Era uma vez um pequeno cabrito no qual começavam a nascer os chifrinhos e, por isso, já se achava grande o suficiente para cuidar de si mesmo. Então, em um entardecer, o bando de cabras, bodes e cabritos que estava pastando começou a se deslocar para casa, porém o pequeno cabrito não prestou atenção e não ouviu os balidos de sua mãe a chamá-lo, continuando ele a mordiscar a grama. Passado um tempo, quando ele levantou a cabeça percebeu que todo o rebanho já tinha ido embora. Ele estava sozinho e o sol já estava se pondo com grandes sombras vindo sorrateiramente cobrir a terra. Um vento frio veio de repente e soprou sobre a folhagem criando um som assustador. O pequeno cabrito estremeceu ao pensar que o lobo terrível poderia aparecer. Então começou a correr descontrolado sobre o campo berrando pela mãe. Porém, ao aproximar-se de um aglomerado de árvores avistou com medo: lá estava o lobo! Sabendo que tinha poucas esperanças para ele, o cabritinho falou trêmulo: "Por gentileza, senhor Lobo, eu sei que você vai me comer, mas poderia conceder-me o favor de tocar e cantar uma música, porque eu gostaria de dançar para ser um pouco feliz enquanto eu posso?" O lobo gostou da idéia de um pouco de música antes de comer e então começou a tocar uma melodia alegre enquanto o miúdo cabrito saltava e brincava alegremente. Nesse meio tempo, o bando dele já estava se movendo em torno de sua casa, mas os cães pastores apuraram seus ouvidos e reconheceram a música que o lobo sempre tocava ou cantava antes de uma festa. Num instante os cães latindo corriam pelo campo no encalço do lobo. Nesse alarde, a música do lobo terminou repentinamente e, enquanto corria desesperado com os cães em seu encalço, o lobo chamou a si mesmo de tolo por tocar sua flauta quando deveria ter tocado seus dentes no cabritinho.
----
Adaptação por Joseph Shafan
de “The Wolf and the Kid”
in The Æsop for Children by Æsop With pictures by Milo Winter,Chicago: McNally & Co., 1919.
(Public Domain from The Project Gutenberg)
--
Convido o leitor a baixar o e-book publicado “As Fábulas de Esopo”, disponível para baixar grátis:
http://recantodasletras.com.br/e-livros/1312354
e
http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_action=&co_obra=121614
São 50 fábulas selecionadas e adaptadas da edição em língua portuguesa do século XIX "Fabulas de Esopo - com applicações moraes a cada fabula" - 1848 - Paris, Typographia de Pillet Fils Ainé [domínio público em http://pt.wikisource.org], vertidas diretamente do grego por Manuel Mendes, da Vidigueira. A adaptação foi composta após quase que uma tradução do português daquele século para o português brasileiro de hoje.
---
|