Login
E-mail
Senha
|Esqueceu a senha?|

  Editora


www.komedi.com.br
tel.:(19)3234.4864
 
  Texto selecionado
Confissões de um menor abandonado
Ivone Boechat

Eu sei que sou culpado,
não tive a capacidade de assumir a administração de minha vida, não fui capaz de resolver as emoções infantis nem consegui equilibrar-me sobre os obstáculos que herdei da sociedade.
Até que me esforcei! Olhei para a vida de meus pais, porém, os desentendimentos de seu casamento falido nublaram os tais exemplos de que ouvi falar, só falar.
Não tive o privilégio de me aquecer no meu próprio lar, porque faltou-lhe a chama do amor, sustentando-nos unidos. Cada qual saiu para o seu lado. Na confusão da vida me perdi.
Candidatei-me à escola. Juntei a identidade civil ao retrato desbotado, botei a melhor farda de guerreiro, entrei na fila. Humilhado por tantas exigências, implorando prazos, descontos e vaga, sentei-me num banco escolar, jurei persistência, encarei o desafio.
- Joãozinho, você não sabe sentar-se?
- Joãozinho, seu material está incompleto.
- Joãozinho, seu trabalho de pesquisa está horrível.         
- Joãozinho, seu uniforme está ridículo.
A barra foi pesando, fui sendo passado para trás e vendo que escola é coisa de rico. Um dia, arrependi-me, mas a professora se escandalizou das faltas (nem eram tantas!) e disse que meu nome já estava riscado, há muito tempo. O que fazer?   Dei marcha à ré ali e, olhando a turma, com vergonha, fui saindo.
Moro nas marquises, debaixo da ponte, nas calçadas e não moro em lugar nenhum. Tenho avós, pais, irmãos e primos, mas não tenho família. Tenho idade de criança e desilusões de adulto. Minha aparência assusta as pessoas e nada posso fazer. A cada dia que passa, estou mais sujo, mais anêmico, mais fraco.
Sou um rosto perdido, perambulando, em solo brasileiro. Na verdade, chamam-nos menores, todavia, somos os maiores desgraçados.
Vendo balas num sinal de trânsito que muda de cor a cada minuto, quando o sinal fica vermelho, os carros param, meu coração dispara. Para nós, menores abandonados, o vermelho é a cor da esperança.









Biografia:
Natural do Estado do Rio; Membro da Academis Munsial de Cultura e Literatura: Membro da Academia Duquecaxiense de Letras e Artes de Duque de Caxias-RJ; Autora de 16 livros, Consultora em Educação.
Número de vezes que este texto foi lido: 59443


Outros títulos do mesmo autor

Poesias Delícias da festa junina Ivone Boechat
Poesias Dores da paixão Ivone Boechat
Poesias AME VOCÊ Ivone Boechat
Poesias Oração do poeta Ivone Boechat
Poesias Mais um Ivone Boechat
Poesias Oração do amanhecer Ivone Boechat
Poesias Oração da avó Ivone Boechat
Poesias Prece do trabalhador Ivone Boechat
Biografias Ivone Boechat Educadora e Escritora Mageense Ivone Boechat
Poesias Terapia Ivone Boechat

Páginas: Próxima Última

Publicações de número 1 até 10 de um total de 301.


escrita@komedi.com.br © 2024
 
  Textos mais lidos
RECORDE ESTAS PALAVRAS... - MARCO AURÉLIO BICALHO DE ABREU CHAGAS 61640 Visitas
Fragmento-me - Condorcet Aranha 61597 Visitas
RODOVIA RÉGIS BITTENCOURT - BR 116 - Arnaldo Agria Huss 61481 Visitas
🔵 SP 470 — Edifício Itália - Rafael da Silva Claro 61062 Visitas
ABSTINENCIA POÉTICA - JANIA MARIA SOUZA DA SILVA 59971 Visitas
a historia de que me lembro - cristina 59964 Visitas
Meu desamor por mim mesmo - Alexandre Engel 59952 Visitas
Colunista social português assassinado por suposto namorado - Carlos Rogério Lima da Mota 59892 Visitas
O tempo todo tempo - André Francisco Gil 59801 Visitas
Razão no coração - Joana Barbosa de Oliveira 59800 Visitas

Páginas: Próxima Última