Louco vocabulário. Só o que conheço: intenso, fatal, fenomenal. O vocabulário coloquial emudece, resume-se a suspiros incessantes, murmúrios incoerentes.
Olho mas não vejo nada, a razão me falta!! Meu vocabulário de fato some, se encolhe, e jamais existe novamente.
O que me faz perder-me desse jeito? O que ocorre em meu ser para ocorrer tal emoção, insensato vazio da palavra... No vácuo da comunicação, só ouço minha respiração!
Tento novamente: vocábulo, vírgula, monossílaba, ponto e vírgula, ponto, um substantivo, talvez, mas sem adjetivo. Repentinamente, lembro-me de uma saudação, cumprimento de ocasião, nada audacioso; simples e cauteloso.
Tento, gaguejo, sai um arquejo. Meu coração palpita, fica maluco, me distraio, penso que quase desmaio.
Louco vocabulário! Abro a boca e sai uma língua desconhecida, uma mistura de metáfora com cacofonia. Jamais me arriscaria! Porém, como a situação exigia, acabei por me entregar, sem peso e sem medida, expelindo toda uma melancolia. Junto com tal descuidada expressão, sai meu coração, disparado, completamente desgovernado.
Tento manter-me centrada. Novamente, montar uma sentença, para não ser julgada sem inteligência – no entanto... hiato! Penso na interação, mas o que ocorre é uma descomunal sensação; não me lembro, esqueço-me da composição de uma oração, dos elementos principais, tento começar pelo fim: ponto-final, e tudo ficaria igual.
Minha mente é banhada, milagrosamente, por uma certa conexão. Penso em uma bela frase, surge do âmago de meu sentimento, subtraída da esquina de um tormento.
Ela me chega de supetão, sinto-me assustada a princípio, mas completa então, como uma doce melodia. Vejo que esta é a minha frase preferida: um sujeito, um pronome e um verbo. Pronto, aí está, e sai de dentro, de repente, com muito sustento:
- Eu te amo.
Por fim, uma frase completa: um sujeito, um pronome e um verbo. Ah, verbo intransitivo, nem precisa de complemento.
Louco vocabulário de um coração desenfreado, neste momento tão sublime e esperado!
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