Login
E-mail
Senha
|Esqueceu a senha?|

  Editora


www.komedi.com.br
tel.:(19)3234.4864
 
  Texto selecionado
ZIZINHO E PELÉ
Geraldo Affonso Pimentel Pereira de Araujo

A ascensão de um mulato e ainda por cima com nome de muçulmano ao cargo de presidente da nação mais poderosa do mundo seria inimaginável até há alguns anos atrás. No entanto, não é desse afro-descendente que vou tratar nesta crônica, pois Barack Obama está tão badalado na mídia do planeta que um acréscimo neste modesto trabalho, creio, em nada enriqueceria ao que já foi dito. Prefiro escrever sobre dois outros negros que brilharam, e muito, no chamado esporte das multidões.
      Era o dia 16 de julho de 1950 e em todos os rádios as vozes vibrantes dos locutores esportivos levavam o imaginário do povo brasileiro ao recém inaugurado maior estádio do mundo. As ruas do Brasil mostravam-se desertas e apenas a sonoridade do rádio, na voz de Jorge Curi, Oduvaldo Cozzi, Antonio Cordeiro e outros ases da narração esportiva da época iam detalhando o que ocorria no Maracanã. E o Brasil futebolístico desmoronava na partida final, onde a garra de um Obdúlio Varela superava a técnica de um Zizinho. E aquele que seria considerado o Rei do Futebol e o craque do século, um menino de dez anos, ao lado do velho rádio também sofria com o passar do tempo, mas esperava que seu grande ídolo, com uma jogada genial desse ao Brasil a tão sonhada Copa. Mas Zizinho não fez o gol salvador e o Brasil inteiro chorou.
     O tempo passa e o menino Pelé, envergando a camisa do Santos, já aos dezessete anos começa a despontar como a grande promessa da geração vingadora. O ano era o de 1957 e o Estádio do Pacaembu lotado aguardava o início do clássico São Paulo e Santos. Pelé procura se aquecer batendo bola e ao seu lado, também envergando a camisa do Santos, um dos remanescentes da seleção de 1950, Jair da Rosa Pinto. Mas a atenção do craque adolescente fixava naquele mulato falante do time adversário, aquele velho jogador de 36 anos contratado recentemente pelo São Paulo, Zizinho, seu grande ídolo dos tempos infantis e agora seu companheiro do mesmo gramado.
      Começa o jogo, Zizinho faz de tudo, dá instruções aos demais jogadores, corre como um garoto, passa a bola e dribla com facilidade. Mas Pelé também não fica atrás, pois sua genialidade já despontava avassaladora. Dois craques fabulosos em campo, um quase no final de carreira e outro no limiar de uma trajetória esportiva insuperável até os dias atuais.
      Sem desmerecer o excelente plantel do São Paulo daquele ano, mas Zizinho só não fez chover e foi apontado como o principal artífice da conquista do campeonato paulista de 1957. Era o canto do cisne em grande estilo. O Santos foi vice-campeão naquele ano, mas Pelé, no ano seguinte na Copa da Suécia, iria assombrar o mundo com atuações espetaculares que ficariam perpetuamente cristalizadas na memória dos amantes do futebol.   E no dia 29 de junho de 1958, em outra final de Copa do Mundo, o Brasil inteiro chorou novamente, mas lágrimas que extravasavam uma imensa alegria. Da primeira vez ninguém se esquece e o Brasil de Pelé conquistava sua primeira Copa. Dessa vez, Zizinho é quem ficou junto ao rádio torcendo e vibrando pelo seu jovem sucessor.


Biografia:
Geraldo Affonso é professor,radialista, advogado e membro da Academia Ouro-finense de Letras e Artes. Apresenta aos sábados, a partir de meio-dia e meia na Rádio Difusora Ouro Fino um programa de entrevistas, voltado, principalmente, para a cultura, que pode ser ouvido pela Internet no site www.difusoraourofino.com.br
Número de vezes que este texto foi lido: 59464


Outros títulos do mesmo autor

Crônicas Guido Rocha Geraldo Affonso Pimentel Pereira de Araujo
Crônicas AMIGO É COISA PRA SE GUARDAR Geraldo Affonso Pimentel Pereira de Araujo
Ensaios CASSIANO RICARDO, UM POETA DO SÉCULO XX Geraldo Affonso Pimentel Pereira de Araujo
Ensaios A TRAJETÓRIA POÉTICA DE MAURÍCIO DE MORAES Geraldo Affonso Pimentel Pereira de Araujo

Páginas: Primeira Anterior

Publicações de número 11 até 14 de um total de 14.


escrita@komedi.com.br © 2024
 
  Textos mais lidos
MORTE, O PARADOXO DIVINO DA VIDA - Pedro Paulo Rodrigues Cardoso de Melo 59850 Visitas
Razão no coração - Joana Barbosa de Oliveira 59804 Visitas
Senhora da Escuridão - Maria 59804 Visitas
🔵 Uma noite em Las Vegas - Rafael da Silva Claro 59758 Visitas
O estranho morador da casa 7 - Condorcet Aranha 59748 Visitas
À Bahia - Aldo Moraes 59720 Visitas
A LAGARTINHA E A ALIMENTAÇÃO - Andrea Gonçalves dos Santos 59707 Visitas
Coragem, levanta! - Maria 59703 Visitas
Decadência - Marcos Loures 59698 Visitas
o triangulo das bermudas - alfredo jose dias 59675 Visitas

Páginas: Primeira Anterior Próxima Última