A ascensão de um mulato e ainda por cima com nome de muçulmano ao cargo de presidente da nação mais poderosa do mundo seria inimaginável até há alguns anos atrás. No entanto, não é desse afro-descendente que vou tratar nesta crônica, pois Barack Obama está tão badalado na mídia do planeta que um acréscimo neste modesto trabalho, creio, em nada enriqueceria ao que já foi dito. Prefiro escrever sobre dois outros negros que brilharam, e muito, no chamado esporte das multidões.
Era o dia 16 de julho de 1950 e em todos os rádios as vozes vibrantes dos locutores esportivos levavam o imaginário do povo brasileiro ao recém inaugurado maior estádio do mundo. As ruas do Brasil mostravam-se desertas e apenas a sonoridade do rádio, na voz de Jorge Curi, Oduvaldo Cozzi, Antonio Cordeiro e outros ases da narração esportiva da época iam detalhando o que ocorria no Maracanã. E o Brasil futebolístico desmoronava na partida final, onde a garra de um Obdúlio Varela superava a técnica de um Zizinho. E aquele que seria considerado o Rei do Futebol e o craque do século, um menino de dez anos, ao lado do velho rádio também sofria com o passar do tempo, mas esperava que seu grande ídolo, com uma jogada genial desse ao Brasil a tão sonhada Copa. Mas Zizinho não fez o gol salvador e o Brasil inteiro chorou.
O tempo passa e o menino Pelé, envergando a camisa do Santos, já aos dezessete anos começa a despontar como a grande promessa da geração vingadora. O ano era o de 1957 e o Estádio do Pacaembu lotado aguardava o início do clássico São Paulo e Santos. Pelé procura se aquecer batendo bola e ao seu lado, também envergando a camisa do Santos, um dos remanescentes da seleção de 1950, Jair da Rosa Pinto. Mas a atenção do craque adolescente fixava naquele mulato falante do time adversário, aquele velho jogador de 36 anos contratado recentemente pelo São Paulo, Zizinho, seu grande ídolo dos tempos infantis e agora seu companheiro do mesmo gramado.
Começa o jogo, Zizinho faz de tudo, dá instruções aos demais jogadores, corre como um garoto, passa a bola e dribla com facilidade. Mas Pelé também não fica atrás, pois sua genialidade já despontava avassaladora. Dois craques fabulosos em campo, um quase no final de carreira e outro no limiar de uma trajetória esportiva insuperável até os dias atuais.
Sem desmerecer o excelente plantel do São Paulo daquele ano, mas Zizinho só não fez chover e foi apontado como o principal artífice da conquista do campeonato paulista de 1957. Era o canto do cisne em grande estilo. O Santos foi vice-campeão naquele ano, mas Pelé, no ano seguinte na Copa da Suécia, iria assombrar o mundo com atuações espetaculares que ficariam perpetuamente cristalizadas na memória dos amantes do futebol. E no dia 29 de junho de 1958, em outra final de Copa do Mundo, o Brasil inteiro chorou novamente, mas lágrimas que extravasavam uma imensa alegria. Da primeira vez ninguém se esquece e o Brasil de Pelé conquistava sua primeira Copa. Dessa vez, Zizinho é quem ficou junto ao rádio torcendo e vibrando pelo seu jovem sucessor.
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