A madrugada vai alta.
O homem forte, grande estaciona a moto.
- A casa é aquela.
Sim, antes de vir, se informou e pessoalmente, presenciou o sujeito magro, brancoso entrando nessa. É onde mora, com a morena charmosa. Conferiu tudo para não errar, na hora exata...
Caminha, olhando de lado, cuidando-se, pois está se expondo, o lugar é “carregado”.
De repente, a cena:
- “Cabeça:” não quero erro.
Fitou o rosto grosseiro, negro e esperou. Compenetrado. E a voz retornou – mais grossa? - imperativa:
- O amarelo pegou a “mercadoria” e me sacaneou. Foi avisado e... Nada! Você agora, vai fazer a “cobrança”. Estamos combinados? Na volta, acertamos o seu pagamento.
A mão de dedos grossos então na despedida e, apertando-a, se ergueu da cadeira à frente do birô, com aquele que era o chefe da “organização”.
- Tudo “nos conforme”. Vou agir. No mais tardar no fim da semana faço a derradeira “cobrança”.
O sorriso no rosto normalmente fechado, como aquiescência e ele se retirou da sala bem mobiliada, confortável.
Depois, a investigação. A certeza da residência e agora, tudo resolverá.
- O safado já era.
Nas proximidades um cachorro late. Um guarda-noturno apita. Um grilo canta. Aproxima-se. E com violência chuta a porta de madeira fina, que se abre, escancarando-se, e surge o sujeito descamisado, de cuecas, e que indaga perplexo:
- Porra que é isso?
As detonações. O corpo que se enverga, caindo. Os gritos da mulher que chega à salinha, aí “Cabeça” com rapidez se move correndo, de volta à moto e subindo-a, dispara. Fugindo, desaparece da cena.
Os gritos. O corpo que arqueja e aos poucos, se imobiliza, enquanto as residências circunvizinhas mantêm as portas e janelas cerradas. Respeitando a conveniência prática da lei do silêncio.
O cão prossegue latindo. O guarda apita, fingindo dar segurança aos moradores do lugar. O grilo cricrila... Como se nada houvesse acontecido e, a distancia, a moto aproveitando a avenida sem veículos, em sua louca corrida, vai diminuindo, diminuindo...
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