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O CAÇADOR DE ONÇAS
João Carlos de Oliveira

Sentados a beira de uma fogueira, ouviámos de um velho vaqueiro contador de causos, que lá pelas cercanias das Minas Gerais, nos rincões do Norte de Minas, numa região de muitas serras, matas densas, árvores de alto porte, encravado às margens de pequeno córrego, existia um velho povoado fundado à época das bandeiras. O velho povoado, com suas casas construídas com enchimento e adobe, sempre fora habitado por famílias de empreiteiros de fazendas da região. Numa dessas casas, residia uma pequena família, composto pelo casal e seus quatro filhos, que muito embora, sendo uma família resumida, viviam em sérias dificuldades de sobrevivência. A esposa, que não aparentava mais do que 35 anos de idade, era mulher dinâmica, esperta, trabalhadeira, porém, temperamental. Vivia de pequenos trabalhos nas fazendas das proximidades do povoado. Em contrapartida, o seu Marido, homem ainda jovem e saudável, que ainda não tinha completado 40 anos, não gostava de trabalhar, ocupava o seu tempo, com a caça de pequenos animais silvestres nas fazendas das proximidades. A situação era por se só conflituosa, haviam discussões e brigas freqüentes, e o mais grave de tudo, caminhava à passos largos, para as agressões pessoais e perda do respeito mútuo, com sérias conseqüências para os filhos menores. Com o passar do tempo, era de se esperar que as coisas fossem melhorando e caindo nos seus devidos lugares, que o marido, assumisse as atitudes e responsabilidades próprias de um pai de família, pois não havia falta de trabalho nas fazendas da região, muito pelo contrário, faltava mão de obra braçal. Ocorria entretanto, que a situação não mudava, a situação conflituosa do casal havia piorado muito, as agressões até então verbais, agora, chegavam às vias de fato, partindo para agressões físicas. O homem da casa, apesar de preguiçoso, não era agressivo, e gostava muito dos filhos, entretanto, era dotado de uma passividade tão grande, que deixava a sua esposa em desespero. Para ele, tanto fazia, que as águas do córrego, corressem rio abaixo ou rio acima. O tempo passava, o marido que não gostava mesmo de trabalhar, continuava na maioria das vezes, ocupando todo o seu tempo com pequenas caçadas de aves e pequenos animais, despertando a contrariedade dos fazendeiros, que viam na atitude dele, a invasão das matas das suas fazendas. Dos parcos bens que o casal possuíam, além da casinha de morada, o marido possuia uma velha espingarda polveira, que quando não estava a serviço da caçada, estava sempre dependurada com o cano para baixo no cabide do quarto da sala. Além da velha espingarda, o marido não apartava de um velho chapéu, destes chapeuzinhos fabricado em massa ou feltro, sendo que por volta da sua copa, circulava uma fita de cetim de cor cinza, com uns dois centímetros de largura.
Passados mais alguns meses, o marido que sempre apanhava da esposa, teve a brilhante idéia : haveria de marcar de alguma forma, na fita do chapéu, todas as surras que havia percebido da esposa. Dito e feito, iniciativa cumprida, gente de mente desocupada, acaba mesmo por inventar o que não presta. Foi assim, que numa manhã de sábado, após novo entrevero com a esposa, resolveu contar quantas surras já havia recebido, e para a sua surpresa, descobriu, que a soma total, já havia chegado aos quarenta. Esta contagem das surras percebidas, psicologicamente, funcionou para ele como um despertador de consciência, e decidiu ali mesmo, que a partir de então, não mais estaria disposto a apanhar da esposa. Parou, pensou,   mil coisas passaram pela cabeça, entretanto, decidiu que aquela surra que acabava de tomar, haveria de ser a ultima. Introspectivamente, analisou atitudes, resolveu, que a melhor alternativa que poderia tomar diante das circunstâncias, seria a de partir para longe, o mais longe que pudesse, onde ninguém o reconhecesse, pois acreditava, que assim, teria maiores chances de recomeçar a sua vida. Neste mesmo dia, chamou a esposa comunicando-lhe da sua decisão. Disse a ela, que na verdade, ela sempre fizera o papel de provedor da casa, e que a presença dele na casa, não era de todo significativa, que os freqüentes conflitos entre eles, já eram por si só, extremamente