banho. As roupas que passei a usar eram dele. Ficava sem graça, fazer o quê. Dormia e acordava e cumpria aquele ritual. Acostumada a ele chegar e me olhar com olhar diferente. Aos poucos ele foi mudando, falava dele, da minha beleza, na medida em que os dias passavam, ele conversava mais comigo. Como sempre ligava, o dinheiro estava sendo preparado por minha família falava meu filho. Mais alguns dias e estava resolvido.
     Ele não usava mais o revolver na minha cabeça, mas metia medo, para uma mulher como eu, nada podia ser feito, eu não era louca, tava ficando, afinal nem sabia mais das horas, do que acontecia lá fora, nem que lugar era aquele. Num dia ele lamentou da vida, queria muito ser feliz com alguém bonita como eu. Envaideci-me, mulher é sempre romântica. Comecei a entrar no jogo falando que tudo era possível. Ele me abraçou. Pediu que ligasse para meu filho. Falasse que o amava e logo estaria em casa. Fiquei calada. Depois perguntei a ele quantos dias estava ali. Respondeu mais de dez, estava sem agüentar esperar que resolvessem o problema do dinheiro. O tempo passa e se não morri até aquele momento, talvez não morresse mais. Falei com ele que resolveria rapidamente o dinheiro do resgate se eu estivesse solta.Ele ficou calado e saiu. Deitei, não sabia o que pensar. No outro dia acordei e nada de refeição. Logo ele chegou , sentou ao meu lado, me abraçou e falou para mim: você vai resolver este problema hoje, me deu o número de uma conta, pediu que depositassem o dinheiro do resgate, até o final do dia. . Olhou nos meus olhos e depois falou que se eu não cumprisse o que ele queria mataria todos, ele sabia onde morávamos. Com temor prometi que faria sim tudo que ele queria. Ele abriu a porta, antes me abraçou, falou que me amava,relembrou não fosse burra, cumprisse tudo. Sai e me senti fraca diante da luz natural. Não reconhecia aquele lugar. Passou um táxi e eu pedi parada. Quis que me levasse a um hospital. Estava tão fraca que adormeci no banco traseiro. Ao chegar ao hospital pedi ao motorista que aguardasse, entrei e cai no choro, não conseguia atentar para a situação. Uma pessoa que mais tarde soube que era enfermeira me socorreu. Levou-me a uma sala, logo estava deitada. O médico veio e lhe pedi um telefone. Liguei para meu filho e falei onde estava. Logo chegaram ele e alguns policiais. Pedi que procurassem um taxista lá fora. Sei que dormi com meu filho ao lado. Soube que o bandido foi preso, nunca soube seu nome, reconheci por uma foto que me mostraram mais tarde. Aí perguntei ao meu filho quantos dias fiquei distante dele. Me respondeu tristemente, 13 dias.




Biografia:
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