ESCREVER É REMÉDIO
"E se, desse ato de se voltar para dentro de si, desse aprofundamento em seu próprio mundo, resultarem versos, o senhor não pensará em perguntar a alguém se são bons versos. [...] Uma obra de arte é boa quando surge de uma necessidade. É no modo como ela se origina que se encontra seu valor, não há nenhum outro critério".
Rainer Maria Rilke in "Cartas a um jovem poeta".
Um artigo de Jessica Wapner, publicado pela Scientific American (VI – 74), mencionou a pesquisa da neurocientista Alice Flaherty, do Massachussetts General Hospital e da Harvard University, confirmando os benefícios terapêuticos de escrever sobre experiências pessoais, pensamentos e sentimentos, já aquinhoados por outros cientistas.
De fato, “além de servir como um mecanismo para aliviar o estresse, expressar-se pela escrita traz muitos benefícios fisiológicos”. As pesquisas apontam que escrever, além de “aprimorar a memória” e qualificar o sono, “estimula a atividade dos leucócitos” (inclusive reduzindo a carga viral em pacientes com aids, por exemplo), e até mesmo “acelera a cicatrização após uma cirurgia”.
Já um estudo publicado pela “Oncologist” afirma que “pacientes com câncer que escreviam para relatar seus sentimentos logo depois do tratamento se sentiam muito melhor, mental e fisicamente, em comparação a pacientes que não se deram e esse trabalho”. A neurocientista Nacy Morgan, principal autora desse estudo trabalha nas recomendações de incorporação de programas de redação na medicina preventiva para pacientes de câncer. Alguns hospitais começaram a hospedar blogs de pacientes-autores em seus websites à medida que os clínicos passaram a reconhecer seu valor terapêutico.
Alice Flaherty estuda tanto casos como a hipergrafia (desejo incontrolável de escrever) quanto o bloqueio criativo (inibição na escrita), bem como as motivações por trás das publicações na web. Flaherty explica que “localizado principalmente no centro do cérebro, o sistema límbico controla nossas motivações, sejam elas relacionadas à comida, ao sexo, ao desejo ou à resolução de problemas” e “que algo no sistema límbico fomenta o desejo de se comunicar”, concluindo que publicar na web “pode desencadear a liberação de dopamina, algo parecido com os estímulos que sentimos quando escutamos música, corremos ou apreciamos uma obra de arte.”
Tudo isso é muito positivo para incentivar ainda mais as pessoas a escrever. Escrever é uma forma de arte. A arte-educadora Ana Mae Barbosa, professora da USP, já afirmou que “a arte desenvolve a cognição, a capacidade de aprender” e que “a arte não tem certo ou errado. O importante na arte é poder ousar sem medo, explorar, experimentar e revelar novas capacidades”. Agora também sabemos que, além de desenvolvimento cultural, escrever e publicar é também remédio. Escrevamos, então!
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