danosos para seus filhos. Por toda esta razão, decidira, que haveria de partir no outro dia bem cedo, que saia de casa sem destino certo, que ele queria andar, ir para lugares muito longe, que nem mesmo sabia onde ficava. Que não procurassem por ele, pois somente haveria de retornar um dia, quando arranjasse um bom dinheiro. A esposa do alto do seu temperamento intempestivo e muito orgulhosa, respondeu lhe, afirmativamente. Concordou, que ele deveria mesmo partir, sumir da vida dela e dos filhos, dar um jeito na vida, pois afinal, tinha quatro filhos para criar e que diante desta decisão dele, ela só lamentava o apego dos filhos para com ele, más que com o passar dos dias e tempos, mesmo eles, haveriam de esquecer aos poucos dele. Com relação a manutenção da casa e dos filhos, não haveria ele que se preocupar, pois sempre o fizera sozinha. Havia um mal estar no ár. Na madrugada do dia seguinte, antes do alvorecer, sem se despedir da esposa, apanhou seus poucos pertences e passou pelo quarto dos filhos, e lá da porta mesmo, silenciosamente, despediu deles. No quarto da sala, apanhou a sua velha espingarda polveira, e sem que o vissem, fechou atrás de si a porta da sala de fora, e partiu. Andou à pé por muitos dias, não tinha direção nem rumo certo, percorreu por caminhos desconhecidos, vagou por estradas ermas, fez pequenos trabalhos por comida por onde passava, até que em determinado dia, chegou numa grande fazenda de criação de gado, destas grandes fazendas, com mais de vinte mil hectares de terras, comuns no Norte de Minas Gerais, onde a exploração do gado era feito extensivamente. Meio sem jeito, resolveu que deveria se aproximar daquela fazenda, gostaria de pedir trabalho, sabia entretanto, das suas limitações como trabalhador braçal, más precisava tentar, decidiu que aquela fazenda, seria a sua grande oportunidade. Uma vez tomado de iniciativa, aproximou-se da casa sede, procurou pelo gerente, sendo informado por uma atendente, que apontando com seu dedo, indicou que o senhor gerente se encontrava lá no escritório, e que ele pudesse dar um pulo até lá. Coração meio acelerado - pois nunca havia visto uma fazenda daquele porte - mais parecia uma cidade -, ele se encaminhou até o escritório, onde de fato, o gerente se encontrava. Ao chegar no escritório, como era de costume, retirou o velho chapéu da cabeça e cumprimentou a todos os presentes. Logo foi sendo solicitado pelo gerente, que dissesse o que desejava. Com o tom de voz meio entrecortado, respondeu prontamente ao Sr. Gerente, que procurava por trabalho. O gerente, um senhor de mediana estatura e que aparentava uns 65 anos, era um homem relativamente educado e costumava bem atender as pessoas quando procurado. Em ato seguinte a resposta do preposto trabalhador que ora se apresentava, indagou: Moço! O que é que o senhor sabe fazer mesmo? Tu és vaqueiro, peão amansador de burros, machadeiro, ou foiceiro? Antes mesmo que ele pudesse responder quanto às solicitações do gerente, a entrevista que estava sendo feita de pé mesmo, foi de vez interrompida pelo grito de um vaqueiro da fazenda, que meio apavorado, chegava em disparada montado a seu cavalo, logo dizendo: Senhor gerente ! a onça atacou de novo! Desta vez, foi uma novilha aparentando um ano e meio de idade. Continuando a sua explanação, sem dar chance ao gerente de contra se posicionar, disse ainda: No retiro do guaratã, foram os bodes! No retiro do pingo d’água, foram os bezerros! No retiro do poço da pedra, foi o pobre do jumento! O senhor imagine! se esta danada desta onça, descobre o retiro do triumfo? lá está toda a vacada parida de novo! O pretenso candidato a uma vaga de emprego, que era muito preguiçoso, más não era bobo não, ouvia a tudo calado, más já maquinava com a sua capeça, e aproveitando-se, de um momento de perplexidade do gerente, interveio com rapidez, dizendo para os presentes, que aquele era um momento de feliz coincidência, pois a verdadeira profissão dele, era o de caçador de onças, e num gesto próprio e muito rápido, retirou o velho chapéu da cabeça, apontou o seu dedo para a fita que circulava a copa do seu velho chapéu, dizendo e mostrando a todos, que cada risco daqueles que podiam ver, nada mais eram senão, do que uma onça que havia matado e que na soma de tudo, ele