Uma questão complicada é aquela onde o sentimento universal aparente não representa o bem comum, embora o ser humano individualista queira obter resultados que lhe favoreçam em curto prazo, desprezando o ato coletivista, por não saber exercitar o sentimento da paciência, até encontrar um ponto de equilíbrio ideal.
Um condenado pela Justiça de Minas Gerais por ter furtado um cabrito, foi
absolvido pelo Superior Tribunal de Justiça, que aplicou o preceito da insignificância sobre o fato, anulando dessa forma a pena pelo crime.
Os responsáveis pela defesa do denunciado, apresentaram a seu favor, laudo de exame de sanidade mental que detectou esquizofrenia, certificando a falta de capacidade dele de entender o ato ilegal que cometera. A Justiça mineira manifestou a qualidade de inimputável do denunciado, mas estabeleceu que ele devesse ser preso como medida de segurança.
Ficou evidenciado que a determinação da Justiça de Minas Gerais estava em desacordo à interpretação das cortes superiores. Conforme o relato do processo, "a efetiva movimentação da máquina do Estado só se justifica em casos de real gravidade", por isso a aplicação do preceito da insignificância, pois, o roubo do animal, que pesava dez quilos e custava R$ 25, mostra a "irrelevância penal da conduta".
A questão do racismo, do preconceito e da discriminação no Brasil das cotas, está sendo fertilizada de tal forma, que a cultura das desigualdades, opressão, o medo de ceder e a ganância individual, impede qualquer cessão de direitos em favor dos menos favorecidos.
Quando vi o porta-voz da academia anunciar pela televisão o Premio Nobel da Paz para o presidente norte-americano Barack Obama, ressaltando os seus “esforços extraordinários” “para fortalecer a diplomacia internacional e a cooperação entre os povos”, gostei.
Se pudesse votar a favor da concessão do premio para ele, também o faria, pois no conjunto que motivou o seu merecimento, incluiria o projeto do seu governo em garantir a qualidade, o acesso e a melhoraria da atenção para pessoas portadoras de doenças mentais, em curso.
Seu governo está desenvolvendo um programa em que as deficiências recebem prioridade na educação e oportunidade de emprego. A luta contra a discriminação e o preconceito, foi estabelecida no capítulo que prestará especial atenção às pessoas com autismo, destinando mais recursos para investigação das suas causas, seu diagnóstico e tratamento, inclusive para detecção de outras deficiências.
Por esse projeto ele está recebendo do conservadorismo político do seu país, pancada de tudo quanto é lado. Mas, não desiste.
Pode parecer utopia, mas o presidente Barack Obama conhece bem a tríade da Liberdade, Igualdade e Fraternidade colocando na essência dos seus projetos políticos o Ser humano acima de tudo.
Li durante a repercussão ainda não encerrada sobre a concessão do prêmio, que Barack Obama não é sortudo, não é engraçado e nem é ”o cara”. Sequer conseguiu levar as Olimpíadas para o seu país, porém dias depois subiu ao pódio para receber a medalha de ouro, como um dos campeões da paz.
Barack Hussein Obama, ainda não completou um ano de governo, mas o seu compromisso político com o desarmamento nuclear, a paz no Oriente Médio e a distensão nas instituições internacionais, fazem parte da sua pauta de trabalho, onde suas bandeiras são convocações para todos que desejam esquecer as grandes guerras, e que “só por isso” alguns o chamam de visionário, mas, em contrapartida ele demonstra que o sonho é possível.
O premio Nobel da Paz para Obama, também está estreitamente ligado ao Nobel de Literatura, concedido à escritora romeno-alemã Herta Müller que mesmo sendo perseguida e censurada, por governos totalitários, recusou-se a colaborar com eles, exilando-se, para continuar contando o drama das minorias dos países da Europa Central assolada pela herança de desastradas políticas com guerras, fazendo sua parte, na tentativa de minimizar a desgraça imposta pelo totalitarismo que alguns aloprados insistem manter.
Herta Müller revela a absurda realidade pungente das guerras quando fala pelo olhar de uma criança dizendo que: “Não suportamos os outros nem nos suportamos a nós mesmos, e os outros nos suportam menos ainda”, revelando gente que não se dispunha a falar sobre o que passaram nos campos de trabalho soviéticos, e alemães que se sentiam culpados pela cumplicidade com o nazismo, expondo a trágica realidade do que é viver sem pátria antes e nos dias atuais.
O presidente Barack Hussein Obama, um negro, que tem nome árabe, pode ser visto como um símbolo, pós-racial, pós-capitalista, pós-socialista, seus auxiliares mais próximos são judeus, e por isso representa como ninguém o sonho americano, o que explica a ferocidade direitista contra ele.
O Nobel da Paz e o Nobel de Literatura dessa edição, embora de finalidades distintas, não se diferenciam, pois ambos ao invés de ratificarem feitos do passado, sancionam intenções e fortificam promessas para o futuro, podendo significar o lançamento da pedra fundamental da nova “Era do Internacionalismo” econômico que todos querem participar para deixarem de viver de esboços e surrados projetos de reorganização da sociedade.
Acredito que Alfred Nobel, o pai do prêmio, jamais imaginou que a dinamite de sua invenção, em alguma ocasião, criasse um efeito dominó e que cada pedra que caísse provocasse uma implosão nos ressentimentos, fazendo frente aos desafios da mudança, reativando a promoção da paz e a esperança com responsabilidade de um futuro melhor para toda a humanidade, antes que ela comece a roubar para saciar a fome e sejamos incursos no preceito da insignificância.
|