No trajeto diário para o colégio, eu passava em frente ao monumental estádio ainda em construção. O local era meu velho conhecido, pois alguns anos atrás minha antiga casa ficava a poucos metros de uma pequena arquibancada em ruínas que já abrigara os aficionados das corridas de cavalo. Era o local onde funcionara o antigo Derby Club que se preparava para abrigar o maior estádio do mundo, o Maracanã. O ano era o de 1949 e eu, um garoto de catorze anos, subia pela primeira vez a rampa do grande estádio em construção. O verde do gramado resplandecia e sua forma arredondada ficou eternamente gravada em minha memória. Uma fotografia imaginária, que eu constantemente resgato dos porões de minhas lembranças..
Depois, o estádio deixou de ser novidade e progressivamente entrou para minha rotina de torcedor. O velho São Januário, que antes parecia imenso ao meu olhar adolescente, encolheu envergonhado ante a imensidão de seu novo rival. E naquele gramado redondo, nos primeiros anos de sua trajetória de maior do mundo, brilhava a estrela de um grande artista da bola envergando a camisa rubro-negra. O maior craque daquela época, o ídolo de todos os amantes do futebol arte e até de Pelé, que se espelhou em seu primoroso futebol. Seu nome de batismo e registro era Tomaz Soares da Silva, mas no futebol, um fenômeno chamado Zizinho.
Era um mulato de estatura mediana, cabelos pretos anelados e brilhosos, fluente no falar, ágil em seus dribles milimétricos, preciso ao passar a bola e, como se não bastasse, um artilheiro com grande pontaria. Inteligente, possuía uma visão de jogo incrível e constantemente, através de uma precisão inimaginável ao passar a bola, deixava seus companheiros na cara do gol. Eu sempre fui um amante do futebol e, ainda não descobri o porquê, torcedor do América, um mistério indecifrável. Além de acompanhar meu time nos principais jogos, ia constantemente ao Maracanã, especialmente para ver a atuação de alguns jogadores de grande qualidade técnica, entre os quais reinava o futebol arte de Zizinho.
Em relação aos grandes craques que atuaram num passado um pouco mais recente, tais como Pelé, Garrincha, Zico, Maradona, Sócrates , entre outros, é muito fácil fazer-se uma avaliação de suas qualidades e até mesmo compará-los com outros jogadores, pois há inúmeros registros em filmagens. No entanto, já não acontece o mesmo com aqueles que pertenceram a gerações mais distantes, pois nada, ou quase nada sobrou em imagens que refletissem a grandeza do futebol que praticaram. Assim, as jogadas geniais de Zizinho, bem como as arrancadas fulminantes em direção ao gol do grande Ademir Menezes, ficaram arquivadas apenas nas lembranças dos mais velhos, tal qual a primeira impressão do gramado verde do Maracanã ficou em minha memória. De vez em quanto, como bom saudosista, vou ao arquivo de minhas antigas recordações para retornar ao Maracanã daqueles tempos e, misturando-me aos cento e tantos mil torcedores , aplaudir em meus devaneios as incríveis jogadas de Zizinho. Mas que saudade!
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