já contabilizado o abate de 40 onças. O velho gerente que até então se mantivera calado ouvindo a tudo, interveio na conversa, virando se para o agora pretenso caçador de onças, dizendo-lhe, que era mesmo Deus quem o havia enviado até aquela fazenda, pois estavam cansados de tanto tomar prejuízos, provocados por uma onça, ou pelas onças, pois não sabiam ao certo, quantas onças estavam atacando e matando o rebanho da fazenda. Como já estava mesmo no horário de almoço, o gerente acabou por convidá-lo também, dizendo a ele, que enquanto o almoço era servido, eles aproveitariam do momento, para uma discussão mais aprofundadas das estratégias a serem tomadas, más que de qualquer forma, gostaria de lhe adiantar, que ele tinha um bom prêmio em dinheiro, se caso conseguisse matar a onça. Já sentados na sala de fora da casa sede aguardavam que o almoço fosse servido, foi quando uma das cozinheiras veio até a sala avisar, que a comida estava servida e posta na mesa. Agora acomodados ao derredor da mesa da sala de dentro, durante o transcorrer do almoço, o gerente percebeu que o agora pretenso caçador de onças, apenas beliscava a comida, e lhe fez a seguinte indagação: Moço! o senhor não está apreciando a nossa comida? Percebi que o senhor quase não comeu! O já agora, pretenso caçador de onças, respondeu ao gerente, que tinha comido o suficiente, que ele comia pouco mesmo, e que ele era assim mesmo, todas às vezes que ouvia falar de onças, era tomado por uma grande emoção, e que tão somente sossegava, quando conseguia matar o felino. O gerente não percebeu, más o pretenso caçador de onças suava frio, suas mãos suadas escorregavam uma sobre a outra, o coração acelerado parecia-lhe, querer saltar do peito. Tudo isso não era pra menos, afinal, ele tinha consciência que mentia. Até então, nunca havia mesmo visto uma onça de verdade. Quando o almoço chegava ao seu final, o gerente retirando uma penca de chaves da sua cintura, chamou por um serviçal que estava por perto, solicitando-lhe, que acompanhasse aquele moço até o quarto de suprimento e armas e que lhe permitisse escolher o que quisesse. Colocando se de pé rapidamente, o pretenso caçador de onças interveio, dizendo ao gerente, que agradecia a sua preocupação, más que na verdade, já possuía espingarda própria, e que gostaria apenas, que lhe fossem arranjados uns dois pares de correias de couro, e se possível, uns dois cachorros acostumados a caçadas. O gerente franziu a testa, quis contestar, más argumentou, que se a espingarda que possuía, fosse aquela velha espingarda polveira que carregava sobre os ombros, a onça iria fazer dele um belo sanduíche no primeiro tapa que lhe desferisse. Como ele insistia que gostaria de receber apenas os pares de coréias de couro, o gerente solicitou ao serviçal, que o pedido dele fosse atendido, entretanto argumentou, que mesmo assim ao seu contragosto, iria enviar junto com ele, mais três vaqueiros bem armados, aos quais, os cachorros estavam acostumados ao comando. A fazenda que se localizava ao sul do baixadão do rio São Francisco, originariamente, possuía cerca de 35.000 há de terras, entretanto, a área atual remanescente, ainda possuía cerca de 18.100 há de terras e divisava com quatro municípios. Além das áreas de pastagens cultivadas que somavam mais de 8.000 há, possuía grandes áreas de matas nativas, especialmente nas encostas das serras. As matas eram densas e de elevado porte, e nas encostas, haviam diversos afloramentos de rochas, morada nativa das onças pintadas, pretas, sussuaranas, lombos preto, caititus, e diversos outros animais, uma fauna e flora rica e exuberante, e eram exatamente, nos pastos das proximidades destas encostas de serras, que as onças aproveitavam da oportunidade, para atacar as suas presas, arrastando os animais já mortos, para dentro da mata fechada. Já se fazia meio dia, ficou acertado com o gerente da fazenda, que aquele seria um bom dia parra tentar encontrar a onça, pois ela tinha atacado e matado uma novilha logo ao amanhecer do dia, e que muito provavelmente, estaria por perto dos restos da carcaça do animal morto. Uma vez organizados – o pressuposto caçador de onças mais os três vaqueiros -, cachorros presos pelas coleiras, partiram em direção das matas do pingo d`água, na direção do local onde a ultima novilha havia sido atacada. Andaram por mais de 40 minutos até alcançar o local apontado pelo vaqueiro. Observaram que o capim estava amassado, assim como viram também, a batida por onde a novilha fora arrastada. Os três vaqueiros indicados pelo gerente, mantinham com firmeza os cachorros nas suas coleiras, pois acostumados a caçadas, logo perceberam pelo faro aguçado, a presença da onça pelas redondezas. O pressuposto caçador de onças, acostumado a pequenas caçadas de passarinhos,
