Os personagens das histórias de deficientes trazem sempre um estigma de dor e sofrimento, carregando a idéia do mais estremado individualismo, e que em conseqüência desse estado, podem criar em seus próximos uma depressão atribuída ao fracasso do contraditório de que a verdadeira função do homem é viver, e não apenas existir.
A literatura espírita tem sido superlativa quando trata desse assunto, obtendo um nível de superação, chamando a atenção para a importância dos cuidados e principalmente eliminando a idéia de castigo imputada aos deficientes, quando na realidade são herdeiros de si mesmo.
No seu livro Autista do Além, Nelson Moraes nos conta a história de um jovem desencarnado, que plenamente integrado à vida espiritual, para poder ajudar companheiros de seara tomados de obsessões difíceis e incapazes de exercer o equilíbrio reconfortante, quando se isolam de tudo e de todos, em determinado momento assumem comportamento idêntico ao dos autistas encarnados.
O escritor com notável brilho e sensibilidade, não se ateve em dissertar sobre a síndrome, mas sim conjugar os sentimentos e as emoções, que levaram um espírito a assumir a condição de autista, para ajudar aqueles que além de recusar o mundo em que estão vivendo concentrando-se num outro que não consegue alcançar, provocam anseios e frustrações, iguais as nossas.
Prosseguindo em sua caminhada, nos oferece ainda a Carta de um Excepcional, em que o espírito encarnado, a nosso ver, revela sua condição de reeducando como Espírito ou Consciência em expansão, agente cocriador, arquiteto e artífice do seu próprio destino, com extraordinária grandeza, em uma emocionante manifestação.
“Mamãe: num raro momento de felicidade retomei a consciência, por alguns instantes libertei-me do corpo.
Livre dos embaraços físicos pedi a Deus a oportunidade de comunicar-me com você.
Sei o quanto sofre ao ver-me no corpo excepcional onde me abrigo como filho do seu coração, por isso, quis falar-lhe: saiba mãezinha querida, antes de receber-me carinhosamente em seu ventre, eu era apenas um náufrago nos mares espirituais do sofrimento.
Você foi à praia que me acolheu devolvendo-me a segurança.
Não pense que se eu tivesse morrido ao nascer teria sido melhor para nós dois.
É um engano cruel, pois o que mais importa para mim é viver!
O seu amor é a força que pode prolongar-me a vida.
O corpo disforme que hoje me sustenta a existência, representa para mim um tesouro de bênçãos onde reeduco o meu espírito, aprendendo a valorizar a vida que tantas vezes desprezei.
Sei que sofres por eu não poder dar-lhe as alegrias de uma criança sadia, porém, reconforta-me saber que para as mães como você, Deus reserva as alegrias Celestiais!
Ser mãe é missão natural das mulheres.
Ser mãe de alguém como eu, é missão que Deus só entrega a mulheres especiais como você.
Vou retornar ao corpo, assim como uma ave retorna ao ninho onde se abriga das tempestades, mas, antes, rogo a Deus que lhe abençoe, colocando nesta rogativa a força da gratidão de um filho que teve a felicidade de ter um Anjo como Mãe!”
Cabe-nos perguntar se uma criança deficiente, vegetativa, poderia comunicar-se com os pais através uma autoprojeção anímicaconsciencial?
Em casos muito especiais, é possível a manifestação anímicaconsciencial, por intermédio de um médium psicofônico ou psicógrafo.
O fenômeno é muito raro. Há registros de tais fenômenos na literatura especializada.
Na visão espírita, sem generalizar, os casos de deficientes, são considerados valiosas experiências de aprendizagem consciencial, tendo em vista as necessidades específicas de cada Espírito ou Eu-Consciencial na reconstrução do próprio destino.
Na Doutrina Espírita e pelo que se pode deduzir do seu conteúdo, e pelas colocações dos venerandos Emmanuel e André Luiz, a doença mental, é um grave comprometimento, pelo qual o espírito pode viver numa encarnação, já que são as estruturas mais sutis - do corpo mental - as comprometidas em tais casos.
Os portadores de transtornos mentais são espíritos que abusaram reiteradamente da inteligência.
O tratamento além do convencionado pela Psiquiatria consiste num trabalho de transformação moral, sem o qual qualquer outra atuação será apenas paliativa.
Por meio de provas desafiadoras, verdadeiros cadinhos de purificação redentora tanto para o próprio Espírito em dolorosa provação, como também para os respectivos pais e familiares, todos estarão obedecendo a um plano maior de aprendizado redentor.
Sem nenhuma conotação com castigo ou punição como pensa a grande maioria das pessoas, descobrindo no ser, na sua integridade, de que é disso que devemos tomar consciência.
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