preás, coelhos, teiús, de apreensivo, se mantinha próximo do apavoramento, agora, diante de uma situação tão complexa não sabia como se posicionar. Reclamado pelos vaqueiros, das iniciativas deveriam tomar, afinal, ele era o coordenador das ações do grupo, ainda meio estonteado, diante da magnitude da mata e da serra, balançando a sua cabeça, sem qualquer senso de direção, acabou por apontar com o dedo, indicando uma direção qualquer, ordenando que os vaqueiros adentrassem a mata naquela direção, que logo que penetrassem cerca de cem metros, deveriam soltar os cachorros, que segundo a sua intuição, uma vez atacada pelos cachorros, a onça tenderia a descer pelas encostas da serra no sentido do por do sol, e que segundo as suas previsões, lá adiante, ele faria um corte nela. Assim foi feito, logo que penetraram a mata por uns cem metros, os vaqueiros soltaram os cachorros, que a esta altura, percebendo a presença da onça por perto, eram mantidos na coleira à custa de muitos esforços. Os três cachorros, cada um quase do tamanho de um bezerro, possuíam pelagens rajadas, eram mestiços do cão da raça fila, além do porte avantajado, eram extremamente agressivos e valentes, dotados de faro altamente desenvolvido, não tardaram em localizar o felino. Como era de se esperar, a onça de fato não se encontrava longe da carcaça da novilha, entretanto, ao perceber a presença dos cachorros, tratou de correr e de se esconder numa lapa da serra, onde o seu corpo, ficava protegido e não podia ser atacado pelos filas. Fazia um barulho danado no pé da serra, o grito de dos vaqueiros, o latido dos três cachorros, o rosnado da onça, tudo ecoava serra acima, numa ressonância do eco de tal forma impressionante, e o pressuposto caçador de onças, que ouvia a toda esta barulheira, rezava e pedia a Deus pela sua sobrevivência, temia entretanto, que aquele poderia ser mesmo o seu ultimo dia de vida, que muito provavelmente, não mais voltaria a ver os filhos. Ao mesmo tempo, procurava se distanciar cada vez mais das proximidades de onde vinha aqueles os sons e latidos. A agressividade dos cachorros era tamanha, a onça que se mantinha de frente para os cachorros, distribuía-lhes muitos tapas, no entanto, mantinha o seu corpo bem protegido pela lapa da serra, tornando a sua defesa favorável. O pressuposto caçador de onças, agora maquinava a sua cabeça, inexperiente de vida como era, imaginou que a sua única saída, seria o de entrar na mata e procurar por uma árvore para que nela pudesse subir e se esconder na sua copa. O cerco da onça agora ficava mais intenso, os vaqueiros armados, se aproximavam do local cada vez mais, a onça embora acuada, percebendo a presença deles por perto, acabou por sair da lapa em disparada, corria às vezes de frente, ou mesmo, às vezes de costas, ou mesmo, de lado, era uma valentia só. A cor do seus olhos, de um verde de cana brilhante, agora, estavam vermelhos como um raio de sangue. Ela dava cada rosnado, que estremecia o pé da serra. Os três cachorros, embora grandes e valentes, levavam muitas desvantagens frente ao felino, pois eram freqüentemente acertados pelas enormes patas do animal, com suas unhas grandes e afiadas. O porte e peso da onça dava medo aos cachorros, era um animal de pelagem preta uniforme, próximo aos 200 kgs, os cachorros uma vez atingidos, rolavam ladeira a baixo, uivando de dor. Ao adentrar a mata por uns cinqüenta metros, o pressuposto caçador de onças, agora no meio de um mar de árvores, acabou por procurar a mais frondosa, a mais grossa, aquela com maior número de galhos, que lhe facilitasse a subida e esconderijo, nem mesmo sabia, que onça também subia em árvores com a mesma facilidade. De forma coincidente, já apavorada pelo ataque dos filas e pelos gritos dos vaqueiros, a onça acabou por não subir a serra como era de se esperar, muito pelo contrário, acabou mesmo por descer correndo margeando as encosta da serra, exatamente na direção do por do sol, a procura do rio Mangaí. O pressuposto caçador, agora já instalado lá no alto da árvore, inocentemente, se sentia mais protegido. Imaginava, que onças não subiam em árvores, más continuava a rezar por todos os santos. Como ele mais do que ninguém, conhecia suas próprias reações, achou por bem, amarrar as barras da sua calça com um par de correias de couro, pois tinha medo de que ao se dar de frente com a onça, poderia lhe acontecer uma evacuação involuntária. Havia um grande barulho que ecoava serra acima, provocado pelos galhos de árvores quebradas, pedras que rolavam, pelo latido dos cachorros, pelos gritos dos vaqueiros, pelo rosnado da onça, provocava uma sensação de medo para todos, afinal, o felino estava no território dele. Para azar do pressuposto caçador, o barulho que vinha de dentro da mata, se encaminhava cada vez mais na sua direção, ao ponto de já se poder ver as investidas dos cachorros. A onça embora grande e pesada, já sofria de alguma forma com algumas mordidas dos filas, que muito embora em desvantagens, continuavam cada vez mais agressivos, quando um dos cachorros atacava o animal pela frente, os outros dois, o faziam por trás. Apavorada, a onça sentia pelo seu instinto, que estava perdendo a batalha para os cachorros, que já estava na hora de subir a uma árvore, já que não havia lapas ou rochas por perto para se esconder ou subir. Correndo exatamente, na direção da árvore onde o pressuposto caçador estava, a onça que procurava uma árvore frondosa, grossa, que tivesse múltiplos galhos, na qual, pudesse abraçar com seus braços e garras e subir , logo percebeu, a existência de uma destas árvores logo a sua frente, e não deu outra, tão ágil como os gatos, do jeito que ela veio correndo, a um só pulo, já pulou no primeiro galho. O pressuposto caçador, que a esta altura do tempo já havia evacuado nas suas calças, imaginou pular lá de cima no chão, más se encontrava muito alto, o risco de quebrar suas pernas e braços, era muito grande. A onça apavorada, fugia para o alto dos galhos cada vez mais, os cachorros estavam agora acuados ao pé da árvore. Na medida em subia árvore acima, logo ela percebeu a presença do pressuposto caçador, dava cada rosnado, que estremecia todo tronco da árvore até a sua copa. O pressuposto caçador, afinal, nunca havia visto uma onça de verdade, ainda mais, uma onça preta, a mais feroz de todas, que nem mesmo lembrou, que levava consigo a velha espingarda polveira, deixando que ela escapulisse das suas mãos e se espatifasse no chão. A onça neste momento, já estava a poucos palmos dele, era como se ele já pudesse sentir na sua carne, uma fisgada dela, com suas enormes patas e unhas afiadas. Deus que nunca abandona a seus filhos em aflição, permitiu-lhe, que num relance de memória, pudesse lembrar que levava consigo uma caixinha com pó de fumo de rolo, ou torrado, que ele costumava cheirar. Sabia muito, até por experiência própria, que o pó de fumo, se caso caísse nos olhos de qualquer vivente, arderia em demasia. Foi assim, que quando praticamente era alcançado pelos esturrados e babas da onça, que num gesto de extrema rapidez, jogou uma pitada do pó de fumo em cada olho do animal. Num miado de dor, o animal levou suas enormes patas até os olhos, e com suas unhas afiadas, acabou por vazar os dois olhos. Agora, já não podia mais enxergar, estava cega, a dor provocado pelo vazamento dos próprios olhos, associado, à vários cortes e escoriações pelo corpo, deixou o animal em desequilíbrio, até cair lá de cima da árvore no chão. Ao atingir o solo, muito machucado pelo impacto, e agora indefeso , o felino foi intensamente atacado pelos filas, numa agressividade sem precedentes. Do alto da árvore, assistindo aquela cena, observando que o animal agonizava sob as garras e dentes dos cachorros, o pressuposto caçador, com a sua esperteza mental - ele queria receber o prêmio e louros pela morte do animal -, rapidamente desceu ao chão, e apanhando a um pedaço de madeira qualquer, bateu vigorosamente na cabeça do animal por reiteradas vezes. A violência das pancadas fora de tal magnitude, que levou o animal a morte. Raiou com os cachorros, que permaneceram deitados ao derredor do animal morto. Ao perceber que os três vaqueiros se aproximavam do local, assentou-se sobre o corpo inerte do animal, e cruzou seus braços. Ao se depararem com aquela situação, os três vaqueiros, que desconheciam o desenrolar dos fatos, foram tomados de admiração pelo pressuposto caçador, afinal, não ouviram barulho de tiros, e não havia sinal de agressão a tiros no corpo do animal, como tinha conseguido abater um animal tão valente e feroz? Por ente os três vaqueiros, havia um mais jovem, que incomodado pelo cheiro de fezes, acabou por observar, que aquele cheiro vinha das pernas do caçador de onças. Jogou uma pergunta no ar, assim, como alguém com ares de desentendido, de onde estava vindo todo aquele mal cheiro? O pressuposto caçador, virando para ele, disse-lhe: Olha moço! eu não estou sentindo cheiro algum, entretanto acho, que o senhor deveria calar a sua boca, pois imagine o senhor, um homem que é capaz de matar uma fera destas sem armas nenhuma, o que não faria então, com um pobre homem franzino como o Senhor? O animal morto precisava ser levado para a sede da fazenda - era como se fosse um troféu, afinal, existia prêmio pela sua morte. Trataram então, de derrubar uma árvore, de onde o retiraram um varão. Peando o animal pelos quatro membros, enfiaram o varão por entre as suas pernas, e com muitas dificuldades, transportaram o corpo do animal a quatro ombros, até a presença do gerente. Uma vez conduzido até a sede da fazenda, o corpo do animal, foi então exposto num gramado bem de frente ao escritório, sendo objeto da curiosidade e da admiração de mulheres, crianças, e outros trabalhadores da fazenda, que nunca haviam visto uma onça de tão perto. O animal, um belo exemplar da espécime, era do sexo masculino, de pelagem preta uniforme, uma variação de pelagem da onça pintada, nativo das matas e serras do Norte de Minas. Ao aproximar-se do corpo do animal, o gerente da fazenda voltando-se para o pressuposto caçador de onças, agradeceu-lhe pelo feito, e disse-lhe, que o prêmio que lhe seria dado era justo, tendo em vista a tarefa executada. Todavia, esperava ele sinceramente, que aquela cena a que todos os presentes assistiam, era por demais deprimente para ele, que esperava, nunca mais haveria de se repetir naquelas terras. Que aquele animal em desequilíbrio, e que tivera que ser abatido, era apenas uma exceção, e que não representava necessariamente, o comportamento da espécie como um todo, que portanto, em condições de normalidade, não representavam perigo nem prejuízo para a fazenda. Acreditava ainda, que aquele animal, não era mesmo nativo daquelas matas, e que muito provavelmente, havia migrado de outras regiões próximas, onde a permanente agressão ao meio ambiente, provocado pelos desmatamentos desordenados e carvoejamento das matas e dos cerrados nativos, associado a queima irresponsável, tinha provocado sério desequilíbrio ambiental, com secamento de nascentes e córregos, e desaparecimento de espécimes nativas da fauna, com conseqüente quebra da Cadeia alimentar natural destes animais, que uma vez passando fome, acabaram por aprender a caçar espécimes de criação. Recebido o prêmio pela morte do animal, o pressuposto caçador de onças, agradeceu ao gerente, dizendo-lhe, que o agradecia pelo convite para continuar na fazenda, más que ele precisava continuar o seu caminho, e num gesto de despedida, retirou o velho chapéu da cabeça, colocando-o debaixo do braço, afastando se vagarosamente pelo grande pátio que protegia a sede da fazenda, até sair na cancela de fora. Logo que saiu da cancela do pátio, encaminhou-se para um canto da estrada, num gesto brusco do uso da força, bateu com a velha espingarda polveira no chão, quebrando-a em vários pedaços , e ainda, num gesto seguinte, ajoelhou-se no chão ali mesmo, agradecendo a Deus, por lhe ter permitido estar com vida, prometendo a si próprio, que daquele dia em diante, seria um novo homem, e que estaria de volta para a esposa e filhos, caso ainda, eles o recebessem de volta.

João Carlos de Oliveira
E-mail: zoo.animais@hotmail.com









Biografia:
Nem mesmo cairá uma unica folha de uma árvore, se caso não exista uma razão para tal